Nas entrevistas com as professoras foram abordados os
seguintes aspectos:
1- Recebimento ou não de orientação vinda da Secretaria Municipal de
Educação a respeito de trabalho em grupo
2- Concepção de trabalho em grupo
3- Critérios para trabalho em grupo
4- Contribuições do trabalho em grupo para a alfabetização
5- Dificuldades para implementação de trabalho em grupo
6- Viabilidade da orientação para trabalho em grupo.
7- Justificativas para a não implementação de trabalho em grupo
8- Concepção do papel do professor na dinâmica de trabalho em grupo.
Durante as entrevistas, oito professoras afirmaram terem
recebido orientações para trabalho em grupo vindas da secretaria, sendo
que cinco delas de forma direta nos cursos de capacitação e duas por
intermédio da coordenadora da própria escola. A oitava professora
recebeu pelas duas vias e uma outra afirma não ter recebido orientação
alguma sobre esse tema, porém, teve contato com essa prática em seu
curso de formação pedagógica, informação também relatada por uma
das cinco professoras que receberam orientação apenas diretamente da
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“Nós tivemos, sim e até hoje continua tendo. Porque a proposta
pedagógica é que se trabalhe em grupo na sala de aula”.
“Essa proposta vem de cima. Da secretaria”.
A respeito da atuação da Secretaria, além da falta de
continuidade, ou de um acompanhamento mais incisivo e comprometido
do órgão público com relação às propostas e orientações sob sua
coordenação, alguns depoimentos das professoras revelam uma
situação de desconforto frente à atuação da Secretaria quanto ao apoio
que esperam:
“No ano passado a gente aplicou muitas coisas e a Secretaria este
ano não continuou com este respaldo com a gente”.
Outros relatos demonstram a descontinuidade das
orientações por parte da Secretaria, quando afirmam que:
“Cada apresentação é um tema aí você ficou um pouco perdido”.
“Os trabalhos que nós estamos recebendo sobre alfabetização
acaba não tendo seqüência, é muito esporadicamente”.
Apresenta-se no quadro traçado pelas entrevistas com as
professoras uma imagem de isolamento da escola de um contexto mais
amplo, nos quais as ações dos gestores educacionais não se fazem
presente.
Em outro item abordado, observa-se que seis professoras
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como: melhora na disciplina; auxílio na troca de idéias, na socialização e
no compartilhamento de materiais escolares pelos alunos, porém, para
duas dessas professoras o trabalho em grupo não auxilia na
alfabetização. Outro relato recorrente foram as declarações de seis
professoras que entendem a intervenção de um aluno no papel de
professor como uma prática de trabalho em grupo, que, segundo duas
delas, alivia seus trabalhos e revela uma concepção dessa prática como
um obséquio, tanto para a professora, quanto para o colega. Nessa
situação a troca seria a “passagem” de conteúdo do aluno que já sabe
para aquele que ainda está aprendendo.
“[...]porque acho que assim eles vão me ajudando, porque a classe é
numerosa, são mais de trinta alunos e o professor não dá conta de
todo dia... um por um”].
“Falam como se fosse a professora falando. Assume o papel da
professora, então eles explicam, ajudam e a criança entende o que
eles estão falando, acho que eles falam a mesma linguagem.”
A respeito da comunicação, quatro professoras afirmaram
que percebem um diálogo mais eficiente entre os alunos e uma outra
afirmou que os alunos, além de se comunicarem melhor, também se
envolvem mais nas tarefas, quando trabalham juntos.
A concepção de trabalho em grupo também está permeada,
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trabalho em grupo e disposição física do mobiliário e para duas delas o
trabalho em grupo é um momento de entretenimento e descontração.
“Cada semana eu fazia diferente a disposição das carteiras na sala
de aula”.
“Acabou as provas, a gente volta, dá uma descontraída, trabalha um
pouco mais, aí em grupo”.
A maioria das professoras (cinco entre nove) justifica a
pouca ocorrência de trabalho em grupo afirmando que essa prática gera
indisciplina. Nas entrevistas também aparecem alegações de despreparo
e insegurança das professoras e a uma suposta sobrecarga de trabalho
gerada por essa prática. São citadas, ainda, uma inadequação do espaço
físico e a descrença na eficiência do trabalho em grupo.
Embora apenas três professoras associem o comportamento
falante e irrequieto dos alunos à indisciplina, quatro professoras apontam
tal comportamento como uma dificuldade para a implementação do
trabalho em grupo, que se manifesta na opinião de duas outras
professoras em uma desordem condenável no mobiliário da sala.
“Esse negócio de arruma carteira, desarruma carteira é outra coisa
que toma o tempo da gente”.
Para a maioria das professoras entrevistadas (cinco entre
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prática esporádica, que não se efetiva, segundo elas, porque se sentem
presas, comprometidas com o programa curricular.
A respeito do papel do professor, é significativo o fato de não
aparecer nenhuma declaração a respeito do estabelecimento de conflitos
cognitivos por parte das professoras no decorrer das atividades de
trabalho em grupo. As declarações são genéricas e pouco explicativas
quando dizem respeito à orientação e coordenação dos trabalhos,
incluindo a escolha dos alunos para formação dos grupos. Na
constituição dos grupos, todas as nove professoras afirmaram que
procuram formar grupos heterogêneos, porém, com níveis de
alfabetização próximos e duas delas têm a preocupação adicional de
considerar a compatibilidade de comportamento entre os integrantes dos
grupos.
[...] “e eu costumo colocar, assim, as crianças de acordo com as
dificuldades que elas têm. Mas não assim, criança pré-silábica com
pré-silábico. Eu coloco uma pré-silábica com uma que está um
pouquinho mais avançadinha. Eu nunca coloco uma que tem mais
dificuldade com uma que não tem nenhuma dificuldade”.
“Eu tento colocar níveis de alfabetização próximos, pra um poder
ajudar o outro mesmo, não muito distantes”.
Quanto aos argumentos usados pelos colegas para justificar
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provoca indisciplina, permite conversa excessiva entre os alunos e,
principalmente, o receio de perder o controle sobre os alunos, além do
trabalho extra para esse tipo de prática.
“se você não tiver uma postura na sala de aula, a criança percebe
que aquilo ali vira bagunça... eles perdem o respeito, vira aquela
conversa paralela e o professor não consegue estar trabalhando. [...]
“Ah... ‘vira bagunça’ eles (os professores) falam. [...] Trabalhar em
grupo é bagunça”.
Em vários outros momentos das entrevistas há trechos que
revelam concepções de trabalho em grupo, aparecendo declarações que
elucidam qual o papel efetivo da professora. Um exemplo dessa
concepção é a desconsideração da comunicação na sala de aula, que
para um trabalho em grupo torna-se fundamental.
“[...] porque... chega na quarta eles nunca ficaram em grupo daí fica
difícil ... daí é aquele auê porque eles são maiores, eles têm maior
necessidade de estar se comunicando eles querem contar, eles
querem fazer, eles querem te mostra, daí então eu acho que fica
difícil”.
Outros relatos demonstram também que há uma
preocupação em rever a prática para que o resultado seja satisfatório.
“Então daí, volto pra casa, de novo, penso o que deu errado, daí eu
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As professoras afirmam que existem dificuldades para os
alunos estabelecerem um processo de cooperação diante de um objetivo
e, diante da dificuldade, algumas reconsideram e retornam ao trabalho
individual, no qual não há conflitos.
“eles têm muita dificuldade em estarem se organizando pra aquele
trabalho conjunto”.
“Agora quando o objetivo é um só pro grupo, aí surge o problema. Aí
eu repenso”.
As professoras entrevistadas admitem que é possível uma
prática de trabalho em grupo nas salas de alfabetização e aquelas que
afirmam não fazê-lo relatam experiências bem sucedidas de colegas,
mas não se sentem seguras para aplicá-la, ou argumentam que o tempo
gasto com o rearranjo da classe as impede ou ainda, que as tentativas
mal sucedidas de mudança provocaram o retorno à prática já
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