As orientações para trabalho em grupo estão presentes nos
textos coletados junto à coordenadoria municipal da educação e em
outros entregues diretamente por algumas coordenadoras pedagógicas
das escolas e também pelas professoras e que foram apresentados aos
docentes pela coordenadoria da secretaria no ano de 2004. Muitos deles
fazem parte do Programa de Formação Continuada de Professores
Alfabetizadores elaborado pelo Ministério da Educação e são
constituídos de módulos que abordam diferentes temas ao longo da
capacitação. Destes, foram analisados quatro módulos: M1U5T4,
“Aspectos que determinam uma boa aprendizagem”, M2U1T5,
“Depoimento da professora Marly”, M2U8T5, “Contribuições à prática
pedagógica” e M2U7T6, “Curupira: versão revisada pelos alunos”.
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Além desses módulos, há outros tipos de textos utilizados
pelo programa de capacitação e dentre eles o trabalho publicado na
revista: “É possível ler na escola?”, da especialista em projetos de
capacitação docente da Universidade de Buenos Aires, Delia Lerner
(1996), dedicado especificamente à discussão da prática de trabalho em
grupo, onde são mostrados fundamentos teóricos para trabalho em grupo
dentro de um contexto de leitura com significado.
O artigo de Lerner (1996) é o único que possui um
aprofundamento teórico relevante, abordando como as diferentes
interpretações dos alunos para um mesmo conteúdo conduzem a
significados diversos, quando se apresenta no trabalho docente a
confrontação de diferentes pontos de vista dos alunos diante da leitura
do mesmo texto. Ao considerar que nem sempre há uma única
interpretação correta para cada texto, a autora redefine a leitura dentro
de uma situação na qual o aluno possui um funcionamento cognitivo que
não difere em sua essência do adulto, o que implica em conceder-lhe
poder para atribuir o seu sentido ao texto e confrontá-lo com o de outros
colegas e com o do professor. Disso decorre que, deve haver o
compartilhamento da responsabilidade da leitura, o que, por sua vez,
implica para o professor um papel de incentivador do trabalho de
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Outro aspecto relevante são as críticas ao que Lerner (1996)
chama de teoria comportamentalista de aprendizagem, como por
exemplo, o conjunto de regras, imposições e exigências enraizadas na
escola, que tornam impossíveis um trabalho pedagógico que pretenda o
desenvolvimento do raciocínio da criança.
Em dois outros textos analisados, “Contribuições à prática
pedagógica” e “Depoimento da professora Marly”, algumas discussões
importantes são levantadas e um bom exemplo são os questionamentos
de professoras depoentes a respeito de: como agrupar os alunos para
que pudessem, sempre que possível, aprender uns com os outros? Que
critérios utilizar para que os agrupamentos fossem sempre produtivos e
não ocorressem situações do tipo “um faz e os outros copiam?”.
Respondendo a algumas dessas questões, uma professora
participante deste texto analisado afirma que, apesar de as atividades
individuais também terem lugar no trabalho pedagógico, em uma turma
muito heterogênea as situações de cooperação entre os alunos são as
mais produtivas, pois nessa situação o critério de grupamento, as
atividades propostas e a intervenção do professor são pertinentes. A
professora sabia que em determinadas atividades não poderia reunir
alunos com conhecimento muito diferenciado em relação ao conteúdo.
Então, planejou seu trabalho definindo o critério de agrupamento
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diferentes saberes dos alunos: aplicando as mesmas propostas de
atividades em momentos de trabalhos individuais, ou em grupos; pondo
em prática a mesma proposta em tarefas diferentes em grupos ou
individuais e propondo atividades diversificadas com os grupos
realizando tarefas diferentes em função das necessidades de
aprendizagem de cada um. Com isso foi possível contemplar toda a
gama de diferenciação dos conhecimentos dos alunos. Há, também, um
relato minucioso de todas as situações didáticas organizadas pela
professora, facilitando a compreensão de sua prática pelo professor
alfabetizador.
A principal característica destes textos é o respeito e o uso
da heterogeneidade dos alunos e do trabalho em grupo como recurso
pedagógico útil na organização da prática docente, ainda que não
apresentassem uma fundamentação teórica aprofundada.
Outro exemplo é o texto “Curupira”, do Programa de
Formação Continuada, que mostra uma prática de trabalho em grupo,
com os alunos revendo e recriando a versão da lenda do curupira. Os
alunos reconstruíram a lenda em grupos, discutindo as diferentes
contribuições que cada um oferecia. Após a elaboração do trabalho pelos
grupos foi implementada uma discussão na sala para confrontar as
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No texto, “Aspectos que determinam uma boa situação de
aprendizagem”, as situações consideradas como determinantes de uma
boa aprendizagem seriam: a apresentação de situações problemas nas
salas de alfabetização de modo a permitir condições de interação entre
os alunos por meio de trabalhos em grupo, porque uma boa situação de
aprendizagem requer, dentre outros aspectos, as parcerias como
potencializadoras dos esforços intelectuais dos alunos.
Uma característica presente nos diversos textos estudados é
a apresentação das orientações em forma de relatos das práticas de
professores, permitindo a comparação com a prática dos professores
envolvidos na capacitação. Por outro lado, a fundamentação teórica,
especialmente com relação ao trabalho em grupo, que envolve, entre
outros, conhecimento dos estágios de desenvolvimento cognitivo do
aluno, não está presente nos textos de capacitação apresentados aos
professores, ainda que um ou outro texto tangencie a teoria piagetiana,
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