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Biblioteca Universitária UFSC

E, por fim, mas não ainda para concluir, o terceiro conselho de Driscoll em sua palestra para editores de jornais tradicionais:

3.2. Equipe de produção

Da mesma forma como vimos no capítulo anterior, na análise da arquitetura da internet e a mídia na rede, o uso da tecnologia na organização pode ser feito de uma forma democrática ou reproduzir as estruturas hierárquicas vigentes. Moran (1997) fala disso em relação aò uso da tecnologia na educação:

Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial, Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas mentes. (Moran, 1997)

Com relação ao mundo corporativo, Paas (1999), citando Boog (1998) e Senge (1999), afirma que o gerenciamento de empresas está tendendo a se basear em princípios de colaboração entre as pessoas, e não mais na hierarquia funcional. A tecnologia vem apoiar essa estratégia.

Drucker é da opinião que quase todas as empresas gerenciam seus trabalhadores como se a empresa ainda controlasse os “meios de produção”, quando na realidade, é a inteligência do trabalhador do conhecimento e os níveis de conhecimento que, combinados, fazem os meios de produção. E as empresas não conseguem controlar isso. Podem apenas tentar gerenciar o melhor que puderem. Drucker acredita ainda que a emergência de trabalhadores de conhecimento e as mudanças positivas em sua produtividade irá, em poucas décadas, resultar numa mudança imensa tanto na estrutura quanto na natureza do sistema econômico. O principal foco da organização será sempre a organização como um todo, não apenas na pessoa no topo. Esta característica dè gerenciamento é encontrada em organizações sem fins lucrativos, que por sinal foram foco dos estudos de Drucker na última década. Nessas organizações, as pessoas não estão interessadas em fazer dinheiro, então sua motivação vem de outro fator - eles encontram satisfação em relação ao que elas

fazem simplesmente porque são desafiadas e motivadas. A missão da organização é a missão delas.

Lewis & Romiszowski (apud Paas, 1999), afirmam que a implementação de uma cultura de aprendizagem e colaboração dentro de uma organização é facilitada pela construção de ambientes e espaço onde todos os indivíduos da organização possam contribuir com seu conhecimento e possam participar para o melhor desempenho da organização.

Outro enfoque para o uso da tecnologia é em relação ao teletrabalho, que é definido como a combinação de tecnologias de informação com o conceito de um local de trabalho flexível. O trabalho é executado em um lugar que é distante de um escritório central ou dos recursos de produção, e os empregados não tem contato pessoal com seus colegas (citado por Davies, 1996). Tal conceito dá margem para se pensar na idéia de “redações distribuídas”, que até já vem sendo executada pelo Junior Journal (ver item 6 deste capítulo).

Em termos de ferramentas do teletrabalho, Davies cita o fax, correio, telefone celular, pager, computer-based “groupware”, redes locais e a internet. Na rede, pode-se considerar todas as ferramentas de comunicação, tanto as síncronas quanto assíncronas. E-mail, listas de discussão, fóruns, chats e serviços de mensagem instantânea (como ICQ e AIM) são também exemplos de ferramentas que vêm apoiando a formação de equipes de trabalho para projetos na Web.

3.3. Projeto

Agre (1997) sugere que o principal objeto do projeto é o gênero, pois eles são o ponto de encontro entre o processo de produção de materiais para a mídia e o processo de usá-los. Gênero é uma forma esperada que materiais em um dado meio podem tomar. Das várias características que o autor ressalta sobre os gêneros, vale a pena nos reportarmos às seguintes:

- Cada gênero implica em um tipo particular de audiência e um tipo particular de atividade (Bazerman 1988).

- Cada gênero implica em um relacionamento entre o(s) produtor(es) e o(s) consumidor(es) do material em questão.

- Um gênero não implica em um documento único (ou outro evento comunicativo) mas em uma corrente de documentos.

- Gêneros mudam historicamente. As mudanças podem ser encorajadas pela regulação, competição ou influência de outros gêneros, pela mudança na vida dos usuários, pela mudança para novas mídias, ou pela mudança dos propósitos das pessoas que os estão produzindo. As mudanças podem ser decididas de forma consciente, ou podem surgir por meio de “seleção natural” de mercados ou outros mecanismos.

Agre coloca que é de grande ajuda pensar em um gênero em termos históricos como o produto de um processo em andamento de co-evolução entre seus produtores e consumidores. Os gêneros são efetivamente co-projetados com formas de atividades, mesmo se esse co-projeto possa ser inconsciente, ao acaso, ou mesmo o resultado do conflito entre partes com diferentes interesses e visões de mundo. Em particular, cada gênero implica em uma constelação distintiva de relacionamentos; espera-se que ele seja útil para os membros de uma dada comunidade, em atividades cujas formas e propósitos sejam altamente influenciados pelos relacionamentos com os membros de outras comunidades particulares (Agre, 1997).

Na hora de projetar gêneros para novas mídias, o mote é: “faça mais". Pegue uma comunidade, explore a forma como os gêneros existentes se encaixam nas atividades e relacionamentos existentes, e então pense como o novo gênero pode “fazer mais” para as pessoas do que aqueles que elas já usam.

O processo de design em si presumivelmente leva a descobertas sobre a real natureza das comunidades, atividades, relacionamentos, e pode até mudá-los. Qualquer mudança não será “causada” pelos novos gêneros, ou ao menos não com esse sentido simplista. As mudanças irão expressar os potenciais latentes no sistema social local, e eles serão fortemente influenciados pelo próprio entendimento que os participantes têm da situação (compartilhado ou conflitante). As mudanças podem levar a um novo equilíbrio, com os gêneros mais uma vez ajustando às atividades que expressam os relacionamentos entre comunidades. Alternativamente, as mudanças podem continuar, estimuladas pela dinâmica do sistema social intemo ou por fatores exógenos, incluindo inovações na mídia e gêneros de comunicação, (idem)