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3. A navegação sob o espectro do chamado big brother telemático

3.4 Entidades de supervisão e regime sancionatório

A Lei n.º 41/2004, de 18 de agosto atribui à CNPD – Comissão Nacional de Proteção de Dados247 e ao ICP-ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações248, as questões relacionadas com a supervisão, controlo do funcionamento e garantia da segurança no tratamento de dados pessoais, no âmbito das comunicações eletrónicas.

Com isso a alteração introduzida pela Lei n.º 46/2012, de 29 de agosto atribui, ao ICP- ANACOM, competências no âmbito da segurança do processamento de dados, tais como de emitir recomendações sobre as melhores práticas ao nível da segurança que tais medidas devem alcançar; auditar, diretamente ou através de entidade independente, as medidas de segurança, ainda que extraordinárias e solicitar parecer a CNPD quando esteja presente a

247 Para mais informações vide capítulo I e site oficial da CNPD [Em linha] [Consult. 15 Jan. 2015]. Disponível

em http://www.cnpd.pt./.

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A autoridade Nacional de Comunicações – ANACOM tem por missão a regulação do setor das comunicações, incluindo as comunicações eletrónicas e postais e, sem prejuízo da sua natureza, a coadjuvação ao Governo neste domínio. Todas as informações acerca desta instituição, poderão ser consultada no site oficial [Em linha] [Consult. 25 março 2015]. Disponível em http://www.anacom.pt/render.jsp?categoryId=381611#.VSkKANzF9yU.

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situações que envolva dados pessoais. Essas medidas devem incluir no mínimo de segurança nos serviços de comunicações eletrónicas, nomeadamente, medidas que assegurem que só pessoal autorizado para fins legalmente autorizados, tenha acesso aos dados pessoais; a proteção de dados tratados contra a destruição, a perda, a alteração, a divulgação ou o acesso não autorizado ou acidentais que assegurem medidas para uma política de segurança no tratamento dos dados pessoais249.

No caso de violação de dados pessoais, as empresas que oferecem serviços de comunicações eletrónicas devem notificar à CNPD, a ocorrência de tal fato. Assim, sempre que ocorra uma violação desta natureza, as empresas que oferecem comunicações eletrónicas devem, sem demora injustificada, notificar a CNPD, indicando as consequências da violação de dados pessoais e as medidas por si propostas ou tomadas para fazer face à violação. Atribui-se ainda à CNPD a prorrogativa de em conformidade com as decisões da Comissão Europeia, emitir orientações ou instruções sobre as circunstâncias em que as empresas que oferecem serviços de comunicações eletrónicas estão obrigadas a notificar a violação de dados pessoais, bem como sobre a forma e o procedimento aplicáveis a essas notificações. A CND tem ainda competência fiscalizadora do cumprimento destas obrigações de notificação para o efeito. As empresas devem manter um registo das situações de violação de dados pessoais, com indicação dos fatos que lhes dizem respeito, dos seu efeitos e das medidas adotadas250.

A CNPD e o ICP- ANACOM partilham ainda competências no que respeita à instauração, instrução e arquivamento de processos de contra- ordenação, bem como a aplicação de admoestações, coimas e sanções acessórias, sendo a competência entre ambas as entidades repartidas consoante o ilícito cometido, nos termos do artigo 15.º, neste particular, o ICP- ANACOM tem ainda competência para aplicar a sanção acessória de perda a favor do Estado de objetos, equipamentos e dispositivos ilícitos, incluindo o produto do beneficio obtido pelo infrator através da prática da contraordenação251.

No entanto, nas respetivas áreas de competência, o ICP-ANACOM e a CNPD, podem aprovar medidas para assegurar uma cooperação transfronteiriça eficaz na execução da Lei n.º 41/2004, desde que previamente apresentem à Comissão Europeia um resumo dos motivos para ação, os requisitos previstos e as ações propostas. Do mesmo modo podem elaborar

249 Cf. artigo 3.º da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto. 250 Cf. artigo 3.º-A da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto. 251

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regulamentos relativamente às práticas a adotar para cumprimento da Lei n.º 41/2004; dar ordens e formular recomendações; publicar, nos respetivos sítios da internet, os códigos de conduta de que tenham conhecimento; publicitar, nos respetivos sítios da internet, outras informações que considerem relevantes252. Com isso, é competência do ICP-ANACOM e da CNPD, a fiscalização do cumprimento da Lei n.º 41/2004, através dos vogais e técnicos devidamente mandatados pela CNPD, e dos agentes de fiscalização ou de mandatários devidamente credenciados pelo ICP-ANACOM253.

Quanto ao regime sancionatório, a Lei n.º 41/2004, prevê as admoestações, coimas, sanções acessórias e as sanções pecuniárias compulsórias. A admoestação corresponde a uma pena de substituição de uma pena concreta de multa que consiste numa advertência oral ao visado. A CNPD ou o ICP-ANACOM após verificarem a infração de qualquer obrigação decorrente da Lei n.º 41/2004, devem notificar o infrator para que no prazo não inferior a 10 dias possa se pronunciar. Após esse período outras medidas podem ser tomadas, nomeadamente a aplicação de sanção pecuniária compulsória254.

Quanto a aplicação de coimas, compete à CNPD e ao ICP-ANACOM a instauração, instrução e arquivamento de processos de contraordenação, bem como aplicação de admoestação, coimas e sanções acessórias elencadas no artigo 15.º da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto.

No que respeita às sanções acessórias, aplicáveis no domínio contraordenacional, interessa notar que nos casos em que a competência para a aplicação de medidas punitivas seja do ICP-ANACOM, poderá esta entidade, quando a culpa do agente o justificar, aplicar um sanção acessória de perda a favor do Estado de objetos, equipamentos e dispositivos ilícitos e mesmo do produto do beneficio obtido pelo infrator através da prática da contra- ordenação255. A aplicação e o cumprimento das sanções não dispensam o infrator do cumprimento, se este ainda for possível, sob pena de sanção pecuniária compulsória.

As sanções pecuniárias compulsórias são aplicáveis em caso de incumprimento que imponham sanções administrativas ou ordene, no exercício dos poderes que legalmente

252 Cf. artigo 13.º-C e 13.º-D da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto.

253Cf. artigo 13.º-G e 15.º- da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto, e artigo 112.º da Lei n.º 5/2004 de 10 de fevereiro. 254 Cf. artigo 13.º-F da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto.

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assistem256 a CNPD ou o ICP-ANACOM, com um montante diário mínimo de (euro) 500 e o montante máximo de (euro) 100 000, por dia de atraso, sendo o montante concreto apurado atendendo à situação económica do agente, designadamente ao seu volume de negócios no ao civil anterior e ao impacto negativo do incumprimento no mercado e nos utilizadores. Todavia o montante pode ser variável para cada dia de incumprimento, num sentido crescente, não podendo ultrapassar o valor máximo de (euro) 3 000 000 nem a duração máxima de 30 dias257.

O montante das coimas e sanções reverte para o Estado em 60% e para a CNPD ou para o ICP-ANACOM, consoante os casos, em 40%. É subsidiariamente aplicável o disposto nos artigos 33.º a 39.º da Lei n.º 67/98 de 26 de outubro258.

256 Nos casos referidos nos n.ºs 1, 3, 4, e 5 do artigo 10.º; nos n.ºs 1, 3, e 4 do artigo 13.º e nas alíneas a) a i), j) e

l) a m) do n.º 1 e a) a e) do n.º 2 do artigo 14.º, todos da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto.

257 Cf. artigo 15.º-C da Lei n.º 41/2004 de 18 de agosto 258

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