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1 Breve história da Rua Direita

1.2 A Rua Direita ao longo dos tempos

A Rua Direita de Viseu foi implantada num local habitado desde os tempos proto-históricos e posteriormente ocupado pelos Romanos, período em que assumiu o nome de Cardo Maximus56.

Nos números 172/176 da Rua Direita foram identificados robustos alicerces de um edifício provavelmente romano que ladearia o Cardo Maximus da cidade. Tal facto parece poder ser confirmado pela descoberta de um lajeado que poderia fazer parte integrante desse mesmo eixo, aquando das obras de recuperação do número 229. Ainda o achado de um considerável conjunto de cerâmicas da Idade do Ferro assume igual importância, uma vez que vem confirmar o prolongamento do castro proto-histórico até esta zona57.

Em Maio de 2009, na remodelação do edifício número 70, situado na Rua da Prebenda, escavações puseram a descoberto os alicerces de um edifício romano com vestígios de pavimento ladrilhado a losangos em espinha, em bom estado de conservação58 (fig. 3). O pavimento é datado de finais do séc. I e só se conhecem alguns vestígios deste tipo de ladrilho em Conímbriga, mas descontextualizados, desconhecendo-se paralelo em Portugal59.

Fig. 3 - Pavimento ladrilhado 60

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VAZ, João Inês, A Civitas de Viseu: Espaço e Sociedade, Edição Comissão de Coordenação da Região Centro, vol. I e II, 1997, p.352

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IGESPAR, [Em linha], [Consult.24 Julho 2010], Disponível em WWW: <http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/arqueologico- endovelico/sitios/?sid=sitios.resultados&subsid=2241719> 58 Ibidem 59 Ibidem 60

CARVALHO, Pedro Sobral, “Vamos podendo reconstituir a história da cidade”, in Jornal do Centro, n.º373, 8 Mai. 2009, p. 1

Estas intervenções vêm acentuar a importância do centro histórico da cidade no período romano, desde os primeiros contactos entre romanos e povos autóctones no século III a.C. até aos séculos III e IV d. C.. Em qualquer obra que se faça no centro da cidade encontram-se, quer em número, quer em qualidade, vestígios romanos, o que corrobora a tese da importância da cidade de Viseu, não só como importante Civitas61, mas também como importante eixo rodoviário romano, para onde convergiam e de onde partiam inúmeras estradas para os mais diversos destinos.

Com a chegada dos Bárbaros, suevos e visigodos, no séc. V, assiste-se a um tempo de acalmia no desenvolvimento e a uma paragem no alargar demográfico62. A ocupação moura da cidade durou do séc. VIII ao séc. XI, ano de 1057 ou 1058, sendo reconquistada por Fernando Magno, monarca Leonês e restituída à sua gente, e ao culto católico, a quem fez doação do Couto da

Rigueira, ao Prior e Cónegos da Sé de Viseu. A aglomeração urbana do séc. XII

tinha um grande número de vazios interiores. As Inquirições de Dona Teresa em 1127, davam conta de uma forte actividade agrícola, esparsa em quintas ao

casales e as casas de habitação deviam apenas concentrar-se ao longo das antigas

vias de comunicação romanas, que junto ao seu ponto de cruzamento se transformavam em ruas citadinas. Podemos supor que as construções, se estendiam já pelo suave pendor onde hoje fica a Rua Escura, Quintans, parte central da Rua Direita e Rua Nova. Toda a porção plana que se estendia a Sul do Largo da Sé estava devoluta. Segunda a Carta de Povoação, concedida em 1187, pelo Bispo D. João Pires e pelo Cabido, dando prerrogativas aos que povoassem de casas os campos do Solar, (hoje Soar) 63.

Em 1385, Viseu era uma cidade desguarnecida de muros e foi assaltada de surpresa pelas hostes castelhanas que batiam em retirada dos campos de Aljubarrota. Só depois de dura refrega, a cidade pôde repelir o inimigo, não sem que sofresse o saque e o incêndio. Duramente advertidos dos perigos da falta de muralha, os moradores de Viseu reclamam a D. João I a sua construção, alegando

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Estatuto de cidadania Romana dos membros da comunidade política romana na qualidade de cidadãos. Cidadania romana, [Em linha], [Consultado em Dezembro de 2009], Disponível em WWW:

< http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania_romana>

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Viseu - Um pouco de História, [Em linha], [Consultado em Dezembro de 2010], Disponível em WWW: <http://www.estv.ipv.pt/dep/amb/P%C3%A1gina%20do%20Nucleo%20de%20Alunos/Ficheiros/HistoriaVis eu/viseu_UmPoucoDeHistoria.htm>

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“[…] que sem ela não têm outro muro senão a Deus e a mercê del rei e por única fortaleza a Sé dela com as suas quatro torres”. O cronista Fernão Lopes referiu-se assim ao saque castelhano à cidade de Viseu:

«E chegaram à cidade de Viseu, que eram vinte e duas léguas de Cidade Rodrigo, donde todos haviam partido. Os moradores do lugar, quando os viram vir, porque a cidade não tem outra cerca nem fortaleza, salvo a Sé, acolheram-se a ela; e às igrejas muitos deles»64.

Segundo Lucena e Vale, no Livro II das “Provas e Apontamentos” de Santa Rosa de Viterbo, manuscrito da Biblioteca Municipal de Viseu, são referidos três capítulos das cortes de 1412, 1439 e 1465, respectivamente de D. João I, Infante D. Pedro e D. Afonso V, onde consta a informação de que a muralha foi começada no reinado do primeiro e continuada nos seguintes. Daqui se depreende que a muralha da cidade foi mandada levantar por D. João I em 1412 e concluída no reinado de D. Afonso V, em 1472 65 (ver anexo 2). Esta muralha teve sete portas66, das quais apenas restam duas, a porta dos Cavaleiros e a do Soar, e vestígios de outras duas, a da Senhora do Postigo e a da Santa Cristina. Das restantes três portas, de São José, de São Miguel e de São Sebastião não existem vestígios67.

A muralha afonsina delimita a Rua Direita, que faz a ligação entre duas portas da muralha, a Porta dos Cavaleiros a norte e a Porta de São José a sul (ver anexo 2).

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O Cronista Fernão Lopes, citado por: SOUSA, Júlio Rocha, “Muralha Afonsina” in Viseu Cidade, Edição do Autor, Viseu, 2006, p. 13

65

VALE, Lucena, “Viseu Monumental e Artístico”, in Junta Distrital de Viseu, 2ª edição, 1969, p. 41

66

GIRÃO, A. de Amorim, Viseu Estudo de uma Aglomeração Urbana, Coimbra Editores Lda, 1925. pp. 63 - 65

67

“Em 1814, a vereação camarária desse ano determinou que se demolissem as várias portas da Muralha, “[…] nenhuma utilidade causa a sua conservação e a sua demolição é mais cómoda para a continua

passagem dos carros, gentes e seges.” “ Nomeados peritos três mestres-pedreiros, foram eles que salvaram as

duas portas existentes […] estas não ameaçam ruína e até aformoseiam a cidade”.

“Notas e Comentários – Contra a Maré”, in Beira Alta, Edição e Propriedade da Assembleia Distrital de Viseu, 1957, p. 102