De res imento
Nesta Seção vamos justi ar o tempo que gastamos aprendendo a al ular a
derivada de uma função. Veremos que sabendo somente um pou o sobre
f
′
(o
sinal) nos diz muito sobre
f
. [Sp,p.163℄Algumas apli ações importantes doTeorema doValor Médio (TVM)queapresentaremos
nesta seção são omo determinar:
•
intervalos ondeuma função res e oude res e;•
intervalosondeumafunçãoéinjetivae, onsequentemente,ondeexisteafunçãoinversa;•
uni idade de soluçãode equações.Os resultadosdesta Seção são baseadosno seguinte Teorema.
Teorema 16 (Rolle) Se
f
é ontínua em[a, b]
( oma < b
) e derivável em(a, b)
omf (a) = f (b) = 0
, então existec∈ (a, b)
tal quef
′(c) = 0
Prova: Vou somente ilustrar o resultado. Considere a função
f
representada no grá o abaixo. Note quef (0) = f (1) = f (2) = f (3) = 0
. Assim no intervalo[0, 1]
existe umc
tal quef
′(c) = 0
, isto é, tal que a reta tangente é paralela ao eixo
x
. O mesmo o orre no intervalo[1, 2]
. Finalmente note que o Teorema garante a existên ia de pelo menos umc
, mas podemoster mais de um, omo no asoda apli ação doTeorema em[2, 3]
, ondetemos3 c
's distintos.x
y
1
2
3
c
c
c′
c′′
c′′′
O Teorema do Valor Médio (TVM)apresentado omo um orolário do Teorema de Rolle,
é uma das mais importantes ferramentas teóri as do Cál ulo provavelmente o resul-
tado mais profundo sobre derivadas. [Sp p.168℄ O TVM é a base de métodos numéri os
utilizados nas apli ações do Cál ulo na Engenharia.
Corolário 5 (Teorema do Valor Médio (TVM)) Se
f
é ontínua em[a, b]
( oma < b
) e derivável em(a, b)
então existec∈ (a, b)
tal quef (b)− f(a) = f′(c)(b− a).
Prova: Considere a função
g
denidaem[a, b]
porg(x) = f (x)− f(a) −
f (b)− f(a)
b− a
(x− a).
Como
g(a) = g(b) = 0
, podemos apli ar o Teorema 16 (Rolle) para on luir que existec∈ (a, b)
talqueg
′(c) = 0
. Comog′(c) = f′(c)−f (b)− f(a)
b− a
= 0,
f′(c) =
f (b)− f(a)
b− a
.
Observação 36 OTVM diz em termos de Físi a que existe um ponto
c∈ (a, b)
tal que a a velo idade instantâneaemc
é iguala velo idade média em[a, b]
.Denição 15 ( res ente e de res ente) Seja
I
um intervalo. Dizemos quef
é: (a) res ente emI
se para todox, y
∈ I
omx < y
, temos quef (x) < f (y)
; (b) de res ente emI
se para todox, y
∈ I
omx < y
, temos quef (x) > f (y)
.Observação 37 Poderíamos denir res ente (sem ser estritamente) por:
x < y
impli a quef (x)
≤ f(y)
(permitindo igualdade). Vamos deixar isto para um urso de Análise. Neste livro dizemos quea função é res ente signi ando estritamente res ente.Corolário 6 (sinal da derivada e res imento/de res imento) Seja
f
umafunçãode- rivávelem um intervaloI
. Se, para todox
∈ I
:(a)
f
′(x) > 0
, entãof
é res ente emI
; (b)f
′(x) < 0
,entãof
é de res ente emI
; ( )f
′(x) = 0
,entãof
é onstante emI
.Prova: (a)Sejam
a, b∈ I
oma < b
. Apli andooTeoremadoValorMédioaf
nointervalo[a, b]
, obtemos que existec∈ (a, b)
tal quef (b)− f(a)
b− a
= f′(c) > 0.
Assim
f (b)− f(a) > 0
, isto é,f (b) > f (a)
. Logof
é res ente emI
. Deixamos os outros itens para o leitor.Observação 38 A hipótese da derivada ser positiva num intervalo é fundamental para
se on luirqueafunçãoé res enteneste intervalo. Aderivadaserpositivaemum ponto
a
nãoimpli aqueelaé res entepertodea
(numavizinhançadea
,videp.2). Umexemplo é apresentado através da funçãof
representada no grá o abaixo. Emboraf
′(0) > 0
, a
função não é res ente perto de zero pois os ila. A derivada positiva em
x = 0
impli a somente quef (x)
≤ f(0) ≤ f(y)
parax < 0 < y
. Veja [NC℄ Capítulo 8 ou [Sp, p.198℄ para análise detalhada.x
y
f (x)
Denição 16 Uma função
f : I
→ R
é dita injetiva se para todox, y
∈ I
omx
6= y
temos quef (x)6= f(y)
.Pré-Cál ulo: Pode-se testar a injetividade observando o grá o e fazendo o teste da
retahorizontal: Todaretahorizontal(istoé,umaretaparalelaaoeixo
x
)deveinterse tar o grá o em no máximo um ponto. Leia a denição anterior, faça uns desenhos eLema 7 (Relação entre Continuidade e Injetividade) Seja
f : I
→ R
uma função ontínua num intervaloI
. Entãof
é injetiva emI
se, e somente se,f
é res ente ou de res ente emI
.Prova: Aprova é deli ada. Veja em[NC℄.
Corolário 7 (sinal da derivada e injetividade) Seja
f : I
→ R
uma função derivável num intervaloI
. Sef
′(x) > 0
ou
f
′(x) < 0
para todo
x∈ I
,entãof
é injetivaemI
.Prova: Juntando o Corolário 6 da p.84 e o Lema 7, se
f
′(x) > 0
ou
f
′(x) < 0
para todo
x∈ I
a função é injetivaemI
pois será res enteou de res ente emI
. Exemplo 72 Considere ográ o def
′
na guraabaixo. Determineonde afunção
f
res e, de res e oué onstante. Determine intervalos onde podemos garantir quef
é injetiva.x
y
−3 −2 −1
1
2
3
f′(x)
Solução do Exemplo 72 Afunção
f
res eem(−3, −2)
e(1, 3)
. Afunçãof
de res e em(−1, 1)
. A funçãof
é onstante em(−2, −1)
. Assim podemos garantir quef
é injetivaem(−3, −2)
,(−1, 1)
e em(1, 3)
.Note que pelo teste da reta horizontal, a função não é injetiva em
(1, 3)
por exemplo. Apliqueo teste da reta horizontal neste grá o.Exemplo 73 Sabendo que
f
′(x) = (x2+ 3)(x2− 9)(x + 5)
, determine onde
f
é res ente e de res ente. Determine em quais intervalosf
éinjetiva.Solução do Exemplo 73 Temos que fazer a análise do sinal de
f
′(x)
. Fazendo (note que
x2+ 3
não afeta osinal, e podeser ignorado) isto on luímos que:
(a)
f
′(x) < 0
se
x <−5
ou−3 < x < 3
. Assimf
de res e nestes intervalos. (b)f
′(x) > 0
se
x > 3
ou−5 < x < −3
. Assimf
res e nestes intervalos.A função
f
será injetiva, separadamente, em ada intervalo onde ela somente res e ou somente de res e. Assim seráinjetivaem(−∞, −5)
,(−5, −3)
,(−3, 3)
eem(3, +∞)
.Exemplo 74 Considere
f (x) = x
3+ 3x2− 3x + 1
. Determine onde
f
é res entee de res- ente. Determine emquais intervalosf
é injetiva.Solução do Exemplo 74 Observe que
f
′(x) = 3x2+ 6x− 3
. As raízessão
x =−1 ±
√
2
. Fazendo a análise desinal obtemos que:(a)
f
′(x) < 0
se
−1 < −
√
2 < x <
−1 +√2
. Assimf
de res e nestes intervalos. (b)f
′(x) > 0
sex >−1 +
√
2
oux <−1 −
√
2
. Assimf
res e nestes intervalos. A funçãof
será injetiva, separadamente, em ada intervalo onde ela somente res e ou somente de res e. Assim será injetiva em(−∞, −1 −
√
2)
,(−1 −
√
2,−1 +√2)
, e emExemplo 75 Determine onde
f (x) = x
3
é res ente/de res ente.
Solução do Exemplo 75 Como
f
′(x) = 3x2
> 0
para todo
x
6= 0
, garantimos quef
é res ente parax < 0
e parax > 0
. No entanto, pelo TVM não sabemos o que o orre no0
. Assim, emboraf (x) = x
3
seja res ente para todo
x∈ R
, o TVMgarante apenas nestes intervalos separadamente.Exemplo 76 Mostre queexiste uma úni a função
h : R→ R
derivável em todox∈ R
tal queh
′(x) = sen(x2
+ 4)
para todo
x∈ R
eh(0) = 1
.Solução do Exemplo 76 Suponhaqueexista outra
g
tal queg
′(x) = sen(x2+ 4)
eg(0) =
1
. Denaf (x) = g(x)− h(x)
. Assimf
′(x) = g′(x)− h′(x) = sen(x2+ 4)− sen(x2+ 4) = 0
. Pelo TVM, omof
′(x) = 0
para todo
x
∈ R
,f
é onstante emR
. Comof (0) = g(0)−
h(0) = 1− 1 = 0
,f (x) = 0
para todox
. Logog(x) = h(x)
para todox∈ R
, provando que existe uma úni a função que resolve este problema.Observação 39 Este resultado é típi o em Matemáti a: Não sabemos qual é a solução
do problema, isto é, qual função
h
possui omo derivadasen(x
2+ 4)
mas sabemos quea
solução éúni a. Provamos a uni idade doproblema mas NO garantimos a existên ia
desoluçãoemenosaindasabemos omoexibirumasolução. Paraistopre isamosaprender
a Teoriade Integração.