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Capítulo II – O projeto de investigação no contexto da Prática Supervisionada em Educação Pré

5. Metodologia

5.3. Instrumentos e técnicas de recolha de dados

5.3.2. Entrevistas

A entrevista é considerada uma técnica de pesquisa, muito comum na educação. Esta técnica constitui uma conversa intencional, que ocorre entre duas ou mais pessoas, dirigida por um investigador, que tem como principal objetivo obter informações sobre o ponto de vista do outro. (Máximo-Esteves, 2008:92/93)

Neste tipo de interação, recolhe-se essencialmente informação oral, sendo esta reformulada ou ajustada consoante o desenvolvimento da interação. Todavia a validação da informação transmitida oralmente pode também apoiar-se na comunicação não-verbal. “A entrevista é possivelmente o método e/ou técnica de investigação qualitativa mais vulgar e antiga para obter informação das pessoas em todas as situações práticas (os métodos de recolha de dados classificam-se em função do seu carácter directo ou moderadamente indirectos” (Fontana & Frey, 1994, citados por Candeias, 1996:21)

Deste modo, o género de entrevista que consideramos mais adequada para o nosso estudo foi a entrevista semiestruturada, na medida em que esta se caracteriza pela existência de um guião que orienta o desenvolvimento da mesma, onde constam os objetivos delineados. Este tipo de entrevista permite a flexibilização das questões, isto é, ao longo da interação, o investigador adequa as questões consoante o discurso do entrevistado.

a criança interprete as questões de acordo com aquilo que se pretende, sendo que as “questões deverão ser pertinentes e relevantes relativamente à experiência social e emocional da criança, bem como ao seu contexto familiar e cultural” (Scott, 2000, citado por Oliveira-Formosinho, 2008).

Todavia, apesar de muitos autores defenderem que as entrevistas devem ser feitas a pares ou em pequenos grupos “pois para além de esbater a relação de poder entre criança e adulto (Brooker, 2001), este é um formato que a criança conhece e com o qual se sente, normalmente, confortável, podendo ainda minimizar alguma inibição” (Oliveira-Formosinho, 2008), no nosso estudo as crianças foram entrevistadas individualmente, pois consideramos que pelo facto de se encontrarem outras crianças presentes, poderia influenciar as respostas das mesmas. Realçamos, contudo, o anterior contacto com as crianças decorrente da realização do estágio junto do grupo. A observação constitui uma técnica de investigação que complementa a entrevista semiestruturada, pois segundo Máximo-Esteves (2008:87) “a observação permite o conhecimento directo dos fenómenos tal como eles acontecem num determinado contexto”. Para que a observação seja de qualidade é necessário treiná-la através da prática, para isso o investigador tem que se concentrar e focar nas questões que formula, e na forma como regista a informação.

Num primeiro momento, foi realizada uma entrevista semiestruturada à educadora responsável pelo grupo. Esta tinha como objetivo identificar a opinião que a educadora possuía acerca da importância do desenho na idade pré-escolar; o motivo pelo qual planifica atividades de expressão plástica; verificar se as crianças comunicam através do desenho conhecimentos trabalhados e por último se são da opinião de que o desenho contribui para a interiorização dos conhecimentos transmitidos, mas também perceber qual a funcionalidade que o desenho tem por parte das crianças.

A entrevista realizada à educadora foi gravada com uma câmara de filmar, num local exterior à sala de atividades, sendo, posteriormente ouvida e registada num processador de texto (Word).

A sala em que decorreu a entrevista à educadora cooperante é um espaço acolhedor que favorece a comunicação. Esta ocorreu de forma bastante agradável, havendo sempre uma grande empatia, cumplicidade, aproximação e cooperação, em parte resultante da interação já estabelecida enquanto estagiária.

Guião de entrevista à Educadora Cooperante

Tabela 3 – Guião de entrevista realizada à Educadora Cooperante

Categoria Objetivos específicos Questões Relação entre o

entrevistador e o entrevistado

- Justificar a entrevista e motivar o entrevistado.

- Agradecimento da disponibilidade para a elaboração da entrevista;

- Explicitação dos objetivos da entrevista;

Papel/ valorização do desenho na programação das

atividades

- Promover o desenho como atividade orientada na sala de

atividades.

- Considera importante a promoção do desenho como atividade orientada na sala de atividades?

- Planificar a atividade de desenhar como qualquer outra

atividade.

- Quando elabora as planificações (mensais, semanais e diárias) tem a preocupação de integrar o desenho como atividade?

Desenho e desenvolvimento

da criança

- Favorecer o desenvolvimento

da criança através do desenho. - Na sua opinião, qual o contributo do desenho para o desenvolvimento das crianças?

Etapas do desenho infantil

- Reconhecer dados identificadores das etapas do

desenho infantil.

- Conhece dados identificadores das etapas do desenho infantil?

Desenho livre ou orientado como complemente das

áreas das OCEPE

- Reconhecer se a Educadora recorre ao desenho como atividade orientada ou livre

nas diferentes áreas de conteúdo.

- Recorre ao desenho como atividade orientada ou livre?

- Utiliza o desenho como complemento das atividades de outras áreas de conteúdo (comunicação e expressão, conhecimento do mundo e a formação pessoal e social)?

Utilização do desenho como

suporte de aprendizagem

- Identificar o motivo pelo qual

a Educadora usa o desenho. - Utiliza o desenho como suporte de aprendizagem?

Representação gráfica e comunicação

- Identificar o motivo pelo qual as crianças se expressam por

meio do desenho.

- Como é usado o desenho dentro da sua sala por parte das crianças? O que desenham as crianças, maioritariamente?

- Sente que as crianças se empenham nas

atividades relacionadas com o

desenho/expressão gráfica?

As entrevistas realizadas às crianças intervenientes neste estudo foram realizadas na sala de atividades “As abelhinhas”. Estas foram realizadas uma a uma, de forma aleatória, sendo que no momento em que as mesmas decorreram apenas se encontravam na sala de atividades a entrevistadora e a criança entrevistada.

As entrevistas tiveram como objetivo primordial perceber e identificar o que as crianças sabem sobre a importância do desenho, o local onde costumam desenhar, identificar os motivos que as levam a realizar registos gráficos e qual a sua opinião sobre a importância do desenho.

Apesar da maior parte das entrevistas ter decorrido de forma natural, duas crianças entrevistadas mostraram-se um pouco inibidas, tendo que a entrevistadora promover um clima afetivo, sentando-as no colo, para que a entrevista pudesse

entrevistadas em questão, responderam de forma inibida, acenando muitas vezes afirmativamente ou negativamente, consoante a questão.

Tal como na entrevista realizada à educadora cooperante responsável, também as entrevistas às crianças foram gravadas a partir de uma camara de filmar, sendo, num momento posterior ouvida e registada num processador de texto (Word), conforme o original registado.

Guião de entrevista às crianças participantes no estudo

Tabela 4 - Guião de entrevista realizada às crianças participantes no estudo

Categoria Objetivos específicos Questões Justificação da

entrevista e motivação

- Justificar a entrevista e motivar o entrevistado.

- Desenvolver um clima de confiança e empatia com o entrevistado.

Importância do desenho e significado

- Reconhecer a utilidade do

desenho. - Achas que é importante desenhar? Porquê?

Espaços e Materiais

- Reconhecer se as crianças

gostam de desenhar. - Gostas de desenhar?

- Identificar os locais onde a criança realiza os seus

desenhos.

- Quando é que costumas desenhar? - Costumas ter mais vontade de desenhar, onde? Na escola, em casa ou noutro local?

Porquê? - Reconhecer instrumentos e

materiais para a consecução dos desenhos.

- O que é que precisas para fazer um desenho?

- Identificar as razões por que desenha.

- O que é que gostas mais de desenhar? - Quando desenhas na escola, fazes o que te

apetece ou o que a Educadora pede? - Identificar os estados de

espírito da criança quando desenha.

- Quando é que gostas mais de desenhar (nunca, sempre, quando estás triste, contente, pensativo, te sentes sozinho, ou

sem nada para fazer, …)?

Incentivo da família

- Identificar se a família incentiva a realização do

desenho da criança.

- A tua família pede para fazeres desenhos? - Identificar se a família

reconhece a importância da expressão gráfica da criança.

- Costumam fazer comentários a propósito dos teus desenhos?

- Reconhecer se a família valoriza a expressão gráfica da

criança.

- Onde é que os teus pais guardam os teus desenhos?

5.3.3. Registo áudio e fotográfico das crianças

Ao recorrermos ao registo áudio e fotográfico tivemos como principal objetivo, destacar a importância da linguagem e verbalizações das crianças aquando o momento das representações gráficas, visto que “a linguagem é, pois, fundamental, é um importante instrumento para a constituição e a interpretação do desenho, uma vez que a percepção e a produção gráfica das crianças são configuradas pelos significados culturalmente produzidos.” (Ferreira, 1998:12)

Este tipo de registos permitiu-nos, no decorrer das produções gráficas, registar através de fotografias e vídeos situações e atitudes das crianças, mas também que enquanto investigadores complementássemos a nossa observação. Segundo Máximo- Esteves (2008:91) a finalidade dos registos fotográficos e áudios é que “contenham informação visual disponível para mais tarde (…) serem analisadas e reanalisadas”. Para esta autora, outra finalidade consiste na forma como as “coisas” acontecem, este meio constituirá um complemento à nossa observação. “As fotografias alteram e ampliam nossas noções daquilo que vale à pena olhar e daquilo que temos o direito de observar”, tal como refere Sontag (2008:13).

Todas as sessões realizadas foram filmadas, para uma posterior observação e análise.

5.3.4. Representações gráficas das crianças

“É preciso olhar toda a vida com os olhos das crianças” (Henri Matisse, 1953) As crianças têm um papel ativo na nossa investigação, pois serão solicitadas, frequentemente, para realizarem diversas representações gráficas, consoante os temas e conteúdos a desenvolver durante o projeto. “A análise dos artefactos produzidos pelas crianças é indispensável quando o foco da investigação se concentra na aprendizagem dos alunos” (Máximo-Esteves, 2008:92)

Segundo as OCEPE (1997:69), “o desenho de um objecto pode substituir uma palavra, uma série de desenhos permite «narrar» uma história ou representar os momentos de um acontecimento”. Desenhar é sempre uma forma de registar, de explicar, de contar, enfim, de comunicar graficamente algo que poderiam, também, na maior parte dos casos ser comunicadas com palavras, com letras, com gestos, ou com sons (Coquet, 2003).

As atividades desenvolvidas com as oito crianças intervenientes, posteriormente designadas de sessões de intervenção, foram realizadas na primeira quinzena de julho (desde o dia 1 a 16 de julho) de 2014. Durante a realização das representações gráficas das crianças relativas a cada uma das histórias ouvidas, foram disponibilizadas folhas de papel manteiga A3, duas caixas com doze lápis de cera cada, duas caixas com doze lápis de cor e duas caixas com vinte e quatro canetas de

5.3.5. Questionários

Para Freixo (2009:191) “(...) o questionário é o instrumento mais usado para a recolha de informação, constituindo um dos instrumentos de colheita de dados que necessita das respostas escritas por parte dos sujeitos, sendo constituído por um conjunto de enunciados ou de questões que permitem avaliar as atitudes e opiniões dos sujeitos ou colher qualquer outra informação junto desses mesmos sujeitos.”

Os questionários, realizados aos encarregados de educação das crianças intervenientes neste estudo constituíram uma ferramenta essencial para conhecermos o contexto familiar de cada uma das crianças. A partir da realização destes foi possível percecionar a opinião dos encarregados de educação, no sentido de apurar o que depreendiam acerca do desenho e da importância que o mesmo poderá ter para o desenvolvimento, dos seus educandos, nas mais diversas vertentes. Citando Freixo (2009:197) “O investigador utiliza o questionário com o intuito de obter informações que lhe permita confirmar ou infirmar uma ou várias hipóteses de investigação.”

Para este estudo construímos um questionário (apêndice E) com oito perguntas de resposta aberta, sendo que uma primeira parte é referente à contextualização e caracterização do encarregado de educação (nome; grau de parentesco; nacionalidade; idade; profissão; habilitações literárias), e uma segunda parte onde se apresentaram as questões relativas à temática em estudo.

No documento O desenho infantil na educação pré-escolar (páginas 116-121)