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Vivemos no dia a dia fazendo muitas coisas, cuidando da vida, tra- balhando, estudando e nos divertindo. E tudo isso a gente faz automati- camente guiados pela experiência da vida. Assim passam os dias. Quan- do queremos alguma coisa, a gente sabe, na maioria das vezes, o que fazer para realizar a nossa vontade e a vida corre simples, sem maiores problemas.

Vamos pensar no fi m de semana, pensamos em ir à praia se não cho- ver; mas se chover? Ficamos em casa ou vamos fazer outra coisa qualquer, já que não é bom ir à praia quando chove. E o que signifi ca ir à praia? Simples, toma-se o ônibus e chega-se ao destino estabelecido. É por aí.

— E se chover, vocês vão fi car aqui de bobeira? Que tal a gente ir a

uma reunião da associação? Perguntou Carmem.

— E lá fazer o que? Respondeu Clarisvaldo surpreso, pois não con- tava com nenhuma outra alternativa que não fosse a de lazer.

— Ora, quem sabe o que pode pintar! Ontem eles andaram dis- cutindo sobre os problemas do bairro, sobretudo da violência que está ameaçando todo mundo.

— Violência é coisa de polícia, e polícia é tão violenta quanto os bandidos e nessa eu não entro. Declarou taxativo Edmilson do Espírito Santo, mais conhecido como Ede, por uns, e em casa e pelos mais ínti- mos, de Milsinho.

— Olha lá, broder! Violência é problema de cada um de nós porque ninguém está livre dela; seja marginal ou nós, quando desaba é como chuva, cai na cabeça de todo mundo.

— É, mas só se for aqui, porque lá em Ondina onde eu trabalho não tem essa coisa daqui não. Lá não tem violência, até a polícia é educada, aqui é que é esse sufoco, cada um por si e Deus já não está prá ninguém. Declarou Rosa com certo ar de superioridade.

Houve um momento de silêncio. Miltinho, então, interveio:

— Pôxa! Que discussão! E tudo por causa da chuva que ninguém

sabe se vai acontecer ou não. Se fi zer sol, adeus violência e tudo fi ca como antes; se chover, a gente vai então pensar nessa coisa?

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então, vamos fazer um projeto? 91 — Espero que chova, e bem forte. Disse Carmem com decisão. — Chova ou faça sol, eu agora estou com isso na cabeça e eu vou para a associação. Eu vivo aqui e lá, mas sou daqui e não de lá, onde apenas trabalho. Porque a vida pode ser boa em Ondina e ruim aqui em nosso bairro? Será que a gente tem que viver como condenado?

E assim foi. Decidiram todos, até Ede disse que ia. E no domingo lá estavam; não chegaram de vez, em turma, vieram Carmem, Jorge e Cape- ta; depois Milsinho e aí foi pingando e iam sentando nas últimas fi las de cadeira. Seu Manuel, presidente da Associação, Lúcia, a secretária, estra- nharam um pouco a presença daqueles jovens, mas se sentiram satisfeitos. Era uma luta atrair a juventude para discutir os problemas do bairro, eles só queriam festa, namoro e vagabundagem.

Uma mulher comentou com a outra: — Veja, olha quem está lá atrás! E a outra fofocou: o que será que eles estão aprontando?

Desconfi ança, surpresa e ao mesmo tempo alegria. E aí começou a reunião. Falou um, que confi ava no prefeito; outro culpou o governo; um mais disse que pobre não tinha valia e aí travaram discussões e mais discussões sobre tudo e foi quando Carmem falou que a conversa mudou de rumo. O que ela disse? Perguntou, simplesmente:

— Acho que não adianta nada fi car se lamentando se a gente não tem nenhuma proposta concreta para apresentar.

— E que proposta é essa. Indagou com irritação o homem que con- fi ava no prefeito.

— Sem proposta não se chega a lugar nenhum; de falação já estou cheia. Aqui todo mundo está fi ngindo de que não aconteceu nada, mas agora eu digo o que todos sabem, mas têm medo de comentar.

— Não vem cutucar o cão com vara curta...

— E vamos deixar o cão cutucar a gente todos os dias e não fazer nada? Protestou Carmem.

— E o que ouvimos de noite? Foram gritos, choro, palavrões. E o que ouvimos mais? Tiros. E o que foi que aconteceu? Lá estava o rapaz crivado de balas, não foi? E isso é novidade?

— Onde moro isso não acontece não! Disse uma mulher revoltada e uma voz de homem concordou.

— Isso aqui é comum, gritou uma voz do meio da platéia. E o presi-

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92 metodologia e prática do trabalho em comunidade

dente da Associação, com sabedoria, declarou — De fato, se não acontece aqui acontece lá, mas o que acontece lá pode acontecer aqui, de modo que ninguém está livre da desgraça seja aqui ou lá.

E assim se passou a manhã. E já de volta, Rosa disse — Vamos fazer um projeto nosso, dos jovens daqui do Subúrbio?

— Que tipo de projeto? Perguntou Carmem. — Um projeto para a paz!

— Uma caminhada? Perguntou Milsinho.

— Uma coisa mais concreta, duradoura, que possa ter resultados positivos.

— E como é que se faz um projeto? Pense em que projeto você faria e quais as etapas a seguir.

Pense, imagine, crie e diga como vai realizar o seu projeto! • Qual o campo de ação — o que quer, aonde quer chegar, que

meios vai utilizar, como vai fazer e quanto vai custar. Mas se per- gunte, vale a pena o esforço? O custo compensa?

• Uma idéia: descreva a sua idéia, diga o que ela signifi ca e dê a justifi cativa; ou seja, porque é importante e vale a pena fazer tal coisa.

• Objetivo — diga o que você espera alcançar. Se você quer ir à praia, de modo simples seu objetivo é chegar lá e lá você se diver- tir; mas se você quer reduzir ou acabar com violência, por exem- plo, o assunto é mais complexo, mas seu objetivo é o de reduzir a violência, não?

• Quando você quer alcançar uma coisa maior (fi m da violência), o objetivo principal ou geral, você pode também alcançar outros objetivos mais próximos, que você pode denominá-los de “espe- cífi cos”. Por exemplo, se penso que a instalação de um complexo social é uma das condições para reduzir a violência, eu também posso pensar que a preparação dos jovens, através de cursos espe- ciais, pode ser um objetivo específi co, assim como uma campanha de mobilização, ou outras ações.

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então, vamos fazer um projeto? 93 • Então temos: um objetivo geral e objetivos específi cos. E o quanto

queremos realizar? Pense nisso. Se queremos fazer um curso, ou constituir um grupo de teatro, ou uma banda, vamos envolver quantas pessoas, quantas apresentações vamos fazer, em que lu- gares, em que época? Então vamos quantifi car: meta é quantifi ca- ção e toda quantifi cação envolve custos, não é mesmo? Vai custar quanto?

• É viável? Isto é: temos condições de fazer? Existem os recursos? Temos meios para realizar o que queremos? Temos a capacidade? E em quanto tempo faremos o que estamos planejando?

• Então vamos relacionar todos os custos: o que é preciso em bens materiais, isto é, o que é preciso construir, comprar ou pagar a pessoas. Fazer um orçamento segundo as rubricas de desembolso dos recursos: material permanente, construção, serviço de tercei- ros, pessoa física, pessoa jurídica, material de consumo, serviços bancários etc.