• Nenhum resultado encontrado

Ensaio de aplicação da Estrutura de Indicadores formulada a um Objetivo Geral de Ordenamento de Território

PRESSÃO ESTADO

1. Ensaio de aplicação da Estrutura de Indicadores formulada a um Objetivo Geral de Ordenamento de Território

O ensaio, em curso, adotou as seguintes etapas, sendo que as duas últimas ainda esperam oportunidade para se concretizar:

1.º - Aprofundamento do objetivo geral.

2.º - Formulação de objetivos específicos e escolha dos correspondentes indicadores.

3.º - Levantamento da situação atual relativamente aos objetivos específicos identificados: inclui levantamentos no terreno e de dados existentes na Câmara Municipal ou outras entidades e escolha e auscultação de interlocutores e de eventuais parceiros.

4.º - Estabilização dos objetivos e da estrutura de indicadores em função do levantamento. 5.º - Planeamento das ações a desenvolver e escolha dos indicadores de realização e eficiência. “Reforçar as centralidades intra-urbanas” foi o objetivo geral selecionado para este ensaio pelo Diretor Municipal da Administração do Território, por ir ao encontro de alguma reflexão que já havia sido feita nos serviços acerca do tema e por ser possível testar o sistema de indicadores exclusivamente através dos recursos municipais.

Foi constituído um grupo de quatro técnicos ligados ao planeamento urbanístico e licenciamento de operações urbanísticas, que se reuniram regularmente, com a nossa presença e com a coordenação do Diretor Municipal.

O desenvolvimento do trabalho assentou na articulação entre aprofundamento erudito dos conceitos e o conhecimento, por parte dos técnicos envolvidos, do território em questão.

1.1. Aprofundamento do objetivo geral

O aprofundamento do objetivo geral escolhido pressupõe a reflexão sobre o conceito de centralidade intra-urbana e sobre os desafios que aí se colocam, para de seguida identificar os possíveis objetivos de intervenção municipal e os correspondentes indicadores para monitorização e avaliação.

Há que distinguir centro, centralidade e, aqui, centralidade inter e intra-urbana.

É comum a referência a “centralidade” ou “centro urbano” para identificar uma cidade ou um aglomerado urbano. Também se usa “centro urbano”, “centro” e “centralidade” para identificar uma área central num aglomerado urbano.

A coincidência entre centro urbano, centralidade (inter-urbana) e cidade tem origem na polarização de uma área de influência que derivava da capacidade de distribuição de bens e mercadorias das cidades. Os princípios da teoria dos locais centrais explicavam as localizações dos centros urbanos enquanto estes se mantiveram exclusivamente como centros de distribuição de serviços e mercadorias.

Centro e centralidade identificando uma área central de um aglomerado estão associados mas não são coincidentes, antes se complementam. Já referimos que para Vargas (2010) centro é um “espaço ou conjunto de espaços adjacentes que apresentam excepcionalidade locacional, predominância de atividades comerciais e de serviços e maior grau de apropriação coletiva relativamente ao âmbito geral da cidade em questão”.

Para Carvalho (2003) centralidades ou centros são “concentrações de comércio, serviços, escritórios, restauração, terciário em geral, com o correspondente afluxo de pessoas – empregados e utilizadores – e o consequente espaço físico e social, de passeio, encontro, lazer, que decorrem da própria concentração urbana.”

Júnior (2008) explica que os centros, por corresponderem a espaços que dispõem de uma maior concentração de atividades, exercem uma atração sobre os demais espaços e proporcionam um maior poder de articulação, gerando fluxos de pessoas, capitais e mercadorias.

Para Soares (2005) a centralidade “é uma qualidade que permite a determinados pontos do território serem espaços de polarização e de organização da vida social e económica. São pontos de concentração de fluxos materiais e imateriais induzidos por três factores que diferenciam estes espaços nos territórios em que se integram: acessibilidade qualificada, perfil funcional especializado e imagem urbana diferenciada”.

Castells (1983, apud Júnior 2008) destaca que o espaço urbano não se estrutura ao acaso mas a partir de conflitos de interesses económicos, sociais e políticos.

Para compreensão do processo de estruturação das centralidades intra-urbanas Sposito (1998, apud Júnior 2008) refere os seguintes vetores dinâmicos, resultantes de mudanças sociais, económicas e espaciais: os padrões de localização dos equipamentos comerciais e de serviços, as

formas flexíveis de produção, a importância conferida ao lazer e ao consumo. E, diferenciando centro de centralidade afirma (Sposito 2001, apud Júnior 2008) que embora o centro se afirme por determinados atributos fixados no território, a centralidade afirma-se pelo que se “movimenta” no território. Retém-se a ideia que a centralidade é transitória, dependente das mudanças económicas, sociais e políticas que ocorrem ao longo do tempo.

Assume-se, para desenvolvimento do objetivo “ Reforçar as centralidades intra-urbanas” que centralidade intra-urbana é uma área integrante de um aglomerado urbano, reconhecida e apropriada coletivamente, onde se concentram e interrrelacionam atividades da vida económica e social geradoras de contactos informais e de fluxos de informação, e com influência territorial de dimensão variável.

Poderão diferenciar-se as centralidades em diversas perspetivas: temporal, hierárquica e de especialização funcional.

Na prespetiva temporal, centralidades mais antigas e tradicionais como por exemplo os “centros históricos” e as centralidades mais recentes, resultantes do aumento da terciarização, do crescimento das cidades e da motorização da sociedade com base no automóvel privado.

Numa perspetiva hierárquica, associada à sua abrangência territorial, desde um centro local que polariza um bairro de maior ou menor dimensão ou mesmo uma zona de ocupação dispersa, a uma parte de cidade cuja influência se estende a toda a cidade ou mesmo para além dela.

Na perspetiva da sua especialização funcional, ou se trata de concentração de atividades económicas e sociais de vários tipos ou se apresenta relacionada na totalidade ou maioritariamente a uma atividade específica: um pólo universitário, desportivo, hospitalar um centro comercial, entre outros.

O aparecimento de novas centralidades e o declínio de outras resultam do crescimento das cidades, da dispersão urbana, do aumento da taxa de motorização, das rápidas tranformações tecnológicas e económicas.

A deterioração destas áreas pode traduzir-se (Vargas, 2006) em congestionamento de trânsito, poluição, aumento do preço do solo, falta de estacionamento, intervenções urbanísticas desadequadas. Com o passar do tempo verifica-se a desadequação funcional e consequente abandono das infraestruturas e edifícios ou o seu uso inadequado, a deslocalização das atividades, a apropriação indevida do espaço público.

Os centros perdem as suas qualidades de centralidade, colocando-se então a questão da pertinência do seu reforço ou mesmo recuperação.

Carvalho (2003) identifica as centralidades como um dos elementos estruturantes da cidade, de grande importância quer ao nível da função quer no que respeita à legibilidade, sugerindo que a sua localização e articulação com a envolvente devem ser planeadas e qualificadas.

reforço da identidade e da diversidade, a otimização das infraestruturas, a recuperação dos capitais investidos, a valorização imobiliária, a adequação aos padrões sociais, económicos e tecnológicos mais atuais, a geração de emprego, a dinamização da economia urbana através do turismo, c ultura e lazer.

Sposito (1991, apud Vargas, 2006) lembra que o processo de estruturação das cidades tem de passar necessariamente pela compreensão do papel do centro, dos centros e das diferentes centralidades intra-urbanas. A clareza dos objetivos é essencial para a definição das estratégias e ações para os alcançar.

Para aumento e reforço da centralidade intra-urbana estão identificadas um conjunto de medidas, pensadas e utilizadas nos inúmeros casos de recuperação, reforço, reabilitação deste tipo de áreas. Referimos algumas (Carvalho, 2003; Pereira, 2011):

Especialização das atividades terciárias; Equilíbrio da mistura funcional;

Criação de condições de mobilidade e acessibilidade, incluindo a disciplina da circulação e estacionamento;

Reabilitação e requalificação do espaço físico: reabilitação das construções, revalorização e enquadramento dos monumentos, recuperação dos espaços públicos, valorização dos espaços naturais;

Criação ou reabilitação de equipamentos; Dinamização de eventos sócio-culturais; Reforço da segurança pública;

Criação de incentivos fiscais e apoios financeiros;

Criação de estruturas técnicas de apoio e de procedimentos expeditos de licenciamentos.

Após o consenso sobre o conceito de centralidade intra-urbana, e baseados no conhecimento sobre o concelho, fez-se o exercício de identificação das centralidades intra-urbanas integrantes do perímetro da cidade de Coimbra e, perante essas, procurou-se chegar a uma tipificação que as distinguisse.

Identificaram-se vinte e três áreas como possíveis centralidades e, procurando uma tipificação, distinguiram-se desde logo treze “pólos multifuncionais” e dez “pólos de especialização funcional”.

Pólos de especialização funcional Pólos multifuncionais

Pólos de especialização funcional

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Eq. Educativo Eq. Saúde Comércio / Serviços

Pólo I da UC

Pólo II da UC

HUC / Hosp. Pediátrico / Pólo III da UC

CHC / Esc. Sup. de Enfermagem / Centro de Saúde de S.M. Bispo

Escola Agrícola / Residências Universitárias / Piscinas Municipais

Fundação Bissaya Barreto

Fórum Coimbra

Galeria Átrium Solum / Pavilhão Académica

Retail Parque Eiras / Sup. Pão de Açucar

Arca / Instituto de Lordemão

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x

ID Descrição

Pólos multifuncionais 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

ID Descrição Funções representativas

Baixa

Av- Fernão de Magalhães (e envolvente)

Rossio de Santa Clara

Estádio Municipal

Vale das Flores

Av. Calouste Gulbenkian e Celas

Praça da Républica

Parque Manuel Braga e Parque Verde do Mondego

Bairro Norton de Matos

Rua Carlos Seixas

Comércio | Serviços | Espaço público | Equipamentos | Património

Serviços (Tribunais; Seg. Social, Finanças, ...) Comércio | Transportes

Estádio Universitário | Portugal dos Pequenitos Choupalinho / Praça da Canção | Mosteiro de Santa Clara-a-Velha | Espaço público | Futuro Centro Congressos

Estádio | Piscinas | Pav. Gimnodesportivo | C.C. Dolce Vita C.C. Girasolum | Escolas | Igreja S. José | Espaço público

C.C. Coimbra Shopping | Leroy Merlin | Pequeno comércio