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2 TRAJETÓRIA DA PESQUISA: ORIENTAÇÃO E ANCORADOURO

2.3 O processo de produção e análise dos dados

2.3.2 Entrevistas

Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito, mas não há os que deixam nada. (ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY)

Como instrumento fundamental de produção de dados para este estudo, foi realizada a entrevista, uma vez que esta abrange a forma de interação social e é a técnica mais utilizada em pesquisas no campo das Ciências Sociais, pois possibilita o alcance de dados sobre os mais diversos aspectos da vida social e do comportamento humano. Gil (2008) caracteriza esta técnica por sua flexibilidade e viabilidade em produzir os dados em profundidade. É atribuído à entrevista o “valor semelhante ao tubo de ensaio na Química e ao microscópio na Microbiologia” (GIL, 2008, p. 109).

Reconhecendo a existência de vários tipos de entrevista, foi escolhida a semi-estruturada, considerando a necessidade de utilização de um instrumento que seja mais coerente com a abordagem qualitativa deste estudo, destacando que este instrumento privilegia a participação dos sujeitos fundamentais para a pesquisa. Triviños (2012) entende a entrevista semi- estruturada como um instrumento que “[...] parte de questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas...” (TRIVIÑOS, 2012, p. 146).

Outra referência teórica para a produção das entrevistas e da análise e interpretação dos dados, juntamente com Bardin (2011), entre outros autores que escrevem sobre o assunto, é a obra da autora Guerra (2012),

“Pesquisa qualitativa e Análise de conteúdo: Sentidos e formas de uso”. Esse texto oferece questões extremamente significativas para pensar sobre os procedimentos de construção da pesquisa, sobre quem e quantos interrogar, e como construir o que ela nomeia de “guião”, ou seja, o roteiro de questões a ser utilizado em uma entrevista (sugere que esta seja uma conversa informal e fluida). É importante que este seja construído conforme os objetivos que partem da problematização da pesquisa (GUERRA, 2011).

O procedimento de contato com as pedagogas aconteceu inicialmente via email, no qual a pesquisa foi apresentada e realizada uma sensibilização e houve convite para a participação no estudo. Com o retorno de alguns emails, foi feito então o agendamento prévio dos encontros. Foram realizados também contatos telefônicos com cada interlocutora, para uma melhor aproximação, atribuindo qualidade para as comunicações. Cada entrevista foi agendada com uma semana de antecedência e conforme as disponibilidades dos sujeitos. Os encontros aconteceram nos campi em que cada participante trabalha, sendo que uma das entrevistas aconteceu em um “Café”, estabelecimento comercial da cidade de Santa Maria.

As interações aconteceram com facilidade, em uma relação de confiança entre os sujeitos, pois se percebeu que, na maioria dos casos, as pedagogas aguardavam ansiosas para as conversas, pois reconheciam o valor do estudo para o próprio trabalho na Instituição e oportunidade de falar sobre si, dando a impressão de uma espécie de “desabafo”. Tal aspecto está registrado nos discursos (escritos via email e verbalmente) e na maneira como preparam os ambientes para a realização das interlocuções, reservando espaços com boas condições para as conversas, isolados e livres de barulhos.

Cada conversa aconteceu mediada por um roteiro específico (APÊNDICE D), elaborado anteriormente pela pesquisadora, sendo que foi procurado fazer o mínimo de intervenções e/ou interrupções durante as falas, sendo preservada neutralidade e confidencialidade por parte da entrevistadora. Atentando para o que Guerra (2012) aponta como importante no processo de interação que acontecem durante entrevistas, é preciso:

[...] assumir como pressuposto dessa postura metodológica que estamos perante sujeitos racionais (entrevistador, mas também entrevistado), sendo que ambos dão sentido à sua acção e, de forma aberta e transparente, definem o objetivo dessa interação: um pretende colher informações sobre

percursos e modos de vida sobre os quais o outro é um informador privilegiado pelo fenômeno social que viveu. (GUERRA, p. 22, 2012)

Para garantir a legitimidade neste processo, resguardando-nos sob princípios éticos, as conversas iniciaram com a leitura de um material sucinto com informações sobre as finalidades e objetivo da pesquisa e assinatura do Termo de confidencialidade e Termo de consentimento livre esclarecido, como forma de garantia de proteção das fontes da pesquisa.

O tempo de duração das conversas não foi estabelecido previamente, o que na totalidade das interlocuções gerou diferenças interessantes na duração de cada interlocução, variando de 15 a 32 minutos, as entrevistas mais curtas e as mais extensas durando de 50 até 70 minutos. Para todas, foi utilizado o aplicativo de “gravação de voz” de um aparelho de celular. Posteriormente à realização de cada entrevista, aconteceu o processo de transcrição pela própria pesquisadora, sem a utilização de nenhum aparelho computacional. Esta atitude é avaliada como significativa para o processo de realização do estudo, pois possibilitou um movimento de revisão dos discursos realizados, implicando deste então uma pré-análise dos mesmos, o que facilitou os procedimentos posteriores no tratamento dos dados produzidos durante as interlocuções.

É importante destacar que os questionamentos realizados nas entrevistas foram organizados sob os seguintes eixos: Pedagogia e formação

profissional, Ser pedagoga e Trabalho, Trabalho de pedagoga e as políticas públicas de Educação Profissional e Tecnológica. Intencionava-se conhecer

sobre o processo de formação profissional, o trabalho antes de ingressar no IF Farroupilha e o trabalho após o ingresso no IF Farroupilha, considerando estes como elementos importantes para responder à pergunta central deste estudo. É extremamente importante considerar que tais eixos estão interpelados pelos aspectos abordados na revisão bibliográfica, sendo: “Uma análise sobre a Pedagogia”; “O(a) Pedagogo(a) e seu trabalho”, “A relação entre educação e trabalho: um contexto de contradições e a aproximação com a Educação Profissional, “A atualidade das políticas públicas de educação profissional: sob uma nova institucionalidade”.

Desta maneira, é relevante que as pedagogas interlocutoras nesta pesquisa descrevessem espontânea e livremente sobre seus pensamentos e experiências dentro do foco de estudo da pesquisa. Uma vez que está no âmbito desta, além de uma produção epistemológica, também uma construção política, a partir da compreensão crítica e revelação dos discursos destas trabalhadoras sobre como cada uma conjuga o seu “saber do saber-fazer” e o “saber do como fazer-saber”, pois, como retrata Fabre (2004) em um texto sobre as definições de Pedagogia e os saberes pedagógicos dos pedagogos:

Cada um conta, assim, a seu modo e em seu próprio estilo sua história pedagógica, descreve com maior ou menor orgulho, ou contrição, as fidelidades que balizam sua evolução, os êxitos ou fracassos que a sublinham. [...] Ler o relato de uma experiência pedagógica é poder colocar-se no lugar do pedagogo (compreensão), é solicitar explicações (sobre o contexto, por exemplo, quando ele está afastado demais do nosso), enfim, é deixar-se interpelar por ele. (FABRE, 2004, p. 110 e 111)

Assim, a realização das entrevistas demarcou cronologicamente um lugar de extrema importância para o trabalho de pesquisa. É reconhecido que o diálogo pressupõe relação entre duas ou mais subjetividades, esta dimensão da interação entre sujeitos foi fundamental no movimento de construção intelectual e social da pesquisa. A busca pela escuta de cada pedagoga possibilitou uma experiência extremamente relevante, mediada pela visualização das diferentes paisagens, das diferentes estradas percorridas para encontrar cada interlocutora, considerando as diferentes micro-regiões do estado, local de cada campus do IFFarroupilha. Foi possível estar, mesmo que por pouco tempo, em cada diferente município, mas tempo suficiente para reconhecer que cada lugar possui a sua história em particular, mediada por relações sociais, culturais e políticas. Observou-se, nos discursos produzidos durante as entrevistas, que estas relações e a historicidade de cada lugar estão imbricadas também na maneira como se constituiu cada campus.

2.3.3 Técnica de análise dos dados: Análise de Conteúdo sob o amparo da