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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 ABORDAGENS METODOLÓGICAS POSSÍVEIS PARA O ESTUDO DE ASSÉDIO

3.1.2 Entrevista

Outro instrumento largamente empregado na literatura sobre Assédio Moral é a entrevista. Em alguns casos a entrevista foi utilizada como único procedimento de coleta de dados, como Engelman (2015), Souza (2015), Gugnier (2016) e Invitti (2012), em outros casos houve a combinação de entrevista, como etapa qualitativa da pesquisa, e questionário na etapa quantitativa, por exemplo em Turte (2011), Nascimento (2013), Nunes (2011, 2016) e Khouri (2012).

Segundo Creswell e Poth (2007), a entrevista permite a obtenção de informações profundas. O método possui maior abrangência em relação ao questionário, pois não está atrelado a um documento disponibilizado pelo pesquisador, e a partir da entrevista o pesquisador pode elucidar possíveis dúvidas que possam surgir, se preciso alterando as perguntas. (LAVILLE; DIONE, 1999).

A técnica de entrevista semiestruturada foi utilizada para obtenção de informações mais detalhadas junto as vítimas de assédio moral acerca das consequências físicas e psíquicas, das práticas abordadas pelo(s) agressor(es) e sobre as atitudes tomadas pela organização. Para isso foram elaborados roteiros semiestruturados a partir da literatura analisada. Concernente a esta técnica, Triviños (1992) considera que ela parte de questões básicas que se fundamentam em teorias e hipóteses, onde o entrevistado contribui com o conteúdo da pesquisa a partir de suas experiências, dentro do foco apontado pelo investigador.

No sentido de coletar informações sobre as políticas para pessoal, se incluem práticas de prevenção ao assédio e sobre a postura da instituição frente a estes casos, foi elaborado, também, um roteiro para entrevista com os gestores responsável pelas unidades de Gestão de Pessoas da UFT. Na literatura pesquisada os autores inseriram questões nesse intuito, por exemplo “Qual seria o papel da empresa neste aspecto organizacional?; Acredita que a empresa pode ser prejudicada em seus rendimentos devido essa prática?” (KHOURI, 2012, p. 73), “Na sua percepção, de que forma o time de gestão de pessoas auxilia na prevenção e combate ao assédio moral na Empresa X?” (CUGNIER, 2016, p. 439); “Você acha que a discussão desse assunto (Assédio Moral no Trabalho) é importante nas organizações?” (VIEIRA, 2009, p. 98).

As entrevistas com as vítimas, constituíram elemento para conhecer detalhes mais profundos sobre o assédio vivido por elas, compreensão do que é assédio moral, as técnicas de enfrentamento e as consequências físicas e psíquicas. As perguntas nos trabalhos analisados da literatura abrangem estes aspectos, por exemplo: “Qual(is) situação(ões) ocorrida(s) no seu trabalho que levou você a se identificar como vítima de assédio moral no trabalho?” (Nunes, 2011); “Como você acha que pode se proteger do assédio moral?” (TURTE, 2011, p. 196); “Por que você acha que ocorrem essas situações?” (INVITTI, 2012, p. 208); “Há alguma política de denúncia a respeito de assédio em sua organização?” (NASCIMENTO, 2013, p. 162); “Quais foram as consequências para sua saúde, física/psíquica no período que sofreu ou sofre essa violência moral?” (ARENAS, 2013, p. 311).

Foram realizadas 9 entrevistas com as vítimas de assédio moral que foram feitas concomitantemente como a aplicação dos questionários. O roteiro semiestruturado (Apêndice B e C) foi baseado na literatura. As entrevistas com os gestores foram feitas após as entrevistas com as vítimas e coleta por questionários, essa etapa permitiu ver o “outro lado da moeda”, ou seja, a visão e percepções daqueles que participam da gestão.

Além das entrevistas pessoais, também optamos por entrevistas por e-mail e videoconferência. A ferramenta utilizada para videoconferência nessa pesquisa foi o Skype. Esses meios permitiram diminuição no constrangimento dos participantes, que podem ocorrer quando se relata vivências pessoais, também remove barreiras de distância permitindo pesquisadora obtenha dados de participantes em campi distantes. Além disso, autores apontam que há evidências crescentes que apontam a internet como um método de pesquisa eficaz (HUNT; MCHALE, 2007).

Sappleton e Lourenço (2016) afirmam que a recente difusão de usuários de e-mail oferece grande potencial para pesquisadores. Hunt e Mchale (2007) destacam algumas vantagens do uso do e-mail como ferramenta de coleta de dados. Segundo eles uma delas é a redução de custos da pesquisa já que não exige viagens, nem compra de equipamentos para gravação ou transcrição, além do melhor aproveitamento do tempo, já que o pesquisador pode entrevistar mais de uma pessoa por vez, ao mesmo tempo que executa outras atividades. Uma segunda vantagem trazida pelos autores é a expansão da amostra, tendo em vista que entrevistas face a face podem exigir que o pesquisador viaje até a localidade do participante ou vice-versa. Por e-mail é possível entrevistar o participante em qualquer lugar do mundo. Uma terceira vantagem do e-mail é o momento de reflexão, muitas vezes perdido nas entrevistas presenciais, em que o participante pode não se lembrar de algum fato ou se perder nas respostas.

O uso da videoconferência como coleta por entrevistas também apresentou benefícios. A redução do fator “distância” foi o principal deles. Ademais, quando era percebido certo receio quando o convite era feito para participar da pesquisa, a proposta de fazer via Skype reduziu a chance de negativa, tornando possíveis algumas participações. Essa ferramenta tem sido muito utilizada em pesquisas e educação (JANGHORBAN; ROUDSARI; TAGHIPOUR, 2014). Segundo Weinmann et al. (2012), o uso do Skype é interessante quando comparado ao telefone, pois permite um contato maior e mais pessoal que este. Sedgwick e Spires (2009) retratam o skype como alternativa viável e econômica principalmente pela possibilidade de abranger assuntos de estudo em grandes áreas geográficas.

A análise das entrevistas será feita pela técnica de análise de conteúdo à qual Bardin (2004, p. 38) definiu “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Por meio desta técnica, Minayo (2001) afirma ser possível revelar o aquilo que está por detrás dos conteúdos manifestados, e que vai além do que é aparente na comunicação.

A análise de conteúdo se organiza através das seguintes fases: pré-análise, na qual organiza-se o material, define-se as categorias e trechos significativos a partir da leitura do material; a exploração do material que é a fase mais longa, na qual se aplica o que foi definido na fase anterior a partir de várias leituras do material, caso necessário; a última fase diz respeito ao tratamento dos resultados pela qual é possível revelar o conteúdo implícito ao que está sendo manifesto (MINAYO, 2001).

Neste sentido, a partir da transcrição das entrevistas realizadas foi feita a análise de conteúdo, procedeu-se a definição das categorias a serem analisadas, a extração dos trechos significativos das falas dos participantes, a descrição e a interpretação fundamentada no referencial teórico. Rissi (2009, p. 46) afirmou que esta técnica permitiu abstrair a compreensão mais significativa dos entrevistados, os pontos-chave da vivência e as principais ideias que eles buscaram transmitir e ainda que “isso possibilitou estabelecer uma tipologia do material empírico contido na fala dos agentes do estudo”.