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1.2 O CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DO AMAZONAS

1.2.1 O Ensino Médio Noturno

As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, no capítulo II (“Formas de Oferta e Organização”) descrevem no artigo 14 inciso IV que:

[...] no Ensino Médio regular noturno adequado às condições de trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga horária, o projeto político pedagógico deve atender, com qualidade, a sua singularidade, especificando uma organização curricular e metodológica diferenciada (BRASIL, 2012, p. 5).

No entanto, como explicitado, não existe uma política estadual exclusiva para o Ensino Médio noturno no estado do Amazonas. As escolas são norteadas por uma única matriz curricular que não engloba nenhuma especificidade na parte diversificada e desenvolvem a mesma proposta curricular, não aplicando uma organização curricular e uma forma de atendimento diferenciada. As mil (1.000) horas anuais destinadas ao Ensino Médio no turno diurno são também destinadas às escolas do turno noturno, mesmo com o horário diário de 3 horas/aulas.

Krawczyk (2011) retrata em seu artigo que:

[...] o específico do Ensino Médio noturno, na maioria das vezes, se reduz a uma adaptação no planejamento dos professores, do ensino diurno, implicando menos atividades e conteúdos de ensino, além do funcionamento precário e parcial dos espaços escolares. O estudante do curso noturno sai prejudicado: no primeiro caso, pelo aligeiramento do curso e, no segundo, pela negação da singularidade dos alunos (KRAWCZYK, 2011, p.764).

Os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e o Distrito Federal têm implementado formas de reorganização curricular para o Ensino Médio Noturno com vistas à melhoria da qualidade no ensino noturno, a garantir o direito a uma educação mais equitativa e ao acesso de saberes sistematizados inerentes dos currículos escolares.

No projeto do estado do Ceará, o objetivo principal de trabalhar com a semestralidade no Ensino Médio noturno é de ampliar as oportunidades de acesso, de permanência e de aprendizagem dos alunos do turno da noite, bem como fortalecer a preparação básica para o trabalho em seu currículo escolar.

No Rio Grande do Norte, a reorganização curricular também se dá pela semestralidade, que trabalha os eixos e objetos de ensino de forma integrado, aproximando os professores de cada bloco, tendo a pesquisa como princípio pedagógico e o trabalho como princípio educativo.

As orientações para o ensino noturno de Mato Grosso visam, com a forma de atendimento semestral, promover reflexões e escolhas, visando à organização curricular pretendida pela Escola, de modo que o ensino noturno adquira uma identidade que signifique e

garanta a formação de alunos capazes de resolver seus problemas e possam dar prosseguimento aos estudos, bem como intervir no meio em que atuam.

No Distrito Federal, a proposta de reorganização curricular para as escolas do Ensino Médio noturno, também por meio da semestralidade, apresenta os mesmos objetivos e desenho de reorganização do Rio Grande do Norte, por blocos e integração entre eles objetivando ressignificar o espaço/tempo do educando do noturno na escola.

A reestruturação de um ensino por meio da semestralidade está prevista na LDB 9.394/96, no artigo 23:

A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. (BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996).

Destacando as especificidades de atendimento para o Ensino Médio noturno no artigo 4º incisos VI e VII a LDB 9.394/96 descreve:

O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando e oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996).

O Ensino Médio noturno também é regulamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, Lei N.° 04/2010, ao descrever no artigo 12, §3°: “Os cursos em tempo parcial noturno devem estabelecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e adultos em escolarização no tempo regular ou na modalidade de Educação de Jovens e Adultos” (BRASIL, 2010, p. 66).

O projeto de semestralidade, de forma geral, organiza o ensino dos componentes curriculares do Ensino Médio em dois blocos, com total de sete disciplinas em cada bloco, com a repetição dos componentes de língua portuguesa e matemática em ambos. Cada bloco é estruturado em 100 dias, com jornada de quatro (4) horas diárias, totalizando 200 dias letivos e 800 horas.

Por meio do projeto semestralidade torna-se possível a diminuição da evasão e da reprovação, uma vez que os estudantes têm possibilidade de cursar por semestre um menor número de disciplinas e de desenvolver uma maior aproximação com o docente em prol de

minimizar as dificuldades encontradas. Em alguns estados, como no Ceará, são inclusos na parte diversificada disciplinas com formação para o trabalho e para a cidadania.

De acordo com o descrito no projeto do Ceará, “o projeto de reorganização curricular do Ensino Médio noturno propõe mudanças na proposta pedagógica das escolas, nas estruturas que a viabilizam e no modo como são conduzidas as aprendizagens escolares”. (CEARÁ, 2013). A forma de atendimento por semestralidade, viabiliza um atendimento diferenciado para o educando do noturno, e a oferta do ensino dos componentes curriculares em blocos oferece ao educando a possibilidade de não estudar todos os componentes de uma única vez. Em síntese, está mais próxima da realidade do educando, oportunizando uma aprendizagem mais significativa por meio do estudo de um número melhor de componentes curriculares e um melhor uso do espaço escolar como forma de sociabilidade e troca de experiência.

No estado do Amazonas, a discussão sobre a implementação de uma nova forma de organização do Ensino Médio noturno iniciou em julho de 2015. A Gerência de Ensino Médio (GEM) da SEDUC em conjunto com os coordenadores adjuntos pedagógicos de Ensino Médio das coordenadorias distritais de educação de Manaus, construíram com base nas propostas de semestralidade de outros estados um documento protótipo do que seria o projeto de semestralidade para o Ensino Médio noturno no estado.

Assim como no estado do Ceará, a proposta de semestralidade do estado do Amazonas terá uma matriz curricular dividida em dois blocos com a inserção na parte diversificada de disciplinas que trabalhem a formação para a cidadania e para o trabalho. Como primeiro momento de discussão macro, as propostas apresentadas pelos docentes e as questões apontadas para análise durante a elaboração do projeto contribuíram para o desenho de uma política pensada a partir da realidade da escola noturna, mas que ainda está na fase inicial de construção e que até o momento não foi implementada na rede estadual de Ensino Médio.

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