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Ainda segundo a mesma, as pessoas idosas suportam melhor as condições de vida adversas quando têm junto de si pessoas que amam, e que as amem. Contudo, muitas vezes a realidade não permite a materialização deste cenário ideal, assistindo-se a situações de isolamento e abandono, quer por familiares, quer por amigos, por diversas razões que não podem ser analisadas de forma linear.

Nesta fase etária da vida, caracterizada por uma diminuição das capacidades físicas, psicológicas e sociais, se a pessoa não for acompanhada por um estímulo efetivo às capacidades da pessoa idosa, mantendo o seu papel social como pessoa capaz, com vista à manutenção das suas possibilidades de desenvolvimento, isso conduzirá a um ciclo de vida negativo, levando o indivíduo a adotar um papel de doente e dependente, papel este assumido por uma elevada percentagem desta população.

Fernandes (2000), defende ainda que os idosos que consideram a velhice como um fenómeno natural dão mais sentido à vida, sendo mais felizes e implicando-se mais no seu meio e na sociedade. Tal passa pelo auto-reconhecimento de aspetos positivos (tais como um sistema de valores estável, sensatez) e de determinadas vantagens (diminuição da responsabilidade e do trabalho, abertura de espírito (…).

Face ao exposto, pode-se concluir que relativamente à diminuição das capacidades físicas e mentais, se não forem afetadas pela doença ou pela ausência de atividades sociais, culturais, de ocupação, o idoso conseguirá ultrapassar as dificuldades de um envelhecimento normal e manter a autonomia.

1.7 Envelhecimento Social

Os estudos sobre o envelhecimento têm vindo a incidir o seu maior enfoque no ponto de vista biológico e psicológico, no entanto, foi devido à pressão do envelhecimento demográfico que a dimensão social começou a ter maior importância na compreensão do envelhecimento como problema social.

Paralelamente às alterações biológicas e psicológicas que ocorrem com o envelhecimento, associam-se as transformações de papéis sociais, exigindo capacidade de ajustamento ou adaptação às novas condições de vida (Figueiredo, 2007).

De acordo com a mesma autora, o envelhecimento caracteriza-se pela mudança de papéis e, frequentemente, pela perda de alguns deles. O mais evidente nesta fase é a perda do papel profissional que ocorre no momento da reforma.

29 A reforma requer como condição de admissão a retirada do indivíduo da sua atividade profissional, originando a formação de um grupo que é afastado do mercado de trabalho e sujeito à respetiva desvalorização do seu estatuto social. É então como se o desaparecimento da função de produção marcasse uma perda de utilidade social, sentida pelo reformado e confirmada pela sociedade onde o estatuto da pessoa idosa está ligado ao trabalho e à rentabilidade (Fernandes, 2000).

Para Figueiredo (2007) a reforma implica ainda, a diminuição de rendimentos económicos, a perda de oportunidade de contatos sociais e uma maior quantidade de tempo livre, e vai influenciar o sentido de inutilidade e a perceção negativa que o sujeito faz do seu valor pessoal.

É neste sentido que a reforma favorece o isolamento social, a inatividade e a depressão, uma vez que a retirada do mundo do trabalho independentemente da sua vontade, gera no indivíduo um sentimento de falta de importância, utilidade e auto-estima, sobretudo numa sociedade onde o estatuto da pessoa idosa está ligado ao trabalho e à rentabilidade (Fernandes, 2002; Fonseca, 2005). Assim, o sentido de inutilidade instala-se quando o idoso não se envolve em qualquer atividade social produtiva.

Na realidade, “a reforma não é necessariamente um acontecimento negativo, é entendida por muitos como o descanso e a recompensa merecida após uma vida de trabalho” (Pimentel, 2001, p.58).

Segundo a mesma autora a atividade profissional, mais do que uma fonte de rendimento, é uma forma de integração social e os indivíduos que entram na reforma vê o seu lugar na sociedade mudar, pois em muitos casos não sabem onde empregar o seu tempo e energia, sendo muitas vezes os seus ganhos bastantes reduzidos.

Para além da reforma poder conduzir a situações de precariedade económica, quando deriva de uma situação de obrigatoriedade, ou seja, quando a pessoa tem de abandonar o seu trabalho ainda que esteja apta e se sinta capaz de o desenvolver, pode ter consequências ao nível da saúde mental e física.

Mas, se antes a idade de reforma aos 65 anos era um marco artificial, mas seguro, do início do envelhecimento, atualmente verifica-se que as pessoas se reformam cada vez mais cedo devido a motivos que não se relacionam com a idade, nomeadamente o desemprego, a incapacidade de se adaptarem às condições de trabalho e atuais, tornando mais complicado o estabelecimento de quem é ou não idoso.

30 Todavia, o sucesso da adaptação pode ser mais difícil se a reforma for involuntária ou se coincidir com um acontecimento negativo (por exemplo, a morte do cônjugue) (Montorio & Izal, 1999; Belsky, 2001; Schaie & Willis, 2002, citados por Figueiredo, 2007).

Estas alterações são especialmente intensas nos homens, pelo facto de perderem o papel de “sustento” da família. Com as mulheres esta situação é menos dramática, uma vez que perdem um papel exterior à família, mas mantêm o de donas de casa, a que estão acostumadas, e que lhes garante o sentido de continuidade (Sousa, et al., 2004)

Segundo Pimentel (2001) é importante para o idoso manter o equilíbrio emocional e psíquico, para isso terá de se manter ativo, ter objetivos e continuar a aprender e a crescer interiormente. Após a reforma, é difícil reorganizar o dia a dia, o tempo livre, a ausência de horários e de responsabilidades laborais

O processo de adaptação do idoso aos novos condicionalismos (nomeadamente a reforma, a viuvez, o maior distanciamento dos filhos) pode ser difícil, e a consciencialização ao longo dos anos para esses acontecimentos e para a preparação da sua ocorrência pode ser uma boa forma de prevenir reações menos positivas por parte do idoso (Pimentel, 2001).

No entanto, não se deve esquecer que cada indivíduo envelhece de forma diferente, sendo que a idade da reforma têm consequências diferentes em cada um. A perceção mais ou menos favorável que as pessoas idosas têm destas mudanças é significativamente importante na sua adaptação ao ambiente e para o seu bem-estar.

Contudo, o idoso ao ser excluído de diversas atividades da vida social, como por exemplo o mundo do trabalho, pode sentir a diminuição da força de produção como um aspeto negativo e cria barreiras à participação deste na sociedade. Este aspeto mostra que a abordagem psicológica não pode ser analisada sem a social, uma vez que a pessoa idosa ao deixar a sua vida ativa, pode entrar num estado depressivo. Assim sendo, um fator social pode ser a causa de um problema psicológico.

Em síntese, o período da velhice pode ser encarado por muitos de forma positiva, como uma oportunidade de desenvolver novas atividades ou antigos interesses que o excesso de trabalho não permitiria desenvolver. Contudo, mesmo quando o idoso tem planos para o futuro e quer continuar a desenvolver um papel ativo na sociedade, logo surgem algumas barreiras que advêm essencialmente das representações coletivas que alimentam preconceitos e mitos acerca do envelhecimento, dos velhos e das limitações que presumivelmente lhes estão associadas (Pimentel, 2001).

31 Contudo, pode-se afirmar que do ponto de vista biopsicossocial, não se envelhece da mesma forma, no mesmo ritmo e na mesma época cronológica. O envelhecimento é comum a todos, mas existem características próprias de pessoa para pessoa, consoante a constituição biológica e a estrutura da personalidade, em estreita interação com o meio ambiente (Spar & La Rue, 1998; Fontaine, 2000).

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