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É, então, na verdade [ ], você coloca nos alunos a responsabilidade pelo sucesso

CAPÍTULO IV O CURRÍCULO DE SOCIOLOGIA NO CONTEXTO DO PROGRAMA SÃO PAULO FAZ ESCOLA

ENTREVISTA COM HELOISA DE SOUZA MARTINS

H- É, então, na verdade [ ], você coloca nos alunos a responsabilidade pelo sucesso

deles, desde que ele seja competente, tenha habilidade e seja empregável. Ah! “Empregabilidade” é a outra palavra que eles associam e tá ligado à “empreendedorismo”, por aí. Então, é um negócio complicado: a Sociologia, o ensino de Sociologia, eu acho, que ele tem condições, se bem feito, bem dado, eu acho que as diretrizes curriculares que nós tínhamos, um pouco permitiu (sic) isso; exatamente, que a Sociologia faz a diferença, ela consegue, se ela for bem dada, desenvolver uma sensibilidade do aluno, que lhe dá condições de, usando a reflexão sociológica, fazer a crítica de questões desse tipo. Como é que a escola se afirma por aí? Hoje só se fala em capital humano, esquecem da crítica já feita nos anos 70, início dos 80, a essa teoria do capital humano. Mas ela voltou com um peso desgraçado, não adianta o Frigotto falar, não adianta fazer críticas, esses educadores todos, esse pessoal deita e rola com essas coisas todas. Agora, a gente acha que a Sociologia, eu acho que a Filosofia é capaz de ensinar o aluno a pensar, elaborar uma reflexão crítica sobre tudo isso, inclusive sobre a escola, sobre o currículo, com toda a imaturidade que você tem de alunos, com todas as dificuldades que existem pra você exercer o magistério hoje. As nossas escolas estão sucateadas, existem condições [...], não é só questão de pobreza, é a questão da violência que cerca a escola, dentro e fora. Então, isso é muito difícil de você, hoje, dar aula [...]; os professores... “Ah, cinquenta minutos de aula [...]” “Faz um caderno para [...]” No começo, era um caderno de uma hora, era uma aula por semana e, no terceiro ano, eram duas aulas por

semana. Isso quando nós começamos a fazer os Cadernos. De repente, não é mais, era uma aula por semana, cinquenta minutos, quarenta e cinco minutos: quando o professor consegue dar isso? Então a pergunta que faziam era: “Ah, tem aula lá que não dá, porque não dá para esgotar com uma aula só, não dá mesmo”. E todas as vezes que eu falei em videoconferências, etc., eu dizia o seguinte: “olha, esse é o material que está aí, vocês não usam livro didático?” Muita gente não prefere livro didático? Vocês criticam os Cadernos, chamam de apostila, mas se pegam no livro didático”. Aliás, tem um monte de teses aí sobre livro didático que mostra a porcaria que eles são, mas há um viés ideológico que não aceita os Cadernos até hoje. Eu não vi uma análise crítica do Caderno, do conteúdo do Caderno, não há. Há uma análise enviesada ideologicamente [...].

P - É muito forte essa questão da ideia de ter um texto padronizado, do professor ter que seguir aquilo. E a forma, talvez, que a Secretaria conduziu o processo, acho que houve uma imposição para professor utilizar...

H - A Secretaria, foi em 2007 que ela fez os primeiros Cadernos em todos os cursos.

Eu ouvi essa reação mesmo, queimaram os Cadernos em frente à Secretaria, como se fosse no período de Inquisição, era dinheiro público, bem ou mal, aquilo era dinheiro público. Acho que a discussão, o problema da revolta, da rebelião é esse tipo de coisa, esse barulho que você vê aqui (houve protesto de estudantes na USP no momento da entrevista), não consegue assumir uma posição que implique no respeito de um pelo outro entendeu? Eu estou certo, você está errado, aí você não chega em uma discussão [...]. Quando a Sociologia entrou pra elaborar o Caderno era assim: “é no começo do ano que vem”, [...] vindo com o discurso assim: “não tem professor de Sociologia pra dar aula”. Então, quem que vai dar aula na Sociologia? Quem conseguir pegar, entendeu? E aí era assim, professor que tem uma hora lá sobrando, sei lá de que disciplina, vai dar aula de Sociologia; é o que tá ocorrendo mesmo nas escolas. Tá saindo dados (sic) aí que comprovam isso: você tem um déficit de professores de Sociologia na sala de aula. Só vamos falar de Sociologia, não vou falar das outras disciplinas. Então, quem é que vai dar? Precisa subsidiar esse povo que tá aí, que vai dar aula, percebe? Pelo menos algum material. Autonomia do professor é decidir a escolha do material que ele vai ter, o que ele vai querer pegar? Livro didático sabe? E vai ler aquele livro didático para aluno, ou vai colocar na lousa o que está no livro didático. Eu não sei o que é pior, você me desculpe sabe? Eu não sei o que é pior. E pelos contatos que eu tive, tem muito professor competente que é capaz de montar um curso com sentido etc., mas tem muito professor, mesmo formado em Ciências Sociais, equivocado, equivocado, por vários motivos, até

mesmo [por] motivos políticos, que acha que vai fazer a cabeça do aluno, sabe? Está lidando com aluno em formação, é jovem sabe! Com um monte de problema. Eu acho que, não sei, eu não sei se porque eu estou tão envolvida com a questão, e acho que os Cadernos representam, se bem sabendo usar, porque ali não tá dito que é o único material, [...] o diálogo é feito com o professor, ajudando-o a desenvolver aquilo...recomendando leituras, sabe!? O caminho da aula dele, ele vai construir. Aquilo é um instrumento a partir do qual ele vai montar sua aula, isso é uma contribuição para o trabalho dele [...]. Olha aqui, a gente está dizendo, o de Sociologia, não li todos os Cadernos, “o filme tal, você pode usar o filme tal, ler tal texto”, [...]. O erro foi esse: a Secretaria que impôs, agora, sinceramente, qualquer material que você for fazer, pra mim, é um ponto de partida. Se você for consultar, democraticamente, todos os professores [...] se for a APEOESP que for fazer, desculpe, mas eu não confio também no resultado que vai sair. Sabe, não foi a Secretaria que fez o caderno, [...] é (sic) a SBS que assumiu essa tarefa, entendeu? [...]

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO