• Nenhum resultado encontrado

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS

4.1. Academia Sporting/Puma o acentuar de uma qualidade já

4.1.2. Entre a formação futebolística e a formação holística

“O corpo contém, tanto como o cérebro, a história da vida.”

Edna O´brien (2007)

Ao entrarmos na Academia, somos invadidos por um ambiente onde se respira calma e tranquilidade, onde o salutar convívio entre todos os presentes impressiona pela positiva. Pedro Luz refere que o ambiente da Academia “só

pode ser um ambiente favorável para que os jovens se possam desenvolver. [Você] teve oportunidade de passar desde o futebol profissional ao futebol de formação e ainda agora, à hora do almoço, estavam juntos, na mesma mesa, pessoal do futebol profissional, o director do futebol profissional, o director da Academia, treinadores do futebol da formação. Isso transparece o ambiente saudável, de muita solidariedade e companheirismo que se vive aqui, porque

esta é a única forma que todos nós temos para conseguir atingir os nossos objectivos.”. Pereirinha refere ainda que o ambiente da Academia “é sobretudo um ambiente de companheirismo, de irmandade, mesmo. Toda a gente se tenta ajudar e motivar mutuamente.”.

Aurélio Pereira acrescenta mais dois aspectos na caracterização do ambiente vivido na Academia: “Auto-Estima e Disciplina. Na Academia vive-se

um ambiente fantástico entre todos os seus intervenientes, sejam eles jogadores, treinadores, directores ou funcionários.”. Na verdade, no que diz

respeito ao processo de formação ali levado a cabo, todos os intervenientes, sejam eles treinadores, directores ou funcionários, se conhecem e comunicam entre si de forma aberta, existindo uma grande sintonia entre todos. Trata-se, portanto, de um funcionamento holístico, onde, apesar de cada um ter a sua especificidade, todos estão identificados com o projecto de formação da Academia. Pedro Luz confirma este aspecto, referindo que “toda a gente que

aqui trabalha tem a noção geral do que é que é o projecto Academia Sporting, de como funciona. Mas depois obviamente que cada um tem a sua especificidade dentro da sua profissão.”.

Apelidada de “grande obra” pelo Dr. João Lobo Antunes no programa de debate da RTP1 Prós e Contras, a primeira designação para a actual Academia Sporting/Puma foi, inicialmente, a de Centro de Formação e Estágio, mas tal não era suficiente para aquilo que eram as verdadeiras intenções do SCP para esta nova era. Assim, a designação actual de Academia assenta perfeitamente àquilo que esta pretende ser: não só “um projecto de formação desportiva, mas

também um projecto de formação humana e cultural.” (Raposo, 2007).

Parece-nos, pois, que o conceito levado a cabo na Academia Sporting/Puma vai ao encontro daquilo que Bento, Graça, & Garcia (1999) defendem, quando referem que “Para além da formação futebolística, importa

entender o clube quanto antes como entidade cultural insubstituível no papel de agregador das diferenças, como local de cultivo de valores humanos e sociais, educativa e pedagogicamente relevantes.”. Neste contexto, compreendemos o

conceito de Academia enquanto “Escola dentro de um Clube” (Mil-Homens,

2005), na medida em que é um local onde, para além do desenvolvimento

desportivo, existe também um grande apoio no que diz respeito à parte académica e à formação individual.

Em concordância com o supracitado, Pedro Luz lembra que na Academia Sporting “para além de formar jogadores, o objectivo passa por

formar homens”, porque, tal como verificamos na revisão da literatura, “uma Academia não serve só para descobrir talentos, precisa de ser essencialmente uma preparação para a vida.” (Mil-Homens, 2003).

Ainda no seguimento da ideia anterior, considera-se pertinente aludir à posição de Jean Paul quando este refere que, na Academia, “embora saibamos

que não estamos numa escola de engenheiros nem médicos, nós procuramos promover nos atletas as competências necessárias, de forma a que eles cumpram os mínimos do seu trabalho escolar. Não fazemos questão de ter aqui alunos brilhantes, mas a escola faz parte do processo” e Pedro Luz

acrescenta ainda que “não descuramos nunca a formação social e escolar

desses jogadores e daí que queremos, à semelhança do que acontece na escola, um processo contínuo onde eles são avaliados, onde os treinadores são avaliados e todos nós somos avaliados de forma contínua.”.

Na sequência da preocupação manifestada por parte dos responsáveis do SCP quanto à formação integral dos atletas, é de enaltecer o aspecto enfatizado pelo actual treinador e responsável pelo escalão de Juvenis, Luís Dias, quando afirma que “existe uma grande articulação entre a escola e o

futebol. Não é por acaso que, por exemplo, os últimos jogadores a entrarem na equipa principal – Miguel Veloso, Pereirinha, Adrien – sejam atletas que chegaram todos ao secundário, alguns deles ainda andam no 12º ano, e muitas vezes só deixam de estudar quando passam a atletas profissionais, e mesmo assim tentam conciliar. O Miguel Garcia, por exemplo, já fez o 12º ano; o Rui Patrício fez o 9º ano, decidiu não continuar o secundário e fez um curso de informática. Portanto os atletas têm sempre outras formações complementares.”.

Em suma, consideramos importante esta preocupação de Academia em preparar os jovens para outras saídas além do futebol, pois, como refere Paulo Bento, “se há uma coisa que devemos todos ter em mente, é que nem todos

aqueles que estão aqui vão ser jogadores do Sporting. Todos poderão ter essa oportunidade, mas, seguramente, nem todos o vão ser.”. De facto, enquanto os

jovens pertencentes a uma Academia de Futebol pensam em ser jogadores profissionais de futebol, é-lhes muito fácil descurar a parte académica e

intelectual. Por isso a Academia tem a responsabilidade de enfatizar não só o seu desenvolvimento futebolístico, mas também a sua formação académica (Stratton, Reilly, Williams, & Richardson, 2004).

4.1.3. Formação entendida como um processo contínuo e a longo prazo: a