• Nenhum resultado encontrado

Entrevista a Informadores-Chave sobre o Estatuto dos Jovens em Portugal.

Entrevistas informadores-

Capítulo 1: Procedimentos da Fase Qualitativa

1.2 Entrevista a Informadores-Chave sobre o Estatuto dos Jovens em Portugal.

Nesta fase da investigação, ainda enquadrada na parte qualitativa, realizou-se um estudo exploratório com o propósito de compreender a situação dos jovens em Portugal através de entrevistas a informadores-chave acerca do tipo de relações entre jovens e adultos e do suporte existente para estas relações na sociedade portuguesa, da perceção dos adultos em relação aos jovens e das possíveis mudanças nas políticas ou nas tradições culturais.

Neste sentido, considera-se relevante para uma compreensão mais abrangente do assunto escolher representantes das áreas da academia, da política e da liderança cívica.

No segundo capítulo da tese encontra-se uma revisão de estudos internacionais e portugueses para apoiar e contextualizar esta parte do nosso estudo qualitativo.

Foram realizadas entrevistas a seis informadores-chave: um representante do Estado (Presidente do IPDJ); dois representantes dum movimento educacional/cívico (o Secretário Nacional Pedagógico e a Secretária Executiva dos Adultos do Conselho Nacional de Escutas – CNE); uma representante da academia (Professora na Universidade do Porto e especialista na participação cívica dos jovens); e dois líderes do Conselho Nacional da Juventude – CNJ (o Presidente e uma líder do CNJ).

Trata-se de uma amostra bastante restrita, mas que, contudo, conjuga a competência do cargo desenvolvido pelos informadores-chave com um conhecimento direto e aprofundado da realidade juvenil portuguesa. Assim, apesar da exiguidade da amostra, achou-se relevante explorar a visão da sociedade portuguesa sobre os jovens através dos olhos destes informadores, não pretendendo ter uma perspetiva exaustiva e representativa da sociedade com apenas seis entrevistas, mas continuando a reflexão sobre os temas do Estatuto dos Jovens em Portugal e da sua participação cívica – assuntos de relevância tratados com intensidade crescente nas últimas décadas.

O objetivo de cada entrevista foi compreender como o(a) entrevistado(a) perspetiva a situação dos jovens em Portugal. O guião de entrevista (ver Anexo V) foi estruturado em colaboração com os colegas parceiros da Escola de Ecologia Humana da Universidade de Madison, em Wisconsin.

Reputou-se pertinente saber mais sobre as relações entre os jovens e os adultos em Portugal e, por isso, inquiriu-se onde e quando os jovens e os adultos se juntam, por exemplo, para celebrações ou para trabalhar em conjunto para a comunidade, estando envolvidos em assuntos cívicos, ou como membros de grupos de voluntários (desportos, teatro, música, etc.).

Perguntou-se também se o(a) entrevistado(a) considerava que os jovens e os adultos estavam isolados ou integrados na sociedade portuguesa, tendo os mesmos elaborado a resposta seguindo algumas sugestões: Quais são as tradições culturais que juntam jovens e adultos? Quais são as políticas que juntam jovens e adultos? Quais são as tradições culturais que separam jovens e adultos? Quais são as políticas que isolam jovens e adultos?

Além disso, procurou-se compreender a sua visão acerca das perceções dos adultos em relação aos jovens em Portugal: em Portugal, como é que os adultos veem os jovens (jovens de 15-20 anos)? Será que percecionam os jovens como recursos para a comunidade, como problemas da comunidade ou como algo mais? E porquê? Quais são os estereótipos predominantes (bons e maus) acerca dos jovens entre os adultos em Portugal? Quais são as capacidades e competências que os adultos veem nos jovens? Quais são os pontos fracos que os adultos veem nos jovens? Estes pontos de vista sobre os jovens estão incorporados na cultura geral do País e/ou nas políticas e programas que Portugal tem relativamente aos jovens?

Como até então foram colocadas perguntas sobre os “jovens em geral”, passou-se a questionar, ainda, se existiam populações específicas dos jovens (por exemplo, com baixa renda, minorias étnicas, de género, etc.) face às quais as perceções adultas fossem diferentes das dos “jovens em geral".

Por último, tentou-se perceber se na opinião do(a) entrevistado(a) a situação atual dos jovens em Portugal era apropriada e se gostaria de ver mudanças nas tradições culturais ou políticas do seu país. Solicitou-se ainda ao(à) entrevistado(a) que indicasse uma ou duas políticas ou programas (grandes ou pequenos) que, em Portugal, representassem os tipos de alterações que este(a) gostaria de ver, pedindo para descrevê-la(s).

Três entrevistas foram gravadas. Nos restantes três casos, tendo em conta que os informadores se sentiram mais confortáveis desta forma, estavam presentes duas pessoas, que tomavam notas das respostas. Depois da transcrição completa das entrevistas e do envio das mesmas para os entrevistados para receber validação do conteúdo das transcrições, as respostas revistas e validadas foram analisadas por dois investigadores. Foram identificados temas recorrentes através da análise temática de cada coleção de respostas dos seis informadores-chave.

O procedimento utilizado para a análise foi, como referido, a transcrição das entrevistas dos informadores-chave. Nos casos em que não houve gravação e estiveram presentes dois anotadores, estes realizararam reuniões para confrontar as versões escritas por cada um, complementar as transcrições e alcançar uma versão final que satisfizesse ambos.

A versão completa e correta das transcrições, após a validação dos informadores- chave, foi impressa para uma primeira leitura e sucessivas releituras dos dados, acompanhadas por anotações das ideias iniciais.

A fase seguinte consistiu na geração de códigos iniciais a partir dos dados: os códigos serviram para identificar uma característica dos dados que se destacasse (segundo Boyatzis (1998, p. 63), podendo ser “segmentos dos dados ou informações significativas relativas ao fenômeno em estudo”). Por conseguinte, analisaram-se os textos procurando temas a um nível mais abrangente: os códigos encontrados foram classificados por potenciais temas e foram reunidos todos os extratos pertinentes dentro dos temas identificados. De acordo com Braun e Clarke (2006), começou-se, então, a analisar os códigos e a agrupar códigos parecidos para formar temas mais abrangentes.

Partindo destas premissas, foram analisadas as transcrições e os temas identificados foram codificados no texto com as seguintes letras do alfabeto: o “A” reagrupava a temática das parcerias entre os jovens e os adultos, o “B” as tradições culturais e religiosas, o “C” as políticas públicas, o “D” as perspetivas dos adultos em relação aos jovens e, por fim, o “E” a perspetiva global, o estatuto dos jovens e as mudanças.

Através de contínuas releituras, reviram-se e refinaram-se os temas: leram-se todos os extratos reunidos para cada tema e procurou-se averiguar se pareciam formar um padrão coerente. Como parte do processo de refinamento, foi preciso identificar se um tema continha qualquer subtema (temas dentro de temas). Os subtemas tornaram-se úteis para a estruturação de um tema particularmente extenso e complexo e também para demonstrar a hierarquia de sentido dentro dos dados. Embora já tenham sido dados títulos aos temas

encontrados, nesta fase foi importante repensar a adequação dos nomes utilizados e escolher nomes mais apropriados para a análise final.

Neste sentido, a releitura dos extratos recolhidos por cada tema identificado levou à diferenciação de subtemas: dentro do tema abrangente das parcerias entre jovens e adultos, identificaram-se: a celebração e o entretenimento (A1); o envolvimento cívico/político (A2); e as atividades comunitárias diversificadas e realizadas em parceria (A3). No tema das perspetivas dos adultos em relação aos jovens, foram identificados o subtema dos jovens como recursos (D1), o dos jovens como problemas (D2), o dos estereótipos (D3), o das capacidades dos jovens (D4), o das fraquezas dos jovens (D5), o dos conflitos entre jovens e adultos (D6) e, por último, o subtema das especificidades dos jovens, inclusive das categorias especiais e minoritárias (D7).

Para ajudar a análise, foi utilizado o programa Excel para recolher toda a informação em arquivos separados (folhas de trabalho) para cada informador e para cada tema individuado (documento em anexo no CD).

A escrita do relatório final consistiu na descrição dos temas e das suas prevalências em cada entrevistado(a) e no conjunto dos informadores. Para analisar as prevalências dos temas, os dados qualitativos foram quantificados. De acordo com Creswell (2009), este procedimento consistiu na criação de códigos e temas qualitativamente, seguida da contagem do número de vezes que estes ocorreram nos textos. Tashakkori e Teddlie (1998) classificam esta estrutura como modelo misto, especificando que ocorre quando os investigadores recolhem dados qualitativos de uma maneira essencialmente exploratória, mas em seguida submetem os dados a uma análise quantitativa. Embora a redução da informação a números seja a abordagem utilizada na pesquisa quantitativa, é também usada na pesquisa qualitativa (Creswell, 2009).

Neste sentido, o armazenamento de todos os extratos por cada tema e subtema identificados em folhas de trabalho Excel, permitiu também o cálculo da frequência com que os diferentes temas apareceram por cada informador e, também, no conjunto dos informadores-chave (ver a secção de análise dos resultados).

Sintetizando, as entrevistas a informadores-chave revelaram-se essenciais para identificar temáticas relevantes que foram posteriormente aprofundadas no estudo quantitativo.