• Nenhum resultado encontrado

2.3. Formação de jogadores em futebol

2.3.3. Uma solução de viabilidade económica nos clubes de

“Sou acérrimo defensor da formação e o meu trabalho sempre foi conduzido nessa base (…). O futebol tem de assumir a sua autonomia numa altura em que está a asfixiar em termos financeiros. Esta pode ser a solução, até para devolver o carácter populista ao próprio jogo.”

Nelo Vingada (2004)

Com a implementação da livre circulação de jogadores na Comunidade Europeia, aquando da instituição da Lei Bosman em 1995, a realidade futebolística alterou-se por completo.

No dia 15 de Outubro de 2004, no Jornal de Negócios, o jornalista Sobral (2004) refere, num artigo intitulado “A classe média do futebol”, que “num topo estão cada vez mais os grandes clubes e os jogadores «galácticos» e, no outro canto, aqueles que só procuram sobreviver. A importação de mão- de-obra futebolística foi arrasando as «escolas» dos clubes e com isso as hipóteses de jogadores que não são génios singrarem nos clubes, como antigamente.”.

Constantino (2002) é da mesma opinião que o jornalista citado anteriormente, afirmando que “a livre circulação dos praticantes num mercado aberto introduziu uma dinâmica em que a lógica dos países economicamente mais fortes prevalece sobre os mais fracos, criando uma situação onde tendencialmente os melhores praticantes se concentram nos mercados com maior poder aquisitivo.”.

Recentemente, Soares Franco (2007), Presidente do SCP citado pela agência Lusa, referiu que a transferência de Nani para o Manchester United “mostra o poder económico que existe nos outros países, que podem vir cá pagar todas as cláusulas de rescisão que os clubes portugueses fixam.”. Acrescentou ainda que “o seu cavalo-de-batalha tem sido tentar explicar o difícil que é a uma equipa portuguesa ser competitiva a nível europeu, apostando na formação para o conseguir”, face a esta supremacia financeira dos colossos europeus.

Apesar do panorama desfavorável, todos os esforços estão a ser feitos para que este cenário de crise económica nos clubes europeus seja alterado. No dia 21 de Abril de 2005 a UEFA aprovou uma proposta “que obriga os clubes a criar metas de formação.” (DN Desporto, 2005). Esta medida prevê que em 2008/2009 cada equipa possua nos seus quadros quatro jogadores formados pela própria academia do clube e outros quatro formados em clubes nacionais (UEFAe, 2005), e tem como objectivo o desenvolvimento da Formação e a redução do mercado de transferências exagerado que surgiu com a Lei Bosman (DN Desporto, 2005).

Esta aposta séria e organizada na formação de jovens jogadores por parte dos clubes de futebol pode representar um aspecto decisivo para o sucesso dos mesmos não só no plano desportivo, mas também no plano financeiro, pois, tendo em conta a possibilidade de se poderem vir a tornar

futuros jogadores do plantel sénior, isso resultará numa poupança ao nível financeiro por parte do clube, que não precisará de contratar jogadores a outros clubes. Por outro lado, a venda futura destes jogadores poderá proporcionar ganhos financeiros para o clube.

Constata-se, então, que a conjuntura actual da formação no futebol leva- nos a pensar muito além do desenvolvimento desportivo dos clubes. A formação desportiva deixou de ser apenas um processo que tinha como objectivo assegurar a qualidade desportiva dos clubes, para ser também um meio ideal para optimizar os recursos humanos (Constantino, 2002)

Oliveira (2001, p.12) é da mesma opinião quando refere que a aposta na formação é uma das grandes soluções para resolver os problemas económicos dos clubes. Para esse efeito, o autor sugere a criação de estruturas, a alteração de conceitos e metodologias, de forma a que “o número de jovens com talento seja maior do que o da realidade actual.”.

Veja-se então o que dizem alguns dirigentes e treinadores acerca deste assunto. Carraça (2003, p.82) refere que é necessário perceber que neste momento os jovens jogadores de um clube são activos e têm um grande potencial de rentabilização futura.

João Cardoso, coordenador geral do departamento de formação do S. C. Braga vai ao encontro da opinião de Carraça, quando, em entrevista à revista

Futebolista (2008), afirma que “a venda de 1 a 2 jogadores por ano, que

tenham sido formados na escola, permitirão subsidiar a futura academia durante várias épocas. A continuidade das vendas de jogadores irá justificar o investimento realizado nesta importante infra-estrutura, durante décadas.”.

Também Camacho (in Alves, 2004, p.84) partilha da mesma visão, mencionando que “o lançamento de jovens futebolistas está muitas vezes relacionado com os condicionalismos económicos de cada clube. Equipas que não têm grande capacidade financeira a nível internacional têm nos jogadores formados nas suas escolas a oportunidade de reforçarem os seus planteis e de, ocasionalmente, venderem jogadores, o que lhes podem trazer importantes contrapartidas financeiras.”.

Numa entrevista realizada pelo Jornal Público em 1993, Co-Adriaanse refere que “antigamente, no Ajax, quando as equipas estrangeiras vinham buscar os nossos jogadores, pagavam muito pouco (…), no entanto estamos a

mudar essa realidade e agora quando compram os nossos jogadores, têm que pagar um preço justo.”. Acrescenta ainda que “as transferências de Bergkamp e Jonk renderam ao clube 12,5 milhões de euros, que serão investidos totalmente na formação.”.

O Fulham F.C. é também um bom exemplo de como a Academia do clube se pode transformar numa fonte de recursos financeiros bastante preciosa (Stratton, Reilly, Williams, & Richardson, 2004). Os responsáveis deste clube acreditam que a sua Academia tem o potencial de poupar milhões de libras devido ao facto de reduzir (teoricamente) as suas transferências de jogadores.

Em suma, fica bem claro que é realmente imperativo, os clubes apostarem na formação para que assim rentabilizem melhor os seus recursos humanos e financeiros e, ao mesmo tempo, se mantenham competitivos.

2.3.4. Academia de Futebol: uma escola dentro do clube