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6.2 A PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO POTENCIALIZADORA DA MANIFESTAÇÃO

6.2.2 Ensino da Arte: Elo entre a Criação do Aluno e seus Sentimentos

Para que a arte-educação ou educação artística consiga estabelecer um elo entre a criação e os sentimentos do aluno, convém que explore as possibilidades de transformar os conhecimentos em arte. O aluno terá a sua consciência criadora fortalecida pela ação do professor que o auxiliará, fornecendo informações e procedimentos que contribuam ao desenvolvimento do trabalho, numa atmosfera de compreensão e envolvimento – segredo de um ensino bem-sucedido.

As intervenções do professor compreendem tanto ações relativas à percepção estética, quanto às do fazer artístico. Buoro (2003, p. 36) lembra oportunamente que:

Junto com a valorização da escrita, há o fortalecimento das preocupações da criança com o julgamento de sua produção. É comum um número grande de alunos perguntar ao professor se o seu trabalho de Arte está certo ou errado. A noção de aprovação e reprovação é tão forte, que eles se sentem tolhidos e inseguros para se expressar.

Ações pedagógicas desta natureza, quando pertinentes, colaboram para elevar o nível da produção dos alunos e fazer com que se sintam satisfeitos com suas realizações, principalmente quando comparadas com trabalhos produzidos pelo círculo de produção social a que pertencem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, v. 6, p. 53), propõem que o ensino de arte se organize de modo que, ao final do ensino fundamental, os alunos sejam capazes de: ―Edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções.‖

O aluno desenvolverá esta relação de confiança, à medida que tiver uma íntima ligação com pontos, linhas, planos, cores, luzes, movimentos, ritmos e com as possíveis articulações desses elementos entre si, arranjando-os de maneira a configurar um código próprio, sentindo-se à vontade no grupo e sentindo-seguro de sua poética. Mosquera (1973, p. 80) nos chama atenção para o fato de que ―[...] na arte existe uma carga física e uma carga psíquica. Toda a obra de arte tem fundamentalmente uma carga e um código.‖

Neste sentido, Pereira (2007, p. 12) também nos diz:

A criação artística deflagrada por procedimentos didáticos cria uma tensão que estabelece ou rompe limites, possibilitando ao sujeito produzir conhecimento sobre o objeto. Ao criar, o sujeito põe em evidência a estrutura de valores e significados subjacentes aos processos desenrolados na sala de aula. Quando inventa uma determinada forma, está estabelecendo um diálogo, pois utiliza uma linguagem da arte para dar forma a uma idéia que foi deflagrada pela proposta do professor. A produção é ao mesmo tempo, resposta, solução e transformação. Há, na criação artística do aluno, uma tentativa de corresponder ao que foi pedido, mas também de revelar a si mesmo. Na criação há uma marca pessoal. Os diferentes aspectos da criação artística na aula tecem caminhos entre sujeitos e idéias, como diálogos entre o que sei e o que o outro sabe, o que eu e o outro desejamos, as crenças dos sujeitos, os valores dos coletivos.

A intervenção do professor é necessária para promover um ambiente propício de cooperação, troca, atenção, concentração, sem que se perca a alegria e o prazer que devem prevalecer nas aulas. O Professor 4 salienta que ―Procuro trabalhar sempre criando um clima de naturalidade, onde o normal seja cada um realizar um trabalho seu.‖

Quando as aulas colaboram para que o aluno trabalhe de forma disciplinada, é desejável que também se cuide para que não se iniba, não se retraia. Regras claras para o uso do espaço e para as relações interpessoais. Isso faz com que o aluno crie confiança, faça

explorações, estimule a criatividade e a coordenação de suas ações com a dos outros, garantindo assim o desenvolvimento de maneiras interessantes e criativas de fazer e de pensar sobre a arte, exercitando seus modos de expressão e expondo-se no grupo.

O professor 6 aponta que ―A manifestação de afeto também está presente nas manifestações de respeito às individualidades com o respectivo resgate da auto-estima e também nos momentos de motivação para os trabalhos.‖

Sobre a atuação do professor, Richardson ([19--] apud READ, 2001, p. 260) nos chama a atenção para:

O bom professor de arte sempre levará seus alunos e seus desenhos completamente a sério. Talvez isso seja mais importante que todo o resto, sendo também o meio de levar as crianças a exigir o melhor delas mesmas. Elas precisam, especialmente quando se aproximam da autoconsciência, da autoridade de um adulto para convencê-las de que sua arte é válida e para previni-las contra a aceitação do trivial e do lugar-comum que as cercam por todos os lados. Essa seriedade surge facilmente no professor quando ele percebe que seu trabalho com as crianças pode, no final, fornecer-lhes a chave para a compreensão da arte no mais amplo sentido.

Os professores entrevistados falam a respeito do elo entre a obra e seu autor, a análise das produções e o respeito que elas merecem. O Professor 4, por exemplo, diz: ―A arte na escola tem sempre o afeto como base de trabalho por ser permeável a qualquer tipo de manifestação de sentimentos. É fundamental que a aula de artes seja levada pelo professor a ser elo entre a criação/obra do aluno e o sentimento que ele tem por si mesmo.‖

Vejamos o que diz o Professor 3:

[...] é preciso vivenciar momentos que contribuam para a análise e apreciação de seus próprios trabalhos de arte, bem como da análise e reflexão sobre obras de artistas, como forma concreta de trabalhar a observação, o saber ver e sua simbologia. Além disso, são nesses momentos, com um ambiente afetivo favorável que encaminhamos as atividades para análises críticas das atitudes individuais e do grupo, valorizando dessa forma as possibilidades individuais, sensibilidade, cooperação, respeito e entendimento das produções artísticas realizadas por todo o grupo.

Professor 5: ―[...] levo o aluno a perceber a importância de sua criação e dos momentos em que está ‗consigo mesmo‘. Ele próprio deve valorizar o seu trabalho, pois é uma parte dele, não só da professora.‖

pelo próprio aluno autor, o professor e os demais alunos, a partir dos trabalhos realizados, colabora para destacar do grande grupo um aluno por vez, fazendo com que receba uma atenção especial, se sinta valorizado, aumentando seu autoconhecimento e sua auto-estima. Estas práticas além de aprofundar as relações e proporcionar a análise de fatos, acontecimentos, conduzem também a reflexões e combinações do grupo para o grupo.