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1 NO INTERIOR DE UMA PRÉ-ESCOLA PÚBLICA: Percursos, Dilemas e

1.4 O campo empírico

1.4.4 Entrevistas

Nessa fase dos estudos, foram feitas duas séries de entrevistas individuais e duas coletivas, com as cinco professoras e os dois professores/estagiários e uma série de entrevistas com a diretora, vice-diretora e coordenadora e alguns dos familiares selecionados. As entrevistas com os professores/estagiários tiveram continuidade na Universidade Estadual de Santa Cruz, após o termino do Estágio Supervisionado, enriquecendo esse estudo com informações relevantes.

Sarmento (2003) declara que, na abordagem etnográfica, as entrevistas, associadas à observação participante e à análise de conteúdo dos documentos produzidos pelas instituições, estão relacionadas com os métodos de recolhimento, de análise e de tratamento da informação.

As entrevistas objetivam a verbalização do pensamento e as interpretações sobre os temas. Erickson (1993) enfatiza que elas podem ser um componente da

observação participante e que as relações de poder que envolvem o investigador e os sujeitos não podem ser desconsideradas.

André (1999) e Sarmento (2003) comungam com essas afirmações quando afirmam que a entrevista deve permitir a máxima espontaneidade, seguindo devagar os rumos da conversa e percorrendo com atenção os seus espaços de silêncio. As entrevistas podem se constituir em uma oportunidade para os entrevistados apresentarem os seus pontos de vista e de falarem sobre sua vida pessoal e profissional.

Em relação ao espaço onde as entrevistas foram realizadas, nossa intenção inicial era de que uma série delas acontecesse em locais diferentes da Pré-escola Alegria, para que pudéssemos ter mais acesso aos modos de vida dos sujeitos.

Porém, em razão das dificuldades inerentes à própria profissão docente, só foi possível realizar essa segunda série de entrevistas, da forma desejada, com duas professoras - sendo realizadas em suas residências - e com os dois professores/estagiários, no Campus da Universidade Estadual de Santa Cruz. Quanto às outras três professoras, essas entrevistas aconteceram sempre, no próprio ambiente de trabalho.

As entrevistas realizadas nas residências e efetuadas no horário das 18h00 às 20h00, propiciaram a observação do modo de vida dos sujeitos. Oferecendo vários dados para o desenvolvimento desse estudo.

Outros dados foram fornecidos nos momentos dos deslocamentos entre um e outro local de trabalho/estudos em que muitas revelações eram feitas, desde seus conflitos emocionais relacionados aos cônjuges, até seus problemas financeiros, de saúde, assim como os projetos de vida e as “fofocas” do ambiente de trabalho.

Os momentos do lanche e de reuniões de planejamento na Pré-escola Alegria e as conversas informais na UESC se constituíram também, em um tempo “privilegiado” para trocas de experiências e confidências entre pesquisadora e sujeitos da pesquisa.

Na construção das interpretações e explicações, tais interações foram muito importantes, no sentido de compreender as conseqüências dessa inter-relação sobre seus silêncios e suas ênfases. Com certeza, cada um desses lugares e sua combinação complexa refletem as contradições de um processo de pesquisa como

esse, pois revelavam a nossa condição de aprendiz e ao mesmo tempo, de autoridade.

Esclarecemos que os depoimentos das professoras e dos professores/estagiários da Pré-escola Alegria foram transcritos e interpretados, reescritos e recortados. A nossa pretensão era no sentido de que, ao evidenciarmos a nossa subjetividade e as formas de interação que se estabeleceram entre pesquisadora e depoentes, na construção dos documentos etnográficos, facilitássemos a crítica desses documentos e sua inserção na história e nas relações sociais que foram construídas.

Toda a nossa interpretação baseou-se na análise dos questionários, das entrevistas, das observações participantes e dos vídeos, construídos conjuntamente (professoras, professores e crianças) e por essa razão, contém suas vozes e a nossa19. Esses fatos foram vistos como dados da pesquisa, tendo em vista que eles nos ajudavam a captar questões pertinentes ao universo sócio-cultural dos pesquisados, com mais fidelidade do que por meio de outros recursos.

As entrevistas eram gravadas e transcritas sempre o mais rápido possível para não esquecer gestos e expressões, silêncios, emoções e toda uma postura corporal das/os pesquisadas/os que poderiam ter significações expressivas. O conteúdo dessas entrevistas era devolvido para os sujeitos a fim de que

modificassem alguma informação ou incluíssem outros dados, caso desejassem. Nesses momentos, estabelecíamos uma salutar discussão. Os depoimentos

emocionados, momentâneos e confusos (em alguns momentos) das professoras e professores/estagiários, tornam-se o motivo principal para a realização de duas séries de entrevistas.

Para as entrevistas com as famílias das crianças, a seleção foi elaborada de acordo com suas disponibilidades, mas tivemos o cuidado de diversificar a amostra tomando os dados de mães e pais que viviam em união estável; mães/pais que criavam as/os filhas/os sozinhas/os ou com novas/os companheiras/os e avós que eram responsáveis pelas crianças, na tentativa de contemplar a diversidade de composições familiares.

19 Maiores detalhes sobre o processo de construção dos documentos como forma de interação entre pesquisador e

Tais entrevistas foram gravadas no portão da Pré-escola, enquanto os familiares (mães, pais, avós ou tias) aguardavam a saída das crianças e nos momentos que antecediam as reuniões de pais e acontecimentos festivos. Essas entrevistas tinham o propósito de captar como os familiares concebiam o trabalho docente desenvolvido na Pré-escola e compreender as problemáticas que levantavam em relação à Pré-escola e quais seus pontos de vista sobre o tema.

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