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O ensino-aprendizagem dos falsos amigos nas aulas de Espanhol Língua Estarngeira

2. O ensino dos falsos amigos

2.3. A abordagem do léxico nas aulas de Língua Estrangeira

2.3.1. O ensino-aprendizagem dos falsos amigos nas aulas de Espanhol Língua Estarngeira

Tomando como ponto de partida a abordagem do léxico nas aulas de LE discutida anteriormente, propomos agora levar a cabo uma breve reflexão sobre as atividades mais apropriadas no tratamento dos falsos amigos na sala de aula.

Em primeiro lugar, convém recordar que, sendo o foco do nosso estudo os falsos amigos lexicais, as linhas orientadoras dos documentos norteadores (QECRL, PCIC e programas nacionais) no âmbito da abordagem do léxico na sua generalidade assim como as estratégias subjacentes ao método contrastivo neles mencionadas, devem ser tidas em conta no desenho das atividades a levar a cabo no processo de EA. Partindo destes pressupostos, o docente deverá, posteriormente, refletir e definir a melhor forma de os abordar em sala de aula, delineando estratégias de EA eficazes e significativas para a sua superação e consequente aquisição. Segundo Gómez Bautista (2011), baseado nas afirmações de Newmark (2006), estas estratégias devem obedecer a quatro critérios:

-Deberá favorecer la autonomía del alumno y posibilitar que éste adquiera competencias y estrategias que le permitan deducir el significado correcto en

función del contexto.

- Convendrá presentar estrategias que permitan al alumno diferenciar palabras y expresiones que pueden inducir a error.

- Será preciso acabar con el mito de la intraducibilidad de algunas palabras y expresiones: todo es traducible, bien por medio de circunloquios, bien por conducto de otros recursos compensadores.

- Se tendrá en cuenta que los falsos amigos son una excepción y que la mayoría de las palabras son “amigos fieles”. (pp. 86-87)

Consideramos que nas entrelinhas destes critérios subjaz uma série de sugestões pertinentes para a implementação de atividades a realizar no âmbito deste tema e que tivemos em conta na preparação das propostas didáticas que apresentaremos no subcapítulo 1.6 do capítulo 2. Neles, sobressai, desde logo, a necessidade de ajudar o aluno a aprender a aprender, dotando-o de estratégias de aprendizagem com vista a alcançar autonomia

suficiente na dedução dos significados dos falsos amigos. Esta mesma ideia é defendida por Molina (2004) que sublinha a importância das estratégias que o aluno possui para ultrapassar as dificuldades com o léxico. Por outro lado, o contexto assume igualmente um lugar de destaque neste primeiro critério, remetendo-nos para a importância de um estudo contextualizado destes conteúdos lexicais. De facto, sendo o falso amigo uma palavra semelhante na forma mas diferente semanticamente, esta contextualização torna-se imprescindível para que o aluno possa deduzir e reconhecer o seu significado. Para tal, e a título de exemplo, Gómez Bautista (2011) recomenda o uso de “diccionarios, fichas con imágenes, actividades que permitan el uso contextualizado de esas palabras, vídeos, canciones o cualquier otro tipo de muestra de lengua auténtica” (p. 87). Nesta sugestão de materiais está bem patente a abordagem multissensorial também defendida por Molina (2004), que para além de se adequar aos vários estilos de aprendizagem dos discentes, reveste-se de grande utilidade tendo em conta a multiplicidade de situações em que estes conteúdos lexicais são suscetíveis de ocorrer. Subjacente a esta abordagem multissensorial está evidentemente o tratamento dos falsos amigos em todas as atividades comunicativas, tal como sucede no EA do léxico em geral. Ainda em consonância com a abordagem do léxico na sala de LE e totalmente aplicável ao EA dos falsos amigos, está a observação de Molina (2004) que defende que se deve levar a cabo uma abordagem “con procedimientos lúdicos y técnicas asociativas (mapas mentales – agrupaciones conceptuales –, pares asociados imagen- palabra, asociaciones contextuales, tarjetas, parrillas, etc.)” (p. 804), principalmente nos níveis iniciais e que contrapõe aos níveis mais avançados em que o processamento verbal surge como uma abordagem mais eficaz. Ora, nestas atividades de caráter mais lúdico mais adequados aos níveis inicias, incluem-se os jogos e as dramatizações que se revelam eficazes para uma aprendizagem significativa dos mesmos tal como mencionado no subcapítulo anterior e que também aplicamos nas atividades realizadas durante o estágio.

Ainda relativamente aos critérios enumerados por Gómez Bautista (2011), aparece a sugestão do recurso à tradução, método este já defendido pela AC e reforçado por Hurtado (1987, citado em Santos Gargallo, 1993) como “un ejercicio que sirve para captar el funcionamento diferente de cada lengua y evitar las interferências” (p. 61), e, portanto,

eficiente no EA dos falsos amigos. Gómez Bautista refere ainda que é importante consciencializar os alunos de que os falsos amigos são uma exceção que resultam da proximidade linguística existente entre a língua portuguesa e a língua espanhola, sendo que na sua maioria, as formas lexicais são amigos fiéis. Paralelamente a estes aspetos, o autor acrescenta que devemos aproveitar o caráter humorístico que os falsos amigos podem proporcionar em determinadas situações comunicativas. Fazer uso do seu efeito humorístico não significa, de todo, abordar o tema com ligeireza. Pelo contrário, é um meio que possibilita cativar de forma mais rápida e eficaz a atenção dos alunos, fazendo com que aprendam a distinguir mais facilmente estes vocábulos.

Gómez Bautista (2011) termina o artigo com uma citação de Alvar (2003) que alerta para a pouca eficácia da elaboração de listas de falsos amigos na medida em que as mesmas constituem amostras de línguas forçadas. Esta é, efetivamente, uma estratégia que tem suscitado alguma polémica como já discutimos no subcapítulo anterior. Da experiência enquanto aluna e atualmente como docente, constata-se que a elaboração espontânea de listas com a respetiva tradução dos vocábulos continua uma prática muito comum entre os aprendentes de uma LE como uma ferramenta de auxílio para a compreensão e memorização dessas mesmas unidades léxicas. Ora, se nos centrarmos mais especificamente no tratamento dos falsos amigos, estas listas ganham ainda mais relevância. A razão prende-se com o facto de não estar em causa única e exclusivamente o levantamento de falsos amigos e respetiva tradução em listas extensas. Há uma razão intrínseca que vai mais além. Essa razão prende-se com a sua principal função que é a de estabelecer o contraste entre a língua portuguesa e a espanhola, mostrando as divergências semânticas entre as duas unidades léxicas, opondo-se, assim, às listas de léxico da LE que se regem por simples associações binárias de vocabulário descontextualizado. Nesta perspetiva, o foco está na AC, defendida em todos os documentos reguladores já analisados, e que por sua vez contribui para o desenvolvimento das competências linguísticas dos alunos que passa pela consciencialização destas especificidades inerentes a cada língua e que exigem redobrada atenção. Para evitar as amostras de língua forçadas que, segundo Alvar, definem as listas de falsos amigos, estas devem surgir como reforço, consolidação e sistematização destes conteúdos lexicais já trabalhados em contexto e subordinados a uma determinada unidade temática. Estas listas, assim como a elaboração de

glossários e/ou minidicionários de falsos amigos, surgem como importantes ferramentas que poderão integrar a panóplia de estratégias autónomas de aprendizagem que visamos desenvolver nos discentes e que os auxiliarão na melhoria da sua competência comunicativa ao longo do seu percurso de aprendizagem do ELE.

A modo de conclusão, a questão dos falsos amigos tratada neste capítulo pretendeu lançar alguma luz sobre esta problemática à qual nem sempre é dada a devida atenção. Consideramos que um conhecimento mais aprofundado sobre esta temática poderá influenciar positivamente a sua abordagem nas aulas de ELE e assim facilitar o trabalho docente.