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MARCO TEÓRICO

2 MARCO TEÓRICO

2.1 Envelhecimento ativo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o fato de que os países não podem descuidar da questão do envelhecimento, por ser uma fase inerente ao curso da vida, e, nesse sentido, os governos, as organizações internacionais e a sociedade civil necessitam promulgar políticas e programas de "envelhecimento ativo" que melhorem a saúde, a participação e a segurança dos idosos. Em todos os países, em particular naqueles em desenvolvimento, auxiliar os idosos a permanecerem saudáveis e ativos é uma necessidade, não uma escolha. Para tanto, são fundamentais políticas e programas de envelhecimento ativo que possibilitem a essas pessoas continuar trabalhando conforme suas capacidades e preferências à medida que envelhecem e/ou que possam prevenir ou postergar as incapacidades e doenças crônicas15.

As políticas públicas de proteção ao idoso, de caráter internacional, surgiram em 1948, com a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual garante, a todas as pessoas, o direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou em

situações de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. Em 1982, a Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento propôs um plano internacional de ação estruturado com 66 recomendações nas áreas de saúde e nutrição, proteção ao consumidor idoso, trabalho e educação16.

Em âmbito nacional, a Constituição Federal de 1988 incorporou parte dessas discussões17, mas, apenas em 1994, foi instituída a Política Nacional do Idoso (PNI).

A PNI foi regulamentada pelo Decreto n. 1948, de 03 de junho de 1996, o qual assegurou direitos sociais à pessoa idosa ao criar condições para promover autonomia, integração e participação efetiva na sociedade e reafirmar o direito à saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS. Até então, as ações governamentais tinham somente cunho caritativo e de proteção18.

Em 2002, a II Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em Madrid, na Espanha, propôs orientação às medidas normativas sobre o envelhecimento nas políticas e programas no século XXI, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Desse modo, fundamentou-se nos princípios da participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento, na força de trabalho e na erradicação da pobreza; na promoção da saúde e bem-estar na velhice; e na criação de um ambiente propício e favorável ao envelhecimento19.

Nesta ocasião, como contribuição para o II Encontro Mundial das Nações Unidas sobre Envelhecimento, foi desenvolvido, pelo Programa de Envelhecimento e Curso de Vida da OMS, um Projeto de Política de Saúde denominado “Envelhecimento Ativo”, a fim de discutir e formular planos de ação em prol de um envelhecimento saudável e ativo12.

O termo “envelhecimento ativo” adotado pela OMS consiste no processo de potencialização para a saúde, participação e segurança, com o propósito de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem, ou seja, aumentar a expectativa de uma vida saudável, inclusive para aqueles frágeis, incapacitados fisicamente e que demandam cuidados15. No entanto, para que

experiências positivas de envelhecimento possam ser alcançadas é necessário que, no decorrer de toda a vida, haja oportunidade de acompanhamento à saúde, participação e segurança12.

Desse modo, a palavra “ativo” diz respeito a uma participação contínua do indivíduo nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou integrar a força de trabalho, pois

apresentar alguma doença ou necessidade especial não o impede de continuar a contribuir ativamente no meio em que se encontra15.

Além disso, devemos atentar aos fatos que influenciam o envelhecimento ativo, tais como as tendências globais que incluem urbanização, globalização, migração, revolução tecnológica, mudanças ambientais e climáticas, transições epidemiológicas, pobreza e desigualdade, pois afetam indivíduos de todas as idades, nas diversas esferas da vida14,20.

A cultura e o gênero, codeterminantes transversais do envelhecimento ativo, influenciam esferas mais pontuais, a exemplo daquelas relacionadas aos sistemas de saúde e serviço social, fatores comportamentais, pessoais, econômicos, ambiente físico e social12, afetando os comportamentos relativos à saúde e à doença

e a forma como as gerações se inter-relacionam. Nas sociedades em que o envelhecimento é culturalmente associado ao surgimento de doenças “próprias da idade”, medidas de prevenção e detecção precoces têm pouca prioridade, sendo os recursos direcionados preferencialmente para a população adulta21.

Uma vida ativa e saudável durante a velhice continua sendo uma das principais aspirações em diversos países. Para muitas nações europeias, esta não é apenas uma meta, e sim uma realidade, enquanto para outras representa uma possibilidade iminente, uma vez que a expectativa de vida neste continente é uma das mais altas do mundo, em decorrência da boa saúde da população22.

As estratégias de envelhecimento ativo permitem o envolvimento das pessoas, cada vez maior, no mercado de trabalho, nas atividades sociais e familiares, de modo que vivam de forma independente, segura e saudáveis. A lógica reside em propiciar condições para capacitar os indivíduos a viverem ativos e saudáveis, a fim de favorecer a manutenção da sustentabilidade econômica dos sistemas de saúde e de assistência social em sociedades que estão envelhecendo, além de fortalecer a coesão social e a solidariedade entre gerações. Uma política de envelhecimento ativo permite, portanto, a definição de metas capazes de promover qualidade de vida e bem-estar a pessoas de todas as idades23.

A interdependência e o auxílio entre gerações (indivíduos jovens e velhos) são princípios importantes para o envelhecimento ativo, pois este ocorre em um contexto que envolve outras pessoas, como amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família. Reconhecer os direitos humanos das pessoas mais velhas e seus princípios de independência, participação, dignidade, assistência e

autorrealização, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), constitui a base para promover o envelhecimento ativo, pois permite o reconhecimento também da necessidade de igualdade de oportunidades e tratamento em todos os aspectos da vida, incentivando a participação ativa nos processos políticos e em outras instâncias da comunidade12.

Apoiar o envelhecimento ativo no âmbito das políticas sociais de saúde, mercado de trabalho, emprego e educação pode assegurar menor índice de mortes prematuras em estágios produtivos da vida, menor ocorrência de deficiências associadas a doenças crônicas, melhor qualidade de vida na velhice, participação ativa dos indivíduos nos aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da sociedade, na vida doméstica, familiar e comunitária, além de menores custos com assistência médica. São benefícios viáveis por meio de programas e políticas que reconheçam a necessidade de incentivar e equilibrar a responsabilidade pessoal, ou seja, as famílias e os indivíduos precisam planejar a velhice ao mesmo tempo em que são necessários ambientes amistosos e um clima de solidariedade entre as gerações12,24.

Desse modo, a OMS estabeleceu os três pilares do envelhecimento ativo: saúde, segurança e participação, que asseguram ao idoso a possibilidade de envelhecer com baixos riscos de adoecimento, participação ativa e segurança. Esta discussão sobre o envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos dos idosos e nos princípios de independência, participação, dignidade, cuidados e alto desempenho15.

Na medida em que as pessoas se mantiverem saudáveis conforme envelhecerem, enfrentarão menos problemas com relação ao trabalho e demandarão menos custos com assistência médica. O exercício para compreender e agir nas demandas dos processos de envelhecimento requer um esforço coletivo e integrado, assim como campos interdisciplinares do saber e ações intersetoriais24.

Promover o envelhecimento ativo implica também prevenir ou postergar a ocorrência de fragilidade no idoso. Idosos frágeis encontram-se em um estado de vulnerabilidade aumentada, resultado do declínio relacionado à idade na reserva e função em múltiplos sistemas fisiológicos, o que reduz a capacidade de lidar com estressores agudos e crônicos, ocasionando perda de homeostase25. Percebemos

que investimentos em pesquisas acerca do envelhecimento saudável tornaram-se uma preocupação, dados os inúmeros pedidos para o desenvolvimento de

pesquisas multidisciplinares que visam compreender como manter uma população saudável e produtiva por mais tempo e, ao mesmo tempo e de maneira oposta, observamos diversas implicações sociais e econômicas decorrentes da redução de gastos públicos em prol do envelhecimento independente e ativo26.

Esses apelos à pesquisa evidenciam o consenso de que o processo de envelhecimento opera desde o início da vida, impulsionado pela taxa de acúmulo de danos moleculares e celulares. Além disso, o fato de doenças crônicas relacionadas à idade terem suas origens na fase inicial de vida, associadas a outros mecanismos, como hábitos de vida, sustenta esse consenso27. Assim, em todos os estágios da

vida, as intervenções que criam ambientes de apoio e promovem opções saudáveis de vida são importantes12.

Há evidências de que as condições crônicas de saúde, os fatores de risco biológicos, comportamentais e ambientais no início da vida adulta e tardia são contribuintes para a saúde na velhice28, pois algumas condições dependem, em

parte, das influências ambientais e dos comportamentos adotados no início da vida29.

À medida que as pessoas envelhecem, ocorre o acúmulo de déficits em múltiplos sistemas fisiológicos, o que as torna mais vulneráveis a resultados adversos. Esse processo de vulnerabilidade e declínio está intrinsicamente relacionado ao envelhecimento30-32. Assim, algum grau de perda funcional na velhice

é inevitável33,34 e quase todos os centenários têm pelo menos alguns déficits

funcionais33.

Dessa forma, atuar na elaboração de políticas públicas para promover o envelhecimento ativo terá, consequentemente, potencial de prevenir ou retardar as adversidades do processo do envelhecimento, entre elas, o declínio funcional e a fragilidade.

Assim, a construção de condições objetivas e subjetivas, individuais e coletivas, de programas e serviços de atenção à saúde do idoso devem ser objeto de preocupação dos atores sociais envolvidos nesses processos, no sentido de buscar a resolutividade dos problemas, com inovação nas práticas e construção dos saberes24.