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Equipas de Cuidados Continuados Integrados e Equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos

CAPÍTULO II- CUIDADOS EM FIM DE VIDA: ASSISTÊNCIA DE SAÚDE NA COMUNIDADE

2. A REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS: UM ESPAÇO NOVO DE CUIDADOS

2.1 Equipas de Cuidados Continuados Integrados e Equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos

A ECCI, de acordo Decreto-Lei 101/2006 de 11 de Julho, trata-se de uma "equipa multidisciplinar da responsabilidade dos CSP e das entidades de apoio social, para prestação de serviços domiciliários, decorrentes da avaliação integral, de cuidados médicos, de enfermagem, de reabilitação e de apoio social, ou outros, a pessoas em situação de dependência funcional, doença terminal, ou em processo de convalescença, com rede de suporte social, cuja situação não requer internamento, mas que não podem deslocar-se de forma autónoma". (Decreto-Lei 101/2006, p.3862)

Estas equipas apesar de terem autonomia administrativa e de organização estão dependentes das UCC, que têm como missão e atribuição a candidatura, o processo de contratualização, implementação e avaliação.

As ECCI, efetuam uma intervenção multidisciplinar a doentes em situação de dependência funcional, doença terminal ou em processo de convalescença, com rede de suporte social, cuja situação não requer internamento. A sua intervenção, para além dos CSP, abrange a intervenção da Rede Social, através apoio social domiciliário (UMCCI, 2011). A promoção da autonomia, a redução das incapacidades e a otimização das competências são o cerne da atuação das ECCI, sendo a força propulsora o envolvimento da comunidade e as redes de apoio social local. Estes objetivos são laborados numa abordagem centrada na pessoa, operacionalizados através de um Plano Individual de Intervenção (PII), fruto de um trabalho da Equipa Multidisciplinar. Este surgiu com o objetivo de uma “melhor coordenação, monitorização e avaliação das diferentes intervenções” e nele devem constar nitidamente “os objetivos a alcançar pelo doente, as tarefas e responsabilidades de cada profissional”, devendo, desta forma, existir um Gestor de Caso, que terá como funções a gestão e resposta às necessidades da pessoa e será nomeado pela equipa constituinte. (MCSP & UMCCI, 2007, p. 13)

A MSCP (2007), no guia "ECCI - Orientações para a sua constituição nos centros de saúde", refere que "As ECCI deverão ser de constituição obrigatória em todos os CS, recomendando-se a sua imediata organização, ainda que o processo de reconfiguração dos atuais CS não esteja iniciado, como forma de aumentar a capacidade às necessidades dos doentes e, essencialmente, dotar a RNCCI da estrutura de apoio domiciliário conforme previsto na legislação". (MSCP, 2007, p. 11)

De acordo com os critérios de abrangência populacional dos CS, a cada ECCI não deverá exceder o valor máximo de 100.000 doentes, de acordo com os critérios de dispersão geográfica, dimensão e características demográficas, sociais e epidemiológicas da população. (MSCP, 2007)

A ECCI preconiza a prestação de cuidados continuados integrados todos os dias do ano, no horário de funcionamento das 8 às 20 horas nos dias úteis e, conforme as necessidades, aos fins-de-semana e feriados (garantia mínima das 9 às 17h). A MSCP (2007), aponta um conjunto de cuidados a serem prestados pelas ECCI. Na sua generalidade são:

• Cuidados domiciliários de caráter médico e de enfermagem, com natureza preventiva, curativa, reabilitadora e ações paliativas, devendo as visitas dos profissionais serem programadas, regulares e terem por base as necessidades clínicas detetadas pela equipa, bem como, na resposta das necessidades do dependente e/ou família, em situação de agudização do seu estado de saúde;

• Apoio psicológico, social e ocupacional envolvendo os familiares e outros prestadores de cuidados;

• Coordenação e gestão de casos com outros recursos de saúde e sociais;

A intervenção das ECCI na prestação de cuidados domiciliários levou à exclusão de várias situações da carteira básica de serviços das USF:

• Frequência da prestação de cuidados domiciliários superior a uma vez por dia; • Prestação de cuidados domiciliários que exceda 1h e 30 minutos por dia e pelo

menos três dias por semana;

• Necessidades de cuidados domiciliários, para além dos dias úteis ou fora do horário compreendido entre as 8 h e as 20 h;

• Necessidade de cuidados que requeiram um grau de diferenciação que exceda a equipa básica (Fisioterapia, Psicologia, Terapia Ocupacional, entre outros). (MSCP, 2007)

As informações e os registos de monitorização da evolução do doente na ECCI, o Processo Individual de Cuidados do doente, deve obrigatoriamente conter: registo de admissão, as informações da alta, o diagnóstico de necessidades, o PII e o registo de avaliação semanal. (UMCCI, 2012)

Quando os objetivos preconizados em PII forem atingidos, a equipa multidisciplinar da USF voltará a assumir a prestação de cuidados de saúde que à altura se identifiquem como necessários. A operacionalização da transferência da prestação de cuidados entre as equipas cuidadoras (das USF e da ECCI) assenta num processo de apreciação/discussão conjunta e articulação efetiva entre todos os

intervenientes. (MSCP, 2007)

As equipas de cuidados paliativos domiciliários são parte integrante de um programa de cuidados paliativos e potencializando uma adequada resposta às necessidades dos clientes e respetivas famílias, permitindo que os cuidados em fim de vida sejam prestados no local mais indicado pelos clientes, a sua casa.

Tratam-se de equipas especializadas que, segundo as organizações internacionais e estudos já efectuados em vários contextos, demonstram elevada efetividade e eficiência.

A ECSCP é um núcleo especializado da ECCI, multidisciplinar, com formação específica em cuidados paliativos e deve integrar, no mínimo, um médico e um enfermeiro. Tem por finalidade prestar apoio e aconselhamento diferenciado em cuidados paliativos às ECCI e às unidades de internamento de média e longa duração e manutenção

Foi publicada, a 5 de setembro de 2012, a Lei n.º 52/2012 que consagra o direito e regula o acesso dos cidadãos a estes cuidados, define a responsabilidade do Estado, e cria a Rede Nacional de Cuidados Paliativos (RNCP), a funcionar sob tutela do Ministério da Saúde. Esta lei aguarda regulamentação para ser aplicada, no entanto consagra várias competências da ECSCP:

- Formação em cuidados paliativos dirigida às equipas de saúde familiar do CS e aos profissionais que prestam cuidados continuados domiciliários;

- Presta cuidados paliativos específicos a doentes com apoio às suas famílias ou cuidadores;

- Presta apoio, formação e aconselhamento diferenciado, em cuidados paliativos, às unidades de cuidados de saúde primários (UCC e unidades e equipas da rede nacional de cuidados continuados e integrados, USF e UCSP).

A ECSCP pode estar integrada numa unidade funcional de CSP ou na RNCCI, dispondo de recursos específicos. (Lei n.º 52/2012, a 5 de Setembro de 2012)

Por se tratar de uma área de atuação muito específica, estes cuidados constituirão, para o ACES, carteira adicional de serviços, apesar de se poder prever o recurso às Equipas Intra-Hospitalares de Suporte em Cuidados Paliativos em complementaridade ou substituição.

Segundo um estudo publicado por Capelas (2010), é de esperar que cerca de 60% dos doentes falecidos em Portugal necessitem de cuidados paliativos. De forma a dar resposta às necessidades desta população e dos seus familiares e, seguindo recomendações internacionais, incluindo as da Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC), estima que deverão existir 1 a 1.5 equipas domiciliárias de cuidados paliativos por 100 mil habitantes, constituídas por 2 médicos e 3 a 4

enfermeiros, assim como 80 a 100 camas por milhão de habitantes, sendo que uma unidade de internamento em cuidados paliativos deverá ter 10 a 15 camas.

No Relatório Primavera de 2013, o OPPS (2013) constata que "Segundo a APCP há, em território português, nove equipas que oferecem apoio domiciliário especializado de cuidados paliativos (Capelas, 2013). Já a RNCCI identifica 11 equipas (Guerreiro, 2013). Destas, identificámos seis equipas reconhecidas por ambas as entidades, o que origina um total entre 9 a 14 equipas a prestar apoio paliativo domiciliário em Portugal. Estes números traduzem-se em cerca de uma equipa por cada 750 mil a 1.170.000 habitantes, sendo que as atuais recomendações são de uma equipa por 100 mil habitantes". (OPSS, 2013, p. 96)

2.2. Agrupamentos de Centros de Saúde, Unidades de Cuidados Comunitários e