A Tabela 5.1 apresenta os resultados referentes à análise granulométrica das camadas
de solo estudadas e suas classificações geotécnicas.
Tabela 5.1 – Resultado da análise granulométrica e classificação geotécnica
Solo Frações Granulométricas (%) Classif. Geotécnica
A. Grossa A. Média A. Fina Silte Argila H.R.B. S.U.C.S.
ALG-B 1,0 16,0 29,0 12,0 42,0 - ML
ALG-C 12,0 41,0 23,0 17,0 7,0 - SM
RS239-BC - - 68,0 9,0 23,0 - SM-SC
RS239-C - - 74,0 10,0 16,0 - SM-SC
PT-B - 3,0 35,0 5,0 57,0 - ML
PT-C - 8,0 62,0 18,0 12,0 - SM-SC
CD-B 23,0 16,0 13,0 10,0 38,0 - SM
CD-C 25,0 28,0 17,0 19,0 11,0 - SM
SV-AB 30,0 17,0 15,0 18,0 20,0 A4 MH
SV-RA 2,0 2,0 17,0 28,0 51,0 A7-5 MH
SV-ARE - 13,0 54,0 16,0 17,0 A2-6 SC
SF-A 2,0 48,0 40,0 2,0 8,0 A2-4 SM
SF-B 3,0 49,0 36,0 6,0 6,0 A2-4 SM
SF-C 2,0 73,0 20,0 1,0 4,0 A2,4 SP
SF-2C - 56,0 41,0 1,0 2,0 A2-4 SP
SF-1A 1,0 39,0 58,0 2,0 - A2-4 SP
P-UFSM 48,0 23,0 12,0 9,0 6,0 A2-4 SM
Obs.: H.R.B. - Highway Research Board e S.U.C.S. - Sistema Unificado de Classificação dos Solos. Fonte:
Bastos (1999), Nagel (2009), Sant’Ana (2012), Fernandes (2011) e Basso (2013).
Os resultados apresentados revelam que os solos dos perfis estudados por Bastos
(1999), na RMPA, são predominantemente arenosos em sua granulometria. Nos horizontes
em que há ocorrência de maior porcentagem das frações finas do solo (silte + argila), isto
decorre dos processos de pedogênese e intemperismo, como obserado nos solos
subsuperficiais estudados – horizontes B (ALG-B) e B/C (RS239-BC). Os solos dos perfis
RS-239 e PT apresentam-se – de igual forma – arenosos, porém, substancialmente, de
granulometria arenosa fina. Esta característica é advinda da natureza da rocha sedimentar
matriz. Dentre estes solos, é interessante ressaltar que o solo PT-B apresenta maior teor de
argila, devido ao avançado processo de pedogênese ocorrido. Já os perfis estudados ALG e
CD, originários de rocha granítica, apresentam uma granulometria melhor distribuída que vai
desde a fração areia grossa até a fração argila.
Já nos solos estudados por Fernandes (2011), é possível verificar que o horizonte A/B
(SV-AB) e o arenito (SV-ARE) apresentaram uma predominância da fração areia,
principalmente de média a fina, e baixa porcentagem de finos. Na camada de rocha alterada
(SV-RA), ao contrário, constata-se uma porcentagem de fração fina superior a 70%, com
predominância de argila
Os solos provindos da região oeste do estado do Rio Grande do Sul, estudados por
Basso (2013), têm sua granulometria apresentada, também, pela Tabela 5.1. Através desta,
constatamos que os solos selecionados são, em sua totalidade, bastante arenosos, transitando
– fundamentalmente – entre a fração areia média e areia fina (83 a 97% da totalidade). Os
valores inferiores a 90% para as frações de areia foram encontrados somentes nos horizontes
A (SF-A) e B (SF-B). Há pouquíssima porcentagem de argila na composição dos solos, fato
este que se reflete na falta de plasticidade dos mesmos.
Já o solo amostrado pelo autor (P-UFSM) - Passo das Tropas - caracteriza-se, como
pode ser constatado, como um solo altamente arenoso. Esta característica é facilmente
percebida, também, através de análise visual e tátil em campo. Este arenito apresenta
predominância de areia grossa a média dentro da fração grossa do solo. A fração fina
presente neste solo se faz presente, entretanto não é suficiente para conferir plasticidade ao
mesmo.
Como consequência destes resultados, segundo o Sistema Unificado de Classificação
dos solos (SUCS), a grande maioria dos solos estudados se enquadra no grupo dos solos
grossos, como areias siltosas (SM), areias argilosas (SC) e areias mal graduadas (SP). Já os
solos ALG-B e PT-B enquadraram-se, segundo o critério classificatório utilizado, como
siltes inorgânicos (ML). As camadas SV-AB e SV-RA foram classificadas como siltes
elásticos (MH).
Na Tabela 5.2, podemos comparar os resultados referentes aos índices físicos dos
solos estudados. É possível verificar que, quanto aos limites de consistência, os solos que não
apresentaram nenhuma plasticidade foram o P-UFSM e todas as camadas estudadas de São
Francisco de Assis (SF). Característica, esta, decorrente da baixa quantidade de finos na
composição. A maioria dos valores de plasticidade residiu em uma faixa baixa, confirmando
a granulometria mais arenosa dos solos e, portanto, com menor característica plástica. Os
maiores valores de índice de plasticidade (I.P.) pertenceram aos solos SV-RA e CD-B,
devido à maior porcentagem de finos na granulometria. Ao tratarmos dos valores referentes
aos índices de vazios (e), percebe-se que, na grande maioria, a faixa de valores varia de 0,65
a 1. Estes valores próximos a 1, são característicos de solos residuais tropicais, especialmente
os arenosos. Os poucos solos com índice de vazios superior a 1, são exatamente aqueles que
apresentam maior fração argilosa na granulometria, tornando os resultados consistentes.
Quanto ao teor de umidade dos solos amostrados, podemos inferir que há
significativas variações neste índice para um mesmo solo. Algumas destas variações são
explicadas devido a ganhos de umidade decorrentes de eventos pluviométricos ocorridos em
data próxima à saída a campo para coleta das amostras. Além disso, Bastos (1999) afirma que
outra evidência a ser notada é o maior teor de umidade para os horizontes subsuperficiais em
relação aos horizontes saprolíticos de um mesmo perfil.
Já em relação ao grau de saturação (S), constata-se o caráter não saturado dos solos
estudados, com os valores situando-se abaixo de 100. A única exceção é o solo RS239-BC
que, segundo Bastos (1999), numa condição extrema de umidade em períodos chuvosos,
mostra-se saturado pela condição peculiar de drenagem do talude de amostragem. Mais
especificamente, de acordo com o IAEG (1979), solos classificados como naturalmente
secos apresentam grau de saturação (S) de 0% a 25%. Solos denominados úmidos
apresentam faixa classificatória de 25% a 50%. Já, os solos muito úmidos apresentam grau de
saturação na faixa de 50% a 80%. Diante disso a maioria dos solos pode ser classificada
como úmidos e muito úmidos, seguindo esta classificação proposta.
Tabela 5.2 – Resultado dos ensaios para determinação dos índices físicos e limites de consistência
Solo Índices Físicos Limites de Consistência (%)
(%) (KN/m³) s (KN/m³) d (KN/m³) (%) S (%) wl wp I.P.
ALG-B 20,7 a 30,1 16,90 26,80 13,40 0,99 - 55,9 a 81,3 41 31 10
ALG-C 9,2 a 21,9 15,60 26,60 13,50 0,97 - 25,3 a 60,1 39 34 5
RS239-BC 13,8 a 26,0 18,90 26,60 15,80 0,69 - 53,4 a 100 23 16 7
RS239-C 7,8 a 14,3 17,60 26,40 15,90 0,66 - 31,3 a 57,1 20 14 6
PT-B 15,3 a 22,7 16,10 28,50 13,60 1,10 - 39,6 a 58,7 44 31 13
PT-C 10,2 a 13,4 17,00 26,50 15,30 0,74 - 36,3 a 48,0 19 14 5
CD-B 9,9 a 19,5 16,10 26,20 14,10 0,86 - 30,2 a 59,4 53 31 22
CD-C 9,2 a 20,2 15,10 26,30 13,20 1,00 - 24,1 a 53,1 38 31 7
SV-AB 2,9 a 37,5 15,87 26,36 14,00 0,92 46,87 75,4 a 9,0 36 27 9
SV-RA 21,9 a 34 17,09 27,74 13,47 1,07 51,46 50,9 a 98,9 64 35 29
SV-ARE 2,3 a 20,6 17,78 26,58 15,61 0,72 41,29 9,1 a 78,4 34 19 15
SF-A 1,6 a 5,0 15,91 26,54 15,38 0,73 42,05 3,8 a 17,5 N.P. N.P. -
SF-B 3,1 a 16,8 14,97 26,52 14,06 0,90 47,00 10,0 a 52,8 N.P. N.P. -
SF-C 1,1 a 8,8 16,23 26,80 15,65 0,72 41,61 4,0 a 27,2 N.P. N.P. -
SF-2C 3,4 a 10,4 17,53 26,82 16,41 0,64 38,80 12,4 a 53,6 N.P. N.P. -
SF-1A 1,1 a 10,5 17,60 26,40 16,90 0,58 35,99 5,8 a 42,6 N.P. N.P. -
P-UFSM 10,40 15,80 26,40 14,30 0,73 42,10 12,50 N.P. N.P. -
Obs.: - teor de umidade natural, - massa específica aparente natural, - massa específica real dos grãos, - massa específica aparente seca, - índice de vazios, –
porosidade, S - grau de saturação, wl - limite de liquidez, wp - limite de plasticidade e I.P. - índice de plasticidade. Fonte: Sant’Ana (2012), Fernandes (2011) e Bastos (1999).
5.2 Método direto de avaliação da erodibilidade – ensaio de Inderbitzen
Os ensaios de Inderbitzen foram realizados visando à quantificação da erodibilidade
do solo e, também, a avaliação do efeito da umidade inicial das amostras sobre a
susceptibilidade à erosão hídrica. Isto foi feito, adotando e observando a metodologia
desenvolvida por Bastos (1999) e aplicada por autores como Tatto (2007), Ávila (2009),
Fernandes (2011), Sant´Ana (2012) e Basso (2013).
A Tabela 5.3 apresenta os resultados referentes aos ensaios de Inderbitzen dos
horizontes e camadas estudadas por Bastos (1999).
Tabela 5.3 – Resultados dos ensaios de Interbitzen de Bastos (1999) – Perda de Solo (10
-3g/cm
2/min), para diferentes condições de fluxo (Q = vazão e i = inclinação da rampa) e teor
de umidade das amostras, e parâmetros
hcrít(Pa) e K (10
-2g/cm
2/min/Pa).
SOLO COND Q = 3 l/min Q = 6 l/min
hcrít(Pa)
K (10
-2g/cm
2/min/Pa)
i=10
oi=26
oi=45
oi=54
oi=10
oi=26
oi=45
oi=54
o
h(Pa) 1,136 1,710 2,585 3,297 1,393 2,018 2,742 3,239
ALG-B
w nat 0,9 - 1,7 2,6 3,0 - 4,7 - Ind. 0,07
seca ar 36,3 - 118,3 - 39,4 - 305,4 - 1,00 12,90
pré-um 0,6 - 0,8 1,4 1,0 - 1,4 - Ind. 0,03
ALG-C
w nat 112,2 303,8 - - 205,6 345,3 582,2 - 0,70 28,30
seca ar 88,9 - 421,7 - 232,9 - 617,6 - 0,69 26,70
pré-um 61,0 - 459,2 - 174,2 - 549,7 - 0,86 28,10
RS239-BC
w nat 3,9 2,5 3,0 - 5,7 - 21,4 - 0,77 0,65
seca ar 163,8 407,6 501,1 - 117,0 602,4 459,0 - 0,28 22,80
pré-um 2,1 0,2 0,6 - 0,5 - 0,6 3,0 Ind. 0,04
RS239-C
w nat 21,8 - 5,3 - 43,1 - 30,5 - 0,25 1,50
seca ar 81,6 - 82,2 - 155,0 - 116,0 - Ind. 3,60
pré-um 3,5 - 5,3 - 2,3 - 5,6 - Ind. ≈0
PT-B
w nat 1,0 - 1,2 - 1,4 4,4 2,3 0,9 Ind. ≈0
seca ar 14,3 82,2 94,0 - 23,7 - 340,4 - 1,17 14,80
pré-um 0,2 - 0,4 - 0,1 - 0,8 2,6 Ind. 0,09
w nat 108,7 - 614,4 - 244,8 - 720,3 - 0,79 36,30
PT-C seca ar 150,5 - 615,5 - 273,4 - 720,3 - 0,63 33,00
pré-um 61,2 - 515,6 - 135,6 - 692,9 - 1,00 36,50
w nat 1,0 - 5,6 - 6,6 15,8 8,5 16,7 Ind. 0,47
CD-B seca ar 5,6 - 120,9 - 39,9 95,4 432,5 - 1,25 19,00
pré-um 0,3 - 9,4 - 9,2 4,9 15,5 5,5 Ind. 0,29
w nat 7,9 - 61,4 - 31,0 208,7 136,4 - 0,56 6,30
CD-C seca ar 29,2 - 182,8 - 92,2 273,5 617,7 - 1,05 25,90
pré-um 9,0 - 19,3 - 19,0 108,5 96,2 - 0,56 3,60
Como é possível observar, os solos ALG-C e PT-C apresentaram os valores de
coeficiente K mais altos dentre os solos estudados, sendo estes – em média - em torno de 0,27
g/cm²/min/Pa e 0,35 g/cm²/min/Pa, respectivamente. Estes valores se mostram coerentes,
uma vez que estes solos apresentaram comportamento susceptível à erosão em campo.
Já os solos ALG-B e PT-B, que em campo se mostraram de baixa erodibilidade,
apresentaram, condizentemente, valores de taxa de erodibilidade K muito baixos nas
condições de umidade natural e pré-umedecida. Entretanto, na condição de umidade seca ao
ar, os valores referentes ao coeficiente K foram significativos. Isto ocorre, segundo Bastos
(1999), pois nesta condição de umidade, os solos são erodidos na forma de agregados
milimétricos resistentes à desagregação em água, por efeito da cimentação e da elevada
sucção intra-agregados. Os resultados dos ensaios mostraram que acompanham este
comportamento, também, os solos RS 239-BC e o CD-B, com valores de K mais
significativos somente nas amostras secas ao ar.
É possível observar, também, que o solo RS 239-C, independentemente das
condições de umidade, obteve valores de taxa de erodibilidade K baixos. Este resultado pode
ser associado ao fato do arenito apresentar cimentação, acrescendo resistência ao solo e
protegendo-o do fluxo hidráulico. Já os resultados do solo CD-C apontam para valores
significativos de K, especialmente com a secagem das amostras.
Quanto ao parâmetro de tensão hidráulica crítica, de acordo com Bastos (1999) os
valores obtidos estiveram entre 0,25 e 1,25 Pa, na ordem de grandeza de valores para solos
coesivos registrados na literatura, obtidos em diferentes ensaios hidráulicos.
Já a Tabela 5.4, abaixo, apresenta os resultados relativos às camadas estudadas por
Fernandes (2011). Ao analisarmos esta, podemos constatar a relação direta estabelecida entre
a perda de solo, a inclinação da rampa e a vazão utilizada no ensaio. Ou seja, claramente
nota-se que, na grande maioria dos resultados, a perda do solo é tanto maior quanto maior a
inclinação de rampa ou vazão utilizadas.
Tabela 5.4 – Resultados dos ensaios de Interbitzen de Fernandes (2011) – Perda de Solo (10
-3g/cm
2/min), para diferentes condições de fluxo (Q = vazão e i = inclinação da rampa) e teor
de umidade das amostras, e parâmetros
hcrít(Pa) e K (10
-2g/cm
2/min/Pa).
SOLO COND Q = 3 l/min Q = 6 l/min
hcrít(Pa)
K (10
-2g/cm
2/min/Pa)
i=10
oi=26
oi=45
oi=54
oi=10
oi=26
oi=45
oi=54
o
h(Pa) 1,136 1,710 2,585 3,297 1,393 2,018 2,742 3,239
SV-AB
w nat - 1,7 - - 1,4 2,5 2,2 5,3 1,00 0,10
seca ar 1,4 1,9 - 11,6 0,8 4,2 - 8,5 1,25 0,40
pré-um 1,2 2,7 - - 0,8 2,0 5,7 10,9 1,25 0,40
SV-RA
w nat 0,2 0,4 - - 0,35 4,1 3,7 - 1,50 0,20
seca ar 0,6 1,7 18,9 - 1,9 4,4 10,7 - 1,33 0,90
pré-um 0,6 0,4 0,9 - - 0,7 1,4 - Ind. 0,07
SV-ARE
w nat 5,3 15,4 - - 7,9 - - - 0,88 1,70
seca ar 17,1 - 41,9 124,6 17,1 - - - 1,00 4,50
pré-um 2,4 - - - 4,3 5,1 - 6,6 Ind. 0,10
Além disso, é possível inferir que as amostras secas ao ar tiveram maior perda de
solo, decorrente da perda de umidade após 72 horas expostas ao ar. Isto é explicado, pois,
com a redução da quantidade de água da amostra, a parcela de resistência conferida pela água
ao solo - através do efeito de sucção – é perdida. Logo, a tensão hidráulica atuante propicia
uma maior desagregação do solo nesta situação, em comparação às outras condições de
umidade.
Em todas as condições de umidade, as amostras referentes ao arenito (SV-ARE)
apresentaram muito mais susceptibilidade à ação erosiva simulada do que as amostras
provenientes dos outros horizontes. Consequentemente, observa-se que o arenito (SV-ARE)
foi o horizonte a apresentar maiores taxas de erodibilidade K em relação aos outros solos
estudados. Isto é constatado especialmente nas amostras seca ao ar. Para a camada de arenito
o coeficiente de erodibilidade K chegou a 0,045 g/cm²/min/Pa numa tensão hidráulica crítica
de 1,0 Pa.
Já o horizonte A/B (SV-AB) e a camada de rocha alterada (SV-RA) apresentaram
perdas de solo bem menores em relação ao arenito, constatadas pelos coeficientes K de
menor valor. Para o horizonte A/B, a taxa de erodibilidade K ficou em torno de 0,004
g/cm²/min/Pa. No caso da rocha alterada, o coeficiente K mais elevado obtido foi 0,009
g/cm²/min/Pa resultante do ensaio com amostra seca ao ar. Estas taxas são,
consideravelmente, menores do que as obtidas no arenito, mostrando que o arenito se mostra
mais erodível, condizente com o que é observado in situ.
Com relação às tensões hidráulicas críticas, os resultados referentes ao horizonte A/B
(SV-AB) e à rocha alterada (SV-RA) apresentaram valores situados entre 1,0 e 1,5 Pa. Estes,
sim, superiores aos que o arenito (SV-ARE) apresentou, indicando uma maior resistência à
deflagração do processo erosivo. Fato este, também, constatado em campo.
A Tabela 5.5 abaixo apresenta os resultados obtidos através do ensaio Inderbitzen
para a perda de solo (g/cm²/min) pela tensão hidráulica para todos os materiais estudados na
voçoroca de São Francisco de Assis/RS. Ao analisar os resultados, observa-se que as maiores
perdas de solos, em geral, aconteceram nas camadas abaixo do latossolo arenoso, a partir do
horizonte C (SF-C). Em todas as condições de umidade inicial ensaiadas, os solos mais
arenosos SF-C, SF-2C e SF-1A se mostraram mais erodíveis do que os horizontes
superficiais. Há de se ressaltar, também, que a tendência foi de maiores perdas de solo para
maiores inclinações e maiores vazões aplicadas. Além disso, pode-se constatar que, em geral,
as amostras na condição de umidade seca ao ar, apresentaram maior susceptibilidade à erosão
em relação às outras.
Em consonância a estas observações, os maiores valores de taxas de erodibilidade
foram constatados para os solos mais arenosos (SF-C, SF-2C e SF-1A). Para estes solos, os
valores de K situaram-se entre 0,30 g/cm²/min/Pa e 0,54 g/cm²/min/Pa. Resultados estes de
maior magnitude do que o apresentado, especialmente, pela camada SF-A – a de menor
erodibilidade. Já o solo SF-B teve valores menores de coeficiente K, em relação às camadas
mais arenosas, porém de magnitude bem relevante, variando de 0,10 g/cm²/min/Pa a 0,25
g/cm²/min/Pa.
Tabela 5.5 – Resultados dos ensaios de Interbitzen de Basso (2013) – Perda de Solo (10
-3g/cm
2/min), para diferentes condições de fluxo (Q = vazão e i = inclinação da rampa) e teor
de umidade das amostras, e parâmetros
hcrít(Pa) e K (10
-2g/cm
2/min/Pa).
SOLO COND
Q = 3 l/min Q = 6 l/min
hcrít(Pa)
K (10
-2g/cm
2/min/Pa)
i=10
oi=26
oi=45
oi=54
oi=10
oi=26
oi=45
oi=54
o
h(Pa) 1,136 1,710 2,585 3,297 1,393 2,018 2,742 3,239
SF-A
w nat 6,4 5,5 9,8 23,4 - 14,1 18,6 20,7 Ind. 0,78
seca ar 8,5 7,7 9,0 - 15,8 - 28,7 37,9 Ind. 1,13
pré-um 5,3 5,6 - - 21,4 33,4 37,4 33,6 Ind. 1,38
SF-B
w nat 8,3 15,2 - - 50,9 60,8 487,0 416,9 1,33 24,30
seca ar 16,1 138,7 140,0 - 73,3 - - 406,0 1,02 15,50
pré-um 22,8 27,1 - - 20,6 38,3 93,3 264,2 1,29 10,30
SF-C
w nat 97,5 373,5 - - 235,9 856,4 761,7 - 0,79 45,80
seca ar 70,9 325,0 659,0 - 197,6 240,7 610,0 - 0,92 34,60
pré-um 136,1 104,2 646,7 - 146,0 177,5 641,9 - 1,08 36,30
SF-2C
w nat 181,0 420,9 - - 243,7 669,1 784,6 - 0,67 40,50
seca ar 154,9 470,0 - - 415,9 660,0 - - 0,75 52,40
pré-um 159,8 465,4 631,0 - 146,0 177,5 633,9 - 0,73 30,70
SF-1A
w nat 200,3 312,5 687,4 - 198,9 701,6 859,0 - 0,76 42,30
seca ar 165,4 468,5 867,8 - 299,8 694,5 846,1 - 0,68 44,50
pré-um 172,1 514,2 774,3 - - 682,8 803,7 - 0,48 37,90
Além disso, as observações sobre o desencadeamento do processo erosivo,
condicionado pela tensão hidráulica crítica (
hcrít), permitem observar que os arenitos SF-2C
e SF-1A apresentaram os menores valores deste parâmetro, indicando uma menor resistência
ao início da erosão devido ao fluxo superficial. Os valores chegaram até a 0,48 Pa para a
amostra pré-umedecida do solo situado na base da voçoroca.
A Tabela 5.6 apresenta os resultados do ensaio de Inderbitzen para o ponto P-UFSM.
É possível inferir, analisando os dados, que o solo deste local apresentou baixa perda quando
submetido ao fluxo induzido, em qualquer das condições de ensaio: mesmo variando
umidade das amostras, inclinações ou vazões. Isto confirma o comportamento desta camada
in situ, que se mostra muito resistente à erosão. Mais especificamente, os valores de perda de
solo não seguem uma tendência clara, diferentemente dos solos estudados em outras
pesquisas que apresentavam – na maioria dos casos – perdas maiores nas amostras secas ao
ar. Os valores de taxa de erodibilidade K refletiram, então, as baixas perdas apresentadas,
girando em torno de 0,002 g/cm²/min/Pa a 0,013 g/cm²/min/Pa.
Os valores de tensão hidráulica crítica
hcrítresultaram em não determinados para a
condição natural e pré-umedecidas das amostras. Já para a condição seca ao ar, este
coeficiente resultou em 1,25 Pa.
Tabela 5.6 – Resultados dos ensaios de Interbitzen de P-UFSM – Perda de Solo (10
-3g/cm
2/min), para diferentes condições de fluxo (Q = vazão e i = inclinação da rampa) e teor
de umidade das amostras, e parâmetros
hcrít(Pa) e K (10
-2g/cm
2/min/Pa).
SOLO COND
Q = 3 l/min Q = 6 l/min
hcrít(Pa)
K (10
-2g/cm
2/min/Pa)
i=10
oi=26
oi=45
oi=54
oi=10
oi=26
oi=45
oi=54
o
h(Pa) 1,136 1,710 2,585 3,297 1,393 2,018 2,742 3,239
P-UFSM
w nat 3,8 5,1 14,8 10,6 9,3 4,5 9,2 4,9 Ind. 0,18
seca ar 5,9 16,6 5,2 8,2 7,3 6,4 12,3 - 1,25 0,02
pré-um 1,6 2,9 39,8 - 2,4 3,3 3,6 - Ind. 1,30
A Tabela 5.7 apresenta os resultados relativos aos ensaios de Inderbitzen para as
amostras de horizontes/camadas estudadas, através dos valores médios finais obtidos para
tensão hidráulica crítica e taxa de erodibilidade dos solos. É possível, através desta análise,
traçar um panorama geral dos ensaios realizados.
Tabela 5.7 – Resultados dos ensaios de Interbitzen – Tensão hidráulica cisalhante crítica
hcrít(Pa) e taxa de erodibilidade K (10
-2g/cm
2/min/Pa) médios.
Solo
Tensão Hidráulica Crítica
hcrít(Pa)
Taxa de erodibilidade K
(10
-2g/cm²/min/Pa)
Natural Seca ar Pré-um Média Natural Seca ar Pré-um Média
ALG-B Ind. 1,00 Ind. 1,00 0,07 12,90 0,03 4,33
ALG-C 0,70 0,69 0,86 0,75 28,30 26,70 28,10 27,70
RS239-BC 0,77 0,28 Ind. 0,53 0,65 22,80 0,04 7,83
RS239-C 0,25 Ind. Ind. 0,25 1,50 3,60 0,00 1,70
PT-B Ind. 1,17 Ind. 1,17 0,00 14,80 0,09 4,96
PT-C 0,79 0,63 1,00 0,81 36,30 33,00 36,50 35,27
CD-B Ind. 1,25 Ind. 1,25 0,47 19,00 0,29 6,59
CD-C 0,56 1,05 0,56 0,72 6,30 25,90 3,60 11,93
SV-AB 1,00 1,25 1,25 1,17 0,10 0,40 0,40 0,30
SV-RA 1,50 1,33 Ind. 1,42 0,20 0,90 0,07 0,39
SV-ARE 0,88 1,00 Ind. 0,94 1,70 4,50 0,10 2,10
SF-A Ind. Ind. Ind. - 0,78 1,13 1,38 1,10
SF-B 1,33 1,02 1,29 1,21 24,30 15,50 10,30 16,70
SF-C 0,79 0,92 1,08 0,93 45,80 34,60 36,30 38,90
SF-2C 0,67 0,75 0,73 0,72 40,50 52,40 30,70 41,20
SF-1A 0,76 0,68 0,48 0,64 42,30 44,50 37,90 41,57
P-UFSM Ind. 1,25 Ind. 1,25 0,18 0,02 1,30 0,50
Nos solos da RMPA estudados, houve uma grande amplitude de valores de
coeficiente K médio, variando de 0,017 g/cm²/min/Pa (taxa do solo RS239-C) a 0,353
g/cm²/min/Pa (taxa do solo PT-C). Nesta região, os solos que apresentaram resultados mais
elevados foram o ALG-B (0,277 g/cm²/min/Pa), o PT-C já citado, e o CD-C (0,119
g/cm²/min/Pa). Estes resultados foram condizentes com o comportamento observado em
campo, visto que estas camadas eram, realmente, as que se mostravam mais susceptíveis à
erosão. Tratando ainda dos solos da região metropolitana, é possível inferir que as tensões
hidráulicas situaram-se entre 0,25 Pa e 1,25 Pa.
Já as camadas amostradas no Distrito de São Valentim, em Santa Maria/RS,
apresentaram – comparativamente aos solos estudados por Bastos (1999) e Basso (2013) –
menores valores de coeficiente K médio. O resultado mais representativo deste coeficiente
ocorreu na camada de arenito (SV-ARE) que teve K médio de 0,021 g/cm²/min/Pa. Já,
tratando-se da tensão hidráulica crítica
hcrítmédia, para esta localidade, os valores
situaram-seentre 0,94 Pa e 1,42 Pa – este último, o maior valor dentre todos os solos
estudados.
Analisando a Tabela 5.7, constatamos, também, que os solos provenientes da
voçoroca de São Francisco de Assis (SF), foram aqueles que apresentaram maiores taxas de
erodibilidade, no geral. O arenito da base da voçoroca – SF-1A – comprovou-se altamente
erodível, com uma taxa de erodibilidade média K igual a 0,416 g/cm²/min/P – a mais alta
dentre todas as camadas ensaiadas. Há de se destacar que o parâmetro K médio, foi de grande
magnitude também para SF-C e SF-2C. A tensão hidráulica crítica não pôde ser determinada
para o horizonte A. Já, este coeficiente médio situou-se, para o horizonte C e os arenitos,
entre 0,7 e 1 Pa, portanto valores inferiores aos solos dos horizontes A e B. Bastos (1999) e
Fernandes (2011) verificaram esta tendência, ou seja, os solos saprolíticos e materiais de
alteração apresentam uma tensão hidráulica crítica inferior quando comparado aos horizontes
pedológicos – neste caso SF-A e SF-B.
O ponto P-UFSM mostrou-se, através dos resultados do ensaio de Inderbitzen, muito
resistente ao processo erosivo. Isto ficou evidenciado na taxa média de erodibilidade de
0,005 g/cm²/min/Pa, uma das menores observadas nesta pesquisa. Além disso, a tensão
hidráulica desencadeadora da erosão foi de 1,25 Pa, maior do que a grande maioria das
amostras ensaiadas, comprovando que o arenito grosso com cimentação natural tem
resistência alta ao escoamento superficial.
Na literatura técnica existem poucas referências sobre critérios estabelecidos na
avaliação da erodibilidade. Bastos (1999), em seu trabalho, em uma primeira aproximação
estabelece que os solos mais erodíveis apresentem valores de K, na condição de umidade
natural, superiores a 0,1 g/cm²/min/Pa – sendo classificados como de alta erodibilidade.
Sugere, também, que solos de baixa erodibilidade apresentem valores de K inferiores a 0,001
g/cm²/min/Pa, na umidade referida.
Figura 5.1 – Critério de erodibilidade com base nos dados de taxa de erodibilidade obtidos
nos ensaios de Inderbitzen proposto por Bastos (1999).
De acordo com a proposta de classificação de Bastos (1999) e analisando a Figura
5.1, é possível constatar que a maioria dos solos estudados situaram-se na faixa de solos de
mediana erodibilidade. Os solos classificados como de alta erodibilidade foram, exatamente,
aqueles que em campo apresentavam grande susceptibilidade aos processos erosivos. Fazem
parte deste grupo os solos: ALG-C, PT-C, SF-B, SF-C, SF-2C e o SF-1A. Já os solos que, in
situ, apresentaram comportamento mais resistente à frente erosiva, são exatamente os que
situaram-se abaixo da faixa de 0,001 g/cm²/min/Pa ou próximo desta. Estão dentre estes os
solos: ALG-B, PT-B e o SV-AB.
6 CONCLUSÕES
Os solos de todos os locais estudados são, predominantemente, arenosos e pouco
plásticos, sendo estas características constatadas através da granulometria e dos limites de
Atterberg. É possível inferir, também, que o eventual aumento nas frações finas e na
plasticidade para alguns solos foi decorrente do processo de pedogênese mais avançado do
solo que é constatado em solos subsuperficiais (por exemplo: horizontes B e B/C) em relação
aos solos saprolíticos. Os valores referentes à massa específica real dos grãos (s)
mostraram-se coerentes com a mineralogia dos solos estudados – provenientes de substrato
granítico ou arenito, constituídos de minerais como quartzo e feldspato.
Os solos estudados se mostraram porosos e não saturados, com valores de índices de
vazios menores do que 1 ou próximos a este valor, na sua maioria. Estes resultados são
característicos de solos residuais tropicais, o que é o caso. Já na avaliação do grau de
saturação das amostras, constatamos que houve grande amplitude de resultados, só havendo
o solo RS239-BC alcançado a saturação – devido a uma situação muito específica de campo.
A maioria, então, foi classificada como solos úmidos, segundo o IAEG (1979).
A avaliação direta da erodibilidade através do ensaio de Inderbitzen – alvo principal
deste estudo – foi realizada a fim de quantificar a erodibilidade dos solos e rochas estudados,
através dos parâmetros de taxa de erodibilidade (K) e tensão cisalhante hidráulica crítica
(τh
crit). Após execução dos ensaios, análise dos resultados obtidos e comparação dos mesmos
com os dados provenites de outros autores, foi possível constatar que:
A inclinação de rampa e a vazão aplicada no ensaio tem papel decisivo nas perdas de
solos resultantes. É claramente observado que, quanto maior estes dois parâmetros de
No documento
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE TRANSPORTES CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
(páginas 61-83)