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Entre o popular e o erudito 2

No documento disserta__ocarlosalfeu__3_.pdf (páginas 88-95)

O termo “galopa paraguaya” na cópia do manuscrito de Barrios faz referência ao gênero musical. HIGA (2010) em sua análise sobre os gêneros e termos empregados no álbum de Aristóbulo Dominguez de 1928  Aires Nacionales Paraguayos, que é utilizado para representar em partituras alguns motivos populares  paraguaios neste capítulo, verifica que os termos mais utilizados são: polka e galopa. Segundo Higa os termos  polka e galopa  eram aplicados às canções com acompanhmaneto ternário, seja em compasso 2/4 ou 6/8. E que a ocorrência do acompanhamento binário em compasso 2/4 não admite a denominação de galopa, mas sim polka, canção ou habanera (2010:112).

O maestro Luis Szarán afirma que apesar de este álbum de partituras trazer alguns erros de notação, “contribui para preservar os motivos nacionais mais antigos” (HIGA, 2010:104).

A seguir será analisado os parâmetros musicológicos sugeridos por Rink (2006) em relação aos manuscritos e as edições. Para esta análise utilizamos como exemplos os motivos paraguaios “Polka Cau” e “Colorado”. Na segunda peça é  possível observar a mudança de acentuações entre a primeira e a segunda seção

através dos sinais de acento indicados e a classificação de  polka-galop.

Modos de transcrição:

Figura 92 - Primeira seção de "Polka Caú".

Podemos identificar que esta versão da peça foi arranjada por Aristóbulo Dominguez. Em notação 2/4 a primeira seção apresenta o acompanhamento ternário e breve alternância para o binário.

 Nesta primeira análise faremos relação com a primeira seção de “Jha, che valle!”.

Figura 93 - Primeira seção de "Jha, che valle!". 2) Edição de Stover

Figura 94 - Primeira seção de "Jha, che valle!", edição de Stover. 3) Edição de Benites

Figura 95 - Primeira seção de "Jha, che valle!", edição de Benites.

 Notação: Na cópia de Sila Godoy verifica-se a indicação de s corduatura para a 6ª corda em Ré, digitação para a mão esquerda. As edições de Stover e Benites são semelhantes, em 6/8 com diferença nas figuras rítmicas em relação à cópia. Na edição de Benites o baixo está ternário nos compassos 2 e 3, como o acompanhamento da “Polka Caú”.

Acentuação: Através das figuras rítmicas empregadas na cópia de Sila Godoy  pode ter a intenção para a acentuação nas notas em colcheia, nos primeiro e segundo tempo da melodia. A  fermata  no segundo tempo do segundo compasso pode ser referência na acentuação das frases nas edições de Stover e de Benites. Nos compassos 6 e 8 os ligados em sextas diatônicas evidenciam a segunda frase do tema A.

Figuras rítmicas: Esse é o aspecto mais diverso entre as partituras nas três seções da peça nas linhas da melodia e dos baixos. No compasso 8, da cópia, verifica-se pausas na linha do baixo, que se destaca em três. A síncope  entre os compassos permanece nas edições, sendo que na cópia é de semicolcheia para colcheia.

Dedilhado: A cópia e a edição de Stover traz a execução da melodia no início do tema na corda Ré. Benites, devido aos baixos, faz a melodia nas primeiras casas do braço do violão.

Identificação de motivos rítmicos e melódicos característicos:

Figura 96 - Partitura de "Colorado".

O destaque desta partitura está na indicação de acentuações no acompanhamento, que se difere notavelmente de uma seção para outra, fazendo referência à uma das características principais do gênero galopa.

Fraseado: A linha do baixo na segunda seção de “¡Jha, che valle!” é a voz que se destaca. Nas edições de Stover e Benites não há nenhuma indicação de dinâmica

Figuras rítmicas: Observa-se que a segunda seção de “Colorado” tem a melodia com poucas variações. Vale mencionar que no compasso 11, ou o segundo compasso da parte B apresenta figuras rítmicas semelhante com a primeira seção de “¡Jha, che valle!”.

Inflexão melódica: Para a interpretação da segunda seção de “ ¡Jha, che valle!” é interessante uma atenção dedicada a voz dos baixos com leve nuances no acompanhamento.

Modos de articulação entre seções:

Figura 97 - Compasso 10 de "Jha, che valle!", cópia de Sila Godoy.

Figura 98 - Compasso 10 de "Jha, che valle!",

edição de Stover. Figura 99 - Compasso 10 de "Jha, che valle!",edição de Benites.

Fraseado: As partituras trazem as mesmas notas, mas pela utilização da semicolheia na cópia de Sila Godoy a intenção da voz do acompanhamento pode adquirir um caráter mais vivo.

Alteração rítmica: A cópia de Sila Godoy indica que a segunda seção tem variação nas combinações rítmicas. Talvez Barrios escreveu desta maneira para expor de forma mais clara sua intenção interpretativa da peça.

Inflexão melódica: O staccato  inserido na cópia aponta para uma clara diferença entre as duas vozes que atuam na segunda seção. A início da segunda seção

em anacrústico interfere na harmonia da música que tem sua mudança no acorde de Ré maior com sétima no último tempo do compasso que liga a seção A para a seção B.

Assimilação do sincopado paraguaio:

Figura 100 - Compassos 4 e 5 de "Jha, che valle!".

Figura 101 - Compassos 4 e 5 de "Jha, che valle!", edição de Stover.

Figura 102 - Compassos 4 e 5 de "Jha, che valle!", edição de Benites.

Acentuação: Os baixos fazem a acentuação no primeiro tempo dos compassos. Na melodia a acentuação varia entre o segundo tempo do compasso e a nota após a síncope entre os compassos.

Inflexão melódica: As figuras rítmicas da melodia do compasso 4 da cópia de Sila Godoy apresentam uma interpretação com maior movimento.

Figuras rítmicas: As edições com colcheias na melodia em sua seção A pode  prejudicar na interpretação da peça e, consequentemente, do gênero musical

empregado.

Dedilhado: A cópia traz a melodia nas cordas 3 e 4 e nas edições encontradas está nas cordas 2 e 3. O dedihado da cópia é um pouco confuso em relação as edições, pela indicação dos dedos da mão esquerda. É possível colocar a melodia nas cordas 1 e 2, adquirindo certo “brilho” pelo timbre dessas cordas.

3.2.4 Sugestão de interpretação

Para sugerir uma melhor interpretação, temos que entender que a galopa é um gênero que apareceu antes que a polca no Paraguai, apesar de ter-se adotado somente o nome da dança estrangeira, pois a música e a dança paraguaia já existiam. A galopa tem a característica de ser executada por bandas militares, sendo sua primeira  parte uma danza paraguaya  e a segunda seção completamente diferente em suas acentuações, proeminentemente tocado pelos instrumentos de percussão, e, como na interpretação de Barrios de “Jha, che valle!”, com acentuação no segundo tempo dos  baixos, que se tornam melodia. O trio  pode-se entender como um minueto

incorporado por Barrios para acrescentar mais uma seção a peça.

Sendo uma galopa, uma opção de melhor compreensão da peça está na imaginação de alguma coreografia que se relacione com as seções e suas transições. Para tanto proponho que uma “imagem” de “¡Jha, cha valle!” poderia ser a dança individual de uma galopera. Na primeira parte do tema musical a galopera pode demonstrar suas destrezas com uma garrafa na cabeça e enfrentar um desafio, como  pegar uma flor com a boca na boca de um cavalheiro, pular uma vassoura no chão,

entre outros. Para seguir com a segunda seção, e também intercalar nas três seções, a galopera dá uma volta inteira em si mesma, e após este movimento acrescenta mais uma garrafa, sendo a segunda seção a parte de adicionar sempre uma garrafa na cabeça. E para a parte C, seria interessante a galopera inserir em sua coreografia  passos de balé clássico ou figuras de altivez.

No documento disserta__ocarlosalfeu__3_.pdf (páginas 88-95)

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