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4. RESULTADOS

4.13. Entrevistas compiladas com os profissionais da Saúde

As entrevistas buscaram captar como o processo ocorre atualmente, e como ele poderia acontecer sob uma perspectiva humanizada para os pacientes. Os momentos de cocriação da etapa

enriqueceram as respostas previamente fornecidas pelos participantes. As tabelas abaixo sintetizam, em função das etapas do perioperatório, as informações fornecidas pelo conjunto de participantes da pesquisa:

Tabela 5: Síntese das entrevistas - Pré-operatório

Fluxo

pré-operatório Como ocorre atualmente? Como deveria ser?

Diagnóstico – necessidade de cirurgia

. O encaminhamento para o hospital ou profissional de referência na saúde pública leva muito tempo.

. Encaminhamento de acordo com a necessidade do paciente, e com o nível de urgência de seu procedimento.

Consulta com cirurgião

. Só são fornecidas as informações convenientes para o cirurgião, ou seja, o necessário para realizar o mais rápido possível o procedimento cirúrgico.

. Deveriam ser fornecidas todas as formas de tratamento possíveis, inclusive as que envolvem alternativas não-cirúrgicas.

Casa – preparação para a cirurgia

. O paciente realiza os exames pré- operatórios recomendados.

. O paciente poderia realizar adequações socioeconômicas se recebesse mais informações sobre o procedimento e as possíveis

consequências.

Chegada ao hospital

. Os pacientes muitas vezes ficam perdidos no hospital. Além do nervosismo, a sinalização costuma ser inadequada.

. Os pacientes deveriam ser recepcionados por profissionais com a capacidade de fornecer informações sobre todo o hospital.

Leito – espera para a cirurgia

. É comum não existirem leitos disponíveis, e os pacientes esperarem em condições inadequadas.

. Deveria haver leitos, ou ao menos vagas no ambulatório nos quais os familiares também pudessem acompanhar o paciente.

Transferência para o CC

. O procedimento costuma atrasar devido à falta de maqueiros ou do setup da sala cirúrgica.

. Os procedimentos deveriam começar no horário marcado, minimizando o sofrimento dos pacientes.

Fonte: O autor

Fluxo

transoperatório Como ocorre atualmente? Como deveria ser?

Chegada no CC . São realizados protocolos de segurança.

. Deveria ser dada mais importância aos sentimentos dos pacientes e as suas necessidades individuais.

Tabela 6: Síntese das entrevistas - Transoperatório

Fonte: O autor

Tabela 7: Síntese das entrevistas - Pós-operatório

Fluxo pós-operatório Como ocorre atualmente? Como deveria ser?

SRPA . O paciente é acompanhado por

profissionais de enfermagem.

. O paciente deveria ser acompanhado por um anestesista, e toda a equipe deve estar apta a lidar com as deficiências psicomotoras consequentes do processo anestésico.

Espera pelo procedimento . A espera ocorre nos corredores ou na

SRPA.

. Deveria haver um espaço específico para a espera, ou, preferencialmente, não haver espera nenhuma, e o paciente ser transferido direto para a sala cirúrgica.

Chegada à sala de cirurgia . O paciente não é o foco da comunicação, e

seus anseios acabam sendo negligenciados.

. O paciente deveria chegar anestesiado, o que reduziria a vivência de momentos potencialmente traumáticos.

Processo cirúrgico . Ocorrem alguns checklists de segurança.

. Os profissionais deveriam se preocupar com a prevenção de eventos adversos, como dores causadas por problemas de postura do paciente, dentre outros.

UTI

. Os pacientes são acompanhados de perto pela equipe de enfermagem, e recebem visitas esporádicas de médicos.

. A equipe prestadora de cuidado deveria valorizar as dimensões subjetivas dos pacientes

Leito

. Os pacientes são acompanhados de perto pela equipe de enfermagem, e recebem visitas esporádicas de médicos.

. Deveriam ser fornecidas informações sobre autocuidado e saúde preventiva.

Alta/encaminhamento

. A alta muitas vezes é dada de maneira “acelerada”, buscando a liberação de leitos. . São dadas orientações sobre os próximos passos do tratamento médico.

. O paciente deveria ser encaminhado para instituições aptas a prestar apoio psicossocial. . Caso ajam terapias complementares que possam contribuir com o tratamento, as mesmas devem ser informadas para o paciente.

Acompanhamento/ Reabilitação

. A infraestrutura do Estado do Rio de Janeiro para serviços de reabilitação é precária. Existem alguns poucos centros de referência públicos, além de clínicas privadas.

. O paciente deveria ser capaz de realizar as atividades de reabilitação propostas dentro do horizonte de tempo recomendado, além de ter acesso aos materiais e equipamentos necessários.

Reintegração social . Não existe proposta para reintegração

social.

. Os benefícios e o tratamento deveriam ser mantidos pelo tempo necessário.

Fonte: O autor

Outro fator que contribuiu para o enriquecimento da pesquisa foi que diversos profissionais entrevistados já haviam sido submetidos a procedimentos cirúrgicos, e, mesmo sendo da área da saúde, relataram temores e anseios que não foram compreendidos no momento. Abaixo serão apresentados alguns relatos dos profissionais entrevistados já submetidos a procedimentos cirúrgicos:

Realizo cirurgias há mais de 25 anos, mas quando fui transferido como paciente para o centro cirúrgico eu senti as coisas de uma forma completamente diferente. Eu me lembro do teto do elevador e do corredor, do frio e da sensação de impotência perante a situação. (Cirurgião – 5)

Quando eu acordei na sala de repouso pós-anestésico eu estava completamente desnorteado. Havia uma pessoa gemendo de dor ao meu lado, as luzes estavam intensas e eu não sabia onde estava. Foi uma experiência terrível. (Enfermeiro - 3)

Fui tratada de maneira completamente impessoal. Nenhum profissional do centro cirúrgico se apresentou pelo nome, nem me perguntou se eu precisava de alguma coisa. Fui deixada no corredor até a chegada do cirurgião. (Técnico de enfermagem – 1)

Apesar das instalações e os equipamentos serem de ótima qualidade, me questiono se os profissionais, exceto as enfermeiras, que participaram do meu transoperatório estavam exercendo sua função corretamente. Não recebi visita pré-anestésica, o cirurgião em nenhum momento se dirigiu a mim e os técnicos de enfermagem tiveram dificuldade de realizar o acesso venoso. (Anestesista – 3)