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Essas são apenas algumas das situações que encontramos no dia a dia das operações da aviação geral brasileira. Fica bastante evidente a urgente a necessidade de uma mudança de cultura nesse ramo aeronáutico, uma vez que, além da perda de pilotos, passageiros inocentes têm suas vidas interrompidas por quebra de disciplina.

Porém, se a quebra de disciplina continua causando acidentes fatais – especialmente no tocante às condições meteorológicas adversas –, por que pilotos insistem no “visumento”, ou em descer abaixo da MDA sem contato visual com a pista?

Pode-se afirmar que a aviação geral é, de certa forma, marginal. Se um piloto, hoje, decidir descer abaixo dos mínimos a conseguir pousar sem maiores problemas, amanhã ele vai repetir. E depois de amanhã, também. E o seu patrão, leigo no assunto, ficará satisfeito ao perceber que o seu piloto conseguiu pousar sua aeronave em condições meteorológicas adversas. Mal sabe ele do risco que está correndo. Além disso, muitas vezes o “ego” do piloto fala mais alto na hora de uma tomada de decisão.

E a cada vez que um piloto repete, com “sucesso”, esse tipo de operação, menor o seu limite fica. Porém, se hoje um piloto da aviação comercial descer abaixo da MDA sem contato visual, amanhã ele estará demitido, e consequentemente, vai ser difícil se empregar novamente. Por isso, a indisciplina de voo na aviação comercial tem um menor índice de ocorrência .

Não é o que ocorre na aviação geral, onde o aviador ultrapassa seus próprios limites para alimentar seu ego e sua vontade exacerbada de atender às necessidades do patrão em detrimento à segurança operacional de voo.

Essa cultura, então, precisa mudar. Um piloto da aviação geral deve ser mais firme nas suas decisões, e essa firmeza tem que ser demonstrada para seu patrão na hora de dizer “não”. E que o seu ego não fale mais alto, pois é melhor alternar para outro destino – ou até mesmo sequer decolar – do que insistir e provocar um acidente.

O presente capítulo apresentou dados referentes ao acidente da aeronave de matrícula PR-DOC, em 2012, com o objetivo de associar seus elementos contribuintes aos fatores humanos e à gestão de riscos, uma vez que estes princípios relacionam-se de uma forma a causar uma tomada de decisão que pode comprometer a segurança de voo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo geral compreender e analisar a ocorrência de acidentes aeronáuticos em condições meteorológicas de voo por instrumento (IMC).

Para atingir esse objetivo, a presente pesquisa classifica-se como explicativa com abordagem qualitativa. E, em relação à coleta de dados, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental.

Para tal, utilizou-se o embasamento teórico de autores como James Reason (1990), Antonio Carlos Vieira de Campos (2013) e Hélio Luís Camões de Abreu (2016), além de dados oficiais publicados pelo CENIPA e por documentos de órgãos que regulam a aviação, como a ICAO e a ANAC.

Em relação ao objetivo específico a) Discorrer sobre fatores humanos, gestão de riscos e sistemas operacionais, constatou-se que esses elementos estão intimamente ligados, sendo a aviação caracterizada como exemplo de sistema complexo. Além de conter riscos pela sua própria natureza, a atividade aérea está associada a inúmeros aspectos do comportamento humano, e todos esses elementos estão contidos no processo de tomada de decisão – composto pela gestão de riscos, consciência situacional e CRM.

Para o objetivo específico b) Identificar os principais elementos contribuintes para acidentes na aviação particular brasileira, foi constatado que erros referentes a julgamento de pilotagem, planejamento de voo e aplicação de comandos representam 29,5% do total, Porém, o presente trabalho deu ênfase a três elementos apresentados no estudo do CENIPA: julgamento de pilotagem, indisciplina de voo e condições meteorológicas adversas. Foi constatado também que os três fatores podem estar relacionados e, em algumas situações, aparecerem como contribuintes para um mesmo acidente, e que qualquer um deles pode levar aos outros.

Para o objetivo específico c) Expor as operações sob condições meteorológicas adversas, constatou-se a grande incidência de fatalidades ocorridas nessas situações. Além de apresentar dados referentes ao acidente da aeronave matrícula PR-DOC, modelo King AirB200GT, e citar o desastre com a aeronave PR-TUN, modelo Robinson 44, que colidiu contra o solo durante um voo sem visibilidade, concluiu-se que esse tipo de operação costuma levar o piloto a uma desorientação espacial. Um estudo realizado pela Universidade de Illinois também apontou que um piloto leva, em média, 178 segundos para se desorientar voando em condições meteorológicas adversas sem possuir habilitação para voar sob regras de voo por instrumentos

Em relação ao objetivo específico d) Verificar as causas do acidente com a aeronave PR-DOC, modelo King Air B200GT, constatou-se que a tripulação contrariou as regras estabelecidas pela regulamentação de tráfego aéreo. Também foi constatado que os fatores contribuintes para o acidente foram: condições meteorológicas adversas; coordenação de cabine; indisciplina de voo; e julgamento de pilotagem.

Para concluir, a presente pesquisa associou seus elementos contribuintes aos fatores humanos e a gestão de riscos, uma vez que estes princípios relacionam-se de uma forma a causar uma tomada de decisão que pode comprometer a segurança de voo.

Sobre o problema da pesquisa – Por que há incidência de acidentes aeronáuticos em condições meteorológicas de voo por instrumento (IMC)? – constata-se que o ego do aviador, em conjunto com a pressão por atender às necessidades do patrão, podem levá-lo a forçar determinadas situações – e voar em condições adversas – em detrimento da segurança de voo, afetando assim o seu julgamento para a tomada da decisão.

Com base nas presentes constatações, sugere-se que órgãos oficias de fiscalização, de regulação e de prevenção de acidentes realizem novas pesquisas – relacionadas a este mesmo tema – no sentido e evitar a ocorrência de acidentes.

REFERÊNCIAS

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