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Helal e Rocha (2011) apontam para a complexidade do fenômeno da empregabilidade, incluindo múltiplas interpretações oriundas tanto do meio acadêmico quanto do meio empresarial. Teichler (1999), por sua vez, indica que a transição dos estudantes para o mercado de trabalho é significativamente impactada por sua origem social, pelo nível de escolaridade de seu pai, pela reputação da instituição de ensino e pelas experiências de trabalho que tiveram durante a faculdade.

Veludo-de-Oliveira et at. (2013, p. 48) estudaram a empregabilidade individual, definindo-a como a “visão que uma determinada pessoa tem a respeito de si mesma, de suas habilidades e competências e do nome que a instituição de ensino que cursa ou cursou detém no mercado laboral”. Eles desenvolveram uma pesquisa quantitativa com 302 candidatos a vagas de estágio de uma empresa recrutadora. Ao término do processo seletivo, obtiveram a informação sobre as aprovações e reprovações. Os resultados do estudo demonstraram que a satisfação dos estudantes universitários com a instituição de ensino e com o curso são fatores determinantes na conquista de uma vaga de estágio.

D’Abate (2010) realizou uma pesquisa com estudantes universitários da área de negócios e com um grupo de egressos com três a cinco anos de formados para medir a influência das atividades extracurriculares na sua transição para a vida pós-universitária e o início da carreira. Segundo ela, estagiar, receber mentorias e participar de projetos colaborativos são ações de promoção de desenvolvimento para os jovens estudantes. Os resultados da pesquisa sugerem que várias e diferentes interações de desenvolvimento podem auxiliar os alunos a desenvolverem habilidades e a se prepararem para o mundo do trabalho. Por interações de desenvolvimento entendem-se os relacionamentos e experiências que promovem o crescimento e o desenvolvimento do estudante, tanto acadêmica quanto pessoalmente (D’ABATE, 2010).

As interações de desenvolvimento expressam o envolvimento do aluno com o curso e a faculdade, e trazem benefícios mensuráveis, a curto prazo e para a carreira como um todo, tais como satisfação com o trabalho e a carreira, mais comprometimento com a organização e crescimento profissional por meio de promoções no trabalho. “Com benefícios encontrados tanto no curto prazo quanto no início da carreira, há evidências de que os alunos precisam de orientação, estágios e projetos (com professores ou em problemas de negócios aplicados), como múltiplas experiências de desenvolvimento para se preparar totalmente para o mundo do trabalho” (D’ABATE, 2010, p.151).

A escolha do curso faz parte de um momento na vida do jovem em ele pode estar cercado de incertezas, dúvidas e influência de terceiros (família, amigos). Escolher um curso e depois se sentir realizado com a escolha pode afetar o grau de envolvimento que o aluno terá com a faculdade e, posteriormente, com a própria carreira (sua percepção de empregabilidade e satisfação com a carreira).

Uma pesquisa realizada por Palma (2013) com 94 formandos universitários portugueses mostrou que uma maior satisfação com o curso frequentado pode estar positivamente relacionada a níveis mais altos das seguintes variáveis: adaptabilidade de carreira, autoeficácia na transição para o trabalho e empregabilidade.

Nauta (2007, p. 446) afirma que “muitas teorias vocacionais são projetadas para explicar a variabilidade no grau em que as pessoas obtêm satisfação no/a partir do trabalho” e que estudos sobre satisfação com a escolha do curso (major satisfaction) são raros na literatura sobre desenvolvimento de carreira. Ela sugere que uma das razões pelas quais esse construto recebeu pouca atenção empírica poderia ser a inexistência de um instrumento de avaliação psicometricamente sólido, o que impediria descobertas consistentes. Por isso, ela resolveu criar e validar uma escala de medição da satisfação geral, a Academic Major Satisfaction Scale (AMSS). Realizou dois experimentos com estudantes de Ensino Médio e universitários. A intenção era medir o grau de satisfação dos estudantes com suas escolhas de cursos de graduação.

Segundo Nauta (2007), quando o jovem está na universidade, fica difícil inferir como será a sua satisfação profissional, porque o mundo do trabalho ainda é uma realidade distante. Uma medida mais próxima da eficácia nas decisões e intervenções de carreira que ele virá a tomar é a sua satisfação com o curso escolhido.

Os resultados obtidos pela escala desenvolvida por ela demonstraram uma correlação positiva da satisfação com a escolha do curso e o desempenho acadêmico. E, de forma indireta, uma relação entre a satisfação com o curso, uma expressão de excitação emocional, e a autoeficácia na tomada de decisão de carreira. Já os estudantes insatisfeitos com o curso podem ficar ansiosos para tomarem decisões de carreira porque entendem que qualquer possibilidade profissional oriunda do curso do qual não gostam será insatisfatória. Nauta (2007 p. 458-459) explica:

A AMSS pode ser útil como uma ferramenta para avaliar a adequação das escolhas de carreira dos alunos antes que eles limitem suas opções

de carreira. Ela também pode ser útil em pesquisas que avaliam a aplicabilidade de teorias de desenvolvimento de carreira para estudantes universitários.

De acordo com Rosenberg, Heimler e Morote (2012) a passagem do universo acadêmico para o mundo do trabalho tende a ter mais sucesso à medida em que outras competências, além das técnicas, são desenvolvidas durante o curso de graduação do estudante por meio de outras vivências. Segundo Pan e Lee (2011), ter um diploma universitário não é garantia de emprego para os jovens e, por isso, espera-se que as instituições de ensino superior desenvolvam nos alunos as habilidades e os atributos de empregabilidade para torná-los desejáveis pelo o mercado de trabalho.

Husain et al. (2010) realizaram uma pesquisa com 180 empregadores na Malásia, com o objetivo de avaliar a importância das habilidades de empregabilidade dos graduados em engenharia na perspectiva dos empregadores. Os resultados evidenciaram que os empregadores têm grande interesse nas competências de empregabilidade dos profissionais, independentemente do porte da empresa, sendo essas habilidades não somente as técnicas, mas também as não técnicas. Eles demonstraram insatisfação com o nível de competências como comunicação interpessoal, pensamento crítico, resolução de problemas e habilidades empresariais dos jovens engenheiros.

Zulauf (2006) realizou uma pesquisa com 60 alunos de bacharelado em Políticas Sociais e bacharelado em Políticas Sociais e Sociologia de uma universidade londrina. Por meio da aplicação de um questionário estruturado, a pesquisadora analisou a opinião dos estudantes sobre o desenvolvimento de suas próprias competências para o trabalho durante os cursos. “O artigo examina a percepção dos estudantes sobre a provisão de habilidades e suas preferências quanto ao desenvolvimento e avaliação das habilidades para a empregabilidade” (ZULAUF, 2006, p. 127). A conclusão apontou para a preferência dos estudantes pela aprendizagem baseada no trabalho e pela existência de um ambiente simulado que desenvolva as habilidades de empregabilidade.

Teixeira, Castro e Piccolo (2007, p. 214) realizaram uma pesquisa com 342 estudantes universitários dos cursos de Direito, Psicologia e Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria. Os resultados apontaram uma correlação de cinco dimensões de adaptação (carreira, pessoal, interpessoal, estudo e institucional) com a participação em atividades extracurriculares, medida pela quantidade de “meses em que os estudantes estiveram envolvidos em projetos de

pesquisa, de extensão e estágios extracurriculares ao longo do curso”. Os resultados apontaram para a importância das atividades extracurriculares na formação dos alunos. Conforme destacam os autores, “tais atividades possivelmente propiciam o desenvolvimento da autoeficácia profissional e têm relação com o sentimento de satisfação com a profissão e o curso escolhidos” (Teixeira e al. 2007, p. 216).

Muldoon (2009) realizou um estudo de caso com 17 estudantes australianos cursando ensino superior e 23 empregadores/supervisores, para investigar a possível relação entre empregabilidade e o envolvimento em atividades extracurriculares (incluindo trabalhos de meio expediente e de voluntariado). O autor descobriu que os estudantes se envolvem em trabalhos remunerados de meio período com a intenção de adquirir experiência profissional e desenvolver competências que naturalmente aumentarão a sua empregabilidade, ou seja, com objetivos que vão além do recebimento da remuneração e do desenvolvimento pessoal. O mesmo tipo de tendência foi identificado nos estudantes engajados em trabalhos voluntários. Os estudantes de graduação, quando questionados sobre as habilidades e atributos desenvolvidos durante as experiências de trabalho, citaram atitudes e atributos pessoais – como autoconfiança, compaixão, compreensão, empatia, habilidades de liderança, honestidade, integridade e paciência –, ao invés de habilidades técnicas.

Pinto e Ramalheira (2017) realizaram uma pesquisa para avaliar a relação entre desempenho acadêmico e participação em atividades extracurriculares com a empregabilidade percebida. O experimento foi realizado com 349 trabalhadores adultos portugueses, que ficaram incumbidos de analisar oito currículos fictícios de graduados em administração, levando em consideração os fatores gênero, participação em atividades extracurriculares e desempenho acadêmico. Ao final do experimento, encontraram os seguintes resultados: 1) a combinação de desempenho acadêmico alto e participação em atividades extracurriculares gerava uma maior empregabilidade percebida, 2) a combinação de desempenho acadêmico médio e participação em atividades extracurriculares resultaram numa baixa adequação ao trabalho, numa medida muito similar à influência de variáveis como organização pessoal, gerenciamento de tempo e competências de aprendizagem. Gênero e idiossincrasias dos entrevistados não afetavam a equação. A conclusão apontou que o desempenho acadêmico combinado com a participação em atividades extracurriculares tende a influenciar positivamente a inserção de graduados no mercado de trabalho.

Com relação ao prestígio do curso e da instituição de ensino superior, Brown, Lauder e Ashton (2008) apontam que as universidades estão imersas na lógica da competição de mercado, assemelhando-se às empresas no que concerne ao jogo para alcançar e manter sua reputação. As principais instituições de ensino superior promovem a ideia de que captam os melhores alunos, desenvolvendo-os para se tornarem os melhores graduados. Isso ocorre em nível global.

Mihut (2015) entrevistou representantes de empresas de recrutamento e empregadores na Alemanha e na Romênia com o objetivo de entender a influência do prestígio da universidade nos processos de seleção de candidatos para vagas de emprego. Sua pesquisa evidenciou que o prestígio da universidade é relevante devido ao valor transacional que ele traz, porque é associado ao capital simbólico. A partir do momento em que ele provê energia a indivíduos ou a grupos, ele tem significado. No processo de contratação, ter ou não ter prestígio se torna importante para as empresas, que o medem a partir da comparação entre as instituições que têm excelência e as que não têm.

Em linha com a literatura, propõem-se as seguintes hipóteses:

H3: A satisfação com a escolha do curso está positivamente relacionada com a percepção de empregabilidade do aluno/egresso. H4: O desempenho no curso de graduação (medido pelo CR acumulado) está positivamente relacionado com a percepção de empregabilidade do aluno/egresso.

H5: A participação em atividades extracurriculares na faculdade está positivamente relacionada com a percepção de empregabilidade do aluno/egresso.

H6: O prestígio da faculdade está positivamente relacionado com a percepção de empregabilidade do aluno/egresso.

A Figura 3 mostra cada uma das hipóteses propostas.

3 MÉTODO

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