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Parte II – Estudo Empírico

3. Processo e instrumentos de recolha de dados

3.2. Entrevista

A entrevista como processo de recolha de informação, é uma das estratégias possíveis da investigação qualitativa. A finalidade desta técnica “consiste, em última instância, na recolha de dados de opinião que permitam não só fornecer pistas para a caracterização do processo em estudo, como também conhecer, sob alguns aspectos, os intervenientes do processo” (Estrela, 1994:342).

De entre os diversos tipos de entrevista, a semi-estruturada (Bogdan e Biklen, 1994) ou semi-directiva (Ghiglione e Matalon, 2005), pareceu-nos a mais adequada face aos objectivos e natureza qualitativa do nosso estudo.

Neste nosso estudo optámos pela entrevista semi-directiva de natureza exploratória, mas já visando uma compreensão com algum aprofundamento. Com ela pretendemos em termos gerais e antes das observações directas, recolher a informação sobre a forma como a docente entrevistada percepciona as AT, o modo como as implementa na sua prática pedagógica quotidiana e quais as intenções e concepções que lhe estão subjacentes. Em suma, pretendemos recolher dados sobre as práticas e representações da entrevistada, face ao nosso objecto de estudo.

Segundo Bogdan e Biklen (1994:134):

“em investigação qualitativa, as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas. Podem constituir a estratégia dominante para a recolha de dados ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas. Em

todas as situações, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”.

Também Ghiglione e Matalon (2005), analisando as características dos diferentes tipos de entrevista, frisam que quando pretendemos aprofundar um determinado domínio, ou verificar a evolução de um já conhecido, a entrevista semi-directiva é a técnica mais adequada, pois apesar de ter um “esquema de entrevista” não deixa de conferir alguma liberdade quanto à ordem pela qual se abordam os diferentes temas do esquema. Este apresenta-se apenas como estruturante, servindo como “um quadro de referência” para o entrevistador.

A esta ideia, Bogdan e Biklen (1994:135) acrescentam que, embora exista um guião prévio, a flexibilidade quanto à ordem e abordagem dos temas deve permitir-nos “levantar uma série de tópicos” e proporcionar ao entrevistado oportunidades de “moldar o seu conteúdo”. Ou seja, este tipo de entrevista, muito utilizado em Ciências da Educação, permite explorar a compreensão dos fenómenos, sem contudo, deixar de ter um fio condutor, sem o qual a entrevista poderia conduzir a temas que não fossem pertinentes para a investigação, levando-nos a perder tempo com assuntos não úteis. Por outro lado, dá uma certa margem de liberdade aos entrevistados de poderem falar de uma forma mais aberta e espontânea sobre os temas abordados, devendo o investigador assumir uma atitude neutra sobre os mesmos, evitando “dirigir” e/ou interromper os raciocínios e encadeamentos do sujeito.

No sentido de maximizar a neutralidade deste processo, bem como a consistência das conclusões, como entrevistador, tentámos apenas centrarmo-nos no discurso do entrevistado, ajudando-o a recuperar a sua ideia, sempre que necessário, ou a clarificar e a orientar o sujeito para as temáticas.

Sintetizando, foi nosso propósito não influenciar, nem intimidar a entrevistada, procurando que a entrevista se desenrolasse de forma natural, num ambiente de descontracção, contudo, sem que o entrevistador perdesse o controlo da situação, conforme preconiza Estrela (1994).

Esta entrevista foi realizada seguindo um guião construído a partir da proposta estruturante de Estrela (1994:343).

Na elaboração deste guião foram definidos os seguintes objectivos gerais e específicos: conhecer a relação da entrevistada com as AT; recolher informação sobre o modo como funciona a AT, na sua turma; conhecer a importância que a entrevistada dá à comunicação dos alunos durante as AT; recolher informação

sobre o contributo das AT, na melhoria do clima relacional na turma e recolher informação sobre o modo de actuação da docente, nas AT, na procura de soluções para um problema/conflito.

Foram também definidos os blocos temáticos e um formulário de possíveis questões que pretendíamos que a entrevistada abordasse (Anexo 1.1).

Definiram-se, então, quatro blocos temáticos, expressos em letras de A a D. No bloco A – Legitimação da entrevista, motivação da entrevistada e garantia de confidencialidade. Pressupõe-se, nesta fase, o esclarecimento da entrevistada acerca dos propósitos da investigação e da importância da sua colaboração, assim como a garantia da confidencialidade das suas informações e do seu anonimato. Pretendeu-se, também, criar um ambiente que motivasse o diálogo, de modo a colocar a entrevistada à vontade.

No bloco B – Caracterização do percurso académico e profissional da docente entrevistada. Aqui, tivemos como intenção conhecer um pouco melhor o percurso académico e profissional da entrevistada. Pretendia-se que a entrevistada relatasse experiências pedagógicas vivênciadas, especificando as mais significativas.

No bloco C – Percepção da professora, face ao papel das Assembleias de Turma, no processo ensino/aprendizagem. Aqui, a nossa preocupação foi compreender o pensamento da docente sobre a matéria em estudo, tendo como referência as suas percepções e modo de actuação face ao objecto de estudo. Pretendemos também, levar a entrevistada a explicitar a sua opinião sobre os principais efeitos/resultados, na turma, após a implementação das Assembleias de Turma.

No bloco D – Fecho e validação da entrevista, advertimos a entrevistada para outras considerações que julgasse convenientes e oferecemos disponibilidade para esclarecimentos ou dúvidas da parte dela. Este bloco, Inclui também, o agradecimento da colaboração prestada pela docente.

Esta entrevista foi realizada de acordo com a disponibilidade de tempo da docente da turma, no dia 30 de Novembro de 2006, após terminada a aula, num ambiente calmo e sem interrupções e teve a duração aproximada de trinta minutos.

Para melhor captar a totalidade da entrevista usámos um gravador áudio, solicitando previamente, à docente, autorização para a realização da gravação.

Antes e após a entrevista tivemos a preocupação de observar o cumprimento do guião da entrevista.

Num passo seguinte, procedemos à transcrição da entrevista tentando, sermos o mais fiel possível ao discurso da entrevistada.

A partir desta transcrição elaborámos o respectivo protocolo (material empírico de investigação) que também colocámos em anexo. (Anexo 1.2)

Após a elaboração do protocolo procedemos à análise e interpretação dos dados recolhidos fazendo a respectiva “análise de conteúdo”. Os procedimentos utilizados nesta análise serão apresentados por nós no capítulo seguinte: “Apresentação e análise de dados (1 – O olhar da professora sobre as Assembleias de Turma)”

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