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Parafraseando Paulo Freire, acreditamos que ensinar exige, além da pesquisa, planejamento didático de ensino. No nosso último encontro de discussão textual, apontamos quais conteúdos e quais tipos de mídias seriam utilizados para cada escola e, a partir desta divisão, estabelecemos quais seriam: as turmas atendidas, quais temas seriam abordados em cada turma, nossos objetivos de ensino, nossos recursos didáticos, estratégias de ensino. Pesquisamos quais materiais e espaços teríamos disponíveis na escola e, por fim, quanto tempo teríamos disponível para realizar a intervenção pedagógica.

Delineamos o seguinte cenário inicial: a escola lócus de intervenção foi a Escola Estadual Edgar Barbosa, mais especifi- camente as turmas do 2º e 3º anos do ensino médio e a temática central de nossas aulas a Copa do Mundo de futebol, portanto o conteúdo foi esporte (futebol), e a mídia impressa (jornal e revista) foi escolhida para a escola, levando em consideração que estas mídias são mais acessíveis para aquela realidade escolar.

O tema central foi a Copa do Mundo de Futebol, mas cada turma teve subdivisões de temas que optamos problematizar e tomar como fio condutor de nossa intervenção. Assim, a turma do 2º ano teve como subtema a ética no futebol e o 3º ano, as questões de trabalho e consumo, tomando por base o contexto do futebol (Figura 1).

Figura 1 – Organograma do conteúdo, temas norteadores e subtemas, por turma

A escolha destes temas se deu após conversa com o profes- sor da turma a fim de conhecer um pouco do perfil do alunado envolvido. Assim, ao problematizar, por exemplo, a questão de torcida organizada estava contemplando uma porção de estudantes que participam de grupos de torcida organizada de

clubes de futebol de nosso estado, tornando-os reflexivos de suas ações dentro e fora do contexto escolar, sempre pensando no processo educativo, que se constrói não só na escola.

No terceiro ano, considerar as questões de mercado e consumo, pensando nas relações trabalhistas, ou de escolha de um futuro profissional, foi interessante pelo desencadear de pensamentos e reflexões, de como a mídia nos influencia nas escolhas de profissões, como o sonho de ser jogador de futebol quando crianças, ou de ter as roupas de determinadas marcas, na adolescência. No entanto, o mais relevante foi a problema- tização das questões de gênero, na discriminação presente na prática do futebol e no cotidiano de mulheres, especialmente no tocante ao mercado de trabalho, ou nos redobrados esforços das mulheres pela conquista de espaços, em ambos os cenários, esportivos e sociais. Demonstrando que as aulas de educação física podem problematizar, além dos conteúdos próprios do componente curricular, conjunturas sociais.

Para problematizar todas estas questões, estabelecemos como objetivo de intervenção, a utilização da Mídia-Educação, enquanto metodologia de ensino, a fim de estimular o consumo crítico das informações midiatizadas, bem como criar suas próprias mídias impressas, tomando por base o conteúdo futebol. Para atingir tal objetivo, tínhamos como recurso didático, pro- jetor multimídia, notebook, lousa e pincel para quadro branco, para aulas expositivas e quadra esportiva, bolas, traves, coletes, cones etc. para aulas práticas, que foram condição importante para que a intervenção acontecesse. Uma estrutura física e de materiais esportivos muito boa, quando comparada a maioria das escolas da rede pública de ensino de nosso estado.

Então, verificamos quanto tempo teríamos disponível para a intervenção em Mídia-Educação e a princípio, tínhamos cerca de quatro ou cinco semanas, pois pensávamos em encerrar a intervenção antes do recesso que a escola deu quando teve início a Copa do Mundo de Futebol.

Anteriormente, descrevemos o que denominamos “cená- rio inicial”, e assim chamamos, pois o planejamento inicial, principalmente no tocante ao tempo para intervenção, foi reconstruído pelo menos duas vezes, a fim de superar alguns entraves que ocorreram durante nossa intervenção e que são bem possíveis de acontecer em outras realidades, por exemplo, tivemos semana de provas (as aulas ficam suspensas), adaptação lenta ao método de ensino, os estudantes não cumpriram prazos determinados para entrega de materiais necessários para a continuidade das aulas etc.

Por fim, é importante destacar que, ao organizamos e planejarmos nossa intervenção e pesquisa em campo estabe- lecemos uma parceria com o grupo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID da subárea Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, composto pelo professor de Educação Física da escola (que no PIBID se caracteriza enquanto supervisor) e os licenciados em Educação Física que acompanhavam as turmas escolhidas para nossa pesquisa (intitulados pibidianos). Todos os participantes desta parceria foram responsáveis, em maior e menor escala, pelo estudo do referencial teórico que seria adotado, pelo pla- nejamento participativo, pela condução das aulas, enfim, pelo bom andamento de nossa proposta.

O chão da escola

Nosso lócus de pesquisa foi a Escola Estadual Edgar Barbosa, situada no município de Natal, RN, que atende alunos do ensino médio. Dentro desse espaço nossa amostra experiencial consistiu em, uma turma do 2º ano e uma turma do 3º ano, escolhidas baseadas na compreensão que estes desenvolveriam melhor as atividades. São turmas mistas que possuem uma média de 25 estudantes cada. A turma do 2º ano tem aulas nas segundas e sextas-feiras e a turma do 3º ano tem aula nas quartas e sextas-feiras, o fato de não serem duas aulas

consecutivas dificultou o andamento das intervenções, pois as salas são ambientadas, ou seja, são aquelas em que os professores permanecem e os estudantes se deslocam, havendo atrasos recorrentemente e então, quando se iniciava as atividades de forma mais aprofundada, a aula já estava próxima do fim. Como a intervenção é pautada principalmente na discussão crítica da produção midiática, profissional e do alunado, este fato pode ter comprometido este aprofundamento.

Ao chegarmos ao lócus de intervenção, encontramos uma escola bem estruturada fisicamente, com sala de aula equipada com projetor multimídia, caixa de som, quadra esportiva coberta e ampla, com ótimas condições de uso. Mas, para além dos recursos, percebemos dificuldades, por parte dos estudantes, em compreender como procederíamos às aulas a partir de agora. O que é muito natural, visto que o tão “familiar” futebol, seria contemplado no contexto da Educação Física escolar utilizando de uma estratégia metodológica de ensino ainda desconhecida, a Mídia-Educação.