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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO GERAL DOS LOCAIS-CHAVE

II. 2.3.1 Enxames pegmatíticos do CAPSA

Os trabalhos de Leal Gomes (1994) estabelecem a existência de sete enxames pegmatíticos distintos, que caracterizam o CAPSA. Destacam-se entre si pelas propriedades estruturais, mineralógicas e mineroquimicas que os caracterizam, tendo-lhes sido atribuídos distintos modelos e momentos de instalação relacionados a assinaturas genéticas distintas.

Genericamente, distingue-se assim a existência de uma fácies pegmatítica venular primordial e de um conjunto de veios de quartzo com andaluzite, que caracterizam os dois enxames pegmatíticos mais precoces, com filiação estritamente metamórfica e génese em eventos de colheita de leucossoma. Além destes, destacam-se ainda a existência da geração dos filões cruzados, filões radias e cone-sheets, bem como dos exames de aplito-pegmatitos da geração “sill” e dos filões E-W, característicos dos termos mais evoluídos da fraccionação.

Á excepção dos dois primeiros enxames (pegmatitos venulares e veios de quartzo com andaluzite), será apresentada uma breve descrição dos restantes, por serem aqueles que apresentam maior importância para o estudo, procurando identificar as propriedades de cada um, bem como aspectos que os diferenciam.

No que respeita à distribuição geográfica dos diferentes enxames ao nível do campo, importa também referir que o seu afloramento não é uniforme, apresentando-se muito variável em função da zonografia regional estabelecida em Leal (1994). Este autor, compartimenta o CAPSA em quatro sectores de ocorrência estruturalmente diferenciada, dando assim origem a uma zonografia de afloramento de corpos e enxames pegmatíticos, resumidamente descrita de seguida.

36 Destaca-se assim a existência de um sector proximal – que abrange o contacto do granito de Arga com o encaixante, incluindo assim os corpos intra e peri-graníticos da geração sill, filões radiais e cone-sheets e um sector distal – que abarca as ocorrências de corpos pegmatoides exo- graniticos. Neste sector identifica-se o afloramento de corpos do tipo sill e filões cruzados, bem como corpos mais precoces com morfologia lenticular, característicos da fácies primordiais venulares ou quartzo-andalusiticas.

Além destes, o autor propõe ainda um sector onde é raro o afloramento de corpos aplito- pegmatitos pertencentes aos enxames sill, cone-sheets e filões E-W, não sendo o afloramento de corpos dos restantes exames sequer conhecido – sector dos antiformes adjacentes. Esta lacuna de afloramentos no sector é justificada por Leal (1994) como tratando-se de uma zona mais fortemente erodida e com menor favorabilidade para a instalação destes corpos.

Por último, relata-se ainda a existência do sector de interferência, que corresponde à região mais afastada do granito de Arga, na qual existe uma hibridização de pegmatitos ou mesmo a existência de corpos com filiação noutros granitos, como é o caso do granito de Sto. Ovídeo.

Uma vez esclarecida a zonografia regional de afloramento dos diferentes enxames, distinguem-se de seguida as gerações de exames pegmatíticos descritas em Leal Gomes (1994), com uma síntese sobre as propriedades intrínsecas de cada geração e possível cronologia de instalação.

Filões cruzados – Distribuem-se principalmente pelo sector distal do campo, apresentando atitudes sub-paralelas ao contorno do granito e inclinações variáveis, invariavelmente com sentido centrífugo. Instalam-se em fracturas conjugadas e exibem intensa deformação, apresentando-se frequentemente dobrados e boudinados, com aspecto cataclástico próximo dos contactos.

Composicionalmente, representam uma linhagem quartzo-micácea-albítica hiperaluminosa, podendo também apresentar berilo, niobio-tantalatos e minerais de T.R. e U na paragénese.

Filões radiais – Correspondem a um enxame de corpos intensamente boudinados e encurvados, que apresentam eixos de dobra sub-verticais, por vezes deslocados sob o efeito da transcorrência regional sinistrogira síncrona da sua instalação.

Ocorrem sobretudo no sector proximal, apresentando uma instalação supra-diapírica, com atitudes transversais ao contacto do granito (N70-90ºE/50-90º).Quanto à instalação, ocorre de

37 modo gradual, identificando-se uma passagem progressiva da fácies granítica para a fácies aplítica reconhecida em apófises graníticas.

Composicionalmente, ambos os casos apresentam composições residuais graníticas, distinguindo-se contudo um enriquecimento em albite nas posições mais afastadas do granito d’Arga (apófises graníticas).

Cone-sheets – Correspondem a um enxame de corpos com textura aplítica, que apresentam uma trajectória de afloramento paralela ao contacto do granito d’Arga com os metassedimentos e inclinação centrípeta. Estruturalmente, podem apresentar alguma deformação, tendo sido identificados corpos com catáclase interna.

Ao nível composicional estes corpos inscrevem-se no sistema granítico residual típico, com enriquecimento em albite, concordante com uma evolução dos mínimos ternários proposta por Manning (1982).

Filões “Sill” – Correspondem aos corpos com morfologia lenticular a tabular, que se apresentem levemente dobrados, com plano axial e eixo paralelo a sub-paralelo à D3.

Ocorrem em todos os sectores do campo, tratando-se por isso dos corpos aplito-pegmatíticos em melhores condições de observação e preservação.

Relativamente à instalação, dá-se de um modo brusco e em posições supraquartziticas, geralmente nas proximidades da charneira de antiformes originados durante a D3. Apresentam atitudes sub-horizontais geralmente paralelas a subparalelas ao granito de Arga (N10-40ºW/0- 50ºE). Nos sectores proximais apresentam uma inclinação invariavelmente mergulhante, em direcção ao diápiro de Arga, ao contrário do sector distal que apresenta inclinação sub- horizontal.

Composicionalmente, tratam-se de corpos aplito- albíticos nos termos menos evoluídos, mais próximos ao granito d’Arga, evoluindo até paragéneses litiníferas, nos termos mais evoluídos e afastados do plutonito, onde se destaca a presença de minerais portadores de lítio como a petalite, espodumena, ambligonite e turmalina.

Filões E-W ou fácies paroxismal – Correspondem a corpos tabulares, pouco possantes, instalados em corredores de cisalhamento E-W já em regime dúctil-frágil. Correspondem aos últimos fluidos resultantes da fraccionação dos corpos sill, mostrando-se fortemente enriquecidos em elementos incompatíveis desses magmas/ fluidos.

38 Os corpos de maiores dimensões ocorrem principalmente em intercepções com cisalhamentos NW-SE mais precoces, de onde resultam corpos com maior diferenciação estrutural e mineralógica.

Composicionalmente, destacam-se dos restantes enxames por serem sobremicáceos litiníferos, sendo portanto dominantes os minerais como lepidolite, ambligonite, turmalina (elbaite e lidicoatite) e polucite. Estruturalmente, são corpos com zonamento interno intenso, sendo identificáveis, por vezes, a presença de cavidades miarolíticas.

No que respeita a cronologia de instalação de cada enxame, os argumentos estruturais, paragenéticos e geoquímicos apresentados por Leal Gomes (1994) estabelecem como corpos mais precoces aqueles que resultam de colheita de leucossoma, ou que de algum modo possuem alguma afinidade metamórfica. Embora precoces, a sua génese acompanha a colocação de grande parte dos restantes enxames, apresentando por isso um intervalo de colocação muito extenso, em função das condições de P-T existentes nas rochas encaixantes. Inserem-se neste grupo os pegmatitos venulares quartzo-feldspáticos e os veios quartzo- andaluziticos.

Com início num momento de colocação posterior, já estruturalmente relacionado com as primeiras etapas de colocação do granito d’Arga, considera-se a instalação dos filões cruzados, em ruturas conjugadas originadas durante a etapa de ascensão do mesmo. Apresentam um caracter hiperaluminoso sem filiação ao granito d’ Arga, embora sejam estruturalmente a ele relacionados. Geneticamente, admite-se uma origem em diferenciados do granito de Sto. Ovídeo, por fraccionação da fácies parental, ou colheita venular de leucossoma.

Com a evolução para uma etapa de amplificação e intumescimento do granito d’Arga, ocorre a primeira emissão de corpos aplito-pegmatíticos a ele geneticamente e estruturalmente filiados. Distinguem-se aqui os filões dos tipos cone-sheets e radias, que representam fácies paragenética e estruturalmente pouco evoluídas instaladas no encaixante, que apresentam uma passagem gradual ao granito propriamente dito, em região próximas do contacto.

A geração de corpos “sill” instala-se num momento de expansão lateral do diapiro, com injecção dos magmas especializados a partir dos volumes laterais do mesmo, fundamentando assim as suas inclinações sub-horizontais em sectores distais e centrípetas em sectores proximais.

39 Por último e ocupando uma posição mais tardia, surgem os filões E-W, instalados em corredores de cisalhamento, associados a uma passagem de regime dúctil a dúctil frágil. Estes corpos expressam o paroxismo de evolução, tendo-lhes sido atribuída uma origem nos fluidos finais dos corpos “sill”, capazes de migrar longas distâncias em relação ao plutonito, instalando- se posteriormente nos corredores frágeis, aproveitando estas anisotropias estruturais do terreno. Na figura 8 encontra-se representada uma cronologia geral dos principais enxames pegmatíticos definidos em cima, com representação esquemática de instalação dos diferentes corpos e sua relação com as etapas de evolução do granito de Arga e condições de metamorfismo regional que vigoravam durante esse mesmo lapso cronológico.

Figura 8: Cronologia de instalação dos diferentes enxames pegmatíticos do CAPSA (esquematizados em blocos diagrama) e sua relação com as principais etapas de instalação e evolução do diapiro de Arga e das condições de metamorfismo regional em vigor. Extraído e adaptado de Leal Gomes (1994).

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