• Nenhum resultado encontrado

Equivalˆ encia Ricardiana e o Mercado de Cr´ edito

No documento Nota de Aula 3 (páginas 33-43)

1.3 O Teorema da Equivalˆ encia Ricardiana

1.3.2 Equivalˆ encia Ricardiana e o Mercado de Cr´ edito

Mostraremos nessa se¸c˜ao um gr´afico que mostra o funcionamento do mercado de cr´edito sob a equivalˆencia ricardiana.

Na figura abaixo, considere S1p(r) a oferta privada de cr´edito. Esta- mos considerando tal curva como sendo positivamente inclinada, se consid- erarmos a hip´otese de que o efeito substitui¸c˜ao ´e maior que o efeito renda devido a mudan¸cas na taxa de juros. A demanda por cr´edito do governo ´

e dada por B1, que ´e a oferta de t´ıtulos emitidos no per´ıodo. A taxa de equil´ıbrio no mercado ´e dada por r1.

Agora se o governo decide reduzir os impostos no per´ıodo corrente, j´a vimos que isso ir´a representar um aumento de t´ıtulos no mercado de cr´edito, saindo do ponto B1 para B2. Por´em, como j´a foi detalhado na se¸c˜ao anterior, tamb´em haver´a um aumento da poupan¸ca dos consumidores, deslocando a curva para S2p(r), mantendo dessa forma a mesma taxa de juros

de equil´ıbrio.

Figure 1.12: Equivalˆencia Ricardiana e o Equil´ıbrio no Mercado de Cr´edito

1.3.3

Equivalˆencia Ricardiana e a D´ıvida P´ublica

O teorema da equivalˆencia ricardiana, implica a l´ogica de que o d´ebito (d´ıvida) do governo, representa a responsabilidade de impostos futura dos indiv´ıduos como na¸c˜ao.

Na pr´atica, todavia, muitos problemas relacionados `a pol´ıtica fiscal se d˜ao em volta de como o ˆonus da d´ıvida ´e dividido entre os indiv´ıduos da popula¸c˜ao atual, e futuras gera¸c˜oes. Para analisar esse ponto, precisaremos entender o papel desempenhado por quatro premissas fundamentais na nossa an´alise da equivalˆencia ricardiana.

1. Quando os impostos variam, eles mudam na mesma medida para todos os consumidores no presente e no futuro (Caso contr´ario, existe

espa¸co para pol´ıticas redistributivas do Governo, que por sua vez mudariam o equ´ılibrio competitivo).

2. Toda d´ıvida do governo ser´a paga durante o ciclo de vida dos consumidores que estavam vivos quando houve mudan¸ca na pol´ıtica fiscal.

3. Os impostos s˜ao lump-sum (No mundo real, a maioria dos impos- tos causam alguma distor¸c˜ao afetando negativamente o bem estar econˆomico, pois normalmente essa distor¸c˜ao est´a relacionada com mudan¸ca nos pre¸cos relativos dos bens).

4. Mercado de cr´edito perfeito - Consumidores podem tomar em- prestado ou emprestar o quanto eles quiserem (Na pr´atica consumidores po- dem se deparar com limites em rela¸c˜ao `a quantidade de cr´edito que eles podem emprestar ou tomar emprestado).

Com essas quatro premissas podemos dar sustento `a nossa an´alise, mas a medida que cada uma ´e quebrada, os resultados discutidos at´e agora n˜ao ser˜ao v´alidos.

1.3.4

Falha da Equivalˆencia Ricardiana na Seguridade

Social

Considerar a seguridade social ´e o mesmo que considerar imperfei¸c˜oes no mercado de cr´edito. Como a seguridade social ´e um mecanismo para aju- dar os indiv´ıduos a suavizar seu consumo ao longo da vida, deve ter alguma imperfei¸c˜ao no mercado de forma a impedir os indiv´ıduos a suavizarem de forma ´otima seu consumo. Antes de come¸car nossa an´alise estaremos consid- erano a seguridade social do tipo pay-as-you-go. Essa modalidade representa transferˆencias diretas dos indiv´ıduos jovens para os aposentados.

Para verificar as implica¸c˜oes desse sistema, iremos considerar o mod- elo discutido neste cap´ıtulo, e entender como esse programa de seguridade pode impactar a distribui¸c˜ao de renda ao longo do tempo e entre os in- div´ıduos. Por´em iremos alterar o modelo de forma a acomodar redistribui¸c˜ao de renda intergeracional pelo governo.

Suponha inicialmente que a seguridade social n˜ao tem efeitos sobre a taxa de juros real. Cada consumidor continuar´a vivendo por dois per´ıodos, sendo os jovens no primeiro e os idosos no segundo. Por´em em cada per´ıodo, haver´a a existˆencia tanto de jovens, como de idosos. Seja N o n´umero de consumidores idosos e N’ o n´umero de consumidores jovens, e a taxa de crescimento da populan¸c˜ao como n, temos que:

N0 = (1 + n)N (1.18)

Por simplicidade, considere que o gasto do governo ´e zero em todos os per´ıodos. Antes de uma data T determinada, n˜ao existia pagamento de seguridade social, mas a partir dessa data, passou a existir. A partir dessa data, o governo est´a garantindo que quando os consumidores estiverem idosos, ir˜ao receber uma quantida de b bens de consumo. Dessa forma, o imposto pago pelo consumidor idoso ap´os o per´ıodo T, e para os per´ıodos subsequentes ´e t0 = −b. Considerando ent˜ao que todo o valor pago pela popula¸c˜ao jovem em imposto (N0t) ´e recebido pela popula¸c˜ao idosa (N b), temos:

N0t = N b (1.19)

A partir da equa¸c˜ao (1.18) temos que NN0 = (1 + n) e a partir da equa¸c˜ao (1.19) temos que NN0 = bt, igualando ambas as equa¸c˜oes e resolvendo para t, chegaremos no seguinte resultado:

t = b

1 + n (1.20)

Os indiv´ıduos idosos no per´ıodo T, n˜ao tiveram que contribuir para a seguridade social, mas ir˜ao receber o benef´ıcio dos mais jovens, dessa forma, n˜ao houve pagamento de imposto quando este consumidor idoso era jovem, de forma a n˜ao alterar sua renda presente, mas ter aumentado sua renda futura, devido ao benef´ıcio recebido da seguidade social. A afirmativa pode ser contemplada atrav´es do seguinte gr´afico:

Figure 1.13: Benef´ıcio da seguridade para os indiv´ıduos idosos no per´ıodo T

Com o recebimento do benef´ıcio social, a renda dispon´ıvel do con- sumidor passa de y’ para y’+b. Claramente no per´ıodo inicial, o consumidor estar´a em melhor posi¸c˜ao, pois n˜ao teve que se desfazer de sua renda para receber o benef´ıcio. Mas o que acontece nos per´ıodos subsequentes?

Para esses consumidores, quando consideramos a seguridade social, sua renda dispon´ıvel no per´ıodo corrente ser´a y - t, e no per´ıodo futuro igual a y’ + b, seu Endowment Point ir´a mudar de E1 para E2. Como consideramos no in´ıcio dessa subse¸c˜ao de que a taxa de juros permaneceria constante, ent˜ao a reta DF ter´a a mesma inclina¸c˜ao da reta AB. Para o caso demonstrado na figura abaixo, temos de forma impl´ıcita que n > r, alterando dessa forma a

restri¸c˜ao or¸cament´aria para fora. Se n < r, ent˜ao a restri¸c˜ao or¸cament´aria iria diminuir, e o consumidor estaria em uma pior posi¸c˜ao.

Figure 1.14: Benef´ıcio da seguridade para os indiv´ıduos nascidos no per´ıodo T em diante

Formalmente teremos que:

we = y − b 1 + n + y0+ b 1 + r = y + y0 1 + r + b(n − r) (1 + r)(1 + n) (1.21)

Podemos ent˜ao determinar que o indiv´ıduo estar´a melhor se n > r e pior se n < r. Para isso basta observarmos o lado direito da equa¸c˜ao acima, explicitamente o termo que multiplica b.

No in´ıcio desta se¸c˜ao, afirmamos que deveria haver alguma falha de mercado para que o governo pudesse intervir para melhorar a situa¸c˜ao

de todos. Essa falha ´e a impossibilidade de indiv´ıduos do per´ıodo presente negociar com indiv´ıduos que ainda n˜ao nasceram. Com o governo h´a a in- stitucionaliza¸c˜ao da seguridade social, garantindo de forma compuls´oria que os indiv´ıduos que ainda n˜ao nasceram ter˜ao que pagar a aposentadoria dos mais velhos, mantendo dessa forma o equil´ıbrio do benef´ıcio.

1.3.5

Falha da Equivalˆencia Ricardiana com Imper-

fei¸c˜oes no Mercado de Cr´edito

Nesta se¸c˜ao iremos simplesmente demonstrar como a equivalˆencia ricardiana pode falhar quando simplesmente a taxa pela qual um indiv´ıduo empresta seja diferente daquela a qual um outro indiv´ıduo toma emprestado.

Novamente iremos utilizar o modelo de dois per´ıodos de tempo de- senvolvido neste cap´ıtulo.

Considere um consumidor que empresta `a taxa de juros r1, e que toma emprestado `a taxa de juros r2, onde r2 > r1. Para o momento presente a restri¸c˜ao or¸cament´aria do indiv´ıduo permanecer´a inalterada conforme a conhecemos: c + s = y − t. Por´em, a restri¸c˜ao or¸cament´aria do per´ıodo futuro ser´a:

c0 = y0− t0+ s(1 + r1) (1.22) Caso o consumidor seja um emprestador (s > 0)

E ser´a:

c0 = y0− t0+ s(1 + r2) (1.23) Caso o consumidor seja um tomador de empr´estimo (s < 0).

Da mesma forma que derivamos a restri¸c˜ao or¸cament´aria para toda a vida do consumidor, teremos:

c + c 0 1 + r1 = y + y 0 1 + r1 − t − t 0 1 + r1 = we1 (1.24)

Caso o consumidor seja um emprestador, e dessa forma estar´a su- jeito `a taxa de juros r1.

E caso seja um tomador de empr´estimo, estar´a sujeito `a taxa r2, e ter´a a seguinte restri¸c˜ao:

c + c 0 1 + r2 = y + y 0 1 + r2 − t − t 0 1 + r2 = we2 (1.25)

Iremos ent˜ao agora desenhar um gr´afico da restri¸c˜ao or¸cament´aria do consumidor. Onde a reta AB representa a equa¸c˜ao (1.24) e a reta DF representa a equa¸c˜ao (1.25). A restri¸c˜ao or¸cament´aria ser´a a ´area pintada de azul, ou AEF, onde E ´e o ponto em que c = y − t e c0 = y0− t0, ou seja, o

endowment point. Portanto, no ponto E haver´a uma quina, pois significa que se o consumidor for um tomador de empr´estimo e sua decis˜ao de consumo se localiza a direita do ponto E, ele estar´a sujeito `a taxa de juros r2. Por´em, se o consumidor for um emprestador e estiver ao lado esquerdo do ponto E, estar´a sujeito `a taxa r1. Dessa forma, ´e poss´ıvel incorporar duas taxas de juros no nosso modelo, uma para quem empresta, e outra para quem toma emprestado.

Figure 1.15: Consumidor enfretando diferentes taxas de juros

Considere agora que tenhamos um corte no imposto no per´ıodo corrente para o indiv´ıduo em considera¸c˜ao. Considere tamb´em que a taxa de juros n˜ao se altera. Dado que o indiv´ıduo escolha uma dota¸c˜ao inicial do consumo em E1, a mudan¸ca no imposto levar´a o indiv´ıduo para uma

nova escolha em E2, pois nesse novo ponto ´e a melhor escolha pelo fato

de maximizar o bem-estar do indiv´ıduo. Dado esse resultado, temos uma inconsistˆencia com a equivalˆencia ricardiana, que assumia que n˜ao haveria mudan¸ca na escolha ´otima do indiv´ıduo, supondo que houvesse uma mudan¸ca na pol´ıtica fiscal do governo.

A raz˜ao para isso acontecer ´e que o governo, de forma indireta, est´a oferecendo um empr´estimo com uma menor taxa de juros, atrav´es do esquema de corte de impostos. Podemos observar isso da forma que, se o indiv´ıduo pudesse pegar emprestado `a taxa r1, ele iria escolher a cesta de

consumo G, mas como ele n˜ao pode, ele ir´a para o maior ponto poss´ıvel da sua escolha, que ser´a o ponto E2, e este ponto E2 s´o ´e poss´ıvel devido ao

Figure 1.16: Consumidor enfretando diferentes taxas de juros

Encerramos assim nesta se¸c˜ao, o modelo da economia fechada in- tertemporal com dois per´ıodos de tempo. An´alises futuras ir˜ao incluir outros fatores, tais como, investimento, e a retomada da decis˜ao entre consumo e lazer.

Bibliography

[1] Stephen D. Williamson. Macroeconomics, Fifth Edition. The Pearson Series in Economics. Pearson, 2014. isbn: 9780132991339.

No documento Nota de Aula 3 (páginas 33-43)

Documentos relacionados