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A Metodologia Proposta 3.1 Introdução

3.2 A Fundamentação Pedagógica

3.2.3 O Ensino Reflexivo de Donald Schön e John Dewey

“A racionalidade técnica preconiza que os profissionais são solucionadores de problemas bem formulados, por meio da aplicação de teorias e técnicas derivadas da pesquisa sistematizada na forma de conhecimento científico” [38]. Pelo ponto de vista da racionalidade técnica, a prática profissional seria um processo de seleção dos melhores meios e métodos disponíveis para se resolver um determinado problema. Os problemas do mundo real, no entanto, não se apresentam de forma bem estruturada, mas como situações complexas e indeterminadas onde é preciso na maioria das vezes, realizar um tedioso processo de construção do problema bem antes de começar a resolvê-lo [38].

A racionalidade técnica infelizmente não prepara o profissional para atuar em situações de indeterminação e incerteza e são exatamente estas situações as que oferecem maior potencial para trazer resultados nas áreas que envolvem a criação de novos métodos e processos que são os precursores da inovação [38].

Donald Schön observou que os profissionais que se destacavam em seu campo de atuação não eram aqueles que detinham mais conhecimento profissional que os outros, mas sim: i) sabedoria; ii) intuição e iii) talento artístico profissional. Este talento artístico era demonstrado quando o profissional se confrontava com situações de indeterminação, incerteza e conflito [38]. Exatamente aquelas situações onde um profissional treinado pelos princípios da racionalidade técnica enfrentava dificuldades. Um aspecto importante da atuação exibida pelo profissional era o fato dela ser tácita, realizada de modo natural e automático. Schön se refere a estas atuações como um tipo de saber na ação, significando



que o saber está na ação, sobre a qual o profissional tem dificuldades de verbalizar ou descrever os procedimentos necessários à sua realização. É possível no entanto, analisar estas performances em retrospecto, refletir sobre a ação e criar as nossas teorias de ação como uma forma de entender o modo como as decisões foram tomadas [38].

Estas atuações profissionais não podem ser simplesmente repassadas a um estudante pelos métodos de ensino expositivos tradicionais, mas o estudante pode ser auxiliado por um Coach:

Ele o (estudante) necessita ver por si próprio e à sua maneira as relações entre os meios e métodos empregados e os resultados alcançados. Ninguém mais pode fazer isto por ele, ele não pode ver apenas por ser dito, embora a maneira correta de se dizer possa guiar o seu modo de ver e assim ajudá-lo a ver o que ele necessita ver. [38], [40].

A partir destas pesquisas, Schön desenvolveu o método de educação reflexiva onde um Coach trabalha com um estudante em um processo de diálogo interativo entre eles e com a situação sob análise, contemplando as seguintes etapas [38-39]:

i. Conversação reflexiva com a situação problemática. Levantamento do que é preciso fazer e em que condições, a partir dos dados da situação e da experiência do Coach. Construção do problema a ser resolvido;

ii. Imposição de algumas condições iniciais que permitam o surgimento de

propostas de solução para o problema construído. Às vezes o problema não se apresenta de modo direto, é preciso usar analogias, ou reenquadrá-lo;

iii. Cada proposta de solução é considerada um experimento;

iv. Escolha de ferramentas, ou métodos para auxiliar na solução do problema;

v. Implementação das propostas de solução para o problema;

vi. Reflexão na ação e reflexão sobre a ação a cada ação executada; vii. Apreciação da situação após cada tentativa de solução;

viii. Finalização ou início de um novo ciclo.

A fase de Apreciação é onde o Coach, baseado em sua experiência profissional e sua bagagem cultural (conhecimentos tácitos), analisa o resultado das intervenções. Compara este resultado com a situação original, e aprova ou não o resultado das intervenções feitas até aquele ponto. Caso o resultado seja considerado insatisfatório avalia



o que ainda falta para chegar a uma situação considerada ideal ou satisfatória, reconstrói o problema e inicia um novo ciclo de iterações [38]. Na fase de apreciação uma situação considerada ideal ou satisfatória poder ser um resultado elegante, bonito ou perfeito, portanto difícil de mensurar pelos critérios da racionalidade técnica.

Durante a fase de resolução do problema, o estudante participa ativamente do processo de conversação reflexiva com a situação problemática e acompanha o Coach enquanto ele reflete na ação e reflete sobre a ação ao longo das intervenções. Este processo permite ao estudante acompanhar, e depois ensaiar e repetir os passos percorridos pelo Coach, melhorando cada vez mais a sua própria atuação a cada vez que usa os conhecimentos adquiridos, até poder utilizá-los de modo tácito, adquirindo deste modo o saber na ação e podendo criar e desenvolver seu próprio estilo [39].

No início deste processo, o estudante enfrenta o paradoxo do aprendizado de uma nova competência:

“Onde ele (o estudante) não pode inicialmente entender o que ele precisa aprender, que pode aprender apenas educando a si próprio, e que pode educar a si próprio somente começando a fazer aquilo que ainda não pode entender” [39].

Para quebrar o paradoxo, é preciso que o estudante realize uma suspensão de descrenças em favor do Coach e se permita iniciar uma jornada por águas desconhecidas [39], [41]. Por isso, o papel do Coach muda ao longo do processo, primeiramente direcionando as atividades do estudante, depois assumindo uma posição de orientação e finalmente uma postura consultiva.

3.2.3.1 O Ateliê de Projetos

Em seu livro The Design Studio an Exploration of its Traditions and Potentials

[42], Donald Schön descreve um Ateliê de Projetos de Arquitetura como o ambiente ideal para a prática do ensino reflexivo. Ele justifica sua escolha, no fato de que o ateliê é um ambiente onde já existe uma antiga tradição de exploração da habilidade artística profissional. Onde os profissionais mais experientes, repassam seus conhecimentos tácitos por meio do trabalho em conjunto com os jovens aprendizes, em um processo de reflexão na ação e reflexão sobre a ação, atuando juntos em projetos reais que raramente são iguais.



Sendo cada projeto um novo desafio, a oportunidade para que os aprendizes possam se apropriar do conhecimento tácito por meio da educação reflexiva é maximizada [42].

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