• Nenhum resultado encontrado

P- Percurso profissional e académico.

R – A minha formação é na área de Psicologia Criminal do Comportamento Desviante. Tenho uma pós-graduação em Criminologia e estou a fazer outra em Neuropsicologia pediátrica.

P – Há quanto tempo trabalha como TIL, ligada ao PIEF?

R- Foi este o primeiro ano.

P- Que tipo de relação procura promover com estes jovens?

R- Uma relação de confiança. Sobretudo uma relação de confiança. Que é, o que eles não têm da maior parte das pessoas que os rodeiam. Quando eles desenvolvem essa relação de confiança, depois o trabalho está muito mais facilitado. Porque eles percebem que à exigências, mas também, há contrapartidas. Quando eles necessitam de alguma coisa, sabem que podem contar connosco e isso é muito importante para eles.

P- Que tipo de relação tem com a família ou com os Encarregados de Educação destes jovens?

R- Uma relação mais próxima possível. Mas depende das famílias, há famílias que são muito difíceis de abordar, porque já estão envolvidas, no tribunal ou na CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) e tendem a fugir um bocadinho destes contactos. Sempre que o aluno falta de manhã, ou não chega a horas, contactamos a família para lhe darmos essa informação e tentarmos perceber o porquê do atraso e se o Encarregado de Educação tem conhecimento. Noutras situações mais complicadas, se o aluno ou aluna, têm um comportamento que consideramos, que não é o mais adequado, ou que nos faz pensar que anda com alguns problemas fora da Escola, também entramos em contacto com a família no sentido de tentar promover todo o tipo de acompanhamento, seja médico ou psicológico, para resolver a situação.

P- O que espera com o trabalho desenvolvido com estes jovens?

R- Que eles tenham sucesso. Que concluam o 2º ou 3º ciclos e se for objetivo deles continuarem os estudos ou adquirirem ferramentas básicas para o mundo do trabalho.

P- Quando considera ter havido sucesso com um aluno PIEF?

R- Quando eles têm sucesso educativo e profissional, ou quando consigam desenhar um projeto de vida. Muitos deles chegam aqui sem qualquer projeto, não têm nenhum objetivo,

não têm nenhum gosto a nível profissional. Eu acho que o objetivo deles pode não passar pela Escola, que mas tenham um projeto de vida, que digam, eu gosto de determinada área, quero trabalhar nesta área. Grande parte deles chega aqui sem esse objetivo. Não se interessam por nada, não fazem nada para ocupar o tempo. Se conseguirmos que eles criem esses objetivos, já é uma vitória.

P- Os alunos têm noção que se falhar esta formação a Escola nada mais tem para lhes oferecer?

R- Não. Muitas vezes não têm essa noção.

P- Que tipo de relação estes jovens têm com a Escola?

R- Têm uma relação muito má. Por algum motivo foram postos de parte pelo sistema, as pessoas tentam que haja uma mudança comportamental, na assiduidade ou a nível de comportamento em sala de aula. Os alunos não conseguem mudar esse comportamento, e isto não se trata de querer, mas sim de não ter bases, alicerces para conseguir a mudança comportamental. Como não conseguem mudar, o sistema deixa de investir neles e eles ao deixarem de ter alguém que os pressionem à mudança, rejeitam a Escola, porque começa a ser um sítio muito desagradável para estar. Portanto eles quando chegam aqui vêm com essas ideias, que as pessoas os rejeitam, que são postos de parte. Para fazer com que eles próprios mudem essa ideia, que é um estereótipo geral que as pessoas têm dos alunos do PIEF, e eles próprios têm deles, pois eles próprios se poem de lado. Para mudar esse mentalidade é difícil, mas quando se muda, eles conseguem alcançar os objetivos e sentem-se motivados e começam a gostar novamente de vir à Escola.

P- A Escola têm capacidade técnica para lidar com este tipo de jovens?

R- Sim. Através das nossas reuniões semanais apercebemo-nos como é que eles funcionam e quais são as dificuldades de cada um, sendo assim é mais fácil ajudar e tornar o sistema mais apelativo para eles.

P- Será esta a oferta educativa mais apropriada para estes jovens se inserirem na sociedade?

R- Naquilo que existe sim. A maior parte deles nunca se integraria num CEF ou num curso profissional. Aliás chegam-nos muitos jovens provenientes dessas ofertas educativas. Essas formações exigem tolerância à frustração, coisa que eles não têm, esforço, cumprir objetivos, cumprir módulos, ter uma estratégia e eles não têm nada disso. Perante isto, esta é a oferta

pedagógica que mais se adequa no sentido que é adaptado caso a caso, os professores vão sempre ao encontro do aluno.

P- Que avaliação faz do curso PIEF, como forma de combater o insucesso e abandono escolar?

R- Uma vez que a legislação obriga a frequência escolar até aos 18 anos, é uma boa solução. É uma oferta educativa muito individualizada, é um percurso que vai de encontro aos objetivos pessoais de cada aluno. Quando se integram têm sucesso, e quando vêm que têm sucesso gostam e muitos deles pensam em prosseguir e finalizar o 12º ano, porque conseguiram mudar a mentalidade relativamente à Escola. Ao perceberem que se cumprirem certas regras, fazerem alguns sacrifícios e ter tolerância à frustração são bem sucedidos, leva- os a finalizar os ciclos escolares e a matricularem-se em cursos profissionais. Isto é uma coisa muito positiva, pois quando chegam ao PIEF, a maior parte estava em abandono escolar ou absentismo, não querem saber da escola para nada. Isto é uma grande vitória, uma mudança de mentalidade relativamente ao sistema.