• Nenhum resultado encontrado

ENTREVISTA Nº 3: DÉMETER PRIMÍPARA COM 2 MESES DATA: 04/01/

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ENFERMAGEM

ENTREVISTA Nº 3: DÉMETER PRIMÍPARA COM 2 MESES DATA: 04/01/

COMO FOI PARA VOCÊ AMAMENTAR, TENDO FISSURAS MAMÁRIAS?

Ah... pra mim, foi difícil. Primeiro filho, eu sempre pensei assim e até hoje faço. Quando eu tiver meu filho, eu vou amamentar ele até 6 meses, que é o recomendado pelos médicos e é o melhor pra ele, mas, pra mim, foi muito difícil. Doía muito meu seio, muito mesmo. Quase toda hora, eu tava lá na nutricionista incomodando ela, mostrando que tava doendo muito. Eu, eu pensava até que era algo por dentro do seio, que doía tanto que eu pensava era algum ferimento por dentro do seio. Ela (a

enfermeira) disse que não tinha nada a ver, que só era no bico mesmo, que era porque

ele tava aprendendo a puxar ainda e eu nunca tinha tido filho. Então, pra mim foi difícil, doía muito, eu chorava, pra falar a verdade, eu chorava de dor, mas eu continuei dando. Ë tanto que ela (a enfermeira) falou: se você continuar, você vai ver que vai passar. E eu continuei e passou.

Você continuou quanto tempo amamentando?

Ele mama até hoje. Só faz mamar, até hoje.

Você falou que foi difícil nesse período. Fale-me um pouquinho mais dessa situação que você achou difícil.

É... eu achei difícil. Eu conversava lá com as mulheres que estavam lá internadas comigo. Elas diziam que, se eu não tivesse güentando mesmo, era pra eu parar, ficar fazendo massagem e depois, quando eu viesse pra casa ou então no dia seguinte que eu tivesse me sentindo melhor, era pra eu dar mama a ele, mas eu não queria. Porque, se ele só comia isso, eu não ia dar mingau a meu filho recém- nascido. Então, eu agüentava a dor e dava mama a ele, mas doía muito... muito mesmo. Ele mamou e nasceu quarta- feira. Mamou quarta- feira e eu não senti nada, mas quinta-feira a médica disse que ele tava aprendendo a puxar. Quinta- feira, assim que ele aprendeu a puxar, feriu logo. Foi difícil, mas eu continuei dando e hoje eu não sinto nada. E ficou só 15 dias e pronto.

COMO VOCÊ SE SENTIU AMAMENTANDO NESSA SITUAÇÃO?

Ë... uma sofredora, pra falar a verdade, né (risos). Isso é um sofrimento. Eu me senti uma sofredora, ali chorando, mas vendo aquela coisa pequenininha no meu colo, pedindo mama e eu tendo que dar, chorando com lágrimas no coração, já que doía muito. Eu me senti, na verdade, uma sofredora naquele momento, mas eu vendo meu filho chorando e pedindo mama, eu não ia rejeitar meu seio pro meu filho, claro! Eu dei mama, mas ali eu realmente nunca tinha passado o que eu passei ali, nunca... Desde a hora do parto, nunca passei aquela dor que eu tava sentindo. Nunca tinha sentido.

Bom, você falou que se sentiu uma sofredora pela dor que sentia, mas esse sofrimento foi pela dor ou por outro motivo?

Pela dor... Não tinha motivo maior naquele momento do que aquela dor que eu sentia. Eu tenho até uma colega que teve filho recentemente, ela teve que parar, que ela não güentava. Eu chegava na casa dela, até eu dava risada, mas, quando eu passei pelo meu momento, eu também vi que era sério. Eu chegava lá e ela tava chorando e eu não entendia porque ela tava chorando tanto daquele jeito. Mas ela teve que parar porque não güentava de dor. Eu não, eu me sentia uma sofredora, mas, ao mesmo tempo, uma

vencedora porque eu consegui até hoje amamentar ele só no seio e chegava em casa meu marido morria de pena de mim que eu chorava, chorava de dor, mas, ao mesmo tempo que eu fui uma sofredora, eu fui uma vencedora que agüentei amamentar ele, apesar de toda dor e ele tá aqui hoje com 3 meses só dou mama, mais nada.

Você falou do seu companheiro, do seu marido, que ele também vivenciou junto com você esse processo. No momento em que você teve as fissuras, como foi essa relação, dentro da sua casa, com sua família, já que você mora próximo a sua mãe e com seu esposo?

Ah... foi... foi... foi legal. Todo mundo me ajudava. Meu marido segurava na minha mão na hora de dar mama. Guenta, amor, guenta... Minha mãe vinha pra cá ficar comigo porque eu ficava sozinha aqui, né. E na hora que ele mamava, era só choro pra mim... porque doía mesmo. Minha mãe ficava aqui comigo, meu pai vinha, ficava comigo, minhas irmãs. Todo mundo me apoiou. Todo mundo também dizia que não era pra eu parar de dar mama. Então, todo mundo tava sempre do meu lado. Minha família sempre do meu lado, mas sempre incentivando eu continuar e não desistir. Então, foi legal. Aqui em casa eu não me senti só. Na maternidade, sim, eu me senti só, mas em casa, não!

Você fala que na maternidade se sentiu só. Eu queria que você falasse sobre sentir- se só na maternidade.

Não! Só (sozinha) eu digo assim... Minha família, essas pessoas que são íntimas pra mim. Sem minhas amigas pra conversar. Ali, eu tinha pessoas ali nos... nos leitos comigo, só que não eram amigas íntimas, a gente se conhecia naquele momento ali, mas não de tempo. Não, eu falo sozinha assim, nesse sentido. De ter aquela amiga pra desabafar, falar com ela: Ai, que dor... não tou agüentando e chorar no colo dela, dela me dar aquela força... A minha família também, o meu esposo não tava ali direto. A hora da visita é uma hora de relógio, duas horas, ninguém merece... (risos). Então, ele ia naquela hora ali, ficava comigo, conversava com ele, chorava ali no colo dele, enquanto ele tava mamando, ele me apoiava. Então, eu me sentia só assim sem a minha família, os meus amigos, as pessoas íntimas a mim. Mas, quando eu via a nutricionista, os médicos, eu me sentia até amparada que eles vinham, me davam uma palavra de apoio, de força pra eu continuar, que era só no começo. Então, você se vê assim... sem ninguém pra você conversar, desabafar, sem pessoas chegadas a você. Eu me sentia só, assim. Mas em casa, claro, cercada pela minha família, não me sentia só. Eu acho que foi até minha família que me deu força pra continuar dando mama a ele. Todo mundo vinha aqui e falava mesmo. Meu cunhado, minhas irmãs, minha mãe, principalmente: continue, continue, porque eu quase desistia, porque doía mesmo, mas a força da minha família e também ver meu nenenzinho chorando pedindo mama... Eu não ia deixar meu nenenzinho assim, tinha que dar. Então assim, eu me senti só lá porque não tinha pessoas chegadas a mim, na minha casa não... claro (risos).

ENTREVISTA Nº 4: PERSÉFONE - PRIMÍPARA COM 9 MESES DATA: