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Área de Implantação dos edifícios da Rua Direita

4 Reabilitação da Rua Direita

4.2 Equipamentos e infra-estruturas

Nos últimos anos assistimos a uma preocupação na requalificação dos centros históricos por parte das autarquias tendo, em vista a sua reconversão e revitalização, para criar uma estrutura que corresponda às necessidades dos cidadãos e à modernização dos espaços urbanos, sem alterar, significativamente, a sua identidade.

Na última década, também Viseu se empenhou em requalificar o seu centro histórico e, nesse sentido, fez várias intervenções ao nível de infra- estruturas e ao nível dos equipamentos, em toda a área da ACRRU. A Rua Direita foi a primeira rua da ACRRU onde se fez uma profunda remodelação das infra- estruturas. As obras na rua decorreram entre 2000 e 2003, período que no entender dos comerciantes foi muito longo e prejudicou muito o comércio. Ao que

apurámos, junto da Arquitecta responsável pela SRU231, a demora foi justificada pelos equipamentos que foram instalados ao nível do subsolo. Esta obra teve a finalidade de renovar as canalizações de águas e esgotos - SMAS e instalar tubagens para os serviços, da EDP, PT, Gás e novas tecnologias, com cabos para internet e televisão. Ao mesmo tempo, foi substituído o pavimento de granito. Ao centro foi mantido o revestimento de lajes232 rectangulares na posição perpendicular à direcção da rua, sob o qual foram colocadas em toda a extensão da rua as canalizações e nas laterais foi retirado o pavimento cúbico de granito, “calçada à cubo”, e colocado outro pavimento também granítico e em forma cúbica, mas mais liso, “calçada à cubo cerrado”. Com a troca do pavimento pretendeu-se dotar a Rua de um piso mais regular e convidativo ao passeio, mas, segundo algumas opiniões recolhidas, quando chove há acumulação de água em determinados pontos da rua devido ao deficiente escoamento, o que leva os transeuntes a evitarem, nesses dias, o caminho pela rua.

Procurou-se com esta obra preparar as infra-estruturas necessárias à satisfação das necessidades de bem-estar e melhoria das condições do comércio e da habitação na Rua, a par da limpeza das fachadas e a libertação do espaço aéreo de fios, tubos e cabos, tão desagradáveis e inestéticos. O projecto de reabilitação da rua ficou aquém dos objectivos a que se propunha, pois ainda são visíveis os cabos presos nas fachadas e atravessados na rua (ver anexo 20). A SRU explica que o problema não tem a ver com os organismos envolvidos, mas sim com a vontade dos proprietários, moradores e comerciantes que se recusam a participar neste projecto. As tubagens destas canalizações foram ligadas a todos os edifícios da Rua Direita, existindo no chão, junto a cada fachada, caixas para as respectivas ligações aos edifícios, adjudicadas às respectivas empresas. Para que seja possível anular a profusão de cabos, é necessário que cada um dos proprietários faça, no interior do seu edifício, a parte da obra que consiste em substituir a entrada da rede eléctrica ao nível do primeiro andar, por uma ligação da caixa da rua ao interior do imóvel. Este procedimento implica a contratação de um técnico e do respectivo pedido de baixada e da portinhola com encargos para o proprietário.

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Arquitecta Margarida Henriques

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Conta o Sr. Ernesto, comerciante da rua e com oitenta anos, diziam antigamente “só na Rua Direita de Viseu, os burros andam no passeio” e isto porque por aí passavam carroças para entregar as mercadorias e como a rua era estreita, não tinha passeios mas sim um passadiço central de lajes, os burros sobre as lajes faziam caminho. Por razões de higiene este mesmo passadiço era evitado pelos transeuntes.

Uma vez que não houve adesão por parte dos proprietários, devido aos custos que este programa implicava, o objectivo de retirar os cabos das fachadas, ficou comprometido. Os edifícios que forem sujeitos a remodelações, terão que respeitar as novas normas. A nível do fornecimento de gás a empresa BEIRAGAS não se está a servir das tubagens colocadas pelas obras da Câmara, porque a empresa não vê grande viabilidade em concretizar a distribuição de gás natural, dado o exíguo número de residentes. Só os serviços de SMAS fazem uso das canalizações existentes sob a calçada de lajetas.

Relativamente aos equipamentos instalados na rua, foi feita uma intervenção ao nível da iluminação pública em que foram substituídos os candeeiros aplicados nas fachadas, de forma a dar mais iluminação à rua. Foram colocadas três placas de sinalética na rua, com o objectivo de identificar os edifícios número: 66 - o Palácio dos Treixedos do século XVIII, 69 - a “Sinagoga” com portais quinhentistas e os edifícios 37 e 84, respectivamente, com uma janela e duas janelas, que apresentam decoração com características da época Manuelina. Foram, também, substituídos os recipientes para o lixo, visando uma maior integração na imagem estética que se pretende para a rua. Dada a pequena dimensão na largura da rua, apenas foram colocadas floreiras decorativas em dois pontos, no troço entre a Rua do Carmo e a Rua D. Duarte e no recanto que a rua faz à entrada da Rua Nª Senhora da Piedade.

Os grandes investimentos que levariam à melhoria das condições físicas da área a ser requalificada, como a instalação de infra-estruturas e o melhoramento do pavimento, foram concretizados tendo em consideração a identidade e as características locais, mas os resultados não foram satisfatórios, nem para os promotores do programa, que não vêem os seus objectivos totalmente concretizados, nem para os habitantes, moradores e frequentadores da rua. O programa não criou a envolvência necessária, nem transmitiu aos proprietários dos imóveis, moradores e comerciantes os seus propósitos, acabando por não ser bem recebido e não contar com a adesão da maioria.

Foi, também, referido por moradores e comerciantes que em alguns dias, principalmente no tempo quente, e em alguns pontos da rua, existirem odores desagradáveis vindos das canalizações de esgoto que, a juntar ao facto do novo pavimento acumular água, criou desagrado, pois moradores e comerciantes que

viram o investimento ali efectuado, criaram expectativas em relação à melhoria das condições, o que não aconteceu.

Há, portanto, muito a aprender por parte, quer dos promotores, quer dos comerciantes e habitantes. Por um lado, os promotores têm que, após a parte fulcral do planeamento, acompanhar a fase de execução e verificar no final se a infra-estrutura/ equipamento cumpre a sua função da melhor forma. Têm ainda que envolver os comerciantes e os habitantes da rua no projecto, de forma a ir ao encontro das suas necessidades e criar um movimento de cooperação que assegure a colaboração das pessoas.

Os comerciantes e habitantes têm, por sua vez, que avaliar os projectos com mais abertura, contribuírem com as informações necessárias aos estudos e tentar colaborar com os investimentos públicos, porque só concitando várias sinergias e mobilizando um grande conjunto de competências e vontades, a situação na Rua Direita poderá finalmente melhorar.

A Rua Direita é uma rua pedonal, com trânsito condicionado a moradores, cargas e descargas em horário específico e sem lugares de estacionamento. Com o objectivo de satisfazer as necessidades actuais da população, foram criados equipamentos na sua envolvente para uma melhor acessibilidade ao centro histórico no qual se insere a Rua Direita. Em Setembro de 2001, com a inauguração do novo parque de estacionamento no Largo da Santa Cristina233, foram postos à disposição dos cidadãos mais 324 lugares de estacionamento que vêm facilitar o acesso ao centro da cidade e nomeadamente à Rua Direita. Este parque, disponibiliza aos seus utilizadores três modalidades de pagamento: fracção de quinze minutos, através de crediparques e através de avenças (ver anexo 21). No entanto, é um espaço que tem poucos utilizadores, provavelmente, por ser muito caro, na opinião dos comerciantes e residentes da rua234. Relativamente à tentativa da melhoria das condições de mobilidade de e para o centro histórico, há a referir que, em 2005, a Câmara de Viseu adquiriu, e em doze de Agosto de 2006 colocou à disposição dos cidadãos, três mini- autocarros eléctricos que circulam nas ruas do centro da cidade, incluindo

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SONAE Imobiliária: Resultados líquidos Consolidados crescem 18,4% no 3º trimestre, Parques de estacionamento, 30 Janeiro 2001, [em linha], [Consult. 20 Novembro 2010], Disponível em WWW: <http://www.sonaesierra.com/uploadfiles/pressreleases/DF29594228516DE40BA1E402EB4427AC_92200 4132322.PDF>

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algumas da ACRRU (ver anexo 22). Este autocarro não tem paragens pré definidas, funciona durante o dia, de trinta em trinta minutos, excepto aos domingos e sábados à tarde. Os bilhetes, se pré-comprados, custam 30 cêntimos, os normais 40 cêntimos, e o passe 10 euros. O mini autocarro, utilizado, essencialmente, para viagens curtas, facilita a mobilidade nesta área e a aproximação à Rua Direita. Ainda, no âmbito da mobilidade, foi criado um funicular, transporte não poluente, com o intuito de diminuir o tráfego automóvel e aumentar a circulação pedonal. Desde Setembro de 2009, o funicular liga a zona ribeirinha da cidade ao centro histórico e possibilita um acesso fácil à Rua Direita, para quem vem do lado oeste da cidade, onde encontra uma elevada inclinação. A câmara colocou o uso do funicular de forma gratuita durante dois anos, para incentivar a população à sua utilização e diminuir o tráfego automóvel no centro da cidade235. Além destes equipamentos destinados a servir o centro da cidade e a zona da ACRRU, a Câmara deliberou promover a construção de dois novos parques de estacionamento púbicos, no Largo Mouzinho de Albuquerque e no Largo António José Pereira236, tendo este último sido inviabilizado pelo237

IGESPAR.

No que até aqui expusemos, verificamos que têm sido feitos esforços por parte das autoridades, no sentido de melhorar as infra-estruturas e a mobilidade na Rua Direita e no centro histórico. Ainda assim, habitantes e comerciantes não estão satisfeitos pois não acham que as obras levadas a cabo tenham trazido as melhorias que esperavam inicialmente.

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HENRIQUES, Carlos, Funicular de Viseu, 18 Novembro 2009, [em linha], [Consult. 20 Novembro 2010], Disponível em WWW: http://espinho-net.blogs.sapo.pt/2323.html

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VISEU NOVO – SRU, Relatório de contas de 2008, p.10, [em linha], [Consult. 8 Novembro 2010], Disponível em WWW:

<http://www.viseunovo.pt/Mediateca/files/PDF/Relatorio%20contas/2008/Relatorio_Contas_2008.pdf>

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VISEU NOVO – SRU, Relatório de contas de 2009, p.15, [em linha], [Consult. 8 Novembro 2010], Disponível em WWW: