• Nenhum resultado encontrado

Instrumentos de recolha de informação

PARTE II METODOLOGIA

4.2 Métodos e técnicas de recolha de informação

4.2.2 Instrumentos de recolha de informação

A fim de atingir os objectivos inicialmente propostos para a realização deste trabalho utilizaram-se a recolha documental e as entrevistas.

Numa primeira fase, procedeu-se à recolha de autos de notícia por detenção resultantes de agressões, verbais ou físicas, contra elementos policiais.

Os autos de notícia por detenção são o expediente que é elaborado aquando uma detenção. Cada vez que elementos da PSP detêm um indivíduo têm que elaborar um auto no qual irá relatado, de modo global, a identificação do elemento policial responsável pela detenção, a data e local da ocorrência, o local onde o(s) suspeito(s) foram interceptados e por quem, a identificação do(s) suspeito(s) e das testemunhas se as mesmas existirem, bem como a descrição dos factos ocorridos. Estes autos são produzidos pelo elemento policial autuante, que será o responsável pela detenção/detenções efectuada(s). A elaboração dos

24 mesmos é realizada na ferramenta informática utilizada na PSP, o SEI, e constitui uma peça chave para iniciar o procedimento criminal, na medida em que o mesmo tem início com a formalização da detenção através do auto de notícia por detenção.

Com o objectivo de continuar a recolha de informação e de aprofundar a compreensão do fenómeno em causa, procedeu-se ao uso das entrevistas (Anexo III a VIII). Apesar da entrevista tratar-se, essencialmente, de um instrumento de recolha de informação, a mesma não se pode ver apenas como um simples diálogo entre dois lados, mas sim, um diálogo sério entre duas pessoas com um propósito específico (Benjamin, 1985 cit. in Pereira, 2009), em que o investigador não é indiferente, na medida em que é a qualidade da relação entre entrevistador e entrevistados que se estabelece como decisiva para o evoluir da própria narrativa (De Carvalho, 2001 cit. in Pereira, 2008). Entrevistar assenta numa recolha séria de informação, organizada e descriminada em função de categorias pertinentes tendo em conta o que se pretende investigar.

As entrevistas podem ser classificadas segundos dois pressupostos: quanto ao seu grau de directividade e de estruturação (Fontana & Frey, 1994; Ghiglione & Matalon, 1992, cit. in Pereira, 2008). Relativamente ao primeiro, o mesmo pode ramificar-se em três tipos de entrevistas: não-directivas ou livres, semi-directivas, as quais fazem uso de um esquema de base ou grelha de perguntas, mas em que não existe uma ordem rigorosa de as colocar, sendo estas as utilizadas neste trabalho, e as directivas e estandardizadas. No que diz respeito ao segundo pressuposto, as entrevistas podem distinguir-se em entrevistas estruturadas e não estruturadas ou semi-estruturadas (Burgess, 2001, cit. in Pereira). As entrevistas não estruturadas ou semi-estruturadas, as utilizadas no estudo, baseiam-se num tipo de conversa informal, que se desenvolve num tom algo “amigável”, o qual utiliza uma série de temas e tópicos em torno dos quais se constituem as questões no decurso da conversa. Esta estratégia permite às pessoas que dão a informação uma oportunidade para desenvolver as suas respostas fora de um formato demasiado rígido e estruturado (Burgess, 2001:112, cit. in Pereira, 2008).

Deste modo, as entrevistas realizadas neste estudo tiveram um carácter semi- directivo e semi-estruturado, na medida em que, relativamente ao primeiro ponto, as perguntas ainda que obedecendo a uma ordem pré-estabelecida, não tinham que ser sempre rigorosamente colocadas dessa maneira, considerando a resistência dos entrevistados e de modo a promover o seu maior envolvimento e interacção, sendo-lhes concedida alguma liberdade no tempo e na forma como cada um respondia. Semi-estruturado porque apesar

25 das perguntas estarem pré-definidas, os guiões compuseram-se de perguntas fechadas e abertas.

Ao longo das entrevistas permitiu-se aos entrevistados que estivessem numa posição confortável para que pudessem expor e transmitir as suas ideias e convicções sobre a situação em causa, e sobre o que lhes era perguntado, respeitando sempre a pessoa entrevistada, bem como protegendo a sua identidade.

Realizaram-se com este propósito 6 entrevistas, 5 das quais a elementos policiais da Divisão de Loures, agora a prestar serviço na esquadra de Sacavém, que foram agredidos durante os anos de 2008 e 2009. O processo de escolha dos 5 elementos foi realizado tendo em conta que a primeira fase do estágio prático de Aspirantes se realizou na Esquadra de Sacavém, conferindo uma maior facilidade e disponibilidade para que as entrevistas fossem realizadas. A última realizou-se ao Sr. Comandante da Área Operacional da Divisão, com o intuito de obter testemunhos de alguém de um escalão superior, que desempenhasse menor actividade no terreno, que nunca tivesse sido agredido, e comparar as suas respostas ao relatado pelos polícias que já foram vítimas de agressões, verbais ou físicas. As entrevistas foram realizadas com o objectivo de recolher e clarificarinformação que não foi possível obter através da visualização de expediente.

Através da realização das entrevistas pretendeu-se recriar a situação de modo a compreender a actuação dos elementos policiais, bem como toda a situação em concreto, pretendendo também perceber se a actuação policial poderia, por algum motivo, ter sido a responsável pelo desencadear da violência nas ocorrências em apreciação (Toch, 1992).

O propósito das entrevistas centrou-se também na compreensão da actuação da Instituição e da hierarquia após o facto ter ocorrido, relativamente ao apoio dado ao elemento policial após ter sido agredido, quer a nível psicológico, financeiro ou jurídico, quando necessário, e quais os danos que resultaram para o polícia agredido, a nível físico, psicológico, financeiro ou jurídico.

Outro objectivo foi a recolha de dados sobre as estratégias de prevenção da violência contra polícias, a nível jurídico (penas e medidas de coacção aplicadas e sua eficácia relativa), organizacional (medidas preventivas tomadas perante possíveis situações violentas), situacionais (normas e procedimentos de intervenção) e sociais (desenvolvimento de actividades entre a PSP e a comunidade). Ou seja, perceber que medidas eram tomadas para evitar futuras agressões a estes 4 níveis diferentes.

26

Documentos relacionados