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5 DA AFILIAÇÃO Á PERMANÊNCIA: O PROTAGONISMO DA INICIAÇÃO

5.3 Afiliando-se a Iniciação Científica e Permanecendo na Universidade

5.3.1 Entre os dois Mundos: Estranhamento e/ou Contentamento?

Coulon (2008) comenta que a escola e a universidade não possuem as mesmas rotinas, por isso é preciso substituir as práticas cotidianas de uma cultura de estudante de ensino médio, na qual ele já estava acostumado, por uma nova cultura, que é bem mais complexa, modos de agir tidos como “sofisticados” e que fazem parte da universidade.

Pensando o caso brasileiro, é sabido que muito recentemente os jovens oriundos de famílias menos favorecidas e sem alguma tradição universitária, dentre esses estão os negros, quilombolas, indígenas, pertencentes a comunidades tradicionais/rurais, negras ou periféricas, por conta dos programas de abertura e interiorização bem como as políticas de ações afirmativas, passaram a ingressar em maior número no ensino superior. O processo de afiliação para estes ocorre de maneira distinta, uma vez que

também se configura uma novidade para a própria instituição receber estes estudantes que demandam uma atenção diferenciada. Além do mais, por este acesso se tratar de uma conquista da luta pela inclusão social e igualdade racial, alguns estudantes talvez

experimentem outros sentimentos para além do estranhamento53.

Como observaremos a seguir, essa passagem possui diversas maneiras de se desenvolver, o que sabemos é que nenhuma delas parece fácil. Já na sua chegada, Ena sentiu dificuldades em lidar com a autonomia e assim se construiu sua primeira visão da universidade:

As primeiras impressões acho que para todos os alunos é meio estranho! Primeiro no pensamento é uma coisa, a gente pensa que é aquele negócio de “American Pie”. Ai quando você entra na universidade, né bem assim não. Tem a liberdade, muita coisa que a pessoa não está acostumada, não tá acostumada com essa dinâmica. Mas tem o outro lado da liberdade, é você que faz tudo sozinho. Ai você chega e não sabe nem como fazer a matrícula e te dão um papel lá que você não sabe nem o que botar alí, ai eu fiquei perdida. Eu não sabia ir lá no Ana Neri [prédio administrativo do CAHL], disseram que era pra fazer a matricula lá, ai depois não era. No mesmo dia de fazer a matricula eu já ia ter aula, ai eu fiquei doida porque na escola a gente tá acostumado a ter tudo alí no quadrinho pequenininho o horário da aula, a sala e tal. Tem o diretor, os secretários para procurar uma informação, alguém ara orientar e aqui eu não tinham ninguém, você não sabe a quem recorrer. (Ena, 6º Semestre, Serviço Social)

Ao ingressar na universidade, é cobrado ao estudante maior grau de autonomia e liberdade, que são, de certo modo, necessários para que desenvolva sua relação com o saber, tal como compreende Charlot (2000) uma relação que é estabelecida consigo mesmo, e na interação com o outro e com o mundo. Este momento de ingresso guarda certa complexidade. Isso se dá justamente porque comportar também a transição para a fase adulta. Estudos realizados por Vianna (2009), Piotto (2008), Portes (2006) nos dizem que os estudantes nesta fase de transição se deparam com momento de incertezas, inseguranças e indecisões típicos da transição para a fase adulta. Para os ingressantes no ensino superior a tarefa é ainda maior, já que precisam lidar com novas

53 Conseguimos observar no modo de falar de alguns estudantes que, embora houvesse um primeiro estranhamento da universidade por esta se configurar um espaço novo, ainda por ser desvendado, e igualmente por possuir linguagem, estrutura e organização totalmente diferentes das suas escolas de origem, também existe um sentimento de conquista, contentamento por terem finalmente acessado à universidade. Essa mesma situação foi observada por Fábio Calisto, orientado pela Prof.ª Dra. Georgina G. dos Santos, na sua pesquisa de campo para relatório de IC em 2014, acerca dos dispositivos institucionais que colaboravam com a afiliação dos estudantes no CAHL - UFRB. O termo que utilizam para este outro sentimento é o encantamento.

responsabilidades que esta fase traz consigo, além de lidar com a necessidade de responsabilizar-se por seu próprio desenvolvimento profissional.

Jéssica comenta que a universidade requer dos recém-chegados uma dupla

preparação. Esta dupla preparação é de um lado psicológica, para lidar com a

autonomia e liberdade de construir o seu próprio saber, e de outro é técnica, no que diz respeito ao embasamento teórico mínimo para as disciplinas escolhidas, que no caso desta estudante seria o conhecimento mínimo em matemática.

A ausência prévia desses requisitos, e não apenas eles, vão causar certas dificuldades e até mesmo tornando esses sujeitos estigmatizados54, pois segundo a estudante dentro de um curso de exatas, a gente já é visto diferente por não possuir

embasamento teórico e por ser da roça55:

Os primeiros momentos foram frustrantes. Primeiro porque a realidade é totalmente diferente, a escola pública não prepara a gente para o ensino superior, pior ainda para um grupo de exatas [Matemática]. E assim dentro de um curso de exatas, a gente já é visto diferente por não possuir embasamento teórico e por ser da roça [Comunidade do Onha, em Muniz Ferreira], e... várias questões. Mas principalmente por não trazer esse embasamento teórico. Também, na escola os professores são mais humanos, sabe, temos um contato maior. Na universidade não, a gente é tratado ali... eles dão a aula deles e acabou. Tem algumas exceções, mas é difícil. Na universidade tem aquela questão da competividade, entendeu? Você se tem que provar a todo tempo que é bom. E geralmente as pessoas se aproximam mais de você por interesse, questão de estudo. Então se você tem... Assim, algo acadêmico para oferecer para aquela pessoa, ela tende a se aproximar mais de você. Na escola não tinha tanto isso, entendeu? Aqui [a universidade] têm outros objetivos. A questão da aproximação é mais por outros objetivos. As vezes eu vejo aqui como a escola, eu vejo a mesma coisa “velho”, as quatros paredes, a gente vai só para estudar. A gente não tem aquela cultura

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É Goffman (1988) que vai tratar sobre o conceito de estigma. Em linhas gerais, trata-se de marcas atribuídas por outras pessoas, papéis sociais que são usados para caracterizar ou construir uma ideia do sujeito no que diz respeito a questões destoantes dos demais, que causa estranheza. Assim, a pessoa estigmatizada acaba por se sentir insegura em relação à maneira como os “normais” o identificarão e o receberão, na convivência em grupo, justamente por não possuir os atributos que a maioria possui. Para uma compreensão mais geral ver: http://proex.pucminas.br/sociedadeinclusiva/anaispdf/estigmas.pdf 55

Estudo realizado por Honorato, Vargas e Heringer (2014) nos dizem que “a existência de fronteiras simbólicas ainda não superadas relacionadas a como estes estudantes se veem dentro do espaço acadêmico e como percebem que são vistos. Eventualmente existem relatos de preconceitos, situações de discriminação por parte de colegas ou de professores, levando em alguns casos a uma dimensão de não pertencimento àquele ambiente, como se estes estudantes nem sempre se vissem com pleno direito de estar ali no espaço da universidade. Nesta perspectiva, é muito importante que os programas de permanência levem em conta estas questões e busquem também atuar para que se crie um ambiente de plena inclusão e respeito à diversidade dentro das instituições públicas de educação superior” (p.07).

de viver a universidade, a gente só vai lá assistir aula só e pronto. Talvez até porque, nós também não somos, nós não somos influenciados a pesquisa. Porque pelo menos no curso de exatas, os professores tem o costume de só cumprir carga horária de dar aula entendeu? São poucos que desenvolvem pesquisa, ensino e extensão. Então a gente tem mais aquela cultura de vim assistir aula e chega em casa pega o livro e vai estudar, vai estudar só e pronto. (Jéssica56, 12º Semestre, Matemática)

Cabe trazermos um pouco da discussão sobre as dificuldades de acesso e permanência de estudantes com condições sociais desfavoráveis. Nesta direção, Pereira e Passos (2007) afirmam que as dificuldades de acesso e de permanência implicam substancialmente nas trajetórias desses estudantes. Estes indivíduos conhecem não apenas a ausência de condições econômicas, mas a ausência de um status materializado em postura, habilidades e na maneira que imprimem sentido no mundo. Assim, quando conseguem ocupar um lugar na universidade, são constantemente submetidos à práticas desiguais de inserção escolar e social, pois suas condições materiais e socioculturais produzem diferenças objetivas e simbólicas consideráveis.

A estudante Santidade comenta um pouco sobre esta sensação:

Na verdade quando eu prestei vestibular, eu fiz desacreditada, pela deficiência que a gente traz do ensino médio, né? Então eu fiz por fazer, mas por uma forma de experiência e para minha surpresa eu passei. Porque muitos me diziam que é impossível passar em um curso de exatas. Porque eu ia competir com pessoas ricas, pessoas filho de doutor, que sempre teve uma educação de qualidade. A principal diferença foi em relação aos professores, as aulas. Pelo menos nas escolas que eu estudei, e os professores que estudei, na verdade era mais enrolação do que aula na educação básica. [...] Eu até já estudei em escola, que não tinha nem cadeira, as cadeiras eram tudo quebradas, por exemplo. Vejo que aqui na universidade o espaço, a estrutura fisica é mais adaptada, ela é mais digamos... mais preparada para receber alunato. Na universidade, aqui, a gente encontra biblioteca, ainda que a gente não encontre os materiais que a gente precisa para fazer uma boa pesquisa, aqui a gente tem uma sala de informática que tem computadores a nossa disposição para fazer pesquisa. E nas escolas, na maioria das escolas que eu estudei, nem isso eu encontrei. Nem mesmo carteira para a gente sentar, os quadros tudo quebrado, tudo sujo, chão tudo sujo, parede tudo suja. Então eu percebi sim, muita diferença. [...] Para entrar no PET foi assim, primeiro eu conheci através de um colega, que ao entrar na universidade ele enfrentou muita dificuldade. Tanto que a gente tem uma história muito parecida. A gente fez parte de uma

56 Depois de finalizada a entrevista e deligado o gravador, Jéssica me disse que o momento mais marcante para ela que remete à sua trajetória universitária, foi num dia de trabalho na roça com seu pai. Ela me disse que estavam desde cedo na roça, tirando mandioca. Um calor danado, muito trabalho, dor nas costas e ela parou por alguns segundos e pensou: “não quero ficar a vida toda aqui, quero mudar minha vida, mudar minha família. Eu vou estudar, eu vou entrar na universidade”.

optativa juntos, e ele me falava muito da sua história, e eu falava com ele que eu estava com vontade de desistir, pois eu não tinha mais condição de tá naquela situação que eu estava. Não tinha condições de permanecer sem trabalhar, mas trabalhar também tava muito difícil para poder estudar e me dedicar e foi ai que ele falou. Ele já trabalhava junto com a tutora do grupo em uma outra pesquisa. E ai ele me falou que tinha inscrição para esse projeto do PET. Então eu fiz a inscrição e entrei no grupo. (Santidade, 10º Semestre, Pedagogia)

Segundo Coulon, quando chegam, os estudantes ainda estão impregnados da cultura anterior - escolar e por isso tendem a tentar fazer analogias, comparações, buscar neste novo espaço pontos semelhantes ao que já estão acostumados de maneira a facilitar sua estada. Quando não encontram esses pontos de semelhança percebem a necessidade de romper com o passado recente. Esse momento é doloroso porque ele não é mais aluno, mas também ainda não é um estudante universitário. Precisa esforçar-se para aprender a língua local e isso de acordo a estudante Maria é um tanto desafiador:

Esse formato, o funcionamento de ensino, é muito diferente da universidade para a escola. A universidade exige de você coisas que a escola não lhe apresentou então torna-se muito desafiador, por que são coisas novas que você tá se deparando, você tem que responder de alguma maneira, então a forma de discutir texto em sala de aula isso, isso não foi apresentado pra mim no meu segundo grau. E quanto a relação com professores também há... há diferença mais de algumas forma também sinto algumas, tipo o professor da escola de alguma forma cobrava basicamente isso que a gente hoje tanto percebe que não trouxe resultados tão significantes que é o realizar tarefas sem um questionamento sobre qual a proposta do que você tá fazendo como ela repercute o que significa pra sociedade. A reflexão na universidade exige muito isso, cobra muito isso, refletir, criticar, comparar, associar com outras obras, fazer uma interlocução entre os autores e pra mostrar que há possibilidade e que funciona a... a ciência, né? Uma coisa importante em relação aos colegas é que as relações de poder estão declaradas, então é um espaço muito competitivo, muito competitivo as pessoas não enxergam você como você é sim pelo que você tem e se eles acha que você não tem algo pra oferecer [Ela remete ao destaque em sala de aula, alunos que tiram notas boas, que já conhecem algumas obras importantes na temática do curso, que tem os livros], logo você já tá descartado dos grupos, você não serve. (Maria, 8º Semestre, História)

De maneira geral, observamos que a grande questão que colabora para que o estudante estranhe as práticas da universidade pode ser a ausência de um preparo para lidar de maneira madura com a liberdade necessária para a construção de sua relação com o saber. Ao novo estudante é demandado identificar assim que chega uma série de

coisas, espaços e normas que muitas vezes o deixa perdido, pois não existe por parte da universidade ações de acolhimento, tal como nos sugerem Dantas e Santos (2014), que colaborem para que os “novatos se situem”.

As dúvidas sobre onde acessar, a quem recorrer são constantes. Apesar de haver murais na universidade com informes dos cursos, é preciso que se diga para esses estudantes que há esses murais, que existem determinados espaços e para quê cada um deles serve. São esses “pequenos detalhes”, que acabam por colaborar para que o recém-chegado sinta-se perdido, mais um na multidão, tal como pondera o estudante Tempo.

Assim, eu tive uma entrada meio abrupta, não conheci nada, não tinha muito interesse em conhecer, eu só queria mesmo era entrar na universidade, e fui pegando as coisas aos poucos, não tive ninguém pra me mostrar o que era a universidade de fato. [...] Eu senti uma diferença grande ao chegar porque na escola eu conhecia todo mundo e era conhecido por todo mundo, então quando você sai do ensino médio pro ensino superior, ainda mais numa universidade pública, você acaba se tornando mais um na multidão. Eu tinha uma relação com meus professores, direção da escola, eu conhecia os colegas, ia na casa deles. [...] Eu senti a perda dos meus referenciais eu tinha toda a escola como referencia, meus amigos, os funcionários, meus pais, aqui eu tava sozinho, aqui era só mais um na multidão. (Tempo, 9º Semestre, História)

Coulon (2008) ainda complementa o exposto pelo estudante Tempo, segundo o autor são várias as rupturas simultâneas que são vivenciadas na transição escola- universidade. E, se o momento da escola é aquele da proteção e do tutelamento, Coulon considera o da universidade como sendo o momento do anonimato.

Como nos sugere ainda Coulon, dentro do contexto apresentado pelos estudantes tanto na França, quanto no Brasil, é possível identificarmos alguns marcadores de estranhamento, símbolos que marcam a passagem entre escola e universidade. No caso dos nossos estudantes OVEnianos e PETianos esses marcadores são a realização da matricula, localização de murais de informação e das salas de aula, dos prédios administrativos, biblioteca e estrutura física, as roupas e a aparência não padronizada outros estudantes, a escrita das primeiras resenhas e artigos, fazer interlocução entre autores, leitura densa, referenciar o uso de categorias e conceitos dos autores, competitividade em sala de aula, não ter seu nome lembrado por professores, não ter conhecidos na cidade, dividir casa com outros estudantes e até mesmo a surpresa em ter

sido aprovada57(o). Sobre a sua chegada e os seus marcadores de transição Pedro Estevão nos diz que:

Pisar na universidade foi... algo inovador, realmente! Eu nunca tinha ido à universidade, eu sou de Cruz das Almas e tem lá o campos de Cruz das Almas que é a sede da UFRB né, mas eu nunca tinha ido. No terceiro ano eu fiz um projeto de extensão, que foi uma parceria da universidade com o meu colégio - o Centro Educacional Cruzalmense, uma Feira interdisciplinar, e inclusive eu fui campeão da Feira na categoria de matemática, eu me esforcei para conseguir essa aprovação junto com outros colegas. Esse foi o primeiro contato com a com a UFRB, mas eu nunca pisei de fato no solo universitário. Então a partir da minha aprovação em 2013 no serviço social58, que eu conheci a universidade, coloquei meus pés. Então quando eu cheguei aqui realmente foi algo inovador, eu nunca tinha tido essa experiência antes. A primeira diferença foi pela estrutura física né, é... meu colégio em estrutura era com certeza muito menor do que aqui e também pelas pessoas né. A aparência das pessoas é diferente, a convivência, o diálogo, a idade das pessoas são diferentes, então é um universo diferente daquele que eu estava habituado. [Como assim a aparência?] A aparência no sentido de vestimentas mesmo, como a gente tá fardado, padronizado na escola geralmente né, então até os próprios estilos das pessoas, isso foi assim, me acarretou um estranhamento né, por que eu não estava realmente acostumado de ver esse estilo diferente do meu na verdade, por que lá era padronizado e como eu seguia esse padrão é... foi um diferencial de fato de algumas, de alguns outros estilos, alguma outras forma de vida, de vestimenta, de cores, e de experiência de vida. (Pedro Estevão, 1º Semestre, Comunicação Social)

Cada estudante vai experimentar a entrada na universidade de acordo a sua vivência anterior. Uns transitaram do emprego para a universidade, outros da escola para a universidade passando por cursos preparatórios, têm aqueles que saíram diretamente da escola para a universidade. Coulon, ao comentar sobre definição de situação de Thomas (1923), nos diz que cada estudante age em função do ambiente que ele percebe, das novas situações que precisa enfrentar, dos significados que vão sendo atribuídos, mas que define cada situação a partir de atitudes e crenças anteriores que lhes permitem olhar de um lugar diferenciado dos demais. A definição de situação de Thomas leva em consideração a ordem presente e ao mesmo tempo a trajetória pessoal de cada indivíduo. No que remete aos novos estudantes, embora esteja vivenciando o mesmo momento de transição entre o estatuto de aluno para ao de estudante

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Me recordo que passei pela mesma situação de não acreditar ter sido aprovada no vestibular tal como nos conta Santidade e Antônia, lembro ainda de ter conferido várias vezes o número dos documentos de CPF e RG para me assegurar que era eu mesma e não uma outra Greyssy.

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O estudante chegou a cursar três semestres do Curso de Serviço Social, mas optou por transferir para o curso que sempre desejou Comunicação Social. Na época da entrevista estava no primeiro semestre do novo curso.

universitário, percebemos que cada um destaca aquilo que é mais destoante ou familiar à sua própria biografia.

Assim, Freya nos fala sobre o que mais lhe chama atenção neste universo novo:

Eu cheguei aqui né? meio de escola pública, então eu tive um ensino fragilizado onde não, não tinha exatamente essa questão da escrita e da leitura, então quando eu cheguei eu tive muito esse baque porque o curso de pedagogia é muita leitura e é muita leitura. Inicialmente para quem vem de uma escola pública onde não tem uma ideia de reflexão, de leitura, então escrever é muito complicado pra mim, tipo eu tinha que escrever artigo científico, ai eu sentia dificuldade na linguagem, tinha dificuldade na escrita, não sabia como iniciar. Então eu senti muito dificuldade nessas questões e tem só um componente [fala de uma disciplina chamada Leitura e Produção de Textos]que é para nos ajudar a trazer essas questões só que esse componente as vezes é dado de forma tão vaga, que não te ajuda completamente. [...] Na escola é uma escrita diferenciada, é uma escrita que você vai no “decoreba” mesmo, você copia exatamente o que tá no livro, e aqui a gente não pode fazer essa questão. A gente até discute sobre plágio. Então, assim, nossas pesquisas tem que ser reflexiva e também tem que trazer toda um embasamento teórico onde