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O envelhecimento populacional em todo o mundo está atingindo níveis cada vez maiores. E essa tendência mundial tem seus reflexos na sociedade brasileira, que apresenta uma expectativa de vida de 75,5 anos. Segundo dados do IBGE, o número de idosos dobrou nos últimos 20 anos no Brasil. Por aqui, a porcentagem atual de idosos está em torno de 12,5% – a do mundo é 11,5% – com previsão que chegue aos 23% de pessoas com mais de 65 anos de idade até o ano de 2050. Serão 64 milhões de pessoas acima de 60 anos de idade.

O aumento da expectativa de vida do brasileiro e a redução da taxa de natalidade causam duas consequências, que ameaçam a existência da

aposentadoria por tempo de contribuição no sistema, que são o envelhecimento da população brasileira e a redução de contribuintes da previdência. Quando foi criada, pela Lei Eloy Chaves, na década de 20 do século passado, em que a expectativa de vida do brasileiro era apenas de 42 anos ao nascer, poderia ser justificada a existência da aposentadoria por tempo de contribuição, mas não atualmente, onde a sobrevida está passando dos 75 anos. Kertzman (2010) relata a problemática do envelhecimento da população mundial no mundo para a previdência:

Os sistemas de previdência em todo o mundo têm passado por uma forte reestruturação. A principal causa é o crescente envelhecimento populacional e a decrescente taxa de fecundidade. A política mundial passou a exigir que os países reformulassem os seus sistemas previdenciários para objetivar a sincronização do ingresso de recursos na previdência social com o fluxo de benefícios previdenciários.

Com o rápido processo de envelhecimento da população brasileira, a previdência social caminha para um deficit sem controle. Como a expectativa de vida está aumentando a cada ano, isso significa que a pessoa aposentada passará mais tempo no sistema previdenciário, recebendo aposentadoria por longos períodos.

Além disso, com a diminuição vertiginosa da taxa de natalidade, a tendência é a diferença entre jovens, em idade laboral ativa, e idosos, afastados do mercado de trabalho, cada vez mais diminuir. Hoje, temos cinco trabalhadores para um aposentado. As projeções feitas pelo IBGE, para o ano de 2050, dão conta de que teremos duas pessoas em idade ativa para cada idoso em benefício de aposentadoria. Quem arcará com essa conta no futuro se nas condições atuais já existe uma grande escassez de recursos para manutenção dos gastos previdenciários?

Há mais de 30 anos que Wladimir Novaes Matinez (1985, p. 22) já previa esta questão:

Fundamentalmente, a população ativa que carreia recursos hoje e satisfaz necessidades da população inativa – representada por clientela protegida que, no seu tempo de contribuir, percebia remuneração relativamente menor –, quando chegar sua vez de auferir as prestações, onerará de tal forma a despesa que desestabilizará o sistema. Parte da solução implica exame da filosofia da proteção social vigente, pois o presente equilíbrio populacional entre jovens e velhos sofrerá mutações ao longo do tempo, com consequências imprevisíveis.

Pessoas que nem chegaram aos 60 anos de idade, ainda em pleno vigor físico, recebendo aposentadorias por mais de 20, 30 anos, e até por mais tempo do

que contribuiu para o sistema, gerando um grande deficit nas contas públicas. Este dinheiro poderia ser investido nas aposentadorias em que o segurado realmente se encontra em uma situação de risco, como a aposentadoria por idade e por invalidez, carentes de um cálculo mais benéfico ou uma renda inicial mais justa para atender às necessidades de seus beneficiários.

Rio Nogueira, em sua obra “A Crise Moral e Financeira da Previdência Social” (1985), trouxe um quadro comparativo entre as profissões técnicas ou intelectuais e as obreiras ou menos qualificadas. Neste modelo, mostrou que nos trabalhadores da primeira classe a produtividade é cada vez maior em função da experiência adquirida com a idade, enquanto nos da classe menos intelectualizada a idade é fator de redução da vitalidade, prejudicando a produtividade.

Somente ao interesse individual poderia essa aposentadoria concedida aos lotados nas áreas administrativas ou intelectualizadas que, válidos e hígidos, atinjam 30 ou 35 anos de serviço com 50 ou 55 de idade, portanto na plenitude do apogeu da capacidade laborativa reclamada pela sociedade, em geral, e pela empresa, em particular. (NOGUEIRA, 1985, p. 28).

Com as palavras do mestre atuário, constatamos que não convêm ao processo produtivo perder a experiência de chefes e ocupantes de cargos de nível superior, afastados pela aposentadoria entre os 50 e 60 anos de idade.

Kertzman (2010) traz o panorama atual dessa aposentadoria no sistema previdenciário brasileiro:

A idade média para a concessão da aposentadoria no Brasil, atualmente, é de 54 (cinquenta e quatro) anos de idade. Ocorre que a expectativa de sobrevida da população que chega aos 54 (cinquenta e quatro) anos de idade é de mais 25,3 anos. Os especialistas em atuárias afirmam que existe uma desproporcionalidade entre o tempo de contribuição e o de percepção do benefício no atual modelo previdenciário brasileiro. Um sistema de previdência social que busque, então, a sustentabilidade não pode sobreviver sem considerar as regras atuariais.

Já o doutrinador Fábio Zambitte Ibrahim (2008, p. 540) afirma ser um benefício especialmente de classes mais privilegiadas, pela dificuldade do trabalhador de baixa renda conseguir manter e comprovar contribuições pelo período de anos exigido:

Entendo que este benefício, em sua atual configuração, não se coaduna com a lógica protetiva, pois permite a aposentação em idades muito inferiores ao que se poderia rotular de idade avançada. A que o pagamento tenha sido feito por anos a fio, a previdência pública não é poupança, mas

sim seguro social, no sentido de atender à clientela protegida no advento de algum sinistro impeditivo de obtenção da remuneração. Para piorar, este benefício acaba por gerar uma solidariedade às avessas no sistema previdenciário, pois somente as classes mais abastadas conseguem obtê-lo, em razão das dificuldades de comprovação de longos períodos de contribuição.

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