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Entrevista ao Director Regional de Administração Educativa

1 - Atendendo a que a RAM tem vindo a produzir legislação própria no domínio do regime de autonomia, administração e gestão das escolas, considera que, ao nível da autonomia e no domínio da legislação publicada, as escolas da Região estão melhor servidas que as escolas do Continente? Quais as vantagens do modelo de administração e gestão Regional?

Na Região o modelo de autonomia e administração das escolas implementado pelo Decreto Legislativo Regional nº 4/2000/M, de 31 de Janeiro, alterado pelo Decreto Legislativo Regional nº 21/2006/M de 21 de Junho, constitui um marco por demais relevante num quadro de autonomia da escola como cerne das políticas educativas.

Este modelo aplicado às escolas básicas (2º e 3º ciclos) e secundárias (relegando- se para um momento posterior a sua aplicação aos estabelecimentos de educação e escolas do 1º ciclo do ensino básico face ao processo de reordenamento escolar) centrado no projecto educativo veio consubstanciar princípios de democraticidade, participação e intervenção comunitária, como resulta da própria composição do Conselho da Comunidade Educativa, órgão de direcção da escola responsável pela definição da sua política.

Nas estruturas de gestão intermédias o modelo fixa as estruturas transversais a toda a escola e no demais é atribuído um crédito global de horas de forma a que cada escola em sede do seu regulamento interno promova as estruturas que no seu entender melhor promovam o sucesso educativo valorizador da identidade de cada escola.

A composição do conselho pedagógico apenas por professores, dada a natureza científica do órgão, o fundo escolar em matéria administrativa e financeira, constituem instrumentos valorizadores do modelo de gestão.

O modelo de gestão regional é propiciador de boas práticas desde que os actores privilegiem o projecto educativo, o regulamento interno e o plano anual de escola como instrumentos de um processo de autonomia numa realidade socialmente construída, e não de forma artificial, valorizadora da função da escola no contexto da comunidade em que se insere.

2 - Porque não foi aqui implementado o sistema de agrupamentos de escolas?

Não foi implementado o sistema de agrupamento de escolas dado que na região optou-se pela valorização da individualidade de cada estabelecimento de ensino em sede do seu projecto educativo em detrimento de agrupamentos de cariz administrativo.

3 - E porque não foram aqui implementados os contratos de autonomia?

Não foram implementados contratos de autonomia por entender-se que a autonomia não se contratualiza constituindo antes um instrumento assente num poder reconhecido à escola de tomar decisões nos domínios estratégico, pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional no quadro do seu projecto educativo.

4 - Considera que as escolas da Região têm autonomia suficiente para oferecer um serviço público de educação com qualidade, adequado às comunidades que servem e rentabilizando da melhor forma os recursos disponíveis? O que gostaria de ver melhorado?

Na Região as escolas têm competências para promover um serviço público de educação de qualidade, porém é necessário que os actores tenham cada vez mais consciência dos instrumentos que estão postos à sua disposição com vista a promover boas práticas e que imprimam novas dinâmicas ou seja, o assumir pelo Conselho da Comunidade Educativa das suas funções como órgão de direcção da escola, uma maior consciencialização dos domínios pedagógico, administrativo e financeiro pelos órgãos de gestão, o ganhar um espaço próprio pelas estruturas de gestão intermédia, enfim o desenvolvimento de estratégias e dinâmicas em prol da qualidade do ensino.

5 - Para que serve/tem servido a autonomia das escolas? Na sua opinião, considera que ela está a ser bem utilizada, potencializada pelas escolas?

A autonomia das escolas tem permitido a tomada de decisão pela mesma nos domínios estratégico, pedagógico, administrativo e organizacional, porém essa autonomia mesma não tem sido potencializada pela escola porque não exerce cabalmente as competências previstas por Lei que lhe estão conferidas

6 – Como vê a participação da Comunidade Educativa na vida da escola? As escolas continuam a ser um feudo de professores, ou sente que as questões da educação estão a envolver cada vez mais outros actores (pais, autarquias, interesses económicos…)? O que acha que deve mudar?

A participação da comunidade educativa na vida da escola está a dar passos, ainda que crescentes, com certa timidez, dada a cultura de não participação e envolvência da comunidade na organização escolar. A escola continua a ser um feudo dos professores e a não envolver plenamente outros actores (pais, autarcas, representantes dos interesses económicos e sociais) pelo que impõe-se uma mudança de cultura que passa pelo conselho da comunidade educativa assumir-se como órgão de direcção da escola (e não apenas num plano formal) e a escola proporcionar mecanismos para uma efectiva participação da comunidade educativa.

7 – Da aplicação de um questionário aos Presidentes/Directores das Escolas com ensino secundário da RAM sobre a autonomia das escolas, de entre outras, resultaram as seguintes conclusões:

A – Há uma grande dispersão das respostas pelos quatro níveis de autonomia propostos, registando-se em mais de dois terços das respostas, dispersão por 3 ou 4 dos níveis, o que evidencia uma grande margem de liberdade das escolas na tomada de decisões, mas certamente também alguma infidelidade normativa (para a mesma

questão, umas escolas acham que não têm autonomia, outras acham que têm pouca, outras acham que têm bastante e outras acham que têm autonomia total)

B – Os domínios Estratégico, Organizacional e Pedagógico são aqueles onde os presidentes/directores sentem existir mais autonomia.

C – Os domínios Curricular, Financeiro e Administrativo são aqueles onde sentem existir menos autonomia.

D – Os domínios onde gostariam de ver reforçada a autonomia são os Domínios Financeiro e Curricular, seguidos dos Domínios Administrativo e Organizacional.

E – Os inquiridos consideram que a autonomia das escolas não deve ser limitada em nenhuma das áreas propostas.

F – Há um amplo consenso relativamente às vantagens da autonomia para as escolas.

G - Para um número significativo de inquiridos a autonomia está também associada a aspectos negativos (é retórica política, só haverá autonomia quando as escolas controlarem a selecção de pessoal e o orçamento).

H – Os presidentes/directores das escolas com ensino secundário da Região Autónoma da Madeira consideram que globalmente as suas escolas são bastante autónomas. Mas sendo a autonomia um processo, uma conquista, não deixam de continuar a reivindicar mais espaço de autonomia, recusando limitações à que já possuem.

7.1 - Perante estes resultados, que comentário lhe merece o facto de haver uma esmagadora maioria de questões cuja resposta se distribui por 3 ou 4 níveis (para a mesma questão umas escolas acham que não têm autonomia, outras acham que têm pouca, outras bastante e outras autonomia total). Não há fiscalização, controlo, as escolas têm assim uma tão grande margem de liberdade/interpretação dos seus poderes?

No que concerne ao resultado dos questionários a dispersão das respostas por três ou quatro níveis tem a ver com as diferentes percepções das escolas do regime legal de autonomia. Estas perspectivas resultam de diferentes olhares do modelo regional nem sempre com referência ao regime legal existente.

7.2 - Que comentário lhe merecem todas estas conclusões apresentadas? Enquanto Director Regional sente-se satisfeito com estes resultados?

As conclusões apresentadas vão no sentido de um caminho a percorrer de forma a que cada escola promova a sua identidade no quadro do projecto educativo em prol da melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos que constituem o cerne do Sistema Educativo Regional.

8 – Outros comentários/observações que considere oportunos…