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- Como foi a sua infância D. Ester?

Foi uma infância pobre, éramos 7 filhos, então a vida era difícil. Andei na escola até ao 3ºano e depois fui aprender costura.

- E como era o seu dia-a-dia?

Os meus pais trabalhavam na agricultura, como era normal cá na aldeia. Então eu e os meus 6 irmãos passávamos os dias a ajudá-los no que fosse preciso. O dia começava muito cedo, mal nascia o sol, e quando o sol se punha é que íamos para dentro de casa.

- E como era a sua alimentação nessa altura?

Era sopa e sardinhas paridas ao meio para dar para todos os filhos. Comia-se broa, batatas com couves e um refogado por cima. Muitas vezes bacalhau pobre.

- E carne, tinha o costume de comer?

Não, carne não comia muito pouco. Era muito raro comer carne mesmo. Era mais peixe, depois fruta das árvores que havia em casa, legumes também dos que se cultivava em casa.

Eu ajudava muito nessa vida do campo, a cultivar os legumes, a tratar do gado… Eu e os meus irmãos. Mas depois os meus irmãos saíram cedo de casa, porque como a comida era pouca para todos, foram uns para cada lado. Só fiquei eu e mais um irmão, porque éramos mais novos, e aí o trabalho era todo para nós.

- E tinha o hábito de fazer exercício físico?

Nada de como se faz agora. Mas fazia muito exercício a ajudar os meus pais na terra. Os brinquedos eram pouco, então o tempo era todo passado a trabalhar com os pais.

- E como era a relação com eles?

Era boa. Sempre me dei bem com os meus pais e com os meus irmãos. Era uma família de muito respeito. Como eram quase todas as famílias antigamente, não era nada como agora.

Idosos mais idosos – Narrativas de estilos de vida

-E durante a sua infância passou por algum momento que a transtornasse? Não, Graças a Deus não.

- E quando acabou a 3ª classe como foi a sua vida?

Até aos 14 anos continuei em casa dos meus pais a ajudá-los, depois fui aprender para costureira, e comecei a fazer arranjos para fora, e foi assim até me casar.

- E que idade tinha então quando se casou?

Casei-me aos 23 anos e estive um ano cá em Portugal, e depois emigrei para a Venezuela com o meu marido.

- E na Venezuela em que começou a trabalhar?

Continuei a trabalhar como costureira, mas lá para além de arranjar roupa para fora, também lavava roupa para fora.

- E foi essa sempre a sua ocupação na Venezuela?

Sim, sempre com este tipo de trabalho. Foi lá que fiz toda a minha vida. Tive lá os meus dois filhos, um rapaz e uma rapariga.

- E como era a sua alimentação lá?

Era muito melhor do que a que tinha cá em Portugal. Lá já comia muita carne, bifes de porco e vaca, uma cerveja, um copo de vinho. Já não era tão pobre, por isso a alimentação nem se pode comparar à que eu tinha na infância.

Em Venezuela a minha vida melhorou muito. Trabalhava-se muito, mas também se via dinheiro e o dinheiro lá rendia, o que nos dava mais motivação para trabalhar.

- E durante os anos em que esteve na Venezuela, como era o seu repouso?

Dormia sempre as minhas oito horinhas por noite. Depois, quando cheguei aos 40 e tal anos, com a menopausa, comecei a dormir pior, mas descansava sempre bem.

- Então e na Venezuela costumava fazer exercício físico?

Oh, isso nunca fiz. Não me vejo a fazer exercício, como as minhas netas que andam no ginásio, Deus me livre de andar numa coisa dessas.

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128 - Então como ocupava os seus tempos livres na Venezuela?

Sempre em casa a arrumar e a tratar da vida da casa, e também costumava ver televisão, disso sempre gostei. Ao domingo é que costumava ir passear com o meu marido. No verão íamos até à praia, e quando não estava tempo para praia íamos até aos jardins e campos.

- E tinha alguma actividade na sua comunidade em Venezuela?

Não, eu estava sempre por casa. E nunca fui muito dada a falar com as outras pessoas que moravam na minha rua. O meu marido é que conhecia mais os nossos vizinhos de lá.

- Então e durante o tempo que lá esteve, houve alguma situação que a marcasse? Nada que me marcasse mesmo. Há sempre alguns problemas, mas não tive muitos, e os que tive ultrapassei-os bem com a ajuda do meu marido.

- E de forma geral gostou da forma como viveu a sua vida adulta em Venezuela? Sim, gostei muito. Lá valia a pena trabalhar, porque o dinheiro rendia, e tínhamos uma vida mais desafogada.

- E que idade tinha então quando regressou para Portugal?

Para lhe dizer assim ao certo não sei. Mas tanto eu como o meu marido tínhamos perto de 60 anos, já vínhamos com a ideia de nos reformarmos e cá em Portugal descansarmos.

- Então como era depois o seu dia-a-dia aqui em Portugal?

Era em casa, de volta da lida da casa, do campo, da costura. Mas cá só costurava para casa, não fazia arranjos para fora.

- E como tem ocupado os seus tempos livres desde que veio para cá?

Desde que vim para cá entretenho-me a arrumar a casa, na costura. Gosto de ver televisão, estarmos com os meus netos, ler o jornal todos os dias. Ao domingo costumo ir sempre passear com o meu marido. Agora mais recentemente também passo muito tempo com a minha neta que fica cá em casa durante o dia com a minha filha que mora cá.

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- Como tem sido então a sua alimentação?

Agora é boa. De manhã tomo um cafezinho com um pão torrado, às 10 ou 11horas como uma peça de fruta, ao almoço uma sopa e um prato sempre acompanhado de legumes, à tarde lancho um café com leite e bolachas e à noite mais ou menos igual ao almoço. Desde que vim para Portugal, o meu médico aconselhou-me a ter cuidados com o que comia, então tenho evitado fritos, demasiado sal, evito açúcar em demasia. Mas graças a Deus não tenho nem diabetes nem colesterol.

- E consome algum tipo de bebidas alcoólicas?

Bebo só um copinho à refeição, mas fora da refeição não bebo nada.

- D. Ester, desde que veio para Portugal esteve inserido em alguma actividade na sua vila?

Não, passo o dia em casa. O meu marido é que andou e ainda anda envolvido em algumas dessas coisas.

- E desde que veio para Portugal passou por algum desgosto?

Graças a Deus não tenho passado assim por desgostos. Tenho tido uma vida muito feliz e sem esses contratempos.

- E está feliz então com a forma como viveu a sua reforma?

Sim, bastante. Estou numa casa rodeada de família, a minha filha, o meu genro, uma das minhas netas e a minha bisneta passa cá os dias. Melhor não podia estar.

- Actualmente como está a sua saúde?

Por enquanto a minha saúde tem estado boa. A única coisa que tenho são os problemas na coluna, fora isso estou óptima.

- E já agora, lembra-se com que idades faleceram os seus pais?

Não sei assim ao certo. Mas tenho uma ideia de que os dois morreram depois dos 80 anos, parece que a minha mãe tinha uns 81 ou 82 e o meu pai foi mais velho, já devia passar dos 85 anos.

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