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4. METODOLOGIA E ANÁLISE

4.2 Descrição do material

4.2.4 Episódio 4 – “As filhas da guerra”

O episódio tem duração de 32’36’’ e se desenvolve em torno de como Lili e seu marido contam a história de vida no campo de concentração para seus familiares.

As fontes (A) neste episódio continuam sendo Lili, suas filhas e Carlos Reiss. As falas de Lili percorrem toda produção, já Reiss aparece por volta de 2’57’’ até 5’07’’ comenta sobre relatos dos sobreviventes que em sua maioria não apresentam discursos de ódio, esclarece que as vítimas do holocausto tentam combater toda violência sofrida com amor, mas um ponto interessante é que as gerações próximas sentem muito mais inquietação do que as próprias vítimas.

Como o episódio se desenvolve na forma de como Lili e seu marido transmitiram as histórias para seus familiares, penso que o podcaster poderia trazer de maneira breve outros exemplos de sobreviventes do holocausto que também tiveram que lidar com esse momento

de conversar sobre uma temática pesada com quem possuem uma relação de amor e carinho. Acredito que dessa forma, o ouvinte conseguiria ter melhor percepção do que Reiss relata em sua entrevista de que já ouviu outras histórias que os filhos tiveram sentimentos diferentes dos pais em relação ao modo em que estes foram tratados antes de construírem uma família.

As informações extras (B) estão baseadas nos links dos sites do Museu do Holocausto e Xadrez Verbal, agradecimentos aos colaboradores diretos e indiretos, links dos perfis de redes sociais dos colaboradores de transcrição, edição e revisão. No SoundCloud o podcaster sugere outros conteúdos do produtor Mizanzuk, e, além dos mesmos compartilhamentos do site do projeto, o podcaster disponibiliza o twitter de Noemi e outras produções dele mesmo. Os ouvintes podem ter acesso a outros materiais e buscar outros conhecimentos tanto acerca da história do holocausto quanto a diferentes produções de variadas temáticas.

Quanto à (C) narração e storytelling, o episódio inicia com a narração de Mizanzuk que contextualiza o foco da história neste momento. Por volta de 2’36’’, o podcaster insere uma fala pessoal do que o surpreendeu durante a conversa com Lili já nos minutos iniciais, que foi a “ausência de ódio”. Isso permite que o ouvinte entenda a relação de proximidade entre o podcaster e os entrevistados, além de gerar reflexão sobre o tema a ser tratado no episódio.

Mizanzuk comenta ainda que outros relatos de sobrevivente isso também se fez presente e introduz a próxima entrevista que é com Carlos Reiss. Este adendo do podcaster faz com que o ouvinte também se coloque em uma posição reflexiva acerca de tudo que já ouviu a respeito do holocausto e como interpreta toda essa história. Mais uma vez o ouvinte consegue se sentir próximo do narrador e por consequência, da narrativa.

Por volta de 05’06’’ o narrador, a partir de sua fala, conecta o assunto da entrevista com Carlos Reiss a respeito da relação entre pais e filhos que viveram a guerra e seu foco de entrevista, que é a relação entre Lili e suas filhas: “Mas eu me perguntava como será que suas filhas encaravam isso. Especialmente a Noemi, que se esforçou tanto em publicar o diário da mãe.”. Isso permite que o ouvinte não fique perdido em relação ao próximo momento do episódio e também entenda as inquietações do podcaster, bem como o que o levou a fazer determinadas perguntas ou abordar alguns pontos específicos da história de Lili com a filhas.

Mizanzuk também utiliza seu espaço de narrador para explanar falas dos entrevistados; isso propicia maior clareza do ouvinte a respeito da participação da fonte e ainda, corrobora para compreender que o podcaster optou por trazer os trechos das entrevistas de maneira espontânea. Pode-se compreender isso com esse trecho, em 09’27”, em que

organiza a fala de Stela, outra filha de Lili: “Ela disse que depois que o Aaron castigava a Stela, ele entrava no quarto e chorava.”

Por volta de 19’35’’, o narrador, depois de ouvir os relatos das filhas Noemi, Jane e Estela sobre a situação que os pais vivenciaram, Mizanzuk faz um breve comentário sobre o que essas falas representam e expressa sua opinião acerca do próprio material coletado. Isso permite que o ouvinte compreenda as impressões do podcaster, além de conseguir prever minimamente como será o encaminhamento posterior das entrevistas.

O que percebemos com esses relatos, então, é que nem mesmo os próprios sobreviventes tinham noção do que havia sido o holocausto como um todo. Havia tanta dor, sofrimento e até dificuldades de comunicação, que apenas anos mais tarde, que o assunto passou a ser debatido, mais inclusive pelos seus filhos e especialmente netos, refletir sobre o tema tornou-se tarefa deles, gerando grandes diferenças de percepção emocional (PROJETO HUMANOS, 2015).10

Na última sonora de Mizanzuk, o podcasterconclui, por meio de uma narrativa detalhista, com o que foi abordado no episódio, bem como o que será explorado no próximo e, ainda, é um narrador em primeira pessoa que se coloca como um aprendiz da história, numa narrativa mais intimista e próxima do ouvinte. Esse recurso instiga a escutar o próximo episódio, bem como retomar tudo o que foi tratado anteriormente, afim de que o espectador já consiga conectar o que acabou de ouvir com o que virá no próximo episódio.

A filha que se esforça em explicar as diferenças sobre a maldade para a própria mãe, que presenciou o mal em pessoa. Como se pegassem sua mão e a acompanhassem pelos sentidos da vida que passou. Uma maneira de lidar com a própria herança que lhe foi dada. E assim como Lili até hoje busca entender as diferenças entre os tipos de maldade, nós mesmos, como raça humana, parece que estamos constantemente aprendendo. E muitas vezes, parece que não fomos capazes de tirar nenhuma lição que o tempo nos deu. Afinal, seria muito cômodo falarmos que o antissemitismo acabou. Ou que nunca mais o holocausto irá acontecer, seja com judeus ou com qualquer outro grupo. Mas, infelizmente, essa não parece ser a realidade. E um pequeno exemplo disso, Se pesquisarmos no Google, por exemplo, sobre o holocausto, não é incomum encontrarmos pessoas que argumentam que ele nunca existiu. Mas ao ouvir um relato como o de Lili e de tantos outros sobreviventes, que tiveram suas vidas destruídas por puro preconceito, essas ideias incomodam. Naquela tarde que conversamos, eu as indaguei sobre isso. É uma coisa que eu sempre quis conversar com um sobrevivente. O que você pensa sobre pessoas que defendem que o holocausto nunca aconteceu? E é sobre isso que falaremos no próximo programa (PROJETO

HUMANOS, 2015).11

10

Disponível em: https://www.projetohumanos.com.br/as-filhas-da-guerra/s01e04/. Acesso em: 19/10/2018. 11

A respeito da categoria (D) sonoplastia como informação, é interessante ressaltar que o podcaster optou por, durante as entrevistas, deixá-las o mais natural possível para que o ouvinte possa perceber a espontaneidade dos entrevistados e da conversa entre eles, além de dar a sensação de que quem ouve está participando daquela conversa, é o que acontece nestes trechos: “Lili: O que é… A gente nem sabia que é alegria (risos ao fundo).”; “Stela: Sou Stela Jaffe de Lima Forte, tenho 64 anos e sou avó (risos). Hoje sou avó (risos). Não sou mais nada, sou avó.”; “Stela: É, teimosa. E ele falava “faz isso” e eu falava “não faço”, “faz!” “não faço”. E ele adorava pegar o cinto, dobrar e esticar. (risos ao fundo). E isso era uma… eu me lembro que eu defendia virando a cadeira, tipo leão e domador.”.

Nota-se também que neste episódio há uma presença menor de trilhas sonoras, que se fazem presente no final do podcast. Pela duração do episódio, 32’36’’, a quantidade não interfere na qualidade produção do material, nem da construção da narrativa.

A primeira trilha, que inicia aos 22’34’’, apresenta um som melancólico, o que leva o ouvinte a refletir sobre toda a produção do quarto episódio, já que durante todo “As filhas da Guerra”, o ouvinte ficou centrado nas sonoras de Lili e suas filhas, sem nenhuma interrupção da trilha. Aqui seria então o momento que, depois de ouvir todos os relatos, o ouvinte possa absorver todo o conteúdo. Também, a trilha serve para segmentar os conteúdos, haja vista que anteriormente fora colocado todos os relatos e, depois de 22’34’’, a filha de Lili, Estela, explica sobre a carga que têm na expressão “filhos da guerra”, aqueles que sentem o impacto da guerra em pessoas tão próximas e que junto aos pais, evoluem.

A segunda trilha é a padrão de finalização do episódio inserida aos 31’25, seguida do

off de agradecimento e executada novamente aos 32’36’’: “Lili: Não, mas interessante que,

como que o sentimento, se você ouve uma coisa triste, sente, sente como ele balança. Não, não é como ele. Mas sente raiva e sente. E eu que estava dentro? É diferente mesmo.”

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