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84 Anexo IV. Entrevista 2.

Data: 19 de Fevereiro de 2010 Hora: 18h30

Boa tarde, agradeço, uma vez mais, por se ter disponibilizado a ajudar-me para o meu trabalho final de curso.

Diga-me a sua idade? 27 anos. Tempo de serviço?

2 anos. Posto que ocupa?

Agente.

1 – Que tipo de ocorrência estava inicialmente em causa na altura em que foi agredido? Uma Operação de fiscalização rodoviária, ao proceder à fiscalização de uma viatura o indivíduo começou inicialmente por me ameaçar para que não procedesse a nenhuma autuação e continuou com as ameaças e as injúrias durante um bom bocado de tempo.

2 – Perante a situação o que fez?

Tentei que ele parasse de me injuriar e ameaçar dizendo que estava a incorrer num crime e que eu o podia deter por isso. Ele disse que não lhe podia fazer nada e que não tinha medo de nós, nem do tribunal e continuou com as injúrias e com as ameaças referindo que quando me apanhasse na noite eu iria pagar por o que estava a fazer, entre outras coisas ainda menos próprias. Por causa disto dei-lhe voz de detenção. Depois quando estávamos a fazer o expediente, conseguimos ver que o indivíduo era segurança numa discoteca mas que não tinha licença nenhuma e que já estava referenciado no nosso sistema.

3 – Portanto diga-me o que esteve na origem da violência, verbal neste caso, contra si? Foi por eu lhe querer passar um auto de 250 euros e porque também lhe ia apreender o carro, cumprindo com a lei.

85 4 – Sabe quantas pessoas tiveram intervenção nesta situação?

O indivíduo estava sozinho e estavam lá mais ou menos 16 polícias, mas comigo a fiscalizar só estava mais um. O Subchefe do meu grupo.

5 – Danos ou consequências que resultaram da agressão verbal houve alguma para si ou para outras pessoas?

Não, neste caso não. Só o mal-estar dos dias seguidos em que fiquei a pensar muito naquilo porque fui enxovalhado por fazer o meu trabalho e é chato. Há muitas pessoas que já não nos respeitam como polícias, não respeitam a nossa farda.

6 – A violência que se despoletou atingiu mais alguém? Não, não neste caso.

7 – Recebeu ou foi-lhe proposto algum apoio psicológico neste caso em específico pela PSP?

Não, nada porque não achei necessário. Fiz o meu trabalho e fiquei, neste ponto, tranquilo. Tudo o resto já não é tanto comigo mas mais com o tribunal.

8 – Pela hierarquia recebeu algum apoio?

O Subcomissário falou comigo só para me perguntar se estava tudo bem e eu disse que sim. Mas foi mais numa de camaradagem porque já tive situações muito mais graves anteriormente e ninguém se chegou ao pé de mim para ver se eu estava bem, a não ser os meus colegas.

9 – Sentiu necessidade de meter baixa depois de a agressão ter ocorrido?

Eu no momento senti algum receio porque o indivíduo tinha um grande porte e pensei que algo de pior poderia acontecer mas depois nada aconteceu, e não meti qualquer baixa. No entanto quando cheguei a tribunal até senti vontade e queria ter metido baixa psicológica porque a Sr.(a) Procuradora quando eu fui a tribunal no dia seguinte, com o Subchefe, ela queria propor que o processo fosse arquivado sem ouvir ninguém. Chegou a dizer que foi tudo num momento de fúria do indivíduo e que não merecia outro fim se não o de arquivamento. E mais chocante para mim foi que disse que o Agente de Autoridade devia estar habituado à violência e que as injúrias e as ameaças não eram assim tão graves.

86 Então nós temos que ser injuriados e ameaçados todas as vezes que alguém se enerva! E depois chegamos a tribunal e ninguém é punido? Quer dizer quando somos nós, somos muitas vezes enxovalhados no tribunal e ainda vamos ao NDD e quando são as pessoas não se passa nada porque estavam num estado de fúria. Ainda por cima o indivíduo cometia outros crimes porque era segurança da noite sem licença do Ministério da Administração Interna e já tinha agredido a esposa dele em plena audiência de julgamento e por isso estava com 3 anos de pena suspensa. Mas não, a Sr. (a) Procuradora disse que ele era uma pessoa idónea e que por isso iria propor o arquivamento do processo. Eu metia baixa psicológica e pronto, só não o fiz pelos meus colegas e porque ainda tenho gosto em ser Polícia.

10 – A Divisão em si fornece nestes casos algum tipo de apoio? Sabe se existem procedimentos definidos para ajudar polícias agredidos?

Que eu tenha conhecimento não existe nada.

11 – O que considera necessário para evitar situações semelhantes no futuro?

Isto é uma pura falta de educação e também desrespeito pela polícia, pela autoridade do Estado e um sentimento de impunidade. Nós abordamos criminosos e eles dizem-nos que não têm medo porque nada lhes acontece! Este senhor nem a tribunal compareceu como estava notificado! Acho que ainda se ficou a rir. Eu é que ainda tive de ir a tribunal na minha folga e sempre que vou ao NDD também perco tempo e dias de folga. Para não falar do dinheiro que perco nas deslocações e nos custos de carro e afins. Acho que os cidadãos deviam ter mais civismo. Pode ser que o nosso Contrato Local de Segurança altere isso daqui a uns anos.

12 – Sentiu nesta situação que possuía formação em concreto para lidar com a mesma? Sim. Acho que tive formação suficiente.

13 – Relativamente à pena aplicada à pessoa que o agrediu?

Ele nem compareceu a tribunal. Eu fui lá, como já disse, e para meu espanto quando cheguei lá foi-me dito que o processo iria ser arquivado por falta de desejar procedimento criminal. Mas no expediente estava lá que eu queria procedimento criminal contra o indivíduo, logo acho que ninguém leu o expediente que fizemos. Também no arquivamento dizia que o polícia tinha que estar habituado a conviver com a violência mas

87 isso é falso. Ninguém deve ser obrigado a conviver com a violência, nem os polícias, para mim este pensamento é completamento errado.

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