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Foto 36. Rosa pôs-se a chorar

4.1 Entendendo os estágios de desenvolvimento da criança

O ser humano passa por etapas de aprendizagem durante a sua vida. Cada etapa é fundamental para preparar e organizar o pensamento, e com isso, acomodar as informações novas que virão com os anos. No livro Henri Wallon: Psicologia e Educação (2012) estão descritos os estágios de desenvolvimento do ser humano da teoria de Wallon. Esses estágios são divididos em: Impulsivo Emocional, que é vivenciado na idade de 0 a 1 anos; Sensório Motor e Projetivo, na idade de 1 a 3 anos de vida; Personalismo, de 3 a 6 anos; Categorial, de 6 a 11 anos; e Puberdade e Adolescência, que virá dos 11 anos em diante. Com esses estágios, poderemos entender como o desenvolvimento e aprendizagem se dá nas pessoas ao longo de sua vida (MAHONEY, 2012).

O primeiro estágio é o Impulsivo Emocional, explicado no livro por Duarte e Gulassa (2012), que acontece na idade de 0 a 12 meses. Dentro desse ano, a criança terá dois momentos: um que vai até três meses e o outro do terceiro ao décimo segundo mês, que é quando se fecha essa etapa e a criança estará preparada para vivenciar a próxima passagem. Nos três primeiros meses desse estágio, a criança não faz atividades estruturadas, ela faz movimentos bruscos e impulsionados por sensações internas e externas ao indivíduo, devido às quais os músculos podem relaxar ou enrijecer. Depois dos três meses até o décimo segundo mês, os movimentos já são mais compreendidos pela criança e usados para se expressar com o

meio social. Utilizar-se-ão alguns sentimentos como alegria, raiva, medo e demais sensações. Nesse momento, o indivíduo começa a perceber a comunicação através do corpo. Na teoria

walloniana, o movimento é importante para a comunicação, sendo, portanto, fundamental no processo de aprendizagem. Isso é garantido no texto citado adiante:

O movimento ocupa lugar de destaque na teoria walloniana. Desde o início da vida, ele é uma das principais formas de comunicação da vida psíquica com o ambiente externo. É uma das grandes possibilidades de tradução do mundo interno da criança, uma vez que ela se fez entender por gestos que representam suas necessidades e seu humor (DUARTE; GULASSA, 2012, p.23).

Ao chegar nessa fase, na qual percebem que podem ter comunicação através do gesto, estarão prontos para o próximo estágio. Quando a criança chegar à idade escolar e puder trabalhar as Artes Cênicas, irá precisar ter consciência de uma das maiores ferramentas de comunicação que é o corpo.

De acordo com Costa (2012), o segundo estágio da teoria de Wallon é o do sensório motor e projetivo, a idade vivenciada de um a três anos. Nesse estágio, a criança se agarra, se segura, aponta, senta, anda e começa a falar. Com isso, começa a se expressar através do corpo, fala com mais objetividade e estará preparando seu emocional e cognitivo para o próximo estágio onde passará por eles um a um. Aqui, a criança estará imitando todos em seu meio exterior como forma de modelo de expressão de pensamento e com isso estará explorando as possibilidades de comunicação entre ela e os seus. Estará desenvolvendo o intelecto de forma gradativa em sua mente diante da realidade que a cerca.

A criança vai repetindo movimentos de ações e ou de manipulação de objetos que ela pretende dominar e, com isso, vai aprimorando sua motricidade diante da realidade, dando-lhe mais independência em sua caminhada na aprendizagem. Ao se movimentar, através do caminhar, a criança passará a explorar mais os objetos em localidades que estavam mais distantes, o que até então não era possível. Com essa exploração do espaço, também irá trabalhar a linguagem e a fala. Quando consegue andar e desenvolver a linguagem, estará entrando na segunda parte desse estágio, que é o projetivo. A esta altura, a criança usará bastante os gestos para expressar o seu pensamento. O gesto será seu meio de comunicação mais eficaz.

O gesto, bem amadurecido nessa etapa, proporcionará ferramentas para a aprendizagem de Artes Cênicas mais tarde. Sobre o gesto nesse estágio, convém citar Costa (2012, p. 33), que explica que “[...] o gesto, portanto, precede a palavra; a criança não é capaz de imaginar sem representar [...]”. Isso quer dizer que o desenvolvimento do ser passa pela

função motora. O gesto e a imitação do outro serão a base para desenvolvimento da sua personalidade, cuja construção se dará no próximo estágio.

O terceiro estágio é o do Personalismo, explicado no livro por Bastos e Dér (2012), que compreende o período de 3 a 6 anos de idade da criança. Nele, haverá a presença de três momentos na ação da criança: a fase de oposição, a de sedução e a da imitação. Nesse estágio, a criança começa a se perceber diferente do outro e vai construindo sua personalidade. É a fase em que se percebe dentro de um contexto social em que existe o eu e o outro. A criança começa a falar muito o eu e o meu, termos característicos do indivíduo se posicionando como ser.

Na fase de oposição, a criança tem a necessidade de confronto, ela tem prazer em se posicionar de forma contrária ao pensamento do outro: isso também faz parte da sua construção de personalidade. É um posicionar-se no mundo. A fase da sedução é contrária à de oposição, agora ela irá tentar chamar a atenção para si, de forma a conquistar a atenção de todos ao seu redor. É a fase em que necessita da aprovação do outro sobre suas ações. E, por fim, a fase da imitação, é aquela em que a criança vai imitar os personagens que estão ao seu redor, pelos quais sentem admiração. Os gestos simples aqui passam a ser próprios de personagens que são imitados pela criança. Nessa fase do estágio, a criança tem como referência a família. Nessa idade, poderá ser iniciada a ida à escola, onde terão papéis a se inspirar, para imitar também. Com a experimentação de personagens, ela vai criando seus modelos a seguir, vão se distinguindo e se demarcando entre quem é ela e quem é o outro através da percepção afetiva. Com essa habilidade, ela está pronta para o próximo estágio que é o categorial.

O quarto estágio é o Categorial, explicado no livro por Amaral (2012), que vai dos seis aos onze anos de idade. A criança continua a se desenvolver nas funções motoras e afetivas, mas nesse estágio ela irá desenvolver melhor o campo do intelecto. Nesse estágio, ela já se posiciona concretamente dentro de vários grupos. Em relação ao gesto, está mais apurado, organizado e pronto para se posicionar em qualquer situação. Sobre o gesto e evolução do intelecto nesse estágio, é oportuno citar Amaral (2012, p. 52):

No plano motor, os gestos estão mais precisos e localizados, de forma que ela pode selecionar o gesto adequado à ação que deseja realizar. Pode também planejar mentalmente o movimento e prever etapas e consequências do deslocamento, o que garante uma desenvoltura maior na exploração do ambiente e nas atividades de conquista do mundo objetivo (AMARAL, 2012, p.52).

Quando a criança chega a esse estágio, ela terá consciência de seus gestos, poderá entender e associar o gesto ao pensamento e por isso estará apta a começar a exercitar as práticas das Artes Cênicas de forma mais consciente, com mais propriedade de seus movimentos e de seu raciocínio. Essa prática exercitará muito as funções motora, afetiva e da inteligência.

Esse estágio é marcado por duas fases. A primeira vai até os nove anos e ainda é cheia de sincretismo. O segundo acontece depois dos nove anos, em que a criança irá se posicionar para tentar organizar seu meio. Essas duas fases irão nortear o desenvolvimento da inteligência. As funções motoras, afetivas e intelectuais se desenvolvem na criança de forma unificada e não de forma fragmentada, razão por que essas três funções precisam estar bem preparadas, bem vivenciadas e fortalecidas até aqui para vivenciar o próximo estágio.

O quinto estágio de Wallon explicado por Dér e Ferrari (2012), é o da Puberdade e da Adolescência, que se desenvolve a partir dos 11 anos em diante. Nesse, a pessoa já percebe sua identidade e sua autonomia, mas é também um estágio em que existirão crises que causarão impactos na sua vida afetiva, cognitiva e motora. É um rompimento da infância e é o elo para a fase adulta. Será, naturalmente, complicado sair de um estágio a que estava habituado e ir para o próximo, em que acontecem mudanças significativas e visíveis.

Em relação aos movimentos corporais nesse estágio, o jovem os faz de forma exagerada, pois ainda está descobrindo novas possibilidades de se expressar diante de tantas modificações físicas. Em relação à afetividade, torna-se muito intenso: os sentimentos são intensamente vivenciados, o sexual extremante aflorado e causa-se impacto a quem está ao seu redor. É, porém, com esses conflitos de sentimentos que o jovem está tentando se firmar como pessoa. Agora o adolescente vivencia inúmeras situações em que a imaginação é muito bem desenvolvida, e tudo que é novo e contraditório é atrativo. Sente a necessidade de vivenciar novas experiências, se arrisca e mergulha de cabeça em tudo, de forma psicológica.

Então, nesse estágio será interessante aprofundar as atividades teatrais, pois estarão expressando seus sentimentos de forma intensa através de atuações e podendo fazê-lo sem restrições e com avaliações ao final de exercícios. Isso favorecerá o amadurecimento da pessoa (DÉR; FERRARI, 2012). Quando o jovem consegue equilibrar esse turbilhão de emoções, passa a racionalizar as suas ações e canalizar para um lado profissional, então o jovem estará caminhando para a fase adulta, que é a da responsabilidade e do compromisso com sua vida e com o social.