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Cheguei na DH por volta das 7h40, num quarta-feira de março. A cantina já estava aberta, passei direto e fui para o prédio principal. Três policiais do GELC estavam sentados na cadeira do hall externo. Passei, cumprimentando bom dia e perguntando se tinha alguém “lá dentro”, no dormitório. Rafael, que deixava o plantão, me respondeu que sim, “João e Hugo chegaram agorinha aí, tão lá”. Cruzei o porta de vidro, indo para o lado esquerdo até chegar na “Permanência”, onde Francisco lia o jornal “O São Gonçalo” e começarmos um diálogo iniciado por mim quase como o que se segue: “Bom dia!”; “Bom dia, viu aqui? Dois ontem! Hoje vai ser um só, você vai ver.” “Três? Durante a madrugada ou ao longo do expediente?”, me falei sentando na cadeira que estava do outro lado da mesa de Francisco e pegando uma parte de um dos jornais dispostos. “Um de manhã, assim que começou o plantão. Devia até ser do anterior, a PM demorou para avisar… Depois um no começo da noite, umas seis. Tranquilo.” “É, num sei. Pelo menos deu para dormir né?! Onde foram?” “Pois é, isso aí! Catarina e Vila Ipiranga”. “Entendi.” “E vai ficar aí hoje?” “Vou tentar… Tô querendo deixar a mochila lá dentro. Sabe dizer se tem alguém?” “Quem tava aí era o Hugo. Tá chegando mais gente!”. Eram Fernando e Vicente do GELC que iniciava o plantão.

Ficamos conversando por mais uns cinco minutos, logo depois chegou Nelson, que entrava no plantão na Permanência: “Boa sorte, parceiro! Agora eu vou zunir, porque quero ir para casa.” falou Francisco, tendo explicado antes que “a menina do cartório” já tinha “adiantado tudo lá”, se referindo aos procedimentos de abertura do R.O., registro de apreensões e demais documentações que eram parte das atividades cartoriais do GELC e deveriam ser finalizadas junto com o plantão. Daí, seriam encaminhadas ao SCC e, posteriormente, aos GI’s. Eu aproveitei a ida de Fernando e Vicente, e fui até o dormitório. Escolhi um colchonete vazio na parte superior, no meio da sala e deixei a mochila. Saí com celular, caderneta e caneta, documento de identidade e em torno de R$20 no bolso.

As primeiras horas da manhã eram repletas de cumprimentos, alternadas com relatos do plantão anterior e expectativas e apostas para o plantão que se iniciava. “Hoje vamos zerar, você vai ver. Se chegar no almoço e não tiver nenhum, não vai ter mais”, me falava Vicente, como quem demonstrava ter perícia num assunto que parece ser imprevisível: o ato de matar. “Como você sabe?” perguntei. “Dia de jogo, do Flamengo! Tem crime não…” Otávio, que foi o alvo da piada que associa os torcedores do

87 Flamengo a práticas criminosas e de tão usada ser quase um, clichê então previu “Vão ser três, um atrás do outro, para rodar até a tua vez de fazer o relatório! Tú vai ficar de bucha lá, e eu vou ver o jogo!”. “Fala isso não, rapaz! Nem tava torcendo contra…” se defendeu Vicente.

Cantina

Ao longo do tempo de trabalho de campo, passava pelo menos uma hora do dia na cantina, conversando com policiais e delegados e assistindo televisão enquanto bebia um café (que era servido gratuitamente), almoçava (no serviço self-service vendido à quilo) ou fazia um lanche. O espaço destinado a cantina era pequeno, mas acomodava organizadamente duas geladeiras e algumas prateleiras na parte interna do balcão que dava acesso a cozinha. No balcão, além da balança que servia para pesar os pratos do almoço e o kit do café, (garrafa térmica, copos descartáveis, açúcar e adoçante,), havia também alguns doces, como um pote cheio de bombons recheados.

Do lado externo ao balcão, um suporte para os pratos, talheres, temperos e as refeições preparadas diariamente e vendidas a quilo. Em geral, a comida servida no almoço era bastante variada. Três opções de verdes, legumes crus e cozidos diversos, saladas, três opções de carne, arroz branco e arroz integral, feijão preto e carioca, farofa, macarrão e pratos como suflê, lasanha e empadas. O favorito dos policiais do GELC eram o frango grelhado e a batata doce, dois alimentos usados para ajudar no desenvolvimento muscular, comum na dieta dos “marombeiros”. A cantina ainda servia todo tipo de refrigerante e bebida industrializada não alcoólica e sucos naturais “da fruta” variados. Na hora do almoço, muitas vezes, uma pequena fila se formava para servir, pesar e pagar a comida. Sobre o suporte para os alimentos, uma televisão de tela plana de 21 polegadas ficava o tempo todo ligada, em geral transmitindo as emissoras Globo e Record. No horário do almoço, a programação eram os jornais locais como RJTV e Balanço Geral e depois o jornal nacional Jornal Hoje. Durante o período da Copa do Mundo, era o lugar ideal para quem queria assistir os jogos.

Foi ali que, conversando com o policial Fernando durante o jogo dos EUA e Gana, ouvi umas das poucas vezes um policial reclamando da falta de trabalho: “Num tem nada, Flavinha. Tô aqui desde às 8h da manhã e num tem um localzinho para fazer, uma diligência, uma operação nada! Só me resta ficar aqui e assistir esse jogo maravilhoso.” concluiu, ironicamente, o policial quer era formado em Biologia e se considerava um “operacional”. “Disseram que ia ter local lá no Areal.” ele me disse, “É,

88 e aí?”, respondi, “Até agora nada. Os PM tão demorando para chegar lá, nem ligaram para cá ainda” disse. Roberto, que atuava no Grupo de Investigação em São Gonçalo, e com quem eu estava sentada na mesa, concordou dizendo, que também ouviu dizer que houve homícidio em Areal, por seu colega Jorge. Mesmo sabendo que havia um “local”, os policiais da DH dependiam do contato da PM para deixar a base e iniciar a “investigação” para começar uma “linha”. A sensação de passagem do tempo algumas vezes podia ser rápida, outras vezes era devagar e enfadonha, dependendo de como esse tempo era preenchida e onde era vivido.

Na cantina, além do almoço, no lanche da tarde, novamente um grande fluxo de policiais mas também jornalistas, familiares de vítimas, testemunhas e demais pessoas que frequentassem a DH, para se servir de mais café, sucos, e outros tipos de salgados, bolos e sanduíches que era preparados pelos funcionários. O “dono” da cantina ou algum de seus familiares com quem trabalhava estavam sempre presente, e como ele mesmo me explicou, tinha acordado com o diretor um esquema de “comodato”. Alguns policiais, sabendo desse esquema, reclamavam do preço da comida: “muito caro, a comida é boa, mesmo, mas é muito cara”, “ele tem que entender que não paga nada, não paga aluguel, luz, água, é tudo do Estado, então podia fazer um preço mais amigo…” O preço do quilo era de R$25, eu não achava caro mas conversando com Vicente ele me explicou “caro não é, mas porque aqui não tem nada perto. Quer dizer, tem, o Extra que é uma merda. Se tivesse um boteco ali na esquina, por exemplo, ele já tava quebrado. Aqui, como só tem essa opção, no fundo, ele pode botar o preço que quiser”.

Para dar conta do grande fluxo de pessoas almoçando na cantina, o salão com portas de vidro protegidas por “insulfilm” do outro lado da passagem onde estava a cantina passou a ser utilizado. No planejamento inicial, esse seria o espaço utilizado como “sala de imprensa”, para a concessão de entrevistas coletivas e como espaço de “descanso” para os jornalistas: “se você depois quiser, vai ser bom, você pode ficar lá. Vai ter ar e a ideia é por umas poltronas.” me ofereceu um delegado numa conversa quando comentava seus planos para a adaptação do espaço. Porém o plano não se concretizou, tendo o espaço ficado ocioso, ou pelo menos sem uso cujo fluxo fosse visível a mim, exceto aquele derivado do crescimento na demanda por mesas e cadeiras durante o almoço, o que fez do salão providencial para o sucesso do almoço a quilo servido pela cantina.

Ali oito mesas quadradas de plástico branco e 36 cadeiras em conjunto eram posicionadas de acordo com os usuários. Eu mesma, que inicialmente preferia almoçar

89 na cantina para observar o fluxo de pessoas, ver TV e sentar em mesas aleatórias, utilizei o espaço em mesas individuais ou compartilhando apenas com um, dois, três ou um grupo de oito policiais durante o almoço. O que eu quero dizer é que as pessoas “puxavam” as mesas de acordo com o número de pessoas que iriam almoçar juntas. As mesas, algumas cobertas com toalha de mesa azul, eram complementadas com os pratos brancos e talheres prateados repletos da saborosa comida. Pimenta, pacotinhos de sal e açúcar, palitos de dente e guardanapos também adereçavam algumas das mesas e eram compartilhados quando necessário.

Naquela manhã de março, fui para a cantina com Otávio e Vicente. Eu bebi um suco de laranja e comi um pão na chapa, Otávio escolheu um açaí com granola e Vicente um suco de manga e um queijo quente. Era o café da manhã na cantina, que ainda naquele dia nos serviria o almoço e o lanche da tarde. A televisão ligada passava o jornal “Fala Brasil”, o matinal de notícias da TV Record. Depois do café, fiquei um tempo no hall externo, observado o pátio e acompanhando a chegada dos demais policiais. Por volta das nove horas, encontrei o delegado João Paulo que descia de sua sala. Nos cumprimentamos e ele me autorizou acompanhar o plantão de sua equipe.

Entorno e Arredores

Terminado o café da manhã, voltei para o pátio onde alguns jornalistas de veículos locais esperavam o delegado titular para falar sobre o “avanço” nas investigações da morte uma jovem, o ex-namorado era o principal suspeito. Na porta de vidro um novo cartaz: “ATENÇÃO, É PROIBIDO ALIMENTAR ANIMAIS NA PORTARIA DA DELEGACIA”, impresso por ordem da direção para conter, principalmente a presença de gatos de rua que estavam sendo alimentados por alguns agentes. Depois, vim a saber que o alimentadores dos gatos eram três policiais que haviam estudado Veterinária e, um certo dia, durante o plantão no final de semana, compraram um saco de ração no mercado Extra, que ficava no entorno do prédio. Os gatos certamente já moravam pelas vizinhanças da nova DH, localizada numa área com diversos prédios públicos como o arquivo público do Tribunal de Contas Estadual (TCE) e a Empresa Municipal de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (EMOP), com os quais compartilhava o quarteirão. Do outro lado da rua principal, estava a Policlínica Militar de Niterói. Do outro lado da rua lateral, estava outro terreno da EMOP que funcionava como posto de abastecimento de viaturas e um posto de atendimento do Conselho Interestadual de Trânsito (CIRETRAN).

90 Figura 2. Visão de satélite do “entorno” da DHNISG (identificada pela estrela amarela)

Fonte: Google Maps 2016

O supermercado Extra era o ponto de comércio mais próximo. Em frente a este se encontrava a “Casa do Albergado”, um penitenciaria estadual para presos em regime aberto. Toda esta área se situa entre dois acessos à Ponte Rio Niteroi, um de entrada e outro de saída, e suas ruas eram vias locais de pouca utilização. Apenas os carros de autoescola, em treino ou em prova, competiam com as viaturas pois as ruas também eram utilizados como área de provas pra seleção de habilitação do Detran. Cerca de 5 minutos a pé, estavam o 12º batalhão da polícia militar do Rio de Janeiro e a favela do Sabão. Todos esses pontos de referência na vizinhança eram parte da rotina vivida pelos agentes no âmbito daquela repartição. O prédio provisório da DHNISG estava em ponto considerado “estratégico” e “confortável” por grande parte dos policiais. Especialmente, quando conversei com aqueles que em geral era atribuída a função de motorista e que destacavam que a localização da “base” facilitava muito as saídas para “local de crime” e “operações”. Os policiais também destacavam que por conta dos acessos rápidos a vias expressas, as idas aos demais municípios da região metropolitana, devido a visitas ao fórum e outras repartições, fazia da localização da DH “ideal” para os percursos que eles realizavam.

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Osvaldo

O telefone da Permanência tocou às 10h 40 da manhã, era um policial militar do 7º BPM informando que “moradores” encontraram um cadáver dentro um carro no bairro Monjolos, área rural de São Gonçalo, “quase chegando em Itaboraí”. Entre informar a todos os policiais e que esses se arrumassem com roupas apropriadas, coletes a prova de balas e armamento, além de chaves e registro de saída das viaturas e documentação como formulário de local e guia de remoção de cadáver, demorou quase uma hora. Da “base”, seis viaturas saíram às 11h30 em direção a São Gonçalo, pelo caminho que passava pela Alameda São Boaventura. Eu fui na mesma que o delegado, a inspetora Letícia e o inspetor Rodrigo que no carro comentou: “Já fomos nesse lugar, não?”. Ele, que era originário da região dos Lagos e frequentador da cidade do Rio demonstrava não conhecer muito São Gonçalo. “Não, ali por perto”, respondeu João Paulo. Letícia, que era de São Gonçalo, comentou que não era tão perto mas que ela não tinha certeza onde era.

Após a Alameda, seguimos pela rodovia Amaral Peixoto (RJ-104) até o trevo de Tribobó, onde encontramos os peritos do PRPTC que em viatura própria se juntaram ao comboio. O caminho foi tranquilo, trânsito livre pois seguíamos pelo “contra-fluxo” do

rush matinal. Desde a entrada do bairro na rodovia, cujo ponto de referência era um

motel até o veículo que configurava o “local de crime” demoramos mais vinte minutos. O carro havia sido abandonado numa estrada de terra, com terrenos coberto por matos e cerca de arame em ambos os lados, “bem dentro” do bairro Monjolos como comentou o inspetor Rodrigo quase que reclamando de estar dirigindo por todo aquele percurso.

O veículo era um modelo Gol de cor amarela que provavelmente “já foi um táxi”, especulou o policial Cristian. O morto estava sentada no banco do motorista com os pés sobre o freio e a ignição estava ligada quando a PM chegou. Além dos dois policiais militares que faziam a contenção do local, já estavam no local três membros do corpo de bombeiros e jornalista e fotografo do Jornal “O Itaboraí”, além de “populares” que foram dispersados pelos agentes da DH assim que chegaram: “Criança aqui não, criança vendo morto não pode. Tinha que tá na escola, soltando pipa. Vaza!” falou Rodrigo para um grupo de meninos que pararam na estrada para assitir a “cena do crime”. O delegado logo identificou uma evidência no solo: “Aí moçada, saí de cima que tem uma frenagem aqui!”, o que talvez explicasse o forte cheiro de borracha queimada. “Ou isso, ou a embreagem…”. Segundo o que conversavam delegado e peritos, a vítima dirigia quando foi surpreendia pelo seu algoz, tentado frear de ser atingida mas morrido quase

92 que imediatamente. O assassino saiu do carro após realizar três disparos e, com a porta aberta, realizou mais um, o que era demonstrado pelas quatro perfurações na lateral direita do cadáver e com os estojos encontrados, três dentro e um fora do carro.

O inspetor Otávio era o responsável pelo relatório e me pediu para eu conferir a placa enquanto ele falava no telefone com Hugo, que estava na DH fazendo o levantamento do SIP. No porta luvas do carro, um dos peritos achou uma carteira com documento o carro, do motorista, título de eleitor e identidade, todos reconhecidos como da vítima: Osvaldo Silveira, 53 anos, eleitor em São Gonçalo e proprietário do Gol amarelo. Era ali o “local de crime” onde se estabelecia um primeiro ponto para a “linha de investigação”. Saímos do local às 13h, o policial Rodrigo dirigiu o veículo no qual Osvaldo foi morto que, obviamente, antes de disso foi removido pelo rabecão e levado ao PRPTC de São Gonçalo para ser necropsia. Para Rodrigo se sentar no banco do motorista que estava repleto de sangue foi forrado um saco preto e com um par de luvas e muito insatisfeito, ele dirigiu todo o caminho de volta no Gol amarelo que seguiu o comboio.

A “base”

Quando chegamos na “base”, um guindaste estacionado no pátio do prédio chamava atenção e era atração no horário do almoço. Naquela tarde seria instalada a nova caixa d’água que finalmente armazenaria água de uma forma limpa na DHNISG. Eu já imaginava que não precisaria mais comprar as garrafinhas de água na cantina para passar o dia. O papiloscopista que estava ao meu lado, porém, mesmo sem saber dos meus pensamentos comentou: “Vai ser água limpa, mas não vai ser potável.” “Pelo menos não vai ser mais água de rato pra gente tomar banho”, comentou João, do GELC. “Próximo passo vai ter que ser instalar filtro nos bebedouros”, falou novamente o papiloscopista. Ainda que a nova caixa d’água não trouxesse água potável para a repartição, era uma grande mudança e mobilizou parte dos policiais que estavam no expediente e assistiam do pátio ou pelas janelas das salas a subida da nova caixa d’água.

A DHNISG havia sido instalada num prédio em caráter provisório e quando iniciada as atividades, suas instalações não estavam “100% prontas para a polícia” como redundantemente me explicou o síndico da divisão. O prédio era uma edificação com mais de 30 anos e foi escolhida pelo diretor Marcelo Barros em novembro de 2013, diante de duas opções apresentadas em conjunto por prefeitura de Niterói e SESEG. Imediatamente após a decisão do diretor, funcionários da Prefeitura de Niterói foram

93 alocados para realizar a limpeza do prédio, retirando os arquivos antigos, caixas e móveis que estavam espalhados por várias salas e foram empilhados em uma sala localizada no quarto andar, que não seria utilizada pela especializada. A delegacia ocupava apenas os três primeiros andares do prédio, posteriormente o quinto andar passou a ser utilizado como espaço para treino de lutas e artes marciais.

Passada a limpeza, foram realizadas reformas estruturais, incluindo revisão de parte elétrica e hidráulica. A restauração dos ar condicionados nunca chegou a ficar pronta e posteriormente, aparelhos de ar condicionados foram sendo instalados em cada sala. Azulejos de banheiros e cozinhas também foram trocados antes da abertura. Porém ainda sim, obras e intervenções continuaram a ser feitas para “adaptar para a polícia” o prédio que já era ocupado pela polícia, apesar da fachada externa do prédio, que pode ser vista desde os acessos da ponte Rio-Niterói, ainda indicar em letras azuis sobre a parede cinza aquele prédio como sendo da Compania Estadual de Água e Esgoto (CEDAE)68.

Trabalho de rua

Durante o almoço na cantina encontrei o delegado Sérgio, do GISG, e combinamos uma conversa às 15 horas. Depois de almoçar, comer sobremesa, tomar café, e uma passada rápida no banheiro, voltei ao dormitório onde deitei por vinte minutos e fiz algumas anotações. Por volta das 15 horas, subi ao terceiro andar, onde ficava a sala dos delegados do GISG para a conversa com o delegado que era nascido em Niterói mas morador em São Gonçalo. “Ah é?! Você mora onde lá?” perguntei, um pouco surpresa. “No Rio do Ouro, por ali…” “Ah, sei!” respondi, enquanto presumia que ele morava em um dos condomínios fechados que existem na região. O delegado Sérgio já havia atuado como plantonista na Baixada e por estar na “Central de Flagrantes” teve a oportunidade de atuar em muitos “casos de repercussão”.

Ele me explicou que foi devido o sucesso nas suas lotações prévias que “surgiu o convite deu vir para DH, foi por indicação mesmo. De quem, não me pergunte.” falou demonstrando que era uma “autoridade policial” com relações de reciprocidade na

68 Foi interessante participar, no decorrer do trabalho de campo, da implementação da delegacia naquele

edifício que era chamado pelos policiais de “base”. Tanto observei as etapas de adaptação ao uso do prédio, o que concerne a estrutura, distribuição dos espaços e circulação quanto a construção de “condições de trabalho para os policiais”, diferentes das condições de trabalho de outros agentes estatais. Nesse sentido, após organização do mobiliário inicial e a divisão das equipes em salas, houve ainda obras para reforma e inauguração da cantina, da carceragem, do dormitório e a já mencionada troca da caixa d’água. Ainda, visitei as obras de uma sala para reconhecimento e um laboratório para papiloscopia,

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