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Quando foi formada a associação de moradores?

AMBA – ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO ALTO Fundada em 2010, mas o ideal é que nunca tivesse sido formada, era sinal que não havia problemas dentro do bairro. Os moradores tiveram que se juntar, para com o apoio da Junta de Freguesia da Encarnação, na altura, fazermos chegar a nossa voz, dos moradores, ao poder político e assim formámos a AMBA. Inicialmente só do Bairro Alto mas já se juntaram o Cais do Sodré e a Bica todos com os mesmos problemas ruído e falta de limpeza.

Qual o impacto do turismo?

O turismo de dia tem um impacto muito positivo no Bairro Alto. Os turistas querem saber do nosso património, da nossa história das nossas tradições. Estes turistas sabem o que querem do elevador da Glória ao elevador da Bica querem conhecer o Bairro Alto. Mas o nosso bairro tem duas vertentes uma de dia e outra de noite. As pessoas podem pensar que isto há noite é a mesma coisa que de dia, claro que não é. O bairro precisa de quem a visita de dia, muitos turistas que vêm aqui ao bairro procuram restaurantes, artesanato, o fado, etc., coisas que estão na nossa tradição.

Quais os turistas ou turismo que não interessa aos moradores do Bairro Alto?

A nós interessa-mos toda a gente desde que não venham incomodar. A invasão de Hostels no bairro é que nos incomoda, já perdi a conta a quantos são. A malta que ocupa os Hostels é tudo malta jovem e dormem de dia e de noite não é nada agradável é um descalabro total, muitos Hostels são direcionados para estudantes ERASMUS, que vêm para cá para tudo menos para estudar. Têm sido meses e anos a discutir o futuro deste bairro que qualquer dia só tem turistas como moradores e duvido que eles conheçam a tradição do bairro. Os hotéis são bem melhores, gente mais crescida e com dinheiro que vêm ao bairro pelo bairro. Também se sentem incomodados pelo barulho. Aliás os hotéis participam do nosso lado (moradores) nas reuniões com a CML.

Qual a origem destes problemas?

A origem de tudo isto foi a implementação de muitos bares indiferentes à população, não digo que sejam todos, mas aqui na rua da Atalaia é porta sim porta sim. Acontece o seguinte, a partir da meia-noite é que começa o barulho, é quando se quer dormir que vem esta gente para o bairro e o barulho é intenso. Isto é um bairro residencial, eu sempre vivi aqui mesmo em frente. As pessoas que vêm para aqui divertir-se estão-se nas tintas para quem cá mora, querem divertir-se e depois voltam para o seu país e estão-se «marimbando» para quem cá fica, não têm a noção do que a gente sofre. Várias vezes fazemos queixa à polícia do ruído e depois os comerciantes insultam-nos. Há muitos moradores que não se queixam do ruído porque os comerciantes lhes pagam a renda ou a água e a luz e não lhes convém fazer queixa. Acontece haver prédios onde os inquilinos do segundo e terceiro andar se queixam e os do primeiro não, são surdos! Isto tudo começou quando o Dr. Santana Lopes veio para a Câmara e mandou fechar o bairro ao trânsito sem perguntar nada a ninguém. Resumindo o bairro começou a entrar nesta vida noturna foi a partir da EXPO 98. Foi nesta altura que os conflitos se agudizaram. Depois durante o Euro 2004 os bares fechavam às quatro da madrugada todos os dias, era impossível viver neste bairro. No entanto há aqui muitos bares com bom ambiente em que as pessoas podem falar. Agora na rua só se berrarem por cima da música. De manhã quando se vai para o trabalho estão as ruas todas sujas. No início da AMBA vimos que um dos principais problemas eram as lojas de conveniência que vendem cerveja e sangria em garrafas de litro barata. O que nós queremos é que se acabe com o consumo de álcool na rua, aliás como se faz na Europa.

Qual a posição da CML?

Já houve várias reuniões com a CML para tentar em conjunto arranjar solução. Uma das propostas que está a ser discutida é reduzir o horário de funcionamento só aos que prevaricam e há queixas fundamentadas de ruido excessivo. Se continuarem a abusar é- lhes retirada a licença. É muito difícil haver consenso porque os interesses são muito antagónicos.

Qual o futuro do Bairro Alto?

O futuro do Bairro Alto passa pelo comércio de dia e de noite. Manter o Bairro Alto um polo importante da cidade de Lisboa. Temos entidades muito importantes, o conservatório e a galeria Zé dos Bois e personalidades como a Fátima Lopes que tem aqui a sua loja. O Bairro Alto tem muitas potencialidades mas temos que respeitar os moradores do bairro, sem eles é que não há bairro.

Há turistas a mais no Bairro Alto?

Lisboa e os seus bairros, a sua cultura e as suas tradições têm muitas potencialidades. O que se está a fazer por Lisboa é o orgulho dos Lisboetas, a zona ribeirinha o Intendente e a Mouraria são passos no sentido de abrir Lisboa a todos. Os bairros sentem mais orgulho quando se vêm enfeitados como agora nos santos populares. É lindo ver o bairro assim. Se as coisas correrem bem quem ganha somos todos. Moradores, comerciantes, turistas, políticos, todos.

O turismo para o bairro e para Lisboa é uma mais-valia que nos trás muita riqueza. Quando chegam os cruzeiros é ver os turistas a encherem o Pap’Açorda ou o Gaivota Alta. Este é o público que nos interessa. Os turistas que pernoitam nos hotéis também se sentem incomodados com o ruído e o ambiente de zaragata.