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Esta secção começa com o questionamento sobre o conceito de “Diferenças culturais”, tendo sido obtidos os seguintes resultados:

Tabela 4.11. Q4.1. Posicione-se sobre a seguinte

ideia. “Diferenças culturais”, para mim, são sinónimo de…

Discordo Concordo em parte Concordo Concordo plenamente 1. Dificuldade 14 9 0 0 2. Interesse 0 2 10 11 3. Curiosidade 0 1 12 10 4. Exótico 7 9 5 2 5. Fricção 0 5 0 18 6. Conflito 19 4 0 0 7. Enriquecimento 1 2 2 18 8. Ameaça 21 1 1 0 9. Surpresa 1 8 11 2 10. Desafio 0 4 7 12

Número total de respostas

Para análise destas respostas, os 10 aspetos foram divididos em três áreas, tendo sido atribuída uma conotação a cada uma, a saber:

 Conotação positiva: 2. Interesse, 7. Enriquecimento  Conotação neutra: 3. Curiosidade, 4. Exótico, 9. Surpresa

 Conotação negativa: 1. Dificuldade, 5. Fricção, 6. Conflito, 8. Ameaça

O item 10. Desafio, pode ser encarado positiva ou negativamente, dependendo do ponto de vista do docente.

Podemos constatar que os 2 itens que obtiveram um valor mais elevado em “concordo plenamente” são, ambos com 18 respostas (78%), o 5 – fricção e o 7 – enriquecimento. No polo inverso, com 21 (91%) e 19 (82%) inquiridos a posicionarem-se em “discordo”, encontramos, respetivamente, 8 – ameaça e 6 – conflito. Assim, apesar de a visão dos professores se afastar globalmente de uma conotação negativa, não podemos deixar de salientar que 78% considera que as diferenças culturais podem causar “fricção”, ou seja, os professores estão conscientes de que a multiplicidade

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cultural pode não ser sempre pacífica na sala de aula. E foi precisamente esse o primeiro conselho dado pela Entrevistada X no subcapítulo anterior: não transformar a diferença num conflito.

Tabela 4.12. Q4.2. Que tipo de atividades culturais promove

com os seus alunos adultos, aprendentes de PLE/PL2?

Frequentemente Ocasionalmente Nunca

1. Promovo a participação em colóquios e

conferências. 0 18 5

2. Vamos ao cinema e ao teatro. 1 9 13

3. Peço aos alunos que explorem livremente um ou mais aspetos da cultura portuguesa e lusófona.

19 4 0

4. Incentivo o intercâmbio cultural, através

de exposições ou de festas gastronómicas. 9 9 5

5. Visitamos exposições e museus. 10 7 6

6. Uso áudios, vídeos e a internet para

ilustrar aspetos da cultura. 19 4 0

7. Promovo o contacto entre os alunos

estrangeiros e a comunidade em geral. 10 10 3

8. Peço aos alunos que falem em português

sobre a sua própria cultura. 19 3 1

9. Promovo debates. 17 5 1

10. Proporciono o contacto entre os alunos estrangeiros e a restante comunidade académica.

7 10 6

Número total de respostas

As atividades culturais mais promovidas pelos respondentes são feitas maioritariamente em sala de aula e requerem uma participação ativa dos alunos. Com a mesma ponderação, 19 docentes (82%) referiram socorrer-se de áudios, vídeos e da internet para ilustrar aspetos da cultura portuguesa, bem como pedir aos alunos que explorem livremente aspetos da cultura portuguesa e lusófona e que falem em português sobre a sua própria cultura. Em relação às atividades menos usuais, é evidente que se trata de idas ao cinema ou ao teatro. Salienta-se ainda que 6 docentes (26%) referiram “nunca” 10 – proporcionar o contacto entre os alunos estrangeiros e a

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restante comunidade académica. Acreditando que as aulas de PLE/PL2 serão ministradas no mesmo espaço académico que as dos alunos portugueses, e pensando que estes últimos terão, maioritariamente, o português como língua materna, o não aproveitamento deste cenário específico afigura-se-nos um desperdício de um recurso valioso: o contacto privilegiado e em imersão com falantes da língua que está a ser ensinada e aprendida.

Nesta secção, pretendia-se:

I. Verificar se o conceito de “Diferenças culturais” é conotado positiva ou negativamente.

Constata-se que o mesmo número de inquiridos (18, correspondendo a 78%) respondeu “concordo plenamente” em relação a 5 - fricção e 7 - enriquecimento serem sinónimos de “Diferenças Culturais”. Com uma representação ainda mais elevada, 19 inquiridos (82%) e 21 respondentes (91%) afirmaram “discordar” de considerarem, respetivamente, 6 - conflito e 8 - ameaça, sinónimos de “Diferenças Culturais”. Assim, dos quatro aspetos com uma conotação negativa, apenas um, 5 – fricção, foi identificado como sinónimo de diferença cultural. De salientar que um dos itens com conotação negativa teve uma expressividade grande de concordância. Se 18 respondentes “concordam plenamente” que “Diferenças Culturais” são sinónimo de 5 – fricção, é legítimo inferir que poderão já ter testemunhado exemplos disso mesmo, possivelmente quer em relação ao comportamento dos alunos, quer no que diz respeito à sua própria conduta.

Zarate (2003: 102) afirma que “specific language levels do not necessarily have their corresponding cultural levels”, opinião corroborada por Dervin (2010: 164), ao referir que as competências interculturais não existem na proporção do conhecimento de uma LE, isto é, alguém que domine a gramática com excelência pode não ser competente em contextos interculturais, tal como o domínio linguístico não perfeito não é impedimento de se ser detentor de competências interculturais. Simultaneamente, ambos os autores admitem que o contacto com cidadãos de diferentes países não significa o desenvolvimento de competências interculturais, ou seja, não é pela quantidade, de per si, de interações, que um sujeito adquire essas

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competências, pelo que a consciência desse facto é fundamental para os professores de língua gerirem a diversidade na aula.

Em contrapartida, à exceção do 7 - enriquecimento, os aspetos com uma conotação positiva ou neutra não tiveram uma expressividade tão evidente em termos de concordância de respostas, daí que se possa concluir que as convicções dos docentes em relação ao que entendem como “Diferenças Culturais” não são unânimes, sendo mais fácil encontrar semelhanças entre aspetos com conotação negativa do que entre os que têm uma conotação positiva ou neutra. Depreende-se, assim, que os inquiridos usaram de cautela e preferiram apresentar a sua opinião de uma forma central, evitando manifestações de uma convicção mais extremada.

II. Verificar se as atividades realizadas frequentemente com os alunos (Q4.2.) são efetuadas dentro ou fora do espaço escolar, tendo em conta a tabela que se apresenta:

Tabela 4.13.

Q4.2. Que tipo de atividades culturais promove com os seus alunos adultos, aprendentes de PLE/PL2?

Dentro Fora

6.Uso áudios, vídeos e a internet para ilustrar aspetos da cultura.

8.Peço aos alunos que falem em português sobre a sua própria cultura.

9.Promovo debates.

1.Promovo a participação dos alunos em colóquios e conferências.

2.Vamos ao cinema e ao teatro. 5.Visitamos museus e exposições.

7.Promovo o contacto entre os alunos estrangeiros e a comunidade em geral.

10.Proporciono o contacto entre os alunos estrangeiros e a restante comunidade académica. 3.Peço aos alunos que explorem livremente um ou mais aspetos da cultura portuguesa e lusófona.

4.Incentivo o intercâmbio cultural, através de exposições ou de festas gastronómicas.

Através da análise das respostas, podemos afirmar com certeza que as atividades culturais desenvolvidas mais frequentemente são realizadas dentro da sala ou do espaço escolar, havendo uma representatividade de mais de 70% dos docentes (com 17 e 19 respostas) que admite isso mesmo. Em contrapartida, as atividades realizadas fora da sala ou do espaço escolar, embora aconteçam, nem são frequentes, nem prática de

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todos os inquiridos. Repare-se que 13 respondentes (57%) afirmam nunca ter ido ao cinema ou ao teatro e 6 (26%) mencionam nunca ter visitado exposições e museus, nem proporcionado o contacto entre os alunos estrangeiros e a restante comunidade académica. Se bem que no primeiro caso possam estar subjacentes questões de nível de língua, pois os discentes podem não ter conhecimento suficiente para conseguirem acompanhar um filme ou uma peça em português, o mesmo não se passa quando visitamos museus, exposições ou quando contactamos diretamente com outros indivíduos pois, havendo um interlocutor que reage ao que está a ser dito no momento, a mensagem pode ser adaptada, quer em termos de velocidade de elocução, quer no que diz respeito às opções lexicais, por exemplo. Uma vez que não foi feita nenhuma pergunta que esclareça os motivos pelos quais determinadas atividades são ou não realizadas, só podemos extrapolar que tal se pode dever a questões de:

 Logística: é mais fácil trabalhar num espaço que já conhecemos e com o qual professor e alunos já estão familiarizados;

 Disponibilidade financeira: não raras vezes, há um custo associado a visitas a museus e exposições e muito embora, em alguns casos, até possa haver visitas gratuitas ou com preço reduzido, tal não se verifica se se pretender ir ao cinema ou ao teatro, pelo que não é possível forçar os alunos a suportarem as despesas inerentes a estas atividades;

 Disponibilidade temporal: uma atividade fora do espaço académico implica mais tempo (entre deslocação para o local e regresso, e a atividade em si), muitas vezes fora do horário habitual das aulas;

 Organização e criatividade: a forma como o programa dos cursos está desenhado e a maneira como o docente encara a sua atividade profissional podem não ser permeáveis à existência de determinadas atividades.

Independentemente dos motivos, pensamos que a facilidade de se optar por atividades fora do contexto escolar, com públicos adultos em contexto de ensino superior, é maior, embora os professores tenham admitido que pouco recorrem a atividades fora da sala, ou seja, a visão do docente sobre a prática pedagógica, reconhecendo as vantagens de lecionação fora do espaço escolar, ainda não permite

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pôr em prática as ideias que se defendem, pelo menos de uma forma sistemática, pelo que apoiamos “a importância de uma formação de docentes de ensino superior orientada por princípios de um forte comprometimento coletivo em processos de reflexão sobre o que se passa na aula, mas também sobre o que se passa fora dela e fora da instituição universitária, lugar esse que humaniza e socializa a cultura” (Leite & Ramos, 2012: 22).

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4.4. Os materiais

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