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Ao definir o conceito de envelhecimento é fundamental fazer referência à abordagem psicológica deste fenómeno. De facto, esta abordagem é difícil de ser separada da abordagem biológica.

26 O envelhecimento psicológico está relacionado com o declínio dos aspetos cognitivos e com as emoções que estão diretamente relacionadas com o contexto sócio ambiental em que o idoso se insere.

Sequeira (2007) constata que o envelhecimento psicológico é um processo extremamente complexo e para o qual convergem diversos fatores, nomeadamente o desempenho cognitivo, o processamento da informação e a memória.

Alguns estudos, nesta área, revelam ser possível uma pessoa idosa conservar as suas capacidades cognitivas até ao final da vida. No entanto, a probabilidade que isto venha a acontecer é muito baixa, uma vez que o declínio das funções cognitivas ocorre como consequência do processo de envelhecimento.

A revisão de um número considerável de trabalhos de investigação efetuada por Salthouse (1991, citado por Sousa, et al., 2004, p.25), mostra que as competências mais afetadas pela idade são as seguintes:

“a capacidade de interpretar informação não verbal (tal como gestos, expressões faciais…); a capacidade de dar respostas rápidas perante situações novas; a aquisição de novos conceitos e a aplicação dos conceitos existentes; a aptidão para organizar informações e concentrar-se; os raciocínios abstratos; as competências psicomotoras e as atividades perspetivas. Por outro lado, as capacidades menos afetadas pela idade são: a dimensão prática de resolução de problemas; a capacidade de interpretar informação verbal; a execução de tarefas familiares; o uso do conhecimento acumulado.”

Segundo Pimentel (2001, p.61), “a memória imediata pode diminuir, no entanto, a memória remota é exemplar, sendo os idosos frequentemente associados ao que vulgarmente se chama “ a memória viva de um povo”. A inteligência e a capacidade de aprendizagem, desde que praticadas podem continuar a progredir. São disso exemplo o número de pessoas que começam a frequentar as universidades para a terceira idade e que conseguem concretizar sonhos antigos ou descobrir novos talentos e interesses.

Nas pessoas idosas os distúrbios psíquicos de maior incidência são as síndromas depressivas e demenciais. As causas de depressão na velhice são frequentemente resultantes de acontecimentos traumáticos, como por exemplo a morte de alguém que lhe é querido (Sousa, et al., 2004).

27 Com o avançar da idade, a relação entre ganhos e perdas desequilibra-se, sendo mais significativas as perdas, pois a velhice é uma etapa especialmente intensa de perdas afetivas, ou seja, de perda de papéis ao longo dos anos de forma progressiva, (filhos que saem de casa, reforma, viuvez, (…). “O indivíduo que era competente, bem sucedido e independente, pode tornar-se dependente e impotente para enfrentar a relação quer com a família, quer com a sociedade em que se encontra inserido” (Fernandes, 2000, p.26).

Fernandes (2000) refere que nesta fase pode ocorrer também a perda de pessoas próximas, como o cônjuge, amigos, familiares, ou seja, de pessoas importantes no meio afetivo que podem provocar stresse à pessoa idosa por diversos motivos, entre os quais a previsão de que a sua própria morte se avizinha.

De facto, a adaptação pode ser difícil porque as capacidades são mais reduzidas com o avançar da idade e, caso o ambiente físico e social, não seja readaptado para minimizar as dificuldades sentidas pela pessoa idosa, esta torna-se mais vulnerável.

Neste sentido, a nível psicológico há uma quebra da capacidade de adaptação nesta fase da vida, que se pode mostrar pela incapacidade de aceitar ou gerir uma situação de choque como por exemplo a viuvez. O declínio da capacidade de adaptação social pode manifestar-se pela dificuldade de aceitação da mudança de ambientes, desde uma casa diferente até uma simples mudança dos móveis do quarto. A pessoa idosa sente o ambiente familiar como um local de estabilidade e proteção, daí que quando precisa de deixar a sua própria casa, para ir viver com os filhos ou para um lar, ou outro tipo de instituição, este acontecimento seja quase sempre traumático. “O deixar uma cadeira favorita, um objeto decorativo, a própria cama, separá-lo disto é como se perdesse parte da sua identidade” (Fernandes, 2000, p.26).

Ao longo da vida, a personalidade do indivíduo está submetida a uma série de perturbações, uma vez que o seu próprio meio externo sofre também profundas modificações. De acordo com a mesma autora, nas pessoas idosas, a maioria dos problemas ligados ao envelhecimento não são causados pela diminuição das funções cognitivas, mas são sobretudo outro tipo de problemas, como a perda de papéis, as diversas situações de stresse, a doença, o cansaço, o desenraizamento e outros traumatismos que vão dificultar a adaptação das pessoas idosas. Para ultrapassar estas situações, o indivíduo terá de reequacionar os seus objetivos pessoais, de forma a adaptar-se, conservando a sua auto-estima, para continuar a viver com o melhor bem-estar possível.

28 Ainda segundo a mesma, as pessoas idosas suportam melhor as condições de vida adversas quando têm junto de si pessoas que amam, e que as amem. Contudo, muitas vezes a realidade não permite a materialização deste cenário ideal, assistindo-se a situações de isolamento e abandono, quer por familiares, quer por amigos, por diversas razões que não podem ser analisadas de forma linear.

Nesta fase etária da vida, caracterizada por uma diminuição das capacidades físicas, psicológicas e sociais, se a pessoa não for acompanhada por um estímulo efetivo às capacidades da pessoa idosa, mantendo o seu papel social como pessoa capaz, com vista à manutenção das suas possibilidades de desenvolvimento, isso conduzirá a um ciclo de vida negativo, levando o indivíduo a adotar um papel de doente e dependente, papel este assumido por uma elevada percentagem desta população.

Fernandes (2000), defende ainda que os idosos que consideram a velhice como um fenómeno natural dão mais sentido à vida, sendo mais felizes e implicando-se mais no seu meio e na sociedade. Tal passa pelo auto-reconhecimento de aspetos positivos (tais como um sistema de valores estável, sensatez) e de determinadas vantagens (diminuição da responsabilidade e do trabalho, abertura de espírito (…).

Face ao exposto, pode-se concluir que relativamente à diminuição das capacidades físicas e mentais, se não forem afetadas pela doença ou pela ausência de atividades sociais, culturais, de ocupação, o idoso conseguirá ultrapassar as dificuldades de um envelhecimento normal e manter a autonomia.

1.7 Envelhecimento Social

Os estudos sobre o envelhecimento têm vindo a incidir o seu maior enfoque no ponto de vista biológico e psicológico, no entanto, foi devido à pressão do envelhecimento demográfico que a dimensão social começou a ter maior importância na compreensão do envelhecimento como problema social.

Paralelamente às alterações biológicas e psicológicas que ocorrem com o envelhecimento, associam-se as transformações de papéis sociais, exigindo capacidade de ajustamento ou adaptação às novas condições de vida (Figueiredo, 2007).

De acordo com a mesma autora, o envelhecimento caracteriza-se pela mudança de papéis e, frequentemente, pela perda de alguns deles. O mais evidente nesta fase é a perda do papel profissional que ocorre no momento da reforma.

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