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Projeto Esperança 20 / 05 / 86 Ajudar as crianças carentes do conjunto Projeto da União

Comunitária 20 / 05 / 86 Ajudar as crianças carentes Projeto Comunitário Nação

Unida 12 / 05 / 86

Melhorar as precárias condições financeiras das famílias moradoras do conjunto

Associação Comunitária do

Bairro Tancredo Neves 20 / 01 / 87

Devido à fome das crianças, as mães resolveram se unir e criar a Associação para receber o leite gratuito Todos estes projetos recebem recursos da CCF (Fundo Cristão para Crianças) e tem em média 300 associados. Além de recursos estrangeiros eles mantêm convênio com o Estado, em Programas do Leite e merenda escolar.

Apesar do Lagamar manter sete programas desta natureza, observamos que o Conjunto Tancredo Neves é mais receptivo a Política Governamental. Em novembro de 1984 cem moradores de o Tancredo Neves manifestarem apoio ao então Governador do Estado Gonzaga Mota. Os moradores exibiam faixas com as seguintes palavras de ordem:

“O povo do Novo Lagamar está com Tancredo já, Gonzaga Mota governando o Ceará”.

“Gonzaga amigo do povo, com o povo”.

“O Gonzaga já está em outro partido: Partido do Povo”. “Governador vá na frente que atrás vem muita gente”. (O POVO, 24 de novembro de 1984)

O Governador Gonzaga Mota em 1983, no momento da “invasão” ao Conjunto Tancredo Neves não apenas utilizou de violência contra os moradores como negou-se em diversos episódios a discutir saídas para os impasses que se colocavam neste momento. O “súbito” apoio dado ao Governador deveu-se ao seu rompimento com os “coronéis” e apoio prestado a candidatura Tancredo Neves para presidente. Como esta era uma das grandes bandeiras do PC do B, partido que sempre esteve presente na Federação de Bairros e Favelas e especificamente na Associação de Moradores do Tancredo, houve com esta disposição de Gonzaga Mota uma aliança entre seu governo e a Federação de Bairros.

Posteriormente, já no Governo Tasso Jereissati, ao contrário do Lagamar, o Tancredo Neves adere a um Programa Governamental que tem por base o seguinte slogan: “Segurança é Saúde”. Este programa consiste na criação de “Conselhos de segurança” nos bairros com a participação de lideranças comunitárias. O presidente da Associação de Moradores do Lagamar relata os motivos da sua não participação neste Conselho:

“A tarefa é ouvir uma relação de 7 emissoras de rádio, num horário tem que ouvir uma rádio, em outro horário ouvir outra rádio, outro horário teria que ouvir uma emissora, no caso de ter uma pessoa denunciando um problema de polícia, essa pessoa imediatamente ligaria para aquela emissora desfazendo tudo que aquela pessoa tinha denunciado. Nós achamos que isso era um serviço porco, uns serviços nojentos, que isso não devia ser por alguém que participasse do movimento”.

Já os moradores do Tancredo Neves, através da Associação participam ativamente do Conselho, haja vista a quantidade de reuniões existentes no bairro com a participação da POLÍCIA MILITAR e dos moradores.

Em declaração prestada ao DIÁRIO DO NORDESTE (12 de abril de 1988) o representante da Associação, Francisco de Sousa Filho esclarece:

“Resolvemos arregimentar nossos contatos e finalmente teremos os nossos Conselhos, como já existe em outros bairros de Fortaleza. Isso é de grande importância para todos os moradores do Tancredo Neves porque o bairro era totalmente despoliciado”.

É interessante observar que no momento (jul/87) que iniciamos o nosso trabalho no bairro existia uma questão aparentemente insolúvel no tocante a uma invasão (jan/87) de seis famílias ao Posto de Saúde do Tancredo Neves. Ao tomar conhecimento do fato, o Presidente da Associação de Moradores, Francisco de Assis, foi ao Posto pedir o número da Identidade de todos os invasores:

“Por volta das 17 horas, uma surpresa. Assis em companhia de Altamir Calado e José Marcelino, também membros da diretoria da Associação, além do delegado “braço de ferro” foram até o posto ordenar que os moradores fossem embora. Segundo os “inquilinos” e muitas outras pessoas que residem no local, “braço de ferro” teria ameaçado a todos, afirmando que traria reforço policial no dia seguinte, para retirá-los de qualquer forma”.

(DIÁRIO DO NORDESTE, 30 de janeiro de 1987)

Mesmo antes da formação do Conselho de Segurança no bairro, já existia entre a Associação dos Moradores e a Polícia ações desenvolvidas de forma conjunta. Estas famílias permaneceram no Posto de Saúde até a construção de casas sob a responsabilidade do Programa Mutirão Habitacional. Ao tentar entrar em contato com o Presidente do Conselho de Segurança do Bairro Tancredo Neves, os moradores nos informaram que ele encontrava-se na vigília do Posto de Saúde. Ele como responsável pela segurança do bairro deveria permanecer no posto ou deixar alguém sempre no local, para evitar outras invasões. É interessante observar que nos jornais, a criação do Conselho de Segurança no Bairro, aparece relacionado com a “recuperação” do Posto de Saúde.

“Além da instalação do Conselho Comunitário de segurança, os moradores do bairro também serão agraciados com a formação do Conselho de Saúde implantado pela Secretaria de Saúde do Estado (S.S.E). Será a concretização do Sistema Unificado Descentralizado do Posto de Saúde” (SUDS) possibilitando o término da construção do Posto de saúde (...) Diário do Nordeste, 12 de abril de 1988 – (grifos da autora)

As famílias que ocupavam o Posto de Saúde em reunião realizada em 17.08.87 reivindicaram sua saída para casas que iriam ser construídas pelo “Mutirão Habitacional” .

Havia ainda uma outra invasão a ser solucionada localizada junto ao Conjunto na BR 116. No momento da reunião era discutida como seria encaminhada a reivindicação já que as 1000 (em média) famílias que ocupavam os terrenos próximos a BR 116, é que seriam usuários do Mutirão Habitacional. Um dos ocupantes do Posto interpelou:

“Os que moram no Posto têm a mesma necessidade dos que moram nas barracas”.

E assim é decidido, que tanto os ocupantes da BR 116 como os do Posto seriam beneficiados com o mutirão. O Mutirão Habitacional que na sua primeira etapa inicia a construção de 833 casas ao todo, prevê a edificação de 5.000 casas no local.

O jornal noticia em 15 de abril de 1988: “Tancredo Neves satisfeito com o Mutirão Habitacional”. É interessante observar que embora Lagamar e Tancredo neves sejam sempre associados com uma mesma realidade, um mesmo bairro, há entre os dois distinções expressivas.

O “Tancredo Neves” veicula de forma mais fácil e menos questionável os Programas do Governo e, de alguma forma mantém-se mais próximos do Estado.

Mesmo a associação de moradores que como conseqüência do “Racha” (isolando a ala mais ligada ao PMDB – PC do B dos movimentos – “Aliança Comunitária”) é quase composta em sua totalidade por militantes do Partido dos Trabalhadores, apóia o programa relativo aos “Conselhos de Segurança” e empreende uma busca policial no sentido de expulsar os invasores do Posto de Saúde ocupado.

As CEB’s no Lagamar representam um foco de luta que age em todos os momentos de conflito no bairro com nítida participação, em contraposição até por não ser oficializada e “reconhecida” pelo governo, não veicula nenhum destes programas. As CEB’s do Tancredo Neves, coordenada por uma freira, têm pouca expressão no bairro e, não têm participado de forma mais efetiva nas lutas do Conjunto.

É a “Aliança Comunitária” no bairro Tancredo Neves que mede de forma mais direta a relação entre Estado e movimentos do Bairro. Já no Lagamar essa mediação mais direta é realizada pela Associação da Aerolândia sob a liderança do Prof. Edvar Ramos, não pertencente aos limites da favela.

Podemos afirmar que talvez por serem os moradores do Conjunto “inquilinos do Governo” esta relação, que a priori já está colocada, ocasiona desdobramentos em uma gama mais ampliada de demandas da população de serviços e equipamentos a serem promovidos pelo Estado. A situação de mutuário, e ainda por ter sido o Estado o consecutor ou aquele que promete finalizar “interminavelmente” as obras de infra-estrutura do conjunto, cria um elo mais concreto entre o Estado e estes moradores específicos. Talvez possamos daí atribuir as distinções visíveis entre os “dois bairros”.

********************************************************** 5. A CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADES POLÍTICAS E A AMPLIAÇÃO DA ESFERA PÚBLICA.

IDENTIDADE : FRONTEIRAS ENTRE O