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ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL DA AMAZÔNIA: DESAFIOS EDUCACIONAIS

NA EPT

Xênia de Castro Barbosa25 Uilian Nogueira Lima26 Rodrigo Leonardo de Sousa Oliveira27

RESUMO: O ensino de História Regional da Amazônia é

mar-cado por desafios que exigem, para além do acesso e da crítica

às fontes, contextualização geográfica e problematização históri

-ca acer-ca da cultura, da identidade e das diferenças que trans-parece nesse espaço. Isso é necessário para desconstruir fal-sas verdades, desmontar estereótipos e preconceitos e fomentar uma educação crítica, capaz de levar os próprios estudantes a se reconhecerem participantes dessa história, seja por sua ações, seja pela memória de seus familiares e de seu ethos, ou pela

memória histórica. As reflexões aqui apresentadas foram desen

-volvidas a partir de pesquisa bibliográfico-documental orientada

à própria fundamentação da prática docente dos autores, tendo como principal base teórica o pensamento de Futemma (2006), Bittencourt et al (2010) e Horn e Germinari (2013), e visam

con-tribuir para a reflexão acerca dos desafios do Ensino de Histó

-ria Regional no âmbito da Educação Profissional, Científica e

Tecnológica (EPT) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia.

PALAVRAS-CHAVE: Currículo; Amazônia; História.

25 Doutora em Geografia pela UFPR. Docente de História do IFRO – Campus

Porto Velho Calama e docente do Programa de Mestrado em Rede Nacional

em Educação Profissional e Tecnológica – ProfEPT. E-mail: xenia.castro@ifro.

edu.br

26 Mestre em História e Estudos Culturais pela UNIR. Docente de História do IFRO – Campus Porto Velho Calama. E-mail: uilian.lima@ifro.edu.br 27 Doutor em História pela UFMG. Docente de História do IFRO – Campus

INTRODUÇÃO

A Amazônia Legal é uma construção geopolítica da-tada de 1966, que visa ordenar o planejamento regional. Compreende cerca de 60% do território nacional, abriga um dos ecossistemas mais importantes do planeta e uma po-pulação de aproximadamente 22 milhões de pessoas, de diversas etnias, culturas e experiências de vida. Trata-se de uma região formada por um mosaico de povos nativos des-se espaço e de povos oriundos de outras regiões e paídes-ses.

O encontro de etnias e culturas diferentes nesse espaço possui registros desde o século XVI, no qual se evidenciou disputas entre os reinos ibéricos pela posse

da terra e pelo controle da navegação fluvial. Acredi -ta-se, contudo que; mesmo antes da chegada de espa-nhóis e portugueses à região amazônica, os indígenas que aqui viviam já desenvolviam interações sociais com outros grupos étnicos, como indicam os vestígios da cultura material da época (especialmente as cerâmicas).

As interações étnicas nesse espaço ganharam des-taque nos estudos sociais de Guzmán (2006), no qual o autor aponta para trânsitos, circulações e “conexões internacionais” no Rio Negro durante os séculos XVIII e XIX, Moran (1995), Castro (2006) e Futemma (2006), que discutem a noção de mestiçagem, destacando a aqui-sição de hábitos, tecnologias, conhecimentos e valores de outras culturas por parte das populações amazôni-cas. De acordo com Futemma (op. cit.), essas interações

possibilitaram a formação de um perfil cultural flexível

e dinâmico e a compreensão desses aspectos sociocul-turais é fundamental para a análise da relação dessas populações com os recursos naturais.

No campo da Literatura, propriamente dita, escri-tores como Milton Hatoum (2000), Nilza Menezes (1998) e Márcio Souza (2009) têm enfatizado a presença de in-dígenas, paulistas, portugueses, ingleses, caribenhos, sírios e libaneses na composição da cultura amazônica.

Embora a Literatura tenha consagrado o espaço amazô-nico como multiétamazô-nico e multicultural, esta não foi a tô-nica dos debates nacionais sobre raça e etnicidade dos séculos XIX e XX. Predominou sobre ele a concepção de um espaço vazio, desabitado. Uma fronteira política e econômica a ser “integrada a qualquer custo” - sujeita, portanto, a intervenções externas e lógicas exógenas à cultura de seus habitantes. Essa perspectiva se esten-deria ainda por todo o século XX.

Um ensino de história crítico precisa contemplar

as principais questões que desafiam a vida nesse es -paço, como o processo de construção das identidades amazônicas, as grandes obras implementadas em seu espaço, os dilemas entre crescimento econômico e pre-servação ambiental, sem se esquivar do debate acerca da tensão provocada por grupos culturais emergentes e residuais, dentre outros temas e problemas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de Pesquisa Educacional, de perfil qua -litativo. A coleta de dados foi desenvolvida com base no

método da pesquisa bibliográfico-documental. Foram

consultadas e analisadas fontes documentais e

biblio-gráficas disponíveis na rede mundial de computadores

e no acervo pessoal dos pesquisadores.

Os dados foram fichados, serializados por tipo e

analisados à luz da teoria do ensino de História, com base, sobretudo, em Horn e Germinari (2013) e Bitten-court et. al (2010)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ensino da História Regional da Amazônia em perspectiva crítica precisa fundamentar-se em pesquisa sólida, em conhecimento seguro das fontes e apresentar--se de forma contextualizada e dialógica, valorizando os

saberes prévios dos estudantes. Ao se tomar os conhe-cimentos prévios dos estudantes, suas memórias fami-liares e suas experiências cotidianas, tem-se uma base que os instiga à aprendizagem. A partir disso é

preci-so problematizar os pontos já conhecidos, a fim de se

aprofundar o conhecimento, colocá-lo em teste e supe-rar possíveis equívocos. Apresentar novas perspectivas e abordagens também é necessário e enriquecedor, pois possibilita exercitar o questionamento de elementos con-solidados como verdades inamovíveis, ou que são eivados de preconceitos, imprecisões teóricas e senso comum.

Um currículo abrangente e qualitativo da His-tória da Amazônia é necessário no âmbito da EPT, de modo a contribuir para uma formação mais completa. Na EPT, muitas vezes,

[...] a preocupação em preparar indivíduos para

desempe-nharem funções definidas, habilidades para desempenhar

determinadas tarefas específicas, acaba por desconside

-rar a pessoa na sua dimensão total e realização integral (HORN, GERMINARI, 2013, p. 20).

Nesse sentido, um dos pontos mais desafiadores

é a seleção de conteúdos, tendo em vista o pequeno es-paço reservado para os estudos da História Regional nos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Ensino Médio Inte-grado ao Técnico. Por outro lado, esse é um dos espaços mais promissores notados nos PPCs, pois nele não foram

registrados os tópicos específicos a serem trabalhados, cabendo aos professores defini-los em seus Planos de

Ensino. Trata-se de uma ausência que abre várias

possi-bilidades e apresenta sério desafio aos docentes da área.

Em face do exposto, atenção especial deve ser

atri-buída à definição curricular, pois, “Considera-se que a forma como a sociedade seleciona, classifica, distribui, transmite e avalia o conhecimento educacional reflete

tanto distribuição de poder quanto os princípios do con-trole social” (BERSTEIN, 1971, p. 97).

No encalço de Berstein (op. cit.), Abud esclarece

que, enquanto texto oficial, o currículo tem se mos -trado “o veículo ideal para a disseminação do discur-so do poder e para a difusão da ideologia dominante” (ABUD, 2010, p. 28).

Ao reconhecermos que os currículos e programas constituem o instrumento mais poderoso de

interven-ção do Estado no Ensino, por meio do qual ele define seu sentido, forma, finalidade e conteúdo (ABUD, 2010), estamos diante do desafio de reinventar o trabalho pe -dagógico de modo a libertar a informação e superar a

burocracia estatal. O enfrentamento desse desafio é ne -cessário para uma educação democrática e para uma democracia de impacto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino da História Regional da Amazônia no

âmbito da EPT, e especificamente, no âmbito do IFRO é desafiador em vários aspectos. Envolve desde a con

-quista de espaço no campo curricular, a definição do

currículo, as escolhas metodológicas, a seleção e análi-se das fontes e das teorias explicativas.

Um currículo crítico acerca desse componente educacional precisa abordar as principais questões que

desafiam a vida no espaço Amazônico, dentre as quais

podemos citar o processo de construção das identidades dos povos e comunidades tradicionais, as grandes obras implementadas na região, os dilemas entre crescimento econômico e preservação ambiental e o debate acerca da tensão provocada por grupos culturais emergentes e residuais. É essencial que tais questões sejam proble-matizadas no ensino da História Regional.

Consideramos adequada a oferta de um ensino centrado na realidade dos estudantes, considerando--os como sujeitos capazes de dispor de conhecimentos a partir de suas experiências de vida, bem como um

ensino pautado no uso de fontes, que considere docu-mentos diversos, inclusive os dos arquivos familiares dos próprios alunos.

REFERÊNCIAS

ABUD, K. Currículos de História e Políticas Públicas: os programas de His-tória do Brasil na Escola Secundária. In:BITTENCOURT, C. (org). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010.

BERNSTEI, B. Currículo. In: YOUNG, M.F.D (org). Knowledge and control: classification and framing of educational knowledge. Londres: Mac-Millan, 1971.

BITTENCOURT, C. (org). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Con-texto, 2010.

CASTRO, F. Economia familiar cabocla na várzea do Médio-Baixo Amazonas. In: ADAMS, C.; MURRIETA, R.; NEVES, W. Sociedades caboclas amazôni-cas: modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006, pp. 173-194.

HORN, G. B.; GERMINARI, G. D. O Ensino de História e seu currículo – teoria e método. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

FUTEMMA, C. Uso e acesso aos recursos florestais: os caboclos do Baixo

Amazonas e seus atributos sócio-culturais. In: ADAMS, C.; MURRIETA, R.; NEVES, W. Sociedades caboclas amazônicas: modernidade e invisibilida-de. São Paulo: Annablume, 2006, pp. 237-260.

GUZMÁN, D. A. Índios misturados, caboclos e curibocas: análise histórica de um processo de mestiçagem, Rio Negro (Brasil), séculos XVIII e XIX. ADAMS, C.; MURRIETA, R.; NEVES, W. Sociedades caboclas amazônicas: moderni-dade e invisibilimoderni-dade. São Paulo: Annablume, 2006

HATOUM, M. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das Le-tras, 2000.

MENEZES, N. Chá das Cinco na Floresta. Campinas: Ed. Komedi, 1998. MORAN, Disaggregating Amazonia: a strategy for understanding biological

and cultural diversity. In: SPONSEL, L. Indigenous peoples and the future of Amazonia: an ecological antthoropology of an endangered world. Tu-cson: The University of Arizona, 1995, p. 72-95.

O PROJETO INTEGRADOR NA EDUCAÇÃO