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Entrega, Alteração e Publicação de Christiani Pueri Institutio

Capítulo V: A Educação de um Menino Cristão Japonês

V. 1. Entrega, Alteração e Publicação de Christiani Pueri Institutio

Estando o padre visitador reunido com os seus seminaristas japoneses predilectos, escreveu ao Arcebispo de Évora, D. Teotónio de Bragança, S.J. (1530- 1602), o qual tinha recebido a Legatio por duas ocasiões durante a viagem na Europa. Nessa carta191, datada a 1 de Dezembro de 1587, após referir os objectivos para os seminários do Japão, Valignano revelou o seguinte: [...] Por isto tenho mandado vir

impressão que levo comigo a Iapão pera imprimirmos os os [sic] livros lá purgados, & alimpados quaes convem a Iapão. Esta passagem192 revela-nos que, no final do ano 1587, Valignano já tinha em sua posse a máquina tipográfica e os livros que, mais tarde, inauguraram a imprensa missionária destinada ao Japão.

Mas afinal, quando e como foram o Christiani Pueri Institutio e o prelo para o Oriente? A maioria da historiografia tem vindo a conformar-se com a ideia de que os dois foram trazidos da Europa para a Ásia pela própria Legatio. Contudo, a nossa investigação não nos facultou nenhum dado objectivo que confirme tal ideia, embora se admita que, no que diz respeito ao prelo, não encontrámos provas do contrário. Procurando organizar o nosso discurso, trataremos primeiro das hipóteses relativas à máquina tipográfica e só depois iremos expor as conclusões da nossa investigação sobre o trajecto do texto de Bonifacio.

Sobre o prelo, Cadafaz de Matos193 acredita ter encerrado as incertezas sobre o

local de aquisição da máquina tipográfica, ao citar duas cartas distintas que referem explicitamente Portugal. A primeira carta foi escrita pelo P. Diogo de Mesquita, ingressado na própria Legatio Iaponesium, dirigida ao SG Claudio Acquaviva, com data de 6 de Outubro de 1613194 : Dios Nuentro Señor pague a V.P. la licencia y favor que

me dio en Roma para que en Lisboa, en los meses que alli estuvimos, pudiese lanzar y

191 Cartas, Tomo II, fol.233.

192 Esta ideia já fora advertida por Alves Dias, Os Primeiros Caracteres Europeus Impressos na China,

p.86, 8.ª nota de rodapé.

193 Cf. Cadafaz de Matos, (1997), Vol. I, Tomo II, p.40-41.

194 ARSI, Jap-Sin, 36, f.27-27v; primeiramente citado por Diego Yuki Pacheco, em "La Campana del

Hospital Santiago de Nagasáki", Madrid, in Boletin de La Asociación Española de Orientalistas, Ano VII, 1971, p.24.

77 poner en orden esta imprenta de Japón, que ahora aquí tanto nos ayuda al cultivo de esta cristiandad. A passagem leva-nos a crer que não só a imprensa foi adquirida em

Lisboa pela Legatio, como ainda se entende que a aquisição se procedeu após receberem o favor do SG, em Roma. A segunda carta195 foi escrita em Macau, a 22 de Setembro, de 1589, por Valignano ao SG Acquaviva, fazendo uma referência mais curta mas que sugere ter sido o próprio Visitador a planear a aquisição do dito prelo: [...] entonces nos

vino la imprensa que mandara venir de Portugal196.

Além do mais, sabemos que foi em Lisboa onde a Legatio mais se demorou durante a sua estadia em Portugal. A Legatio esteve hospedada na casa professa de São Roque, em Lisboa, entre Dezembro de 1585 e Abril de 1586197, embora a estadia de 20 dias em Coimbra198 esteja compreendida no intervalo que delimitámos. Durante esse tempo, os irmãos Jorge de Loyola, Constantino Dourado e Giovanni Battista Pesce (1556-1626) aprenderam a técnica tipográfica que, mais tarde, puseram em prática em Goa e Macau199. De certa forma, seria natural que estes três jesuítas fizessem a sua aprendizagem das artes gráficas familiarizando-se com o aparelho tipográfico que se destinava ao Japão.

Por último, além das cartas citadas, da estadia prolongada em Lisboa e da pertinência para o treino dos futuros impressores do Extremo Oriente, acrescentamos a conveniência logística de se adquirir o prelo em Lisboa, evitando-se o suplício de transportar um aparelho tão pesado, durante as várias deslocações da Legatio, pela Europa (1584-1586). Posto isto, ainda que à falta de um documento que prove com certeza que a imprensa foi transportada, da Europa para a Ásia, no mesmo navio em que a delegação embarcou na sua viagem de regresso; parece-nos ser uma hipótese com fortes argumentos.

Contudo, o mesmo não poderemos dizer em relação ao texto de Bonifacio. Certos autores parecem esquecer que a edição do Christiani impresso em Macau segue a 4.ª edição, feita em Burgos, em 1586. Além deste facto poder ser comprovado pela inclusão, na edição de Macau, de certos exemplos que foram acrescentados à obra a

195 Documenta Indica, XV (1588-1592), Roma, ARSI, 1981, p.322. 196 Ibidem, p.338.

197 Cf. Duarte de Sande, 1590, De Missione, p.347-348. 198 Cf. Ibidem, p.361.

199 DHCJ, "Dourado, Constantino. Impressor, superior" (R. Yuuki, 2, p.1142-1143); "Loyola, Jorge de.

Jesuíta Japonês, impressor." (R. Yuuki, 3, p.2427); "Pesce (Pece), Giovanni Battista. Misionero, tipógrafo" (J. Ruiz-de-Medina, 3, p.3111). Esta referência foi retirada de Alves Dias, Com Letras

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partir da edição de 1586; uma comparação da primeira página do Liber IV, De

Verecundia, de todas as edições anteriores à de Macau, permite-nos aferir sem dúvidas

que foi a 4.ª edição (e nenhuma outra) que serviu de base para a impressão do Christiani macaense. Existe uma passagem proeminente entre parêntesis200 que, nas edições de Salamanca e Valladolid, regista o seguinte: (nam duos illos, quos preposuimus libros,

prœmij loco esse voluimus)201. A edição de Macau, seguindo a de Burgos (1586), contém a seguinte passagem, entre os mesmos parêntesis: (nam duo illi libri, quos

præposuimus de insitutione tractant generatim)202.

Tendo em conta que a edição de Burgos só recebeu tassa (i.e. o tabelamento oficial do preço) em Agosto de 1586, ao passo que a Legatio partiu de Lisboa em Abril de 1586, então se desmente a noção historiográfica de que a obra de Bonifacio tivesse sido levada para o Oriente pela própria Legatio. Na verdade, tendo em conta que a publicação em Macau ocorreu no ano de 1588, o livro só poderá ter sido enviado para o Oriente a bordo de um dos navios da Armada da Índia, de 1587. Além do mais, os vários códices da Armada da Índia203 não indicam atrasos para a viagem do ano de 1587, deduzindo-se que a travessia oceânica se procedeu do modo mais favorável, ou seja, concluída em seis meses e antes da época das monções da Índia (que iniciam em Setembro).

Com efeito, em Goa, a Dezembro de 1587, Valignano tem consigo a máquina e o texto para a impressão de Christiani Pueri Institutio. Em Julho do mesmo ano, Hideyoshi promulgara a ordem de expulsão dos jesuítas, alterando significativamente o estado da missão no Japão. Tendo em conta que a publicação da edição de Macau apenas foi concluída em 1588, assalta-nos a seguinte questão: será que as singularidades patentes na edição macaense decorreram da mudança no panorama missionário do Japão?

Na verdade, começámos por defender que a encomenda da obra de Bonifacio para o Oriente se enquadrou numa estratégia literária planeada para a missão no Japão,

200 Cf. Anexo E, p.lxiv e lxv.

201 Christiani, Salamanca, (1.ª ed. 1575 & 2.ª ed. 1576), p.288; Christiani, Valladolid, (3.ª ed. 1578),

p.342.

202 Christiani, Burgos, (4.ª ed. 1586), fol.187v; Christiani, Macau, (6.ª ed. 1588), fol.138.

203 Maria Hermínia Maldonado, (1985), Relação das Náos e Armadas da India com os successos dellas

que se puderam saber, para noticia dos curiozos, e amantes da Historia da India, p.90; Armadas que partiram para a Índia (1509-1640), Biblioteca Nacional de Lisboa, Reservados, Caixa 26, nº 153, nº82; Relação de Capitaens Mores e Naos que vierão do Reyno a este Estado da India desdo seu descobrimento, Arquivo Histórico Ultramarino, fol.51v.

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desde 1582. Nesse sentido, o édito anticristão de Hideyoshi não pode ter sido a motivação original para a encomenda de Christiani Pueri Institutio, tal como argumentámos até agora. Em todo o caso, é possível que a ordem de expulsão dos jesuíta do Japão tenha motivado, não a encomenda da obra, mas sim algumas das alterações que Valignano executou na edição de Macau. A análise sobre que alterações poderão ter sido motivadas pelo édito de Hideyoshi será feita no último subcapítulo, que diz respeito à análise das singularidades da edição de Macau. Por enquanto, preocupa- nos reconstituir o momento em que Valignano tomou conhecimento do édito anticristão.

Em De Missione, é referido que, no final da estadia da Legatio em Goa (i.e. até Abril do ano de 1588), receberam a carta daqui [Macau] enviada no ano anterior [i.e. 1587] ao padre Visitador, na qual o padre era informado das vitórias grandes e

notáveis que o Quambacudono alcançara dos inimigos. A descrição dos conteúdos da

carta, mencionada em De missione, coincide com os conteúdos da carta204 escrita por Fróis a Valignano, assinada a 17 de Outubro de 1586, de Shimonoseki205 .

A título de exemplo, ambas referem uma boa relação entre Hideyoshi e os jesuítas; comparando e igualando-o a Nobunaga, no que respeita às benesses para com os cristãos. Em 1586, Fróis escreveu: E porque V.R. folgara de saber os gasalhados &

fauores grandes que Quambacudono fez ao padre Viceprouincial, [...], porque sem nenhuma comparaçaõ veo a exceder a seu senhor & antecessor Nobunanga [...]206. Repetindo esta ideia, em De Missione, de 1590, termina-se a referência ao Kamapku-

dono do seguinte modo: enfim com que simpatia [Hideyoshi] tratava os padres e todos os cristão, em nada cedendo a Nobunaga neste capítulo207.

Por este motivo, parece-nos que Valignano ainda não sabia do édito anticristão, quando partiu de Goa em Abril, de 1588. Contudo, não deve ter tardado a saber do sucedido após a chegada a Macau, em Agosto de 1588, pouco antes de imprimir o

Christiani Pueri Institutio. Logo a 6 de Novembro, de 1588, o Visitador Valignano

escrevia ao rei Felipe II que Quambacudono [...] alevantou muy grande e universal

204 Cartas, Carta do Padre Luis Froes pera o Padre Alexandre Valegnano Prouincial da India, de

Ximonoxequi, aos dezasete de Outubro de mil & quinhentos & oitenta & seis Algumas cousas tiradas de hũa carta que o padre Luis Froes escreveo das partes do Iapão ao padre Alexandre Valegnano, que ja la esteuera por Visitador, & de outra do Padre Pero Gomez em Bûngo fol.172-187.

205 A sul de Yamaguchi, Nagato. Na forma portuguesa do séc. XVI, Ximonoxequi, Nangato. 206 Cartas, fol.174v, col. I.

80 perseguição contra a christandade e contra os Padres208. Mais uma vez, estamos

convencidos que a carta que Valignano escrevera ao rei de Portugal tomou por base a primeira carta que citámos de Luís Fróis, escrita em Arima, em Fevereiro de 1588. Tendo em conta o grande número de exemplos de passagens e expressões semelhantes, seremos breves na comparação destes dois documentos. Diremos apenas que Valignano sintetiza as informações dadas por Fróis, tais como a proclamação da expulsão dos padres; as acusações de Hideyoshi contra os cristãos; a recusa dos padres em abandonarem a missão do Japão e a actividade em segredo; a predisposição, em último caso, dos padres e cristãos abdicarem as suas vidas pelas religião; ou, por último, a notícia do falecimento dos daimyō cristãos, Dom Bartolomeu de Omura e Dom Francisco de Bungo209.

Com efeito, ficamos a saber que o Visitador já tinha conhecimento do édito anticristão em Novembro de 1588, momento em que se encontrava em Macau. Sabemos, também, que as informações que enviou ao rei de Portugal foram baseadas na carta que Fróis escrevera em Fevereiro do mesmo ano, em Arima. Posto isto, falta-nos ainda inferir o modo como a carta de Fróis, de Fevereiro de 1588, chegou às mãos de Valignano.

O apontamento de Boxer de que a nau de Domingos Monteiro saiu do Japão em Outubro de 1587 pode incorrer o leitor a julgar que a dita carta de Fróis chegou a Macau por navios chineses. Contudo, estamos mais convictos na data referida por Hesselink210,

ou seja, que Domingos Monteiro partiu do Japão em finais de Fevereiro de 1588. A nossa convicção fundamenta-se em três argumentos.

O primeiro dado surge na própria carta de Fróis. No relato da visita do Vice- Provincial Gaspar Coelho a Hideyoshi logo após a proclamação do édito anticristão, o jesuíta responde ao Kampakudono que seria impossível todos os padres partirem do Japão em 20 dias, pois a Nau de Trato só partiria em 6 meses. Ora, tendo o édito sido decretado a 22 de Julho e o facto da audiência com Hideyoshi ter ocorrido no seu rescaldo, então contam-se seis meses de Julho/Agosto até Janeiro/Fevereiro.

O segundo dado é sugerido em De Missione, no momento da explicação para a suspensão da viagem ao Japão no ano de 1589. Miguel explica aos seus compatriotas

208 Documenta Indica, XV (1588-1592), p.835.

209 Cf. Documenta Indica, p.835 e Cartas, fol.187-231v. 210 Hesselink, 2014, p.83.

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que uma das razões se deveu ao facto [d]o navio que no ano anterior navegara até nós,

alcançou bastante tarde o porto de Macau e mal teve tempo de preparar as mercadorias. Ora sabendo que o regresso ideal para a Nau de Trato se fazia com partida

do Japão em Outubro/Novembro e com chegada a Macau em Dezembro/Janeiro, a nau de Domingos Monteiro não poderia ter chegado bastante tarde a Macau; caso aceitemos a indicação de Boxer. Contudo, se a nau partiu no final de Fevereiro, então deverá ter chegado nos finais de Março ou nos inícios de Abril. Esta hipótese coincidiria com o texto de De Missione, visto que, no mês de Abril, era desejável que a Nau de Trato já tivesse regressado a Goa.

Por último, o terceiro argumento que reforça a nossa convicção de que a carta de Fróis partiu abordo da nau de Domingo Monteiro, em finais de Fevereiro de 1588, baseia-se numa passagem da carta ânua de 1588, escrita por Gaspar Coelho ao SG da Companhia de Jesus, a 24 de Fevereiro de 1589211. Logo no início do texto, o Vice Provincial dá a entender que Das cartas annuas passadas do anno de mil & quinhentos

& oitenta & sete terá vossa Paternidade entendido o estado em que ficava este Japão até aos vinte de Fevereiro do anno do mil & quinhentos & oitenta & oyto [...] depois per outras cartas que escrevemos em Novembro de mil & quinhentos & oytenta & oito ao padre visitador per via da China.

Esta passagem sugere, por um lado, que no ano de 1588 enviaram-se duas cartas em momentos distintos. A primeira refere-se à carta de Fróis que temos vindo a citar. A segunda foi escrita em Novembro e enviada por barcos chineses. O facto de se esclarecer que as segundas foram enviadas por navios chineses explica-se por se tratar de uma situação extraordinária ou irregular. Por sua vez, a omissão sobre o modo de transporte da primeira carta leva-nos a crer que esta foi enviada de acordo com o modus

operandi habitual, ou seja, transportada do Japão para Macau na Nau de Trato.

Por estes motivos, estamos convictos que a carta de Fróis saiu do Japão, em Fevereiro de 1588, aguardando em Macau pela chegada do Visitador e da Legatio, em Agosto de 1588. Este dado significa que Valignano soube da intolerância ao cristianismo pelo Kampaku-dono nas vésperas da composição do Christiani Pueri

Institutio de Macau.

211 Anual de Iapam do anno de mil & quinhentos & oitenta & oito pera o Reverendo padre geral da

Companhia de IESUS escrita pello padre Gaspar Coelho Viceprovincial de Iapão aos vinte, & quatro de Fevereiro de mil & quuinhentos, & oitenta & nove., in Cartas, fol.234.

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Com efeito, sintetizamos as nossas deduções. Após a sua primeira vista, Valignano executou uma profunda reforma da Missão do Japão. Entre as determinações estabelecidas, planeou-se a criação de uma imprensa dedicada sobretudo aos seminários e colégio dos jesuítas do arquipélago. Ao mesmo tempo, ponderou sobre as obras mais convenientes à formação que se pretendia dar aos estudantes japoneses. Entre as obras consideradas, escolheu-se o Christiani Pueri Institutio do P. Juan Bonifacio, pois a obra perdurava enquanto a síntese mais acabada da pedagogia jesuíta. O padre Visitador parece ter assimilado este objectivo (o de adquirir imprensa e obras) aos propósitos da

Legatio Iaponesium, na qual estavam ingressados dois japoneses (Constantino Dourado

e Jorge de Loyola) que aprenderam as técnicas de impressão em Lisboa e que mais tarde auxiliariam os impressores jesuítas no Extremo Oriente.

Na estadia em Lisboa, durante a viagem de regresso (i.e. entre os últimos meses de 1585 e Abril de 1586), parecem ter adquirido a máquina tipográfica que seria usada no Oriente. No que diz respeito à obra de Bonifacio, sabendo que se preparava uma nova edição mais actualizada (a 4.ª ed., Burgos, 1586) preferiu-se aguardar pela sua publicação e enviar essa edição da obra no ano seguinte. Tendo em conta que a nau que transportava a Legatio invernou em Moçambique, deduz-se que, ainda que a máquina tipográfica possa ter partido de Lisboa um ano antes da 4.ª Edição do Christiani, ambas só chegaram ao Oriente em 1587.

Nesse mesmo ano, Toyotomi Hideyoshi decretou expulsão dos padres do Japão, noticiada a Valignano, segundo nos afigura, na segunda metade do ano de 1588. Na sua chegada a Macau, o Visitador foi informado da intolerância levantada contra os cristãos, e terá equacionado adaptar a obra de Bonifacio à conjuntura hostil que lhe fora descrita por Fróis.

Durante esse período, Giovanni Pesce, auxiliado por Jorge Loyola e Constantino Dourado, começou a compor o livro de Juan Bonifacio para os seminários do colégio do Japão. Começavam por estabelecer o texto das páginas pretendidas, arranjando e ordenando os vários tipos metálicos, letra a letra, compondo um mosaico de cunhos. Depois, usando as balas212, batiam a tinta com pancadas habilidosas, tintando os cunhos de uma forma uniforme. Em seguida, inseriam a folha de papel, denominada deitado, no

212 Instrumento utilizado pelos impressores da época para dar tinta aos cunhos tipográficos. Segurado o

instrumento pelo cabo, os batedores, ou bate-balas, pressionavam almofadas de lã, cobertas de pele, sobre os caracteres justos e compostos.

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engenho e fixavam-na numa tela. Colocando a tela em posição, puxavam a alavanca e a prensa premia o papel ao encontro do puzzle tipográfico. De novo, recolhiam a alavanca, abriam a tela, substituíam o deitado e repetiam o processo de acordo com o número de exemplares pretendidos. Após a tiragem do rosto dos vários deitados, reorganizavam os cunhos de acordo com as páginas pretendidas no verso e repetiam o processo de impressão. Estando todos impressos dos dois lados, os deitados eram então dobrados, neste caso em oito, formando um dos vários cadernos que compunham o livro. Concretizava-se, então, a impressão ao estilo da Época Moderna. Ao marcarem aquelas folhas com tinta, marcavam também a História do Mundo, assinalando a inauguração da imprensa ocidental no Extremo Oriente.

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